Desde que eu me lembro por gente, eu sempre quis fazer parte de algo maior do que eu mesmo. Talvez fosse um sonho estúpido para uma criança que tinha uma expectativa bem alta sobre si mesmo, enquanto que a sociedade sempre manteve apostas contrárias. Mas a verdade é que eu sempre quis ser como um super-herói das revistas que eu pegava escondido do Abraham, porque eu acreditava que só assim eu seria reconhecido pela minha família e pelas pessoas que me rodeavam. Só que demorou muito para que eu entendesse que não são as coisas que você faz que te tornam alguém reconhecido, mas as coisas que você tem que te definem. Eu não sou um herói, nem mesmo um vilão. Eu sou aquele que caminha nessa terra, tentando esquecer o passado sombrio atrás de mim, vivendo um dia de cada vez, focando no presente, e somente nele.

   Naquele dia, eu recebi uma mensagem de Ryuuzaki, dizendo que eu deveria encontrá-lo no bar Seven Dragons, um lugarzinho de merda que eu não gostava de ficar mais do que cinco minutos. Só que naquela noite, ele tinha prometido que ele me colocaria a par de todas as coisas que eu deveria saber. Por isso me arrumei com uma jaqueta preta, uma blusa branca, uma calça jeans com o cinto preto, caminhando em passos lentos pelas ruas, enquanto as pessoas caminhavam com uma certa urgência. As pessoas sempre andam com muita pressa pelas ruas, e mesmo naquele ambiente caótico causado pelo Arrebatamento, as pessoas ainda tentavam manter as aparências, fingir que estava tudo bem. Mas não estava nada bem. Nunca mais as coisas voltariam a ser as mesmas.

   Quando cheguei no bar, pude notar que Ryuuzaki não estava sozinho, nem mesmo na mesa onde ele costumava ficar. O local que ele estava era mais no canto, cercado de três pessoas. Eu moderei os meus passos, evitando encarar as pessoas ali de volta, não porque eu tinha medo daquelas pessoas, mas porque não queria dar confiança a nenhuma delas. Ao me aproximar o suficiente da mesa, fui reconhecido imediatamente por Ryuuzaki, que abriu um grande sorriso.

   ― Olha quem chegou. Eu disse para vocês que ele viria! – comemorou Ryuuzaki.
   ― Então esse é o elfo que você recrutou para a nossa equipe? – perguntou um homem negro de mais de dois metros sentado com eles.
― Elfo? – questionei, mesmo sabendo que aquilo era para mim.
   ― Não esquenta, garoto! Sente-se conosco! – me convidou, e eu logo puxei uma cadeira pra se sentar com eles, e então fui apresentado aos amigos, se assim posso dizer, do Ryuuzaki. – Nate, esses são B.A, Kimiko e River. Rapazes, esse aqui é o Nate.
   ― Nathaniel Grey. – me apresentei de forma educada.
   ― Um elfo de verdade, nunca tinha visto um. – disse o homem negro, que parecia mais um segurança de boate do que um ninja.
   ― É porque todos estão entocados em Silvermoon. – o rapaz loiro com a cara esquisita pronunciou com um sotaque esquisito. Aquilo tudo já estava me deixando irritado.
   ― Eu não vim aqui para sofrer chacota de vocês. – avisei, me levantando imediatamente, mas Ryuuzaki segurou em meu ombro.
   ― Relaxe, garoto, aqui é assim mesmo. Logo logo você pega o espírito da coisa. Sente-se. – pediu, mas eu os encarei com raiva. – Por favor. – pediu com calma, e logo fui relaxando. Logo percebi a garota de cabelo azul fazendo alguns gestos com a mão.
   ― Por que ela está fazendo esses gestos? – questionei-os.
   ― Porque ela não consegue falar, gênio. – o loiro, que se chamava River, falou com ironia.    – Kimiko te chamou de Orelha Pontuda. – ele começou a rir, me deixando vermelho de raiva.
   ― Vamos acabar com as brincadeiras, por ora. Temos algo importante para tratarmos aqui. Nate, você sempre quis saber o porquê de seu amigo ter morrido, não é? Está na hora de saber o que ele sabia. – ele pegou a pasta em cima do seu colo e colocou na mesa. – Seu amigo Goji descobriu coisas que algumas pessoas não sabem, algo que ele flagrou num dia normal. Essas fotos, foi ele que tirou. Ele descobriu que algumas pessoas em Konoha, pessoas em cargos importantes, passaram a se aproveitar de todo o caos que o canalha do Pastor gerou para extorquir os menos favorecidos. Mais do que isso: eles passaram a usar os mais pobres para fazerem mais dinheiro. Como? Colaborando com os criminosos deste mundo. Policiais, ninjas da elite, juízes, todos envolvidos, todos comendo na mão de alguém, alguém que a muito tempo achávamos se chamar Uchiha Keisuke. Mas o filho da puta real não é Keisuke. Este está morto há muitos anos, mas o cara por trás disso é o seu irmão gêmeo... Uchiha Kiyoshi. – ele disse com uma certa ira. Parecia que a sua contenda com o cara era um pouco pessoal.
   ― E foi por isso que o meu amigo morreu? – questionei, olhando as fotos que Goji tinha tirado. Ele sempre foi um bom fotógrafo, e as fotos mostrava policiais da vila recebendo dinheiro de comerciantes.
   ― Sim. Ele iria expor toda a merda pro mundo, porém não teve tempo para isso. E tem mais uma coisa... O cara que mandou matar o seu melhor amigo foi o seu irmão Abraham. – Ryuuzaki disse na cara dura.

   Aquilo caiu na minha cabeça como uma bomba. Eu sabia bem que aquele filho da puta tinha algo a ver com o meu melhor amigo, mas ter aquilo confirmado por uma outra pessoa só me fazia ter certeza de tudo aquilo. Naquele momento, eu tinha vontade de explodir, quebrar aquele bar inteiro, e arrancar o sangue de Abraham com a unha. Minha respiração ficou ofegante, por isso tive que respirar fundo para recuperar o controle da minha mente.

   ― Eu não sei o que vocês fazem, mas eu quero fazer parte disso. Quero ajuda-los a expor essa merda toda. -  disse com uma grande ira. Naquele instante, as piadinhas terminaram.
   ― Eu imaginei isso. A partir de agora, você faz parte da nossa pequena operação. Mas você tem que entender uma coisa aqui: não seremos os protagonistas de uma grande história, nem mesmo seremos chamados de heróis. Não seremos agraciados pela sociedade, e nem vai poder contar as nossas missões para as menininhas. Nossas missões não serão oficiais, o que quer dizer que não receberemos recompensas em dinheiro, ou qualquer coisa. Tudo o que fizermos a partir de agora será com um único objetivo: foder todo mundo que fodeu a gente. Está de acordo com isso? – questionou Ryuuzaki.
   ― Eu aceito. – disse imediatamente,  então acabamos apertando as mãos.
   ― Bem-vindo a nossa gangue, Elfo. – Ryuuzaki disse com um sorriso.