Outono de 14DG

Não houveram imprevistos em seu retorno para Iwagakure no Sato, pousando tranquilamente em solo firme sem danos. O Hyuuga e a Grey seguiram caminhos opostos após a chegada ao vilarejo, certificando-se de agradecer em sua despedida. Mesmo atravessando momentos difíceis e desfrutado de raros momentos de interação com o Tsuchikage, nutria grande admiração e respeito pelo mesmo. Allannia almejava algum dia ser um orgulho para seu povo, perpetuando o legado da aldeia para as próximas gerações.

Seus passos naquela fatídica noite, rumo seu lar, foram lentos. Refletia sobre a morte de metade da população mundial, o falecimento do Genin de Konohagakure, os aliados que conheceu e seus inimigos jashinistas. Trazia consigo o presente de Shizui Yuki, um belíssimo boneco de neve, a qual segurava com carinho. A toalha dada por “Atumsushi-kun” permanecia presa a sua armadura, amarrada como um adorno em seu braço. Jamais esqueceria de ambos, marcaram sua vida. Um por sua coragem e determinação, o outro por sua gentileza e amabilidade. Deixou escapar um breve sorriso recordando os raros momentos felizes daqueles momentos de tensão, desaparecendo tão subitamente quanto surgiu.  

Os portões da entrada principal estavam violados. O luar prateado era a única fonte de iluminação naquele momento, portanto, não soube identificar o que necessariamente havia causado tais danos. Lembrou-se do Uchiha com quem havia dialogado sobre suas inseguranças e temores, utilizando de seus conselhos para conter os batimentos cardíacos descompassados e a respiração ofegante. Seus passos eram cautelosos, vigiando o entorno para se certificar da ausência de invasores em seus flancos. O bosque sagrado estava silencioso e vazio, tal como o jardim, sem quaisquer traços de degradação. Receosa, quedou os joelhos e rezou. A infinidade de cores obscurecidas pelo anoitecer eram testemunhas de sua devoção. Estava distante dos deuses desde que havia partido para Amegakure, a reaproximação revitalizou sua fé e concedeu a paz de espírito necessária para continuar prosseguindo.

O portão principal da Torre da Alvorada estava entreaberto. Coçou as orelhas, ansiosa. Adentrou o seu interior, temerosa. Nenhum ruído era audível, tampouco conseguia vislumbrar o que estava diante de si. Deixou os presentes recebidos em Amegakure em uma mesinha próxima da escada. Subiu os degraus apoiada no corrimão, quase tropeçando inúmeras vezes. Allannia suspeitava que se fosse para encontrar algum indivíduo naquela noite, seria em algum dos cômodos principais. Sua intuição não poderia ser mais acurada, pois sentado no trono de sua família, no salão principal, um dos invasores repousava. Avançou, tomando a cautela para minimizar o som de seus passos. Quando estava próxima de visualizar o invasor, percebeu que o mesmo havia desaparecido.

Rapidamente, virou-se para trás, percebendo a presença do homem robusto atrás de si. Ele não estava sozinho, das sombras surgiram mais adversários. Era como se já estivessem esperando por ela. Nada disseram, tampouco reagiram, a rodeando como se estivessem esperando o momento perfeito para atacar. As mãos da Grey fizeram a menção de começar uma sequência de selos, quando o silêncio que pairava fora extinto por uma voz grave:

— Melhor não fazer isso, cretina. Isso se quiser continuar viva — o que parecia ser o líder deles disse.

— Certamente. Certamente. Certamente — os lacaios repetiram, em uníssono.

— O que vocês querem?

— Você — a risada do brutamontes era estridente.

— Você. Você. Você — o coro se acentuou, as vozes destes soando como uma zombaria velada.

— Por que? Como? Quando? — a Grey não sabia o que pensar ou dizer, sua face tomada por lágrimas.

Foi quando riram, mas não deram nenhuma resposta. Allannia cerrou os punhos, consideravelmente irritada com o que estava acontecendo. As mãos dos homens tentaram alcançar a Grey, mas já não estava mais no chão quando avançaram. Seu Estilo de Luta, Meteor, estava ativo. Concentrou-se, focalizando todo o seu intelecto numa solução para aquilo. Eram inúmeros oponentes, e desconhecia a força de cada um destes. Permaneceu na distância máxima permitida por seu estilo, cinco metros, enquanto pensava cuidadosamente no que faria. Os homens nada fizeram inicialmente, observando seus próximos passos cautelosos.

— Desce daí, criança estúpida. Não queremos machucar você — o comandante dos criminosos tentou dissertar — Não iria perder um prêmio tão valioso como você desta forma. Morta, você vale bastante, mas viva, vale uma fortuna.

— Fortuna. Fortuna. Fortuna — entoaram.

— O que vocês querem comigo? Eu não sou nenhum troféu!

— Seu casamento já está marcado. Você foi vendida — ele disse, simplista — Viemos buscar você. Seu castelo foi prometido como prêmio por sua cabeça, mas você precisa vir conosco viva.

— Não — negou, estupefata, incapaz de elaborar mais que a recusa.

— Oh, meu bem. Você não tem escolha.

— Escolha. Escolha. Escolha — foi a última coisa que ouviu, antes de cair e desacordar, repentinamente, sentindo meramente um golpe atingir sua nuca.


Inverno de 14DG

O País da Terra era maior do que imaginava, descobriu isso da pior forma possível. Levada contra a sua vontade para um território distante, ambas as mãos permaneceram atadas em suas costas durante toda a viagem. Em alguma montanha, cujo nome e localidade não faziam parte de seus conhecimentos, havia uma construção magnânima. Um rico indivíduo possuía inúmeras posses nas imediações, embora tal fosse a maior destas. Tão rica e adornada quanto o Palácio de Cinzamarca, a moradia extravagante do homem era de encher os olhos.

O homem estava no portão, aguardando ansiosamente por sua chegada. Uma vintena de guardas formavam fileiras à esquerda e à direita, todos vestindo armaduras da cabeça aos pés. Suas espadas eram reluzentes num tom dourado ofuscante, chegando ao ponto de admitir para si mesma que eram definitivamente esbeltas. Seu futuro esposo era obeso, podendo deduzir o seu peso pela forma como a roupa se apertava ao redor da gordura acumulada. Andava com dificuldades, sendo aparado por duas serviçais seminuas formosas que o abanavam constantemente.

— Você é belíssima, meu amor — ele disse, podendo sentir o aroma fétido de álcool e cebola do mesmo quando este se aproximou para depositar um beijo em sua testa — Sinto que fiz um ótimo acordo adquirindo você para a minha coleção. Não acham, senhores? — nada disseram — Bem, vamos entrando, a viagem deve ter sido cansativa.

— E o nosso pagamento, senhor? — o seu sequestrador indagou, ligeiramente impaciente.

— Ah, sim. O seu pagamento, realmente, bem lembrado. Cavalheiros, ele quer o pagamento, façam com que ele seja bem pago — ele respondeu-lhe, e sorriu.

O que aconteceu em seguida fora tão rápido que sequer pôde reagir apropriadamente a tal. Todos os vinte homens do suserano, rapidamente avançaram contra o grupo de mercenários esfarrapados que a trouxeram até ali, executando todos numa perícia assombrosa. Allannia não sabia se deveria sentir gratidão ou medo, ou ambos. Apenas chorou, como sempre fazia em situações similares, chorou tanto que os soluços eram incontroláveis.

— Oh, querida, não chore. Eram apenas mercenários nojentos, da pior laia. Quando eu colocar um herdeiro em sua bela barriga, você terá motivos verdadeiros para chorar — ele disse, limpando as lágrimas da Grey — De alegria, certamente. Não é, senhores? — eles nada disseram — Viu? Eles acham que sim.

(...)

O restante do inverno daquele ano fora passado confinada em seu quarto, sendo que este mais parecia uma cela. Não possuía companhia, além de uma criada muda que a servia e auxiliava em atividades cotidianas. Era comum que o seu noivo mantivesse serviçais desprovidos de língua, pois tais não poderiam revelar as atrocidades cometidas por ele. Seu casamento estava marcado para o Verão de 14DG, quando os preparativos para a cerimônia estariam encerrados. Allannia poderia ter fugido em inúmeras oportunidades com força bruta, mas não o fez. Talvez por temer os guardas do homem, ou desconhecer os limites da própria força, apenas se sentia imponente. E insegura. Os eventos de Amegakure apenas acentuaram a realidade que já vivenciava em seu cotidiano.

Durante o período em que esteve confinado, ela lia. Leu sobre diversos autores, sobre os mais variados assuntos, mas os seus preferidos eram os livros de estratégia e filosofia, os mais comuns no acervo do homem, além de serem os mais interessantes. Pervertido e completamente descontrolado, os restantes eram contos inapropriados e literatura imprópria, sendo condizentes com a alma desagradável do sujeito. Era provável que os títulos da biblioteca cultos que estavam em seu domínio outrora pertenceram a um proprietário anterior da residência, tendo em vista que quando pôs as mãos em tais, estavam empoeirados.

A comida era suficientemente boa, apesar de qualidade duvidosa. Sentia seu chakra drenado todas as vezes que uma nova refeição era cedida, e a bebida possuía uma efeito peculiar que deixava seus sentidos entorpecidos. Nas primeiras vezes, ela era terrível, mas com o tempo ela se tornou melhor. Era como se cada vez que ela comesse, os ingredientes fossem alterados de tal modo que gerava afeição. Em pouco tempo, tal sentimento evoluiu para uma forte dependência. Não conseguia mais viver sem as refeições de seu futuro marido.

Primavera de 14DG

Os preparativos estavam quase encerrados, e as estimativas de que fossem finalizados antes do previsto quase alteraram o cronograma do seu noivo. Mas este, fiel aos seus fundamentos, preferiu manter o seu planejamento. Casariam no verão, apenas, independente do que fosse realizado até a referida data. Não tinha contato com ele na maioria das vezes, vendo-o semanalmente apenas para quando o mesmo ia conferir sobre a sua permanência na cela.  

Enquanto isso, aprendia sobre os mais diversificados temas. Solicitou mais livros, tendo seus pedidos atendidos pelo futuro esposo. Apesar de cruel e sórdido, era um homem solícito. Segundo ele, a crença de que o homem, viril e poderoso, deveria ceder alguns agrados para a senhora sua esposa era como se fosse um regulamento particular. Chorava algumas vezes pensando em Rauros ou no tempo que estava perdendo com futilidades, podendo simplesmente continuar com a sua jornada como shinobi. Naquela primavera, bebia constantemente o vinho do homem. Talvez fosse por isso que as suas lembranças daquela estação em específico seja tão nebulosa.

Verão de 15DG

O momento havia finalmente chegado. A primavera para a Grey pareceu tão finita como se fosse apenas um fim de semana. O melhor estava por vir, os seus dias de felicidade. O tempo passava rápido, apesar da situação de cárcere, começando a se afeiçoar ao ambiente em que estava, como se possuísse uma espécie de Síndrome de Estocolmo. Repetia constantemente para si mesma que ele poderia ser pior, mas não era. Que poderia ser mais abusivo, mas era gentil e agradável. Era um homem terrível em seus parâmetros e tampouco o que imaginava para um marido, mas chegava a parecer bonito algumas vezes.

A cerimônia de casamento seria realizada em sua moradia, o Palácio de Cinzamarca. Seria a moradia do casal a partir de então, havia sido o pedido de seus pais quando o acordo fora firmado, sendo atendido com relutância pelo contratante. Sua família não compareceu, embora o convite tivesse sido enviado. Mas a Grey não deixaria detalhes insignificantes atrapalharem a sua felicidade, pensando apenas no Grande Dia.

Antes do evento, Allannia vestiu o seu vestido. Pediu para que as criadas do noivo levassem sua armadura para o seu devido local. Não utilizava a mesma desde que fora desacordada, trajando apenas trapos de baixa qualidade, que algumas das serviçais utilizavam, geralmente as menos bem afeiçoadas. O seu futuro marido não queria que os guardas olhassem seu corpo, embora fosse comum que as serviçais ficassem seminuas. O seu vestido era feito da mais fina seda, de um tom prateado feito para combinar com seus cabelos. Cobria o seu busto num formato que recordava duas asas, sendo totalmente desenhado com apoio de penas de cisnes, dando um aspecto único para sua vestimenta.

Seu casamento não poderia ter sido melhor. Os convidados eram figuras influentes no mundo do crime, além dos soldados mudos do marido e de suas serviçais, da qual ela descobrira serem suas amantes, durante a estadia na fortaleza deste. Não se importava, era comum um homem possuir desejos lascivos para com mais de uma mulher. Um religioso fora convidado para conceder a bênção, retificando a cerimônia aos olhos de Deuses e Homens. Sentiu-se grata por ter sido abençoada com um marido tão bom. Allannia Grey caminhou em passos animados rumo ao altar, embora a cabeça começasse a doer repentinamente. ”Eu devia ter comido de manhã. A criada esqueceu de trazer a refeição do dia... mas está tudo bem, acho que conseguirei suportar, começava a sentir os primeiros efeitos da abstinência.

— Os deuses agraciaram o Verão de 15DG com a união de duas almas gêmeas. Allannia Grey e Tantro Whorm se reúnem hoje para firmar, para toda a eternidade, o amor mútuo dos dois — o padre começou.

— Lembre-se de falar o meu nome antes dela, seu verme nojento, se quiser sair daqui com a língua — Tantro retrucou, irritado — E não olhe mais para a minha esposa, velho imundo. Ela é gostosa, mas minha. Apenas minha. Não é amor? Você não é minha?

— Sim, meu amor, toda sua.

— Ouviu? Espero que sim, ou vai ficar sem as orelhas, já que não estão lhe servindo muito bem — o Whorm deu um sorriso trocista.

— Mil perdões, senhor — o mais velho suplicou — Não se repetirá. Eu apenas olhei para proferir o nome da sua esposa, é parte do... — o padre fora interrompido por um tapa súbito do noivo.

— Não lhe dei licença pra falar, apenas faça seu trabalho.

O padre iniciou uma oração breve, entoada no recinto para todos os presentes. Nervoso e visivelmente abalado, o homem gaguejava e olhava apenas para o público, que parecia não se importar com o que estava vendo. Embora não tivessem opção de escolha. Se algum deles questionasse a autoridade de Tantro, não sairiam com vida da cerimônia.

— Os deuses abençoam o amor do casal — ele finalizou as preces — Tantro Whorm, você promete ser...

— Não preciso fazer nenhum juramento. Pergunte para a minha esposa. Eu faço o que eu quero.

Allannia Grey... — o padre por um instante vacilou e vislumbrou a face da Grey, o seu último errou em vida. A adaga de Tantro atravessou seu olho esquerdo profundamente, e o homem tombou para trás, sem vida. O vestido de Allannia estava salpicado de sangue quando tudo acabou.

— A cor principal dos Grey é o vermelho, então creio que nosso casamento já está abençoado com o sangue de um santo. Bem, eu serei o padre agora, já que esse último não foi muito útil, heh heh heh — ele riu, e os convidados acompanharam no riso — Você não vai prometer porra nenhuma, já que não existe outra opção pra você além de aceitar. Você vai ser a minha cadelinha até morrer, me dar vários filhos orelhudos feito você e com esse seu poder, assim todos eles vão me servir e eu terei um exército de esquisitos para me proteger — ele puxou Allannia para perto — Escutou, orelhuda?

“E tente não se esquecer de quem você é, porque o mundo não se esquecerá. Use esse sentimento como sua força, e assim nunca poderá ser usado como sua fraqueza”

Quando recordou as palavras, caiu de volta em si. O efeito dos entorpecentes que consumia na sua alimentação diária desapareceu com o lapso de consciência, permitindo para a Grey a oportunidade perfeita para esbofetar o homem diante de si. Os olhos de Allannia apenas refletiam fúria, nada mais. Jamais aceitaria casar com um traste de tão baixo nível de bom grado.

— Não vou casar com você. Quem você pensa que é pra me tratar assim? Seja lá quem tenha começado essa palhaçada, é hoje que ela termina.

— Não. É hoje que começa — ele disse, limpando o sangue que escorria de seus lábios.

Os soldados de Tantro vieram por trás, segurando ambos os braços da Grey rapidamente. Incapaz de realizar os selos de mão necessários para o uso de jutsus, seus esforços em reprimir o homem foram rapidamente frustrados. O seu marido aproximou-se, segurando o queixo de Allannia com o dedo indicador, dizendo-lhe:

— Mal posso esperar pela... — ele começou, mas jamais seria capaz de terminar.

Rauros surgiu de rompante. Antes que os atos realizados pela leoa fosse consumados, fechou os olhos, pois não suportaria assistir tamanha brutalidade. Já havia vivido pesadelos em demasiado. Quando sua mascote finalizou, estava oficialmente viúva. Não havia permanecido casada por mais do que um dia. Os guardas do vilão não pareciam infelizes com a morte deste, muito pelo contrário, estavam satisfeito. Um motim generalizado ocasionou na morte de diversos criminosos perigosos, libertando diversos escravos e serviçais do domínio abusivo de seus proprietários. A obstinação de Allannia inspirou a todos, de tal modo que não temeram as represálias por estarem lutando por sua liberdade.

— Esse verme fez alguma coisa com você?

— Não... você me salvou — Allannia disse, com a face coberta por lágrimas.

— Mais um pouco e eu chegava depois da festa.

(...)

Outono de 15DG

Fazia exatamente um ano desde os eventos de Amegakure. Pôde colocar o assunto em dia com a sua pet, conversando principalmente sobre a sua viagem para a aldeia da chuva e todos os desafios atravessados durante os eventos lá ocorridos. Contou sobre “Atumsushi-kun”, o seu salvador, Shizui Yuki e citou como o Tsuchikage era bondoso e de quando ele revelou sua face para a Grey. Havia retornado com uma história para contar, conforme havia desejado no princípio. Os resultados não foram conforme imaginou, mas aprendeu diversas informações importantes durante a guerra.

Demonstrou seu recém-aprendido estilo de luta, meteor, além de dar informações detalhadas de como os adversários eram poderosos e perigosos. Mencionou os talentos do grande Inventor, Indra, a quem ainda chamava de feiticeiro por conta de seus feitos surpreendentes. Havia se tornado uma das aspirações de Allannia rumar a carreira científica, embora ainda questionasse se seria esse o melhor caminho a ser seguido. Precisaria se tornar ainda mais poderosa, pois sequer fora capaz de lidar com o pequeno exército do ex-marido.

— Você poderia ter matado eles várias vezes. Por qual motivo não fez isso? — Rauros questionou.

— Meus pais. Eles falaram que meus pais eram os responsáveis por isso. Eu não sabia... eu não queria desobedecer eles. Eu não sabia o que fazer, estava com muito medo.

— Você enfrentou um exército de imortais, mas não conseguiu lidar com um exército de mortais. Sua inconsistência pode custar sua vida um dia — a leoa fez uma careta — Não pode continuar sendo assim.

— Eu quase aceitei. Tudo. Mas lembrei de Yohma, um ninja de Kirigakure. Ele disse que eu deveria lembrar quem sou, para que nunca fosse minha fraqueza. Lembrei também de Yuta-kun, que disse que confiava em mim mesmo quando eu mesma não confiava em ninguém. Lembrei também de Kaonashi, que me inspirou quando quase desisti. Lembrei de Takeshi Hikari, tão jovem mas se tornou um Kage. E também lembrei da Kazekage, uma mulher poderosa de outro vilarejo, quero ser como ela um dia — realizou o monólogo, não temendo se estender pois sabia que a leoa ouviria com atenção.

— Está na hora de você falar tanto dos outros, e falar mais de você — Rauros estava seria, antipática com o discurso — Realizar seus próprios feitos, buscar suas próprias conquistas. Você está vivendo pensando no que fizeram por você, mas não pensa no que algum dia você fez por alguém

— Mas eu ainda não fiz nada!

— Não é tarde para começar.

— Eu não consigo.

— Nunca vai saber se não tentar.

Allannia suspirou, admitindo a derrota. Precisava realmente alcançar seus próprios feitos, pois era apenas uma sombra, permitindo que os olhos brilhem. Sendo uma Grey do Caminho da Luz, nada poderia ser mais irônico do que isso. Descansaria das emoções vividas até então, antes de recomeçar sua jornada.

Inverno de 15DG

Logo após a primeira nevasca do inverno cair, recebeu uma carta do Conselho do Vilarejo. Supôs ser referente ao seu recente desaparecimento após os eventos em Iwagakure, mas era sobre uma temática que a surpreendeu positivamente. O comitê julgou os feitos da Grey superiores ao que se espera de um Genin, sendo assim, ela seria imediatamente promovida para a classificação imediatamente superior a esta.

— Eu não mereço... não estou preparada para ser uma chuunin — confessou para a Rauros quando revelou o conteúdo da carta.

— Se não merecesse, não estaria aqui. Você arriscou a sua vida desnecessariamente por inocentes, ajudou a salvar o mundo do caos. Mesmo não tendo grande participação nisso, é uma heroína, como todos os outros — Rauros comentou, fitando-a. A leoa parecia pensativa, como se quisesse acrescentar mais alguma coisa.

— Não sei... preciso de tempo pra pensar sobre isso.

(...)

Inverno de 16DG

A Grey precisou de um ano para decidir o que faria. Haviam se passado dois anos desde os eventos de Amegakure contra o Pastor, e a jovem genin que havia ido ao vilarejo da chuva tornou-se uma mulher adulta, embora não muito diferente de sua versão passada. Estava mais velha, mas permanecia inexperiente. Durante o período apenas manteve o corpo em forma, para não ter problemas caso decidisse retornar para as suas atividades. Allannia percebeu que permanecendo inerte não mudaria o seu destino. Ela tentaria deixar a sua marca no mundo, pois não compensava viver uma vida de covarde atrás de suas muralhas se não pudesse desfrutar do lado bom da vida. Iria batalhar, iria se esforçar, e acima de tudo, não iria desistir.