Um ninja deve saber seus limites melhor do que seus poderes. Batsuki ouviu a mãe falar isso inúmeras vezes durante seus anos como acadêmico, tentando fazê-lo não afundar em treinamentos loucos ou numa espiral de egocentrismo. Claramente, não havia funcionado muito bem. Porque ele continuava achando que a força bruta servia para todas as tarefas ninjas — soldados não precisavam de outras qualidades, certo? Quando voltou ao centro de missões atrás de novas tarefas esperava ser usado como um soldado novamente; até serviços braçais faziam parte dos ensinamentos ninja. O militarismo às vezes não tinha mesmo outra serventia. A missão recebida, entretanto, passava longe de uma atividade física.

Foi assim que ele acabou de avental branco florido atrás de um balcão com os olhos tremendo de raiva, torcendo silenciosamente para que nenhum cliente entrasse na floricultura. Claro que suas preces não deram certo, o estabelecimento não teria contratando-o se não tivesse demanda. O primeiro cliente foi um civil comum de aliança no dedo e cabelos pretos. Seu sorriso abobado incomodava Batsuki.

—— Ohayo gozaimasu! Quero algumas camélias, por favor.
—— Só um minuto…
—— Você já se apaixonou antes? —— o homem indagou apoiando-se no balcão.
—— Hã?! —— Batsuki virou com um olhar explosivo. —— Isso é besteira!
—— Ah, meu jovem, não é, não. Devia testar.

Batsuki terminou de recolher as flores apertando os caules com muita força e atirou em cima do balcão fazendo algumas folhas pairarem sobre a cabeça dos dois. —— Pro inferno com essas besteiras! Deu R¥1.000. —— Anunciou, incomodado, com a mão estendida. Ainda com o mesmo sorriso, o homem tirou uma nota e deu ao menino. Deu as costas, puxando o buquê consigo e parou na frente da porta.

—— Quando isso acontecer, tenha certeza de aproveitar cada minuto.
—— Quem você pensa que é pra me dar esse tipo de conselho, hã?!
—— Alguém que irá entregar flores para uma lápide.

O homem foi embora. Batsuki baixou a cabeça engolindo a própria estupidez. Às vezes era fácil esquecer que o mundo lá fora era marcado por guerras e mortes o tempo inteiro. Se não pelos combates militares, por mercenários, doenças e acidentes. Cabisbaixo, ele mordeu o próprio lábio, lembrando do velório de caixão vazio dado ao pai que havia se tornado um amontoado de cinzas carbonizadas devido à explosão. Ele merecia, não merecia? Por que ainda o incomodava…?

Duas adolescentes mais ou menos da idade dele entraram na floricultura. Depois uma mulher mais velha. Um jovem começando a vida adulta. E outras tantas pessoas as quais ele xingou, falou alto e atendeu, sempre conhecendo novos microuniversos dentro de uma simples floricultura; no fim do expediente, embora cansado, sentia ter aprendido alguma coisa muito importante.


O entardecer havia levado o sol embora quando Batsuki saiu da floricultura. Encontrou, encostado num poste do outro lado da rua, um dos membros da sede de missões da vila. Viu-o e chamou-lhe com um aceno característico do sistema militar básico. O garoto não conseguiu a euforia e mostrou um enorme sorriso desafiador. Se eles tinham ido atrás dele pessoalmente, só podia significar que era uma missão mais intensa que ficar cuidando de uma loja, certo? Errado.

—— Precisamos de você na biblioteca da vila.
—— Tá me confundindo com um daqueles nerds de merda?
—— É uma missão.

A voz do homem saiu mais forte depois da pergunta do menino, a postura dele também havia mudado e ficado mais séria. Batsuki não notou esses detalhes tão claramente, porém, o pergaminho empurrado contra seu peito falava mais alto do que os pequenos sinais. Havia irritado um superior. Um superior de óculos e cabelos lambidos para trás… ah…

—— BWAHAHAHAHAHA! Foi mal, foi mal, não quis ofender.
—— Apenas faça a missão conforme está no pergaminho —— ele anunciou e ajeitou os óculos. —— Depois está livre por hoje.
—— Sim, senhor.

O shinobi foi embora balançando a cabeça para os lados. Batsuki leu todas as instruções e xingou mentalmente o superior com todos os palavrões imagináveis.


De novo. Batsuki estava usando avental de novo.

Segurando um balde numa mão e um esfregão noutra, tudo o que ele queria era explodir todas as estantes, mesas e cadeiras como se não fosse nada. A bibliotecária simpática havia começado os agradecimentos antes mesmo do trabalho e ele também gostaria de mandá-la pelos ares — embora apenas de forma metafórica.

Tentando não queimar de dentro para fora, ele começou a fazer a atividade que mais detestava na vida: limpeza. A mãe havia lhe ensinado… muitas vezes. Não era um péssimo faxineiro, longe disso, mas detestava ficar com as mãos molhadas. Sentia-se desprotegido assim, embora soubesse que suas técnicas explosivas funcionariam de qualquer maneira. Mas a missão era tão simples que ele não se abateria com suas próprias paranoias. Terminaria aquilo de uma vez para ter uma chance de fazer missões que parecessem verdadeiras tarefas ninjas.

Arrastou estantes, tirou livros das prateleiras, botou cadeiras para cima das mesas e revirou tudo do avesso. Panos, vassouras e esfregões se transformaram em armas potentes nas mãos do menino. O expediente da biblioteca já havia terminado então o silêncio era ainda mais absurdo que momentos normais. Isso lhe deu a oportunidade de prestar atenção nos títulos de algumas lombadas — havia muito conhecimento interessante ali, coisas realmente úteis para um ninja.

Mas eu não sou um daqueles nerds, pensou, mas não conseguiu tirar os olhos das lombadas enquanto os colocava de volta. Por isso mesmo posso estudar sem me tornar um fracassado de merda, concluiu terminando seus serviços. Antes de sair, porém, ele tinha certeza de que voltaria em breve. Não mais como um funcionário improvisado — esperava não ter mais nenhuma missão de limpeza na vida —, mas como o futuro melhor ninja de Iwa se especializando ainda mais.

Considerações:

Bolsa de Armas (20/20):

Jutsus Usados:

Missões: