Numa noite tão fria quanto aquela, Nathaniel saia com o seu moletom preto e a calça jeans escura, caminhando com as mãos no bolso e o capuz cobrindo o seu rosto. Não gostava de manter uma postura sombria e antissocial, mas protegia a si mesmo para que assim se manter focado no seu verdadeiro objetivo: evoluir. Para isso, não se permitia distrações, e por mais que as ruas estivessem praticamente vazias, sempre poderia esbarrar com alguém conhecido ou com alguma pessoa que ele nunca mais desejava ter contato. Evitava olhar nos rostos das pessoas, limitando-se a cumprimentar alguns com a cabeça, até que chegou no Quartel General, onde tinha sido chamado.

   ―  Saudações, Sr. Grey. Soube que está pegando missões mais difíceis agora. Sua família deve estar orgulhosa. Como o seu irmão Abraham está? - questionou o Chuunin sentado na mesa, pegando alguns pergaminhos de missões Rank C.
   ― Geralmente eu não procuro saber muito sobre o Abraham, senhor, nem minha família procura saber de mim. - pontuou de forma sincera e educada, olhando para os olhos do Chuunin.
   ― É, isso é uma merda. Eu também não tenho muito contato com minha família. Depois que Jashin veio e levou a alma da minha irmã e de dois tios meus, a família rachou completamente. - comentou. - Ele levou alguém que você amava? - questionou.
   ― Só as pessoas que me amavam. - disse Nate, nenhum pouco interessado naquele assunto.
   ― Entendi. - o Chuunin desistiu de continuar aquele assunto ruim, segurando um pergaminho em cada mão. - Bom, eu tenho duas missões pra você: uma aqui em Konoha, e uma em Kusa. A de Konoha, é trabalhar de segurança em uma festa infantil, e essa aqui é pra escoltar um comerciante até Kusagakure. Escolhe aí. - o cara balançava os pergaminhos nas mãos.
   ― Bom, a primeira missão parece muito mais fácil.Pelo menos é aqui dentro de Konoha, no máximo vou ter que separar uma briga ou outra. Viajar pra Kusa é mais complicado, podem ter ladrões no caminho. Bom, vou escolher a primeira. - disse para si mesmo.

   Nate esticou a mão esquerda para pegar o pergaminho da mão esquerda, que o levaria a ser segurança de uma festa. Porém, o seu instinto acalorou o seu corpo e lhe causou um leve arrepio, levando seus olhos a olharem para o pergaminho da mão direita. Antes de agarrar o pergaminho da mão esquerda, Nate acabou escolhendo pela missão de escolta, segurando o rolo de papel na mão, segurando-a.

   ― Pegou logo a mais difícil. Deve estar querendo ação, né? Enfim, o senhor Keigo-san estará lhe esperando nos Portões de Konoha as 21:00. Sugiro que não se atrase, pois podem ter ladrões no caminho. - avisou, pegando uma foto do homem em um envelope. - Ele vai estar com uma carrocinha cheias de chá de todos os tipos. É um milagre ver alguém prosperando nessa época, mas isso atrai gente da pior espécie. - disse.

   [...] Nathan conferiu o relógio e rapidamente percebeu que só tinha alguns minutos para chegar ao ponto de encontro com o senhor. O homem não estava lá com a cara muito boa, batendo o pé como se fosse uma criança mimada.

   ― Está atrasado! - reclamou o velho.
   ― Desculpe a demora, recebi os status da missão há poucos minutos. Podemos partir, se quiser. - disse para o homem.

   Os dois então começaram a caminhar para fora de Konoha, com Nate evitando falar muita coisa nos primeiros minutos, já que o velho homem estava bastante avoado e parecia ficar sonolento a cada minuto. Com uma curiosidade que lhe bateu de repente, Nate resolveu puxar assunto com o homem.

   ― Por que resolveu fazer essa viagem a noite? Quero dizer, as viagens noturnas são bem mais perigosas. Podem ter armadilhas, ladrões e animais selvagens. - argumentou.
   ― Você nunca deve ter saído da vila, não é, menino? - resmungou o velho. - Hoje em dia não tem hora certa não. Você pode ser assaltado a qualquer momento, principalmente de dia. - avisou.

   Tal coisa deixava Nathaniel com a pulga atrás da orelha.

   O Sr. Keigo passou dez minutos explicando o que estava acontecendo para Nate, enquanto acendia tochas para ambos: comerciantes e viajantes estavam sofrendo constantes assaltos, não só nas fronteiras entre a vila e as colônias, mas também dentro das suas próprias lojas. Parecia que os ladrões sabiam exatamente os horários em que as patrulhas de Konoha passavam ou quando se moviam de lugar, sempre assaltando as lojas durante as brechas existentes. Aquilo tudo deixava Nate chocado.

   ― Espera aí! Está dizendo que existem assaltos acontecendo constantemente nos arredores de Konoha e nas fronteiras e ninguém faz nada para coibir? Quer dizer, por que vocês não denunciam esses casos para a polícia de Konoha ou para os ninjas da vila? - questionou Nate de forma inocente.
   ― A polícia de Konoha? Você acha que eles ligam? Eles orientam sempre a nos render e não fazermos nada que possa colocar as nossas vidas em perigo. Eles não ligam para o que nos acontece. - falou o comerciante, cheio de rancor.
   ― No mínimo, estranho. - pensou em voz alta.
   ― A verdade é que parece que sair a noite parece ser muito menos perigoso do que sair de dia. Que ironia, não é? - o velho comerciante disse. - Eu preciso cuidar dos meus filhos sozinho. O mais velho está na universidade, pois quer inventor. Ele quer criar máquinas sustentáveis, que preservem a natureza e nos dê o sustento para nos reerguermos. - ele comentou. - E tem minha filha caçula também. Ela sente falta da mãe. Minha esposa era uma mulher jovem, cheia de vida e cheia de opiniões. Só que... Ela era muito cabeça-dura. Se recusava a abaixar a cabeça pros ladrões. - contou. Não era necessário dizer mais do que isso.
   ― Eu entendo... Sinto muito por isso. - disse com as mãos no bolso do moletom.
   ― Está tudo bem. Eu ainda tenho meus filhos. - sussurrou.

   De repente, dois homens saiam dos arbustros, puxando foice e uma adaga. Nate acabou olhando para o coroa, quando olhou para cima e viu mais dois homens em cima de galhos de árvores. Ele tinha sido descuidado, e não cogitou a possibilidade de terem inimigos próximos.

   ― Bem que disseram que eles passariam qui a essa hora. Aí, garoto, saia da frente, ok? Só pegaremos os carrinhos e iremos embora. - ordenou um dos bandidos.
   ― Por favor, senhores. Essa encomenda é tudo o que eu tenho. Preciso fazer dinheiro para sustentar a minha família. - pediu o senhor. - Por favor, tenham misericórdia com este pobre senhor.

   A resposta de um dos bandidos foi imediata: ele usou o cabo do facão para dar uma coronhada na sua cabeça, o fazendo cair no chão, abrindo um corte leve na sua cabeça. O bandido ainda chutava a barriga do comerciante.

   ― HEY! - bradou Nate, quando o líder do banco colocou a espada no pescoço do Gennin.
   ― Fica quietinho, garoto, apenas colabore. - ordenou. – Rapaziada, confiram o que tem aí, e vamos levar a carroça. – avisou, fazendo os bandidos rirem. – E se tu falar alguma coisa, velho, vai morrer aqui mesmo. – ameaçou.
   Nate, sem ter o que fazer, acabou colocando as mãos para cima. Sabia bem o que tinha que fazer naquela situação, mas precisava do momento certo, de um único segundo de distração. Olhava para os ladrões conferindo a carga, o seu “cliente” caído no chão, levando a mão ao galho em sua cabeça, e o bandido com a espada em seu pescoço.

   Nate estava tenso, sentindo uma leve dificuldade para assimilar todas aquelas coisas. Ele tentava parecer durão, mas a realidade é que nunca tinha vivenciado tais coisas. Tudo o que tinha de conhecimento era dos treinos que fazia na Academia Ninja. Nunca treinou com os seus pais ou com o seu irmão mais velho. Nate tremia bastante, até que ouviu as palavras do bandido.

   ― Relaxa, garoto, vamos terminar logo. Aí vai poder voltar para casa. - sussurrou o líder dos ladrões, piscando para Nate. Naquele instante, o jovem Nathaniel teve um pensamento que lhe era bem confuso: por que aquele homem estava lhe tratando como se ele fosse um cumplice em seus atos.

   Lembrou-se imediatamente das palavras do velho comerciante sobre a displicência da polícia de Konoha sobre aqueles casos. Talvez... Talvez os bandidos achassem que ele fazia parte do plano. De repente, Nate percebeu uma coisa: o bandido parecia olhar constantemente para os lados, parecendo relaxado demais para alguém que tinha rendido um ninja.

   Num segundo, Nate deu um salto para trás, ficando longe dos adversários, e então num único movimento, Nate correu na direção do bandido, que baixou a guarda, acertando um soco em seu nariz, o jogando para longe, deixando a espada cair. Nathan acabou chutando a espada para longe, realizando selos manuais rapidamente, fazendo com que o seu cabelo crescesse de uma maneira excepcional, o levando a criar uma cabeça de leão a partir dos seus fios, que partiram em direção aos bandidos. Eles, acuados, acabaram por sair correndo, pois não pareciam forte o bastante para um combate envolvendo ninjutsu.

   O velho comerciante se levantou imediatamente, olhando para a cena toda, dando um sorriso de alegria. Ele abraçou o jovem Gennin, dando graças aos deuses por ter conseguido salvar a sua carga sem ter sido roubado nem mesmo um centavo.

   ― Você é realmente um herói, garoto! Salvou a minha vida e os meus negócios! - agradeceu o velho homem.
   ― Isso foi muito estranho, senhor... Precisamos levar a sua encomenda e voltar para Konoha imediatamente. - sussurrou, olhando nos olhos do homem.
   ― Tu... Tudo bem. - sussurrou, e então os dois voltaram a fazer a viagem.

   Dali em diante, não houveram mais problemas, apenas indagações que poderiam acabar ficando sem respostas. No fundo, Nathaniel ficava aliviado por não ter que entrar em uma luta corporal ou em uma batalha até a morte. O medo de uma luta real havia sido instalada em seu coração. Naquele instante, fora inevitável lembrar do seu melhor amigo, morto por aí. Os pensamentos se tornavam confusos, e o garoto não sabia o que fazer, nem mesmo o que falar. Apenas concentrava-se em um momento de cada vez, torcendo para não ser o próximo.

   A entrega da mercadoria em Kusa ocorreu perfeitamente. Assim que chegaram no local indicado, o dono da loja de chá os atendeu prontamente, oferecendo um lugar para Nate e o comerciante passarem a noite. O garoto acabou dormindo mais do que esperava, sendo acordado no dia seguinte pelo Sr. Keigo, e então os dois seguiram viagem de volta para Konoha. Assim que chegaram na vila, Nathaniel foi direto para o Quartel General da vila, onde não só relatou que a missão tinha sido cumprida com exito, como também realizou um comentário sobre as palavras dos ladrões. Naquele dia, o Chuunin que estava de plantão não era o mesmo da noite, sendo um homem ruivo com a postura rude. Ao ouvir seus comentários, ele rapidamente lhe encomendou uma nova missão.

   ― Quero que faça o seguinte: vá para casa, tome um banho e descanse. Depois, quando for noite, quero que encontre o Koji, o idiota do turno da noite. Ele estará de folga hoje, então é provável que esteja no bar a Oeste da vila, onde gente de laia ruim costuma ir. Você deve ir para lá e tentar descobrir alguma coisa. Está bem? - disse o Chuunin, enquanto escrevia umas coisas no pergaminho, assinando e rapidamente entregando o pergaminho para ele. - Boa sorte em cumprir a missão. - desejou boa sorte, liberando o rapaz para cumprir a sua missão.

   Nathaniel foi para casa e rapidamente entrou no banheiro, para tomar banho. A água batia em seu rosto por alguns segundos, enquanto ele tinha alguns flashes da batalha do dia anterior. Nunca tinha estado em uma luta daquele nível antes, somente os combates na academia, que não haviam riscos de morte. Para ele, estar em uma luta de verdade era bastante assustador. Nate respirava fundo, tentando controlar os seus pensamentos e também a sua ansiedade.

   ― Ainda bem que aqjeles caras fugiram. Imagina se eles quisessem lutar até a morte? Eu estaria morto agora, MORTO! Eu preciso me preparar, pois as missões ficarão mais difíceis a partir de agora. Eu não posso amolecer, não posso! - dizia para si mesmo mentalmente, dando um murro na parede, voltando a tomar banho. Precisava cumprir com o seu propósito.

   O dia foi um pouco complicado. Nathaniel acabou sonhando com o seu melhor amigo, Goji, onde ele implorava para ser salvo pelo Grey. Quando o garoto acordou, ele estava extremamente suado e respirando de forma ofegante. Ele passou a mão pelo rosto, sentando-se na cama, sentindo uma grande tristeza e ausência pelo seu amigo. Era difícil sentir aquilo tudo e não podendo estar com o seu amigo, porém ele precisou superar tudo aquilo, pois tinha uma missão a cumprir.

   Quando anoiteceu, Nathaniel foi para o bar indicado no pergaminho, onde encontraria com o homem que tinha lhe passado a missão anterior. Assim que passou pela porta do bar, Nate sentiu alguns olhares sobre ele, todos indicando que ele era um forasteiro naquelas áreas, portanto não era bem-vindo. Mesmo assim, Nate foi para a cadeira cuja mesa estava atrás do homem que estava procurando, mantendo a cabeça baixa. Quando a garçonete veio perguntar o que ele queria, o Grey só pediu um copo de água, sabendo que ela pegaria água da torneira, senão da privada. Ignorando tal fato, Nathaniel buscou manter a sua atenção na conversa do Chuunin que estava atrás dele, parecendo desesperado ao conversar com dois caras.

   ― Mas não foi minha culpa! Me passaram que todos os Gennins do turno da noite que pegam missões de escolta estavam no esquema. Eu não tenho culpa se o garoto foi pedir missão nessa hora. - se explicou.
   ― Isso nos gerou um problema, porque aquela carga tinha um valor alto. - comentou. - Alguém vai ter que pagar pelo prejuízo que tivemos. - o homem disse, parecendo ameaçador.
   ― Esperem, não façam isso, por favor. - pediu o Chuunin. - Eu preciso desse dinheiro pra pagar as minhas dividas. Não me tirem esse extra. - implorou.
   ― Você prefere perder a mesada ou a vida? - questionou o cara, ficando um silêncio constrangedor. - Na próxima vez , certifique-se que os garotos certos recebam as missões corretas, ou na próxima vez, não vai perder só a bolada do mês. - avisou, e então os dois caras se levantaram e foram embora.

   Logo que os caras saíram do bar, o Chuunin encarregado da noite começou a chorar. Nathaniel olhou para trás para ver como ele estava, percebendo que o mesmo estava com as duas mãos sobre o rosto, chorando demasaidamente. Era a hora perfeita para o Gennin se levantar e sair dali rapidamente, antes que fosse notado pelo mesmo. E assim o garoto fez, se levantando na surdina e caminhando em linha reta em direção ao bar, não deixando de ser notado pelos caras que estavam lá dentro.

   Quando tinha dado uns dez passos para fora do bar, o garoto de orelha pontuda notou vozes de homens adultos e embriagados atrás dele, rapidamente dando um salto para uma das casas, na certeza de que aqueles homens não conseguiriam acompanhá-lo quando começasse a correr. Tão logo que ganhou velocidade o suficiente, Nate rumou para a casa do homem que tinha lhe encomendado a missão. No pergaminho, ele fora instruído a seguir para o local.

   Assim que chegou, bateu na janela do seu quarto, também conforme as instruções dadas anteriormente, dizendo até mesmo em qual janela ele deveria bater. O homem se levantou sem acordar a sua esposa, abrindo a janela e olhando para o garoto ali com cara de sono, vendo que o jovem estava em seu telhado.

   ― Demorou bastante, hein. - sussurrou o homem.
   ― Tive uns problemas pelo caminho, mas agora estou aqui. - explicou Nathaniel, olhando para os lados para ver se ninguém os observava. - Realmente tem alguma coisa muito estranha acontecendo, senhor. O carinha do turno da noite, que ainda não sei o nome, está passando missões para Gennins que estão facilitando roubos de cargas e de pessoas. Pelo menos foi o que deu para entender. - sussurrou. - Eu acredito que tenham outras pessoas envolvidas nesse caso, gente de alta patente, de forma que não daria para denunciar ninguém nesse momento, ou então acabariamos morrendo. - disse.
   ― Cacete, isso é ruim... Está tudo bem, rapaz. Vá para casa. Sua missão já foi cumprida. Não conte o que ouviu para ninguém, ou pode se tornar um alvo. Em breve eu entrarei em contato com você, para discutirmos os nossos próximos passos. - sussurrou, quando ele viu a esposa se mexendo na cama. - Agora vá, antes que ela acorde.

   Nathaniel apenas acenou com a cabeça, e então deu um salto para fora do seu telhado, partindo em direção a sua casa, onde poderia descansar e receber suas recompensas.