Mangetsu Batsuki ainda não sabia, mas sua vida estava prestes a mudar completamente. Naquele fim de tarde, após mais um dia tedioso, ele não podia sequer imaginar como as coisas estavam prestes a virar do avesso. Pois, se soubesse, obviamente teria se preparado melhor; se é que é possível se preparar para essas coisas. Estava ainda sentado no sofá, com as pernas sobre o estofado, usando a camiseta preta de mangas curtas por causa do calor. Achava que o dia estava terminado. Nada aconteceria. Ao menos nada que valeria chamar um mero Genin.

Infelizmente, ele ainda era só isso. Um mero ninja de baixa patente. Só de pensar naquilo o sangue fervia e os rostos de Hanamaki e sua assistente, Mana, surgiam brilhantes diante dele. Pessoas que não podia mais ajudar a proteger por causa da própria fraqueza — e que, de certa maneira, era melhor não poder, pois ainda se amargava pela sua última derrota. Uma derrota que chamavam de vitória porque a sobrevivência dos civis era mais importante, mas isso não mudava como ele se ressentia.

Diferente de outras vezes, ele não ouviu ninguém batendo na porta. A mensagem apareceu na janela.  Um pássaro, talvez um falcão, bicando o vidro para chamar atenção, um pergaminho amarrado em sua pata. Batsuki abriu o vidro para o lado e a ave deu dois passos adiante. Retirou o pergaminho e leu a convocação — mas não existia nenhuma explicação concreta dos motivos. Apenas estavam chamando-o ao Quartel General. Acariciou o topo da cabeça do falcão, assentindo em silêncio, e o pássaro levantou voo. Batsuki deixou a janela aberta para trás e foi se vestir.


Atravessou as ruas da cidade com pressa, uniformizado à própria maneira. O casaco preto com um enorme xis laranja ostentando o símbolo da vila, as luvas pretas, o cinturão com ferro e couro, as duas bolsas de armas na lombar, uma de cada lado, as golas altas do casaco abotoados escondendo metade do rosto. Batsuki tentava se misturar às sombras, mas não era assim tão efetivo com os cabelos loiros tão expressivos como se tivessem saídos de um experimento explosivo do laboratório de química. Seus olhos vermelhos prestavam atenção em tudo — nas pessoas indo para casa, na falta de segurança em diversos postos, nas luzes fracas em quiosques de alimentação…

Passou as portas do QG na mesma pressa. A missão parecia ser importante. Não conseguiu, por um instante sequer, pensar na possiblidade de ter alguma ligação com Hanamaki e sua pesquisa com a Rosa Negra. Talvez, só talvez, o cientista ainda confiasse nele depois de tudo e tivesse solicitando-o especificamente. Quando ele encontrou os superiores teve certeza de que não se tratava daquilo. Recebeu imediatamente uma carta, mas nenhuma explicação oral. Abriu a mensagem e leu atentamente. Não conteve a expressão de perplexidade em momento algum desde aquelas primeiras palavras.

—— Essa é mesmo uma missão para mim? —— indagou, colocando a carta de lado, ainda em mãos. —— Quero dizer… há algum plano para como devo resolver a situação? —— endireitou a postura e o tom de voz. Ali era sua chance de mostrar habilidades nunca antes vistas. De provar para todos que merecia sua promoção. Estufando o peito, mantendo os ombros firmes e a coluna ereta, ele esperou uma resposta para dar continuidade na estratégia.

Por dentro, porém, ele não conseguia esconder o medo fazendo seu coração bater mais depressa.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Batsuki sabia muito bem os perigos que as missões carregavam — especialmente aquelas solicitadas tão repentinamente. Lembrava do pai sendo convocado tarde da noite e retornando dias depois com cicatrizes, bandagens e um olhar ainda mais endurecido. Sua mãe costumava dizer que esse era o destino dos ninjas, viverem lutando contra demônios o tempo inteiro. Quando o pensamento atravessava sua cabeça, também lembrava de como, no passado, não desejava se tornar aquilo; um caçador de demônios. O problema foi ter se tornado um daqueles demônios quando, instintivamente, assassinou o próprio pai.

Ouviu tudo o que o superior tinha a lhe dizer sobre a missão. Fazia parecer fácil, porém, até mesmo ele entendia como era complexo. Ainda mais com suas limitações. Precisavam de ninjas mais velozes do que ele para aquela missão. Temia não ser suficiente para encontrar todos os explosivos — menos ainda para retirá-los. Na verdade, no instante seguinte, pouco antes de ter mais informações da missão, imaginou se a missão não era melhor a ser realizada a quatro, seis ou até oito pés. Apenas uma pessoa dificilmente daria conta da tarefa; então a culpa realmente cairia sobre seus ombros. No entanto, logo o ninja forneceu uma informação valiosa e igualmente preocupante.

O menino nublou a expressão — uma tempestade formou-se no peito. Criminosos deviam estar atrás das grades. Ao menos era nisso que ele acreditava. Era isso que ensinaram a ele desde pequeno. Detestou o fato da vila manter uma informante potencialmente perigosa. Nem mesmo saber que teria auxílio de um superior o deixou menos incomodado—furioso—com aquilo. Seguiu-o dois passos atrás, pois não precisava deixar seu rosto expressivo tão visível. Hanamaki havia lhe dito como o sistema judiciário era falho, mas não esperava encontrar uma brecha tão grande. Também pensara no homem que o atacara na última missão. Ele era um ninja ou possuía formas de obter armamento militar. Isso significa que ele podia muito bem ter sido colocado na vila de alguma maneira como a tal Orquídea.

Balançou a cabeça após alguns metros de jornada; aquilo eram pensamentos remanescentes de outra missão. Precisava dar atenção total ao caso atual. Aos riscos de uma explosão devastar toda a vila. Por isso, decidiu investigar mais um pouco, buscando informações com a única fonte do momento.


—— Perdão, eu não me apresentei corretamente —— iniciou a fala, ainda o acompanhando, torcendo para receber igualmente uma apresentação. —— Sou Mangetsu Batsuki e estou formado há cerca de quatro meses. Talvez seja muito inexperiente, mas não pude deixar de pensar… há alguma chance dessa tal Orquídea ter envolvimento com esse caso? Há outros criminosos infiltrados? Isso não é um risco para a vila? —— inseriu um tom jovem, beirando o infantil, como se fosse um estudante diante de um professor. Não tinha nenhuma certeza de que obteria mais informações antes da ação começar, mas precisava se esforçar para obtê-las.

A noite continuava avançando lentamente junto dos passos daqueles dois. O destino havia virado a ampulheta para um momento decisivo na vida do garoto. Seu momento estava próximo — se isso era bom ou ruim… só o tempo diria.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Na Academia Ninja de Iwagakure nenhum aluno tinha o costume de questionar os métodos usados pelos ninjas de alta patente. Batsuki não era diferente. Sempre se imaginando anos à frente, um grande ninja, achava que jamais acharia problema dentro do sistema que ele mesmo acreditava. Ainda que soubesse, por exemplo, o descaso da vila com vítimas de seus próprios soldados, como ele e sua mãe foram durante anos do seu pai, tentava não refletir sobre isso nos tempos de escola. No fundo sabia que, buscando um problema, ele encontraria; e isso poderia significar cair em mais uma armadilha da vida como foi a morte do pai — e ele não tinha como saber se seu coração… sua alma teria forças para se manter firme após isso.

Ito se apresentou inflando o ego do menino. Batsuki olhou-o tentando ficar neutro, porém, era difícil. Queria ser visto daquela maneira. Era seu sonho, seu Nindo. Reconhecimento externo era sua maior fraqueza, ainda mais vindo de ninjas mais experientes. E, no entanto, ele não conseguia arrancar do peito a desconfiança ali depositada com a informação de Orquídea. Ito ainda continuou falando sobre ela, emendando os elogios com uma tentativa de tranquilizá-lo sobre aquilo — não adiantava. Batsuki continuava com o mesmo pensamento, talvez infantil, de que a mulher não deveria sequer ter recebido uma segunda chance; e, feliz ou infelizmente, dessa vez ele não conseguiu conter o escárnio.

—— Pelo visto ela já teve mais que uma terceira chance —— falou baixinho, num sussurro, desviando o rosto na esperança dele não ter ouvido, mas não se importando tanto assim se ele tivesse. Acabou ouvindo como a vila tinha muitos informantes da mesma origem e isso acendeu um alerta ainda maior nele. Hanamaki era um investigado, e até ali ele não tinha entendido o motivo, mas agora via como até o cientista, talvez, fosse uma dessas pessoas. Já não sabia em quem confiar e isso também incluía o ninja rumando ao sul com ele.

Manteve-se em silêncio durante o restante da jornada, ruminando cada um dos pensamentos que gotejavam na sua mente. Ito lembrava muito seu pai; assim como o genitor era alguém claramente sem escrúpulos, disposto a fazer coisas questionáveis, como aceitar tranquilamente ajuda de criminosos, apenas para defender o que considerava o bem-maior. Talvez todos os ninjas mais velhos fossem assim, ele começava a refletir. Se isso fosse verdade, havia espaço para ele naquele sistema? Cerrando os olhos, ele tomou uma decisão: se necessário, quebraria o sistema.

Depois de tanto caminhar finalmente estavam num destino. Ito ordenou uma pausa, priorizando o descanso dos dois antes de continuarem a jornada. Batsuki entreabriu os lábios prestes a contestá-lo. A missão era urgente demais para ficarem parando. Entretanto, conteve-se fechando os punhos atrás do corpo, explodindo de raiva por dentro. Além de desconfiado, também estava frustrado. Primeiro ele fazia parecer normal e aceitável receber ajuda de criminosos, depois ele insistia numa pausa no momento tão delicado como aquele. Ele realmente estava interessado em concluir aquela missão?

Preferiu aproveitar o momento de outra forma. Descansar era realmente importante, porém, estava descansado o suficiente. Assim que tivesse a oportunidade, então, tentaria descobrir mais sobre o ninja. Não da maneira usual, mas como fizeram investigar Hanamaki anteriormente. Cuidando os detalhes, observando de longe, mantendo-se calado, mas por perto — ele espionaria Ito. Seria de forma branda, escutando atrás da porta ou espiando pela janela. Não importava. Precisava ver mais como aquele homem funcionava para tentar confiar mais nele. Sacrificaria aquele período breve de descanso por isso; parecia valer a pena, mas será que era?

Na mesma intensidade que seus pensamentos fluíam, as areias do tempo desenhavam uma tragédia… ou seria uma comédia sobre a vida do jovem genin?

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Batsuki era conhecido por irritar os professores na Academia Ninja de Iwagakure. Constantemente o motivo era apenas não aceitar tudo de forma passiva. Para ele, o maior ninja da vila jamais seria condescendente com as coisas que julgava erradas. Portanto, ele também não devia ser. Fosse retrucando a um professor ou apenas discutindo após ficar irritado com alguma coisa que considerasse errada… ele não poderia ser chamado de estudante exemplar. Ao menos não no sentido habitual da expressão. Ainda assim, era um excelente aluno. Com botas notas e muita determinação. Por mais que poucos professores acreditassem que ele teria uma carreira, eles também sabiam que ele se esforçaria até a morte para provar seu Caminho Ninja — ele morreria se fosse necessário para entrar no hall das lendas daquele vilarejo.

Quando, de tocaia, viu o experiente Ito saindo de fininho, ele teve a confirmação de todas as suspeitas a respeito da vida: nem sempre abaixar a cabeça era o melhor caminho; às vezes era o mais perigoso. Afanou um manto preto que encontrou pendurado num cabide no meio da estadia e decidiu seguir o superior com o capuz colocado sobre a cabeça na tentativa de manter-se escondido. Manteve-se numa distância segura até notar que a direção tomada era a mesma que eles deviam fazer juntos, afinal, ele estava indo direto ao objetivo da missão.

Batsuki decidiu seguir a mesma direção, mas usando seu conhecimento geográfico como auxílio para ter vantagem. Sabia exatamente as estradas do país graças aos estudos teóricos feitos na biblioteca do vilarejo alguns meses antes. Seria mais fácil tomar certos atalhos, podia até mesmo chegar antes do superior e assim montar uma armadilha — ou ponto de observação — antes de tomar uma decisão mais severa. Já no caminho alterado, seguindo os próprios conhecimentos, ele notou que, mesmo assim, era perigoso não saber exatamente onde o shinobi estava durante a viagem. Ito podia mudar sua trajetória de repente e ele acabar perdendo a única pista. Por isso, decidiu fazer uma coisa arriscada para alguém como ele… Batsuki decidiu pedir ajuda.

Avançando por entre árvores, saltando pelos seus galhos, aproveitando-se das sombras para ficar camuflado enquanto percorria um caminho alternativo até o destino, ele mordiscou o dedo até uma bolha minúscula de sangue levantar e escorrer. Depois, teceu os selos de mãos característicos da técnica de invocação. Pousou sobre um galho, flexionando o corpo, e lançou a mão para baixo fazendo uma fumaça branca subir e dissipar quase no mesmo instante e um dragão pequeno bater suas asas ao seu redor.

—— Pina-san —— ele falou desviando apenas o olhar na direção da criatura.
—— Batsuki-chan, precisando de alguma coisa?

Pina pousou sobre o braço dele, colocado à frente do corpo para servir de encosto. Batsuki ficou com o rosto próximo do dragão, sem deixar de avançar pela floresta antes de ela se tornar uma subida íngreme e rochosa. Por ali era mais trabalhoso de viajar, exatamente por isso poucas pessoas tomavam como opção viável. A floresta tinha enormes árvores, muitas delas petrificadas, com copas vastas de folhas mortas, produzindo um aspecto mórbido e sombrio às noites, mas reluzente com o sol do amanhecer. Depois dali, após vários minutos de jornada, dependendo da velocidade, cairia numa estrada mais condizente com o objetivo montanhoso, onde as árvores sumiam e davam espaço para enorme blocos de pedras e uma estrada de chão-batido, terra e barro.

—— Preciso saber a localização de uma pessoa, você pode voar por aí e me manter informado?
—— Posso fazer ainda melhor —— disse antes de fechar os olhos e se concentrar.

Batsuki não entendeu, mas ficou atento e em movimento. Desceu de um galho para o começo da estrada rochosa, onde várias construções se erguiam, permitindo que se mantivesse escondido se necessário. Deviam estar a, no máximo, quinhentos metros da estrada convencional, pois ele achava melhor não se manter tão distante então escolhera os atalhos que apenas não o deixasse igualmente à mercê de Ito. Não demorou para o dragão voltar a abrir os olhos e encarar nos do menino.

—— Eu sou um dragão sensor. Com minha habilidade posso rastrear pessoas pelo chakra.
—— Muito útil —— falou, num misto de impressionado e ironizando. —— Preciso continuar na cola de um ninja da minha vila chamado Ito. Segui uma estrada diferente da dele, mas deveríamos estar indo ao mesmo destino. Preciso saber se ele está realmente na estrada rumo àquela montanha —— Batsuki apontou para o objetivo, ficando cada vez mais visível mesmo à distância pela sua magnitude. —— Você consegue?

Pina assentiu. Batsuki continuou sua jornada, esgueirando-se por trás das rochas empoeiradas mesmo que isso significasse deixar-se coberto de terra e pó. Sua bochecha esquerda estava com uma mancha marrom, o suor acumulado no topo da testa mostrava riscos da mesma cor pela sujeira acumulada da viagem e do capuz roubado. Tinha viajado depressa, em sua velocidade máxima, e também usado uma técnica complicada, se precisasse também lutar não sabia se duraria muito tempo, sendo assim, era melhor evitar ser descoberto a todo custo. Adoraria ter uma informação sólida sobre Ito e se ainda estava no caminho, mas não podia desperdiçar um único segundo ou tinha a impressão de que seria tarde demais para a vila inteira.

Foi naquele momento que ele percebeu que podia estar envolvido em algo muito maior… e que sua vida nunca mais seria a mesma depois daquela missão.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

“Às vezes o peso que vem com isso é demais para você carregar”, as palavras da mãe jaziam fortes dentro do coração dele. Havia questionado o motivo de ela nunca argumentar contra o pai mesmo estando certa sobre tantas coisas. Ele ainda era pequeno, antes mesmo do incidente que incinerara a vida do genitor. Após aquela resposta a mãe sorriu bagunçando os cabelos do filho, o tipo de sorriso que trazia esperança dentro do caos doméstico. Diante da incrível imagem do Monte Husha, Batsuki lembrou daquele momento e retorceu o nariz. Pina havia acabado de lhe explicar os passos de Ito. Encontrar outras pessoas, surgidas tão repentinamente, entrado em contato e seguindo com elas não era um bom sinal.

Batsuki tinha uma expressão sombria, com metade do rosto coberta pelo manto. Observando o enorme Monte Husha no horizonte, ele deixou-se maquinar pelas informações e deduções. Ito havia dito como poderia ganhar créditos com aquela missão. No início achava que era apenas falácia de um ninja querendo ser promovido; agora ele achava que era um sinal terrível. Aquelas pessoas não tinham jeito de reforços, pois a vila não teria chamado um Genin se também dispusesse de outras figuras mais fortes, menos ainda de um cuja graduação datava de poucos meses. Sendo assim, eles deviam ser envolvidos com aquela situação. Pina também lhe informara sobre os chakras espalhados nas redondezas.

Suspirou, ajeitando o capuz na cabeça. Lembrou do rosto do pai antes do fim, dos momentos em que ele traíra a confiança familiar e ferira ele e a mãe. Mordeu o lábio inferior enchendo-se de cólera, mas mantendo a cabeça no lugar. Não era mais o menino explosivo do passado — nem poderia ser naquele momento —, ele era um shinobi valioso para a vila; alguém cuja missão, naquele momento, não era apenas seguir as ordens de um traidor. Porque a única certeza que ele tinha era que Ito não apenas estava envolvido na missão como nos motivos de ela existir. Era a única explicação construída na cabeça dele. Ele precisava decidir se buscaria explosivos ou tentaria descobrir mais sobre a situação.

Tomar decisões eram mais complicadas do que parecia. Estar certo sobre a desconfiança acima de Ito não tornou nada mais fácil; aquele peso era enorme, Batsuki não sabia se era capaz de carregá-lo sozinho. Olhou as mãos sujas de terra, pensando como estava ali o futuro da vila. O rosto da mãe surgiu diante dele; seu sorriso amável e esperançoso também dependia dele.

—— Pina-san —— chamou com o timbre baixo. —— Vamos entrar na aldeia. Preciso de você alerta para me avisar imediatamente caso haja algum perigo. Se eu… se eu morrer… —— ele precisou tomar um gole de ar para continuar falando aquilo, o peso de sua inexperiência assombrava seu coração. —— Preciso que peça reforços.
—— Se você morrer eu, provavelmente, voltarei ao meu reino.

Batsuki estalou a língua no céu da boca; nada estava dando certo naquela missão.

—— Que se foda, isso significa que eu não posso morrer então —— falou com um enorme sorriso cheio de desafio. —— Foda-se, vamos descobrir quem são essas pessoas e quais seus planos. Depois, iremos para o Monte Husha e desarmaremos todas as bombas e lidaremos com possíveis inimigos.
—— Como você fará isso?
—— Primeiro vamos em frente, depois penso nesses detalhes.

Pina não correspondeu àquela coragem inocente.
Ele não riria também se fosse ela.

Sabia muito bem como soava estúpido daquela maneira. Seus planos reais eram simplesmente se aproximar do esconderijo deles, tentar descobrir mais informações e então tomar uma nova decisão em cima disso. Já achava estranho Ito não ter tanta presa em chegar nas bombas, mas, agora, ele não sabia sequer se as bombas realmente estavam plantadas ou se era uma armadilha. Além disso, a existência de uma grande quantidade de chakras no Monte Husha impedia-o de seguir direto até ele; assim como os diversos chakras mais fracos nas montanhas ao redor tornava todo avanço mais problemático ainda. Ficaria em terrível desvantagem sem mais informações, e mais ainda se entrasse de cabeça numa armadilha. Por sorte, tinha um dragão com capacidades sensoriais — coisa que nem sabia ser possível até então, mas que levantava igualmente um alerta sobre a possibilidade do outro lado ter também.

Batsuki ajeitou o capuz mais uma vez sobre a cabeça. Mexeu nas bolsas de armas, retirando alguns selos explosivos numa mão e deu-os para o dragão agarrar. Pina inclinou a cabeça para o lado, claramente confusa. Ele sorriu sentindo a adrenalina espalhar em todos os membros. —— Se as coisas ficarem feias, exploda tudo —— ordenou deixando uma gota de suor escorrer no canto da testa. Os olhos vermelhos estavam cheios de determinação, e ele esperava que isso fosse suficiente para encontrar uma solução naquela situação terrível. Pina segurou a pilha de papeis explosivos com uma pata e saltou ao ombro dele, agarrando-se.

Saíram juntos numa velocidade um pouco abaixo do máximo (1), aproveitando todas as rochas e construções no meio do caminho para se esgueirar e tentar ser furtivo. Caso encontrasse rochas o suficiente usaria uma das técnicas treinadas recentemente, o Doton: Iwagakure no Jutsu, para se camuflar com mais facilidade e, neste caso, solicitaria a Pina que voasse alto e desenhasse um X com seus movimentos caso houvesse perigo. Seu objetivo era chegar no esconderijo deles, o mais escondido possível, e ficar abaixo da altura de quaisquer janelas para apenas ouvi-los. Além disso, durante a aproximação, largaria todas as suas makibishis na entrada da casa para diminuir o ritmo deles com ferimentos, por mais superficiais que fossem.

Dentro da cabeça dele a imagem da mãe não saiu um segundo sequer — precisava voltar vivo para os braços dela; precisava vencer os vilões e mantê-la segura.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

Notou o momento em que os malfeitores foram alvejados pela sua armadilha. Aquilo acendeu um alerta diferente na cabeça dele, pois, na academia, costumavam usar aquelas armas tão simples em movimentos mais sorrateiros, aproveitando-se de camuflagens. Eles tinham caído nela mesmo sem ele ter tido tempo de prepará-las melhor. A única coisa que conseguiu pensar a respeito foram duas possibilidades completamente opostas e conflitantes: a) eles eram inexperientes ou b) eles estavam com pressa e não se importavam com danos fúteis. Escolher entre as duas era uma tarefa perigosa. De um lado, ele sentia-se corajoso a enfrentá-los; do outro, ele concordava com a própria incapacidade.

Escondido com sua técnica, vendo Pina voando acima da casa, ele abraçou a indecisão para ouvir a conversa no interior da residência. A voz de Ito era bastante clara, carregada de cinismo, ele se dirigia a mulher chamada Orquídea que ele havia comentado anteriormente. Batsuki não sabia mais se ela era exatamente quem ele contara. Nada saído da boca dele tinha mais tanta importância — ao menos nada até aquele momento.

Atento, sentiu o corpo estremecer quando a mulher citou as traições recorrentes do ninja; estava sabotando outras missões, trazendo perigo e desequilíbrio à vila. Tudo atrás de uma mudança ideológica que ele considerava necessária, como se a vida daquelas pessoas a quilômetros deles vivendo no vilarejo fossem meras peças num tabuleiro maior. Naquele momento, ele concordou com a opinião de Ito; aquela sociedade ninja precisava mesmo ser extinta — os shinobis não deviam ser armas usadas contra o povo, mas sim a favor delas. Mordeu o lábio mais forte, até quase sangrar, evitando perder o controle das emoções frente àquilo. Precisava continuar prestando atenção na conversa dos dois e foi isso que fez.

Ito acreditava na possibilidade de Orquídea tê-lo traído e enviado as coordenadas. Assumiu, porém, ter alterado o conteúdo da mensagem. “Nosso plano”, ele usou, colocando-os na mesma bolsa de criminosos. Citou o menino que os escutava silenciosamente, tratando-o como uma bomba prestes a ser estourada para que os planos deles se concretizassem. Orquídea, no entanto, não parecia participar ativamente. Já havia dito como o ninja arruinara sua vida e, naquele momento, considerava um crime o que Ito vinha fazendo. O som seguinte arrepiou o corpo do menino da cabeça aos pés; eles estavam retirando lâminas das bainhas para lutar.

Batsuki não teve muito tempo para refletir a respeito. Não teria reforços, não podia confiar em Ito, mas também não devia confiar em Orquídea. Naquele momento, precisava confiar apenas em si mesmo e em seu julgamento — um feito através da visão de um menino traumatizado com o sistema militar. Se ela fosse morta ali e o shinobi escapasse… seria ele o responsável. Isso havia sido posto de forma a fazê-la soar relevante aos propósitos da vila uma vez que ele foi chamado de sacrifício no mesmo contexto. Por isso, agindo mais por instinto do que por reflexão, quase se tornando o mesmo adolescente impulsivo do passado, ele fez uma ação que faria a diferença para o resto de sua vida.

As janelas explodiram quando ele moveu um braço e duas bombas de luz jorraram o clarão intenso, branco e amarelo, para cegá-los. Seria tudo muito depressa e o adolescente em momento algum encararia o brilho — havia ficado agachado todo o momento. No instante seguinte ao disparo de luz, esperando que eles estivessem afetados pelo brilho e aproveitando-se de sua camuflagem nas rochas, dispararia diversas kunais em velocidade máxima mirando os peitos e pescoços de todos os envolvidos na cena… exceto Orquídea. Realizou novos selos, aproveitando o sangue ainda manchado no dedo, e saltou para dentro da casa indiferente ao estado dos inimigos, pois ativou novamente a técnica de invocação sem ao menos saber exatamente quem estava convocando uma vez que Pina continuava no ar.

Uma cortina de fumaça muito maior que a de Pina surgiu dentro da casa e as paredes foram empurradas com força sendo destruídas. Batsuki, neste meio tempo, tentara agarrar Orquídea e puxá-la consigo para cima do dragão convocado, um ser de escamas amarronzadas, asas enormes e uma altura colossal. O objetivo era leva-la consigo nas costas do dragão enquanto ele levantava voo. Sem tempo para achar incrível tudo aquilo, se desse certo, deixaria a criatura mística seguir rumo ao Monte Husha com Pina atrás deles, largando as bombas se necessário, e faria uma única pergunta à mulher — com seu disfarce desfeito neste momento e uma kunai na mão apontando a garganta dela —, uma questão simples, mas que ele não conseguiria continuar guardando para si por muito tempo.

—— Que porra está acontecendo?!

Batsuki podia até salvar a mulher, mas iria querer saber tudo que estava acontecendo realmente naquela missão.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

Koryū & Jutsus:

O vento assoprava os cabelos loiros dos dois humanos às costas do dragão. A kunai esticada na direção da mulher não tremia um único centímetro, o garoto que a empunhava não tinha medo apesar da altitude em que estavam. Batsuki trincava os dentes na espera de uma resposta, ainda sem dar atenção ao majestoso animal invocado no calor do momento. As asas bateram, diminuindo um pouco a velocidade, dando a possibilidade do outro dragão ficar mais próximo em alguns minutos. Encarando-se, os humanos nas costas do animal místico tinham um fio que os conectava, gostando ou não; um fio de raiva pela traição da mesma pessoa. Todo o medo inexistente no coração do jovem Genin tinha sido substituído por raiva inteiramente direcionada ao shinobi que o convocara àquela missão, tentando fazê-lo carregar culpas desnecessárias.

A mulher se revelou como antigo membro do Bakuha Butai. Batsuki não deixou a informação se dispersar nos ventos de verão do país. Sabia que era o nível mais alto dentro do vilarejo, abaixo apenas do Kage. Um esquadrão focado em técnicas que combinavam em muito com seu elemento. No instante seguinte, ele notou um papel explosivo colocado nele — embora não soubesse em que momento ela conseguira aplicá-lo em seu antebraço. Baixou a mão, guardando a kunai de volta na bolsa, achando melhor ouvi-la do que perder um membro. Distante da vila com certeza morreria de hemorragia e não sabia se controlaria o chakra o suficiente para que a invocação continuasse existindo naquele plano.

Orquídea explicou mais dos fatos. As montanhas menores estavam condenadas. Pessoas inocentes morreriam. Batsuki desviou o olhar na direção delas, ainda escutando a voz da mulher chamada de criminosa pelo traidor da nação. Soltou um risinho anasalado com a ideia de arriscar-se a morte apenas na tentativa de salvar inúmeros desconhecidos, embora inocentes, de uma emboscada e acabar deixando coisas piores ocorrerem no país. A mulher continuou dando ideias e planos, prometendo, inclusive, uma promoção caso acompanhasse-a. A mesma promessa vazia dada a ele pelo traidor Ito. Soube na hora que não podia confiar plenamente naquelas palavras ou as coisas ficariam fora demais dos trilhos. Voltou a olhar na direção da montanha maior, refletindo tudo que tinha descoberto até então.

Pina desceu as patinhas em seu ombro, ainda carregando os papeis bomba, e o dragão maior acelerou, ainda na direção daquela montanha maior. As menores explodiriam, aquilo devia ser o motivo dos diversos chakras menores percebidos pelos sentidos do dragão menor. Nisto, ele acreditava nas palavras da mulher. Juntou também os fatos de como ela disse que o homem arruinara sua vida e, agora, citava-se como um membro do maior esquadrão existente na vila. Seja lá o que Ito fizera a ela tinha sido grande — e ele imaginava envolver uma armadilha semelhante àquela feita contra ele. Botou a mão no selo explosivo do antebraço e olhou direto no rosto da mulher.

—— Posso retirá-lo? —— perguntou, erguendo uma sobrancelha. Se ela confirmasse, devolveria a tarja explosiva à mulher. —— Eu não sou um herói. Não há ninguém naquelas montanhas que eu me importe de verdade, mas se essa fábrica for de verdade… Se o Monte Husha cair os efeitos serão enormes. Aí sim temos um problema com o qual eu me importe. Além disso, eu também quero que aquele filho da puta se foda.

Batsuki se levantou nas costas do dragão, sentindo o vento nos cabelos e o chakra fluindo nas solas dos pés para deixá-lo firme. Pina encarava a mulher e analisava constantemente o chakra dela na certeza de que não tentava nada mesmo sem o menino pedir formalmente. A montanha estava cada vez mais próxima e as menores, tornando-se ainda menores. Por mais que falasse aquelas coisas com tanta frieza, pensava nas famílias destroçadas na sua decisão de não ajudá-las, mas como resolveria? Ele não tinha tanta força assim e aquilo não dependia apenas disso de qualquer maneira. Precisava de tempo e estratégia, duas coisas que Ito havia prejudicado minunciosamente. Cerrou o punho, furioso. Queria encontrá-lo de novo e dessa vez não falharia em matá-lo.

—— Pina-san, mantenha o foco nos arredores. Qualquer aproximação suspeita ou movimentação perigosa me avise. Qual o nome do seu amigo?
—— Ei, moleque, eu também sei falar! Meu nome é Koryu, estou no caminho certo?

Batsuki desviou o olhar para a mulher e assentiu grosseiramente. Havia decidido continuar até a fábrica com ela, embora não confiasse completamente nela; mas acreditava num detalhe que casava com a conversa dela com Ito minutos antes. Sentindo uma rajada mais forte de vento bater no rosto, ele suspirou, aliviando a tensão nos ombros antes de voltar a falar com Orquídea: —— Ele te fez ser expulsa do esquadrão com alguma de suas mentiras, não é?

Ainda deviam ter uns minutos antes de chegar. Queria saber mais sobre a traição, entender como as habilidades dela seriam usadas numa situação furtiva e como exatamente fariam ele pagar apenas com segredos. Levaria a conversa quase num formato de interrogatório, apenas perguntando as coisas. “Como seus poderes explosivos serão usados de maneira furtiva?”, “como faremos acreditarem em nós?”, “quais os segredos que encontraremos lá?”, seriam as perguntas feitas após ela responder ou não aquela primeira questão.

Em momento algum baixou a guarda — o rosto de sua mãe estava muito vivo em seus pensamentos.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

Koryū & Jutsus:

Batsuki não viu o pai rir ou ao menos sorrir. A mãe, na infância, falava que era pelos treinamentos militares. Que ele havia aprendido a não demonstrar os sentimentos, embora ainda os tivesse e, por um tempo, ele acreditou nisso. Até usou isso como desculpa para não odiá-lo totalmente pelo incidente no seu quarto aniversário. No entanto, não demorou muito para notar que aquilo não tinha nada a ver com ser um shinobi. Havia alguma coisa mais profunda no olhar daquele homem, algo que ele escondia no fundo do coração e o rapaz jamais saberia. A risada forçada da mulher diante dele, em cima daquele dragão, o fez pensar nisso. No pai, nos mistérios escondidos no fundo daqueles olhos, no passado e no futuro.

Orquídea removeu a tarja explosiva do braço do menino e fez uma pausa. Batsuki aproveitou para olhar melhor o majestoso dragão invocado. As escamas pareciam refletir a luz do universo. Quis ter mais tempo para conversar com o dragão, mas precisava também desfazer a invocação o quanto antes — o cansaço começava a acertá-lo em cheio, se não chegassem logo no destino seria difícil sustentar aquela invocação. No entanto, não pode refletir muito sobre o assunto, pois, enquanto a montanha tomava mais forma diante deles, a mulher resolveu contar sua versão dos fatos e ele ouviu com atenção.

A história parecia sincera, mesmo que ele não acreditasse totalmente; uma tragédia amorosa e política. Ito era um rebelde sem causa — ao menos ele o via assim. Inconformado com um sistema por causa da própria incapacidade, ele quis mudá-lo. Contudo, diante da situação atual, o menino só conseguia vê-lo como um dos facilitadores para que o sistema ficasse distorcido. Julgou secretamente a mulher por acabar se envolvendo amorosamente com um homem tão patético, mas aquele pensamento podia ser movido pelo ódio sentido contra o shinobi no momento. E, indiferente àquilo ela acabou se envolvendo naquele plano rebelde. Não era assim tão diferente no fundo. Perdeu uma pessoa que a amava naquele emaranhado de egoísmos; e isso lhe rendeu um motivo para tentar mudar as coisas. Ainda assim, Batsuki não conseguia deixar de notar como, aparentemente, aqueles arquivos não mudariam tanto assim as coisas.

Apesar de tudo, ela não tinha explicado o motivo de ter sido deixada de lado. Se ela havia sido deixada de fora dos arquivos, como perdera seu cargo? Além disso, em nenhum momento ela havia esclarecido o verdadeiro plano deles. Naquele ponto, duvidou até mesmo de que ela estava ajudando-o. Faltavam informações muito importantes naquela história toda — e a pausa antes de iniciar toda a crônica dava a certeza de que ela havia analisado cada palavra antes de dizê-las. Também era necessário levar em conta que, indiferente ao que estava acontecendo, ela havia se envolvido com Ito de todas as formas possíveis.

O dragão se moveu na direção indicada por ela e assim que pousou se desfez numa enorme cortina de fumaça branca que se dissipou rapidamente por causa do vento da altitude da montanha. Pina continuava em seu ombro e ele apenas encarou o ser movendo a cabeça à espera de novas informações. Sentiu-se menos drenado com a despedida do dragão avermelhado, mas sabia que não duraria muito mais. Tinha de encontrar uma forma de recuperar os arquivos e evitar confrontos. Sabia, porém, que isso seria difícil acompanhado daquela mulher; mas também não podia largá-la e procurar sozinho. Duvidava muito que ela daria alguma informação precisa sobre a localização dos arquivos até chegarem na fábrica. Tudo estava contra ele — e, honestamente, ele achava que era culpa dele.

Seguiram a primeira parte do caminho, conforme explicado por ela. As rochas eram diversificadas e algumas tinham risco de despencar. Havia ainda alguns fios de aço amarrados em pedras diferentes como armadilhas. Ele não notou duas, mas Pina cravou as garras em seu ombro, chamando atenção e fazendo-o olhar melhor o caminho. Se não fosse o dragão as coisas seriam muito diferentes. Com passos cuidadosos, eles logo tinham passado de uma série de armadilhas, no caminho cujas teias-de-aranha se formavam nos cantos mais inesperados e o vento encanava assoviando, e alcançado a mina.

Retirou uma kunai da bolsa, segurando-a firme ao adentrar as minas na esperança de economizar chakra e energia. Até ali, seus movimentos haviam sido mínimos. Com a arma branca em mãos fez alguns cortes para se livrar de criaturas indesejadas que pareciam botar medo na kunoichi. Pina apertou as garras no ombro dele, mas dessa vez não era por causa das armadilhas.

—— Batsuki-chan, há vários chakras dentro deste lugar. Alguns são fracos, provavelmente civis, mas há outros mais expressivos.
—— Entendi… —— Batsuki estacou onde estava e girou a kunai no indicador, imaginando o melhor cenário possível. —— Isso significa que não podemos simplesmente avançar. Se você me contar onde estão os arquivos exatamente, eu mesmo entro e pego sem você se arriscar mais. —— Girou outra vez e cravou a arma contra uma aranha na parede ao seu lado, depois, removeu o manto roubado na estalagem anterior e estendeu-o para a mulher, guardando a kunai em seguida. —— Você pode esperar aqui com o Kakuremino no Jutsu e Pina ou arriscar correr com os guardas e Ito vindo atrás de nós.

Ele não avançaria até ela dar uma resposta; se ela aceitasse aquilo, usaria o Iwagakure no Jutsu outra vez, esgueirando-se pelas rochas com cuidado para economizar sua energia e evitar barulhos. Se ela não aceitasse, faria uma pausa na jornada para reorganizarem um plano de investida. Pina continuava atenta aos arredores de modo a avisá-los caso alguém se aproximasse indevidamente. Torcia para que sua postura mostrasse uma confiança nas próprias habilidades — mesmo que, no fundo, não soubesse exatamente se tudo acabaria bem.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

Koryū & Jutsus:

Batsuki tinha somente catorze anos de idade. Ele não era um adulto, ele não tinha experiência vivendo como ninja. Mal tinha vivendo como um civil. No mundo ninja é comum não lembrarem que muitos dos soldados são meras crianças, jovens relacionados ao militarismo desde cedo para defenderem os mais fracos — mas em nenhum momento isso os tornava mais velhos. Havia crianças que apresentavam genialidades em combate, muitos desses fizeram história, mas a maioria não tinha excepcionalidade alguma. Por mais que possuíssem linhagens sanguíneas ou simplesmente sobrenomes renomados… a grande maioria era formada de meras crianças lutando num mundo selvagem para serem notados.

Os insetos encheram a mão de Batsuki de feridas minúsculas. Inicialmente, não entendendo muito sobre o assunto, ele não se incomodou. Manteve-se firme à arma, tentando continuar em frente apesar dos machucados. Estava focado demais em concluir a missão, em fazer alguma coisa. Orquídea foi quem, por fim, resolveu a situação das criaturas da forma mais alarmante possível. Usando uma kunai e um explosivo fez com que uma explosão sucedesse seus movimentos e os bichos escaparam assustados.

Batsuki olhou para ela impressionado, mas tudo se desmanchou e virou preocupação ao perceber como a aparência dela indicava estar afetada de alguma maneira, com olhos sonolentos e a ânsia subindo-lhe a garganta; vomitando em seguida, apoiada nele. Culpando-se, ele serviu de apoio para ela durante o resto da trajetória, com os animais desaparecidos após o susto. Aos poucos, foi sentindo a ânsia crescer e os dedos da mão direita formigaram. Quando estavam quase no destino final, porém, o envenenamento se intensificou e foi a vez de ele esvaziar o estômago ao lado dela, derrubando a kunai com a falta de movimento na mão que a segurava.

Merda, são as picadas?, ele pensou, olhando a mão inutilizada, depois olhou a expressão dolorosa de Orquídea, ela parece muito pior, será que foi o acúmulo de ferimentos ou esse será meu destino?, a questão pairou sua mente com o rosto da mãe vindo em seguida, mas logo sendo nublada por uma lembrança mais densa; a expressão aterrorizante do pai na noite em que foi morto pelo filho. Isto, pois, seu estômago latejou como se levasse um dos socos que a figura paterna costumava acertar-lhe nos treinamentos. Querendo ou não, ele havia ficado mais durável pelos métodos nada ortodoxos do homem.

Na beira da escadaria, a mulher, ofegante e fragilizada, explicou onde estavam os documentos necessários. Batsuki assentiu calado, pois não haviam palavras que exprimissem o medo que começava a sentir. Pina olhou-o com apatia e ele repetiu o gesto com a cabeça. Pina saltou então ao ombro da mulher, mas deixou os papeis explosivos no ombro dele, os quais ele guardou de volta na bolsa de armas. Tomou a chave da mão da mulher e colocou na bolsa. Olhou a escotilha, preocupado nas estratégias possíveis. Depois, baixou novamente o rosto para a mulher que ficava fragilizada a cada segundo.

Após respirar fundo e ativar sua técnica de camuflagem, ele entrou.

No interior da fábrica havia uma máquina surpreendente, produzindo tarjas explosivas em massa; munição para uma explosão colossal. Batsuki manteve-se esgueirado na parede, aproveitando-se da formação rochosa para se esconder. Não viu sinal de detonadores ou bombas capazes de destruir a montanha, e não sabia se teria condições, mesmo se a encontrasse, de fazer alguma coisa. Precisava de provas concretas contra Ito — do contrário, ele é que estaria correndo riscos. Poderia ser considerado um nukenin se a versão dos fatos do ninja o colocasse como ajudante daquela mulher e um traidor da nação.

Esgueirando-se, chegou mais perto da máquina. Queria os documentos, precisava deles. Não tinha certeza se serviriam, mas alguma coisa provaria. Sacou da bolsa bombas de fumaça e as atirou em arco, para cima, para jogá-las no extremo oposto àquele ponto onde ele estava. Visava apenas chamar atenção para ficar mais perto daquela máquina, ainda camuflado. Ao fazer isso, porém, viu que não tinha mais nenhuma garantia de sair vivo dali; a dor no estômago o fez fechar um dos olhos por um breve instante de fisgada.

Ficou mais perto da máquina, buscando onde a chave entraria. Ouviu neste meio tempo um som de relógio abaixo dela. Após dez segundos, achou o que parecia uma fechadura. Agachou-se usando a mão esquerda para fechar o punho da direita e encostou a mão inútil no chão. Bakuton: Jiraiken, evocou em sua mente, fazendo a energia cinética da explosão percorrer todo o chão criando um tremor suficiente para derrubar a todos e gerar uma forte onda de choque; isto era apenas seu plano para impedi-los de correr atrás dele, pois, no momento seguinte avançou quase num salto tirando a chave da bolsa e enfiando na fechadura.

Um compartimento abriu revelando uma bateria e os documentos. Batsuki não tinha muito tempo, então apenas agarrou tudo de uma vez com a mão esquerda como se a vida dependesse daquilo. Não soube quando, mas uma saída de emergência surgiu, emitindo um forte clarão. Batsuki seguiu naquela direção com toda sua velocidade e agilidade para desviar de possíveis ataques, tentando enfiar os documentos numa das bolsas de armas mesmo se isso significasse derrubar a bateria removida, mas se não derrubasse, a carregaria consigo rumo à saída. Sabia que isso significava condenar Orquídea, mas não podia se importar com ela naquele momento; ele não confiava o suficiente na mulher e não arriscaria mais de si mesmo naquela missão vazia.

Precisava voltar para a vila. Impedir que o shinobi traidor continuasse seus planos distorcidos. Precisava voltar para casa e ver o sorriso esperançoso da mãe mais uma vez. Só mais uma vez bastaria para ele. Por isso, com toda sua velocidade, com o esforço máximo que seu corpo aguentava apesar da dor e da confusão, ele não interrompeu os passos um único instante; ele não vacilou em fugir dali sozinho, abandonando a mulher. Batsuki não hesitou em seguir em frente, deixando tudo ser devorado no seu caminho para que ele se tornasse mais forte; para que seus objetivos se concretizassem.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados:

Pina & Jutsus:

Tudo aconteceu rápido demais. A bateria caiu, os pés correram, o som explosivo alcançou os ouvidos do menino. Tudo começou a colapsar e mesmo sem olhar para trás em instante algum, ele sabia que inúmeras vidas estavam sendo devoradas na confusão. Vidas inocentes, as quais ele deveria se importar em proteger como um shinobi da vila, mas que não eram nada comparadas a própria vida e ao seu futuro, correndo o risco de não existir depois daquela missão. E também a vida da mulher colocada na vida dele por um acaso. Essa última, porém, pesava ainda menos na consciência cansada dele — ela era uma das responsáveis por tudo aquilo.

Batsuki não olhou para trás. Continuou em frente, ultrapassando obstáculos, enfrentando tudo que surgia na frente dele com o corpo cansado. As panturrilhas latejaram de dor, a mão teve mil agulhas fincadas por debaixo da pele, seu estômago levou outro soco e revirou. Um pé bateu noutro, o corpo inteiro dele foi ao chão e rolou ficando imundo de terra e pó. De lado, vomitou mais um pouco, apenas água e bile, virando a cabeça em seguida e encarando o teto rochoso que tremia pelas explosões ouvidas anteriormente. Seu corpo não obedecia suas ordens, estava no auge do cansaço. Não tinha como sair dali com vida. Com um olho entreaberto, ele viu tudo embaçado com as lágrimas enchendo-lhe atrás das pálpebras.

Mãe…, ele chamou na cabeça ao ver as rochas caírem na sua direção. No entanto, nenhum deus da morte estava presente para levá-lo. Um dos trabalhadores o puxou sobre um dos ombros e o movimento fez seu estômago esvaziar mais uma vez. Conseguiu ouvir a piadinha do seu salvador, mas não teve forças para responder, apenas olhou as pedras engolindo a passagem antes de apagar totalmente, se distanciando do mundo real.


Acordou com a cabeça zonza, o estômago ainda doía e a mão direita, embora não estivesse mais inutilizada, formigava. Piscou algumas vezes, tentando voltar a si, percebendo silhuetas próximas dele. Tentou mover-se, mas sentiu o puxão para trás nos pulsos. Sacudiu a cabeça para os lados, acordando de vez. Estava com as mãos algemadas atrás do corpo, sentado no chão com diversas lâminas apontadas em sua direção como Orquídea estava no momento em que ele decidiu ajudá-la.

Ito estava ali também, embora não sozinho. O Jonin encarregado do departamento começou a falar com o menino que ainda tentava entender o que estava ocorrendo porque não lembrava nem como havia sobrevivido ao desabamento dentro da montanha. Ouviu, então, o relatório da missão e ao ouvir o número de mortos não conseguiu esconder a surpresa ao arregalar os olhos e parar de se mexer. 452 vidas ceifadas em suas ações que poderiam muito bem chegar a mais de 500 dado os desaparecimentos. Quando o homem acertou a parede, ele voltou a si, encarando-o com os cabelos loiros caídos sobre a testa devido à exaustão.

—— Amarrados? Céus, você ia matar pessoas amarradas? —— perguntou, direcionando a fala ao traidor. —— Agora entendi quem eram aqueles caras com espadas… Ito quis me levar para a missão, falou de encontrarmos uma suposta informante chamada Orquídea, mas desviou do caminho quando achava que eu estava dormindo. Ouvi da boca dele, ao investigar, que ele adulterou a mensagem enviada à vila sobre as bombas. A mensagem original foi enviada por essa tal Orquídea, uma ex-membro do Bakuha Butai, removida numa operação em que o namorado, também membro, foi assassinado segundo ela.

O estômago doeu e ele baixou o rosto. Falar depressa estava revirando tudo de novo.

—— Tive de intervir, pois estava longe demais para chamar reforços. Isso tudo ocorreu enquanto deveríamos buscar as bombas. Orquídea me contou os planos de destruir as montanhas próximas e terminar com Husha acabando também com todas as provas que tinha contra Ito —— Batsuki levantou o rosto encarando o traidor com um sorriso provocador. —— Mas eu fui até aquela porra de montanha e recuperei todos os documentos provando que esse desgraçado filho da puta está envolvido até o pescoço nessa e em outras merdas.

Começou a tossir na sequência. Não tinha nada em mãos, então imaginava que não adiantaria de nada e ele seria condenado ali mesmo. Contudo, ao mexer a cabeça, notou sua bolsa de armas ainda intacta. Viu todos os homens com as lâminas e lembravam em muito aqueles derrubados por ele anteriormente. Desconfiava que o traidor tivesse seguidores ali dentro, assim como Orquídea um dia foi. Preferiu não comentar nada diretamente, mas tentou ser sutil. Olhando para o verdadeiro líder, depois mirando a bolsa de armas. Esperava que assim ele percebesse, somado ao comportamento e a história de Ito. Se ainda assim não adiantasse, ele avisaria a plenos pulmões que os documentos estavam ali.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (40/40):

Jutsus Usados: