Naquele dia, sem medo de estar me equivocando, poderia facilmente afirmar que aquela era uma noite como qualquer outra. Além desse excesso de monotonia, não havia acontecido nada que valesse a pena mencionar, o que de certa forma era algo positivo, pelo menos pra mim. E, devido a insônia que me afligia, sem ter nada em mente, apenas resolvi andar sem rumo por aí. Dito isto, me levantei da cama onde estava, vesti os meus trajes de sempre e fui em direção a porta.

Parando pra pensar, eu não poderia estar em um lugar melhor para vaguear, pois a vila da folha era gigantesca, o que me possibilitava escolher a vontade aonde gostaria de ir. Porém, mesmo com essa enorme variedade, ainda assim não queria me prender a um destino fixo, ainda que esse fosse escolhido de maneira aleatória. E, já que não queria ter esse tipo de dor de cabeça, assim que coloquei os pés na rua, comecei a andar em linha reta. Pra ser sincero, a atenção que dava ao caminho que percorria era praticamente nula, só pra exemplificar, se porventura eu fosse atacado por alguém com a intenção de me matar, certamente eu teria ido dessa pra melhor.

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Mesmo que não estivesse dando a devida importância ao que acontecia a minha volta, ainda assim, tinha um elemento presente naquela noite que vez ou outra conseguia chamar a minha atenção, a lua. A forma descarada com que ela e o seu brilho tomavam os céus era... diferente. Naquele momento, parecia que a infinidade de elementos presentes no cosmos existia meramente para servir de coadjuvante para a sua beleza. A princípio, pode até parecer que estou exagerando, mas assim que coloquei os olhos nela, uma estranha fascinação havia tomado conta do meu ser.

Enquanto mantinha o meu olhar fixo nos céus, ainda sem saber direito pra onde estava indo, percebi que tinha chegado em uma área com algumas árvores. Instantes depois, ainda sem saber em que lugar da vila eu estava, escutei um grito “KATON”. Foi preciso apenas essas palavras para que, logo em seguida, eu levantasse a minha guarda. Passados alguns minutos, agora mais atentos aos detalhes, me dei conta de que o lugar em que estava era o campo de treinamento da vila. E, com a minha nova descoberta, ficaria muito mais fácil de deduzir o que aquele grito significava.

— Parece que não preciso me preocupar, afinal de contas, dever ser só alguém treinando. Espera aí... treinando a uma hora dessas? Que estranho... — A cada nova suposição que fazia acerca do caso, mais a minha curiosidade se inflamava, até que não aguentei mais e fui ver que tipo de treino era aquele.

“KATON” ... “KATON” ... “KATON”. Então, seguindo aqueles gritos, finalmente pude ver o seu autor. Assim que bati os olhos naquele sujeito, logo de cara percebi que se tratava de um ninja da folha, mas diferente de mim ele já tinha um colete; o que dava a entender que a sua patente devia ser superior à minha. Aquele ninja em questão devia ter por volta de 1,70m de altura, a sua pele tinha um tom bastante claro e o seu cabelo laranja, era curto e espetado.

Depois de me aproximar dele, ficando a aproximadamente 25m de distância, parecia que ele havia acabado de fazer o seu jutsu, mas, infelizmente eu não tinha conseguido vê-lo. Então, escondido entre as árvores, fiquei esperando para ver os seus próximos movimentos. Foi aí que, realizando os selos de mãos, aquele shinobi soltou uma saraivada de fogo pela boca (Katon: Gōkakyū no Jutsu). Pode até parecer que aquilo não era nada demais, no entanto, por n motivos, aquela demonstração me fez ficar boquiaberto.

Mesmo sendo uma simples bola de fogo, era visível o domínio que o sujeito tinha sobre as chamas. A sua postura, a forma com que se preparou, até o jeito que ele posicionava o seu corpo para lançar a técnica era diferente. Assim presenciei aquilo, em um primeiro momento eu nem acreditei, contudo, não demorei pra entender que aquele ninja estava em um patamar completamente diferente do meu. E antes que tivesse tempo o suficiente para assimilar tudo o que tinha visto, ele lançou outra massa de fogo que também saiu pela sua boca (Katon: Gōkakyū no Jutsu), só que agora as chamas pareciam muito mais violentas. Tudo o que conseguia fazer após ver tamanha demonstração de habilidade, era manter a minha expressão de espanto no rosto.

— Então... isso que é arte?

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Depois do meu choque inicial, o que era um sentimento bom, lentamente foi se transformando em uma enorme frustração. — Comparado a isso... o que eu sou? — Não sei muito bem o porquê, mas esse fato fez com que eu começasse a repensar todas as escolhas que já tomei durante a minha vida.

No fim das contas, aquela sensação serviu como uma espécie de despertar pra mim, onde através disso, conseguiria perceber toda a minha inferioridade e insignificância. Cada vez mais esse sentimento ia se intensificando, até chegar no ponto em que nem conseguia mais respirar direito. A única coisa que passava pela minha cabeça era “Toda a minha falta de habilidade vai acabar me matando”. E com isso, mais uma vez o medo se fazia presente na minha vida.

Era como se o medo e eu fossemos amigos de longa data, e até podia dizer que ninguém em todo esse mundo me conhecia tão bem como ele. Desde que me entendo por gente ele já estava lá, nos momentos difíceis, nas horas boas e quando não tinha a quem recorrer. Já ouvi dizer que na vida só temos uma certeza... a morte, mas no meu caso acho que seriam duas, o medo e a morte.

Pensando bem, essa poderia ser facilmente uma das minhas maiores fraquezas, porém, é graças ao medo que ainda continuo vivo, e também, é ele que me faz querer ser melhor. Levando tudo isso em conta, sem sobras de dúvidas, a minha maior fraqueza é também a minha maior força.

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Todo aquele medo que sentia pouco a pouco ia se transformando em uma raiva ardente que, lentamente, ia preenchendo todo o meu ser. A expressão de confusão que tomava o meu o meu rosto, agora seria substituída por um olhar enraivecido, forte e vibrante. Naquele momento, parecia que uma estaca de madeira que atravessava o meu peito tinha sido retirada, e com isso, uma estranha vontade de melhorar havia tomado o lugar desse rombo.

Então, com esse excesso de energia que percorria o meu corpo, resolvi sair correndo dali pra procurar um lugar calmo para praticar. Usando a minha velocidade máxima não demorei para encontrar um lugar aberto, que seria mais do que o suficiente para o que precisava. Foi aí que, ainda meio sem jeito, realizei os selos de mão e logo em seguida cuspi uma bola de fogo. E como de praxe, o resultado da minha tentativa foi um completo fracasso. Aquele “fracasso” não significava que o jutsu em si tinha falhado, mas sim que o resultado que obtive não era nem de longe comparável ao Katon que havia visto mais cedo.

Apesar da minha recente falha, ainda assim, não me dei por vencido, muito pelo contrário, agora estava muito mais motivado do que antes. Porém, antes que fizesse novamente o meu jutsu, tinha algumas questões que rondavam a minha mente e pareciam ser bem pontuais. — Se eu quiser melhorar no uso dos meus jutsus do estilo fogo sem me desgastar demais durante o processo, primeiro vou ter que refinar ainda mais o meu controle de chakra. Sem contar o domínio das chamas que também vou precisar ter.

Com isso em mente resolvi tentar fazer mais uma bola de fogo, contudo, agora a minha concentração estaria totalmente voltada para o meu controle de chakra. Então, realizando novamente os selos de mão, comecei a abrir um pouco a boca e, logo em seguida, inspirei uma quantidade considerável de ar. No entanto, antes de concretizar de fato a técnica, eu começaria a imaginar o meu chakra como se fosse uma linha bem fina, e enquanto moldava o meu chakra, imaginaria essa mesma linha sendo esticada bem divagar e sem muita força, tendo em mente que esse fio era bem frágil.

— Katon: Gōkakyū no Jutsu. — Mesmo estando com os olhos fechados, ainda assim pude sentir uma diferença gritante entre o primeiro katon e esse. Era como se o fogo dessa vez estivesse vivo, como se agora ele fosse uma força viva e latente presente na natureza. Depois de toda essa sucessão de eventos, apenas tomei um pouco de fôlego e fui para casa, pois finalmente o sono tinha voltado.

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No dia seguinte, logo pela manhã, resolvi voltar no mesmo lugar de ontem. E assim que cheguei lá, sem muita enrolação, comecei a praticar o que havia aprendido até então. Com uma singela bola de fogo (Katon: Gōkakyū no Jutsu) dei início ao meu treino, que infelizmente durou apenas 1 hora e meia, pois ainda tinha que realizar uma missão no centro da vila. No entanto, não pretendia demorar muito para voltar ali.

Vez ou outra eu até dava uma passada lá, e sempre era a mesma coisa, lançava algumas bolas de fogo e ia embora assim que acabava. Pode até parecer que a minha rotina de treino era muito “leve”, mas pelo menos os resultados eram constantemente notados por mim. Cada bola de fogo lançada significava mais um conhecimento obtido, mesmo que fosse algo simples, como por exemplo, algum truque pra melhorar na minha postura ou na forma em que ligava os selos de mão um no outro pra criar uma sequência mais fluida. Depois de 3 semanas e várias bolas de fogo, finalmente sentia que estava pegando o jeito da coisa.

Era uma tarde ensolarada na vila da folha e lá estava eu, sob aquele sol escaldante. Especialmente naquele dia, eu estava disposto a testar algo... novo... algo que realmente me desafiasse. Sabe... foram vários dias me aperfeiçoando com apenas um único jutsu, e a partir de um determinado momento, aquela mesmice de sempre começou a fazer com que eu fosse perdendo o interesse que tinha em treinar. Foi aí que, nessa mesma tarde em questão, teci os selos necessário e lancei A BOLA DE FOGO. Pode até parecer que estava fazendo mais do mesmo, mas diferente das outras, essa tinha o formato de uma cabeça de dragão. (Katon: Gōryūka no Jutsu)

Assim que vi o resultado satisfatório da minha técnica, comecei a ouvir algumas palmas atrás de mim. E após me virar para ver quem era, descobrir que se tratava do ninja que tinha me motivado a começar esse treinamento. — Nossa, eu estou impressionado. Quem diria que aquele moleque que estava me espionando fosse tão bom assim. Bom... era só isso que queria dizer, até mais garoto. Ah, antes que eu me esqueça, não fique se achando o máximo só porquê consegue fazer o básico, pois pode apostar que você ainda tem muito que aprender. — Depois disso, ele simplesmente sumiu.

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