—— Choro do céu.

Eram como facas afiadas com poder de penetração avassalador. Os olhares que por vezes eram lançados contra o menino de apenas treze anos após o assassinato de quatro ladrões da aldeia que adoravam a Jashin, quase como se toda aquela loucura já tivesse se enraizado por completo no mais profundo dos corações daqueles que residiam na névoa. Os boatos do que havia ocorrido no cais da aldeia no dia anterior já começavam a se espalhar. Alguns donos de estabelecimento passavam a ser mais ríspidos com o jovem Yotsuki, deixando claro que o mesmo não era mais bem-vindo. Era difícil de acreditar que a palavra de pescadores, comumente trajados pelos outros como mentirosos natos, influenciados pelas palavras doces do Pastor, foram capazes de manchar a reputação ainda em construção de um genin recém formado na academia. Entretanto, apesar de ter conhecimento acerca da maneira com a qual era visto agora, Miyazaki apenas passou a nutrir ainda mais ódio e um sentimento de repulso para com o homem que chamam de Pastor. Estava agora mais do que nunca decidido a se aprofundar no assunto e entender a verdade que o sujeito oculta por meio de seus discursos bonitos e então enfim, segundo os próprios devaneios do jovem Yotsuki, arrancar o coração do inimigo espetado em sua espada. O menino tinha noção de que não estaria sozinho nessa empreitada, ao menos era o que parecia tendo em vista a reação de Baldur ao receber a noticia de que o inimigo havia passado pela aldeia da névoa e também pela quantidade considerável de missões que vinha recebendo com o intuito de parar atos maléficos que partiam dos simpatizantes com Jashin. Miyazaki tinha convicção em seu amago de que eventualmente os cidadãos que se deixaram enganar iriam reconhecer este erro e finalmente se voltariam contra o verdadeiro inimigo.

O dia era temerosamente comum. Nada de diferente ocorria na aldeia da névoa e muito provavelmente não aconteceria. Ao menos era assim que gostavam de pensar os simples aldeões. Mal sabiam que naquele dia passariam por uma de suas piores, se não a pior, experiência. Miyazaki quis aproveitar o lindo sol que parecia fazer por detrás das muitas nuvens frigidas no céu e por isso partiu na direção do seu campo de treinamentos praticamente particular, como gostava de pensar já que nunca antes viu outro shinobi por lá ou mesmo vestígios da passagem de um. Apesar da névoa ser mais densa naquele espaço, fazia-se possível o vislumbre de algumas poucas arvores circundando o lugar. No centro, a grama era mais rala e demonstrava que desde muito antes já era utilizada como campo de treinamento, mesmo que naquela atualidade apenas Miyazaki tivesse o habito de frequentar aquele ambiente. Ainda assim, nos arredores a grama era verde viva, bem por causa do córrego que fluía sem parar nos fundos do campo. Inusitadamente, alguns pares de tocos eram postos espalhados pelo espaço, de maneira que era bem possível realizar treinos de movimentação em espaços escassos, saltos, praticar o equilíbrio e muitas outras aleatoriedades. Miyazaki por outro lado, gostava de usa-los para aparar seus chutes e pontapés, socos e cotoveladas, além de não menos importante, a lâmina fria de sua espada. Naquela manhã em questão, estava decidido melhorar seus movimentos enquanto utilizando taijutsu, de modo a levar sua técnica para um outro nível e também sua capacidade física, de maneira que sua força disparasse em direção ao topo. Com isso em mente, recolheu algumas tiras maleáveis das lascas das arvores que estavam ao seu derredor e improvisou cordas, amarrou-as em pedras enormes e utilizou a artimanha para realizar um treinamento de força.

Não obstante, acoplou fazendo uso de suas cordas improvisadas, as pedras que vinha utilizando para treinar em suas costas e membros, de maneira que a menor movimentação demandaria ainda assim uma quantidade considerável de força por parte do jovem rapaz, que sem pestanejar deu iniciou ao seu treino de movimentação de taijutsu e força. De quebra, sentiu absurda dificuldade, mesmo que já fosse proficiente no uso de tal vertente shinobi e que possuísse força para carregar certa parcela de peso. Todavia com o passar do tempo, a facilidade era tamanha que começou a realizar movimentos ainda mais complexos e acrobáticos e só sessou com seu desenvolvimento quando chegou ao limite. Seu estomago roncou tão alto que pode=se perceber ele ecoar ao rebater nas árvores. Miyazaki se dirigiu para um restaurante da aldeia e não custou muito para chegar. Pediu o de sempre e teve como resposta um olhar de nojo por parte do atendente. Claramente um simpatizante de Jashin. Enquanto aguardava, o dia mostrou-se de verdade. O som de pratos caindo ao chão acompanhados de um gemido de dor estridente fizeram com que abruptamente se levantasse da cadeira e invadisse a cozinha do lugar. No chão jazia rolando de dor e suando frio o cozinheiro. Miyazaki não tinha ideia do que poderia ser. Gritos do lado de fora também podiam ser ouvidos, como se o caos tivesse se instaurado pela aldeia. De relance, o jovem olhou pela porta entreaberta e percebeu que a luminosidade do sol deixava de transpassar a janela e dava lugar a uma luz vermelho escuro que mais parecia que o céu estava sangrando. O tempo se passou e o cozinheiro pareceu estabilizar, mas sem melhora aparente. Miyazaki o encaminhou para o centro médico e tomou como rumo o gabinete do líder da vila, com quem procuraria as primeiras impressões acerca do motivo por trás do fim da humanidade, como chamou aquele acontecimento.


Miyazaki; 875/875; 1125/1125; 0/7;

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