Detestava o aroma de flores, enjoativo e doce em demasiado. Eram bonitas de se observar, mas péssimas de cuidar, como bem percebeu ao regar alguns exemplares. Os clientes, para ela, eram a pior parte. Antipática e azeda, respondia as perguntas num tom ríspido e duro, assim como usava uma lábia distorcida para tentar convencer um casal a comprar as flores mais raras e caras do estabelecimento. Pensou em desembolsar uma comissão ao desviar o dinheiro do caixa, mas havia acatado deliberadamente a função de auxiliar da médica por apenas um dia.

— Se eu roubar, não vão me deixar fazer mais nada e ainda paro na prisão. Não suportaria passar um dia inteiro atrás das grades — comentou para uma rosa, despejando um pouco de água em seu vaso — Você, sua coisa pequena e estúpida, qual a sensação de estar no mesmo lugar, feito uma inútil? Se bem que, no fundo, é isso que os ninjas fazem. Servem num único lugar, até morrer, como você. Se saem, morrem. É esse o destino deles, viver de suas terras. Que ironia — o monólogo era a única coisa que restava naquela tarde tediosa.

Permaneceu em suas atividades por horas, até o corpo pesar e o pôr do sol chegar. A médica retornou, agradecendo por sua disposição e qualidade. Deu uma risada seca, e se limitou a pedir a sua diária, antes de partir. “Como se eu realmente fosse boa em lidar com gentinha chata e essas porcarias coloridas. O que eu quero mesmo, é dinheiro”, pensou, pegando suas coisas e partindo. Treinaria um pouco com sua espada antes de adormecer, sentindo saudades de sentir o peso da lâmina e o prazer de direcionar um golpe num alvo imóvel.

(...)

Sentiu um tremor repentino, seguido de gritos e um escândalo generalizado. O barulho a desagradou tanto quanto atiçou sua curiosidade, avançando em uma velocidade de 10m/s rumo a matriz. Uma mina havia desabado, percebeu, e alguns trabalhadores aparentavam estar presos em seu interior, clamando por ajuda. Com sua força ligeiramente próxima de seu limite, alcançando o patamar acima de um civil comum, conseguiu remover as pedras que estavam obstruindo o caminho, deixando o caminho livre para buscar os retardatários. Eram dois homens, um aparentemente com a perna quebrada.

— Você aí, consegue andar? — falou para o segundo, sem rodeios.

— Estou de boa, só não sei por onde sai mais — ele respondeu, e logo sentiu o odor pesado de fezes em sua narina.

— Você é um cagão, não tem mais idade para usar fraldas — zombou, fazendo um gesto trocista para o cheiro — Me siga, e em silêncio. Se você abrir a boca de novo, capaz que eu caio com esse bafo — cuspiu no chão  e pôs o ferido no colo — Bora, daqui a pouco o teto cai por cima da gente.

Correu, mantendo a velocidade no mesmo patamar de outrora, evitando gastar seus limites de maneira desnecessária. Levou a dupla para fora um pouco antes de ouvir o último estrondo. A mina inteira havia terminado de desabar. Um sorriso triunfante surgiu em sua face, sabendo que por uma noite poderia clamar a si mesma como uma heroína. Mas não importava. Largou o homem no chão, fazendo ele guinchar devido suas fortes dores, e o outro olhou estupefato para os modos da Genin.

— Você é uma babaca, mas lhe devemos a vida — o trabalhador admitiu, mesmo estando enojado.

— Seguinte, não pedi sua opinião. E aproveita que tá me devendo a vida e já vai adiantando um pagamento. Obrigado não paga conta, e um sorriso não melhora meu dia. Meus serviços não são 0800 — pôs as mãos nos ryō, passando por entre as narinas para desfrutar do aroma — Isso que é cheiro bom de verdade. Até a próxima, molengas. Vê se não tropeçam numa pedra da próxima vez — riu, antes de partir.