ㅤㅤ– Não é arriscado uma missão Rank-S no estado em que você está? – O administrador de missões lhe indagou. Um mês e meio já havia passado desde que Kaguya Eru tinha sido abatido por Moira O'Deorain, uma derrota que o afetou não só fisicamente mas sobretudo psicologicamente, afinal... o que é você se não pode proteger o que ama e acredita? Pior... o que é você se não consegue proteger a si mesmo? O púbere acreditava ser forte antes, hoje não tinha tanta certeza.
ㅤㅤ– Não. Estou bem. – Respondeu não vacilante, frio, direto.
ㅤㅤ– Não, não está. – Um outro tokujo responsável foi mais direto ainda. – Pegue uma missão de menor patente. Dê a ele uma Rank-B. – Apontou para o relatório de uma missão Rank-B em cima da mesa. O amigou pegou e entregou-lhe. – Tome. Esta é menos arriscada. – Por mais que o intuito de ambos os tokujos fossem de proteger a integridade física de Eru, o Kaguya viu aquilo de maneira negativa, como se o tivessem subestimando, corroborando com toda atmosfera depreciativa que pairava sobre ele naquele momento. Cerrou os olhos azuis escuro de ódio, um ímpeto agressivo veio até ele. O que ta acontecendo comigo...? O conteve, mas sem que seu real objetivo fosse deixado de lado.
ㅤㅤ– Podem por favor me passar o cerco à Ryokusho? – Se referia a missão, irredutível. Detrás da mesa os dois ninjas se encararam ainda contrariados em dar ao garoto uma missão daquela magnitude. Aquela atitude feria o ego de Eru como uma lança perfurando seu calcanhar, perfurando músculo, carne e tecido. Me consideram um fracassado... inapto a realizar uma missão deste nível. Desde sua queda para o cientista sua insegurança passou a enxergar as coisas antes de seus olhos.
ㅤㅤ– Ok... se você quer tanto assim se matar, vai em frente. – Frase infeliz... mal colocada e mal interpretada. É isso o que eu sou depois da derrota então? Um nada? Não se deu o trabalho de retrucar ou responder a subestimação, apanhou o ramo de folhas da tarefa e deu às costas aos dois ninjas, deixando o gabinete.

ㅤㅤSeu caminho até Ryokusho seria taciturno, solitário e completamente combativo. Sua mente guerreava com seu ego, com seu orgulho ferido, com seus objetivos manchados. As palavras de Kala iam e vinham em suas memórias, sussurrando para ele. As primeiras vezes a entidade soava como um dragão, mas conforme a fragilidade emotiva do Kaguya aflorava as palavras do deífico se aveludavam, tornavam-se tentadoras. "Poder..." Relembrou a promessa principal do ser obscuro. Sim, é poder que eu quero. Poder para me proteger, proteger quem está próximo... mas principalmente para me proteger. Esse sempre havia sido o intento de sua alma, de sua busca. O que somos se não podemos nem mesmo nos proteger...?

ㅤㅤQuando aportou à cidade sitiada observou o completo caos instaurado. Ryokusho, uma vez pulsante e em crescimento, agora era um mar de destroços, com paredões de pedra cercando os arredores da pequena cidade. Havia um nukenin liderando a resistência inimiga, Galad Sekikaryu, homem forte, de cabeça dura e ideais rígidos como o aço. Àquela altura Eru já era capa de discernir quando Kirigakure tinha legitimidade e razão em seus atos. Desta vez tinha.

ㅤㅤGalad tinha uma boa premissa, que eram os altos custos taxativos que Kirigakure impunha a cidade de Ryokusho. De fato eram exorbitantes, já que a Névoa era um estado grandioso e custoso, cheio de divisões, organizações, departamentos, pessoas, ninjas, forças especiais, cidadãos para alimentar e um território vasto para defender. Todas essas coisas não eram de graça e Ryokusho, por depender da proteção de Kiri, não podia protestar ou se rebelar, a não ser que tivessem um outro meio de se manterem, o que não era o caso.

ㅤㅤEru enfrentou Galad logo que chegou, por ter chegado bem no meio do estopim do combate. As forças Kiriense fizeram a tática da névoa silenciosa, onde os ninjas abusavam do Kirigakure no jutsu e do Sirento Kiringu. Teria sido um massacre nos revoltosos se Galad não tivesse utilizado um Futon poderoso que varreu a névoa do ambiente frustrando a estratégia da força kiriense.

ㅤㅤNo combate dos dois Eru levou a melhor desde o inicio, por ser superior ao homem no taijutsu. Nunca encontrei alguém que fosse melhor do que eu no combate corpo a corpo. Observou. Já defrontei ninjas mais rápidos, como o Izuku. Mais fortes, mais ágeis, mas nunca um que me vencesse em táticas e capacidades marciais. Até aquele momento era invencível naquela área, ninguém tinha mais domínio corporal do que ele. Questionava se toda aquela proeza corporal era advinda de sua kekkei genkai, e mesmo não tendo certeza deduziu que fosse. Talvez a shikotsumyaku seja o tipo de taijutsu mais poderoso que exista. Mas se isso era verdade por que Kaguya Eru havia perdido sua batalha contra Moira? O que havia lhe faltado ali? Poder. Não tive poder.

ㅤㅤPara cessar o levante a Ryuokusho Eru teve de ter poder. Primeiro obliterou o inimigo na força bruta, no combate limpo, um que durou mais de três horas e fez todos os kiri-nin e os insurretos pausarem suas batalhas para observarem. O Kaguya foi vitorioso, para a sorte de seus compatriotas e da honra de Kirigakure. Um duelo difícil, sim, mas um duelo encerrado.

ㅤㅤ– Renda-se. Não quero machuca-lo. – A sola do pé apertada o braço direito de Galad, enquanto sua destra apontava um espeto calcificado de trinta e cinco centímetros, tão afiado quanto uma katana.
ㅤㅤ– Já estou rendido. Sempre estamos rendidos e sempre estaremos rendidos enquanto pessoas como você segurarem a arma. – Eru não ousou retrucar. Não entrava nos jogos mentais de seus inimigos. – Me mate, vamos. Prefiro deixar a vida a ter que encarar um julgamento pelo Mizukage.
ㅤㅤ– Não vou mata-lo. Você não merece ser o primeiro. – O nukenin não sabia mas Kaguya Eru jamais havia tirado a vida de alguém. E não será hoje que isso mudará. Retraiu o úmero e apanhou o corpo de Galad, enlaçando-o com seu fio de aço. As hordas de revoltosos se dissiparam sendo perseguidos pelos ninjas de Kirigakure. – Não matem os que se renderem! – Deu a ordem.

ㅤㅤCom a missão já praticamente terminada ouviu o sussurro de Kala, doce como uma melodia, ecoando como se Eru estivesse no fundo do oceano de novo.

ㅤㅤ– ... Perto. Tão perto... tão próximo... enxergo a terra tremendo, clamando por nós, por mim, por você.... o unigênito!

ㅤㅤA marca no peitoral queimou, acendendo involuntariamente. Sentiu-a mais poderosa. Essa coisa está mais forte? Achei que já tivesse controlado-a. Pensou antes de faze-la retroceder.

Notas:

Itens Lendários: