—Oi mãe. Eu sei que faz um tempo que eu não apareço, estive ocupado com meus afazeres. Eu me tornei um shinobi da pedra, a propósito. Provavelmente era algo nesse rumo que você desejaria para mim.

Eu estava ajoelhado diante de um pequena mesa de madeira, a luz do sol pela pequena fresta da janela iluminando um pouco o pequeno recipiente onde havia depositado incenso que regularmente acendia em memória de meus pais. Curiosamente eu nunca os conheci, não sei se estão vivos ou mortos, mas algo me dizia que não era culpa deles o fato de eu estar sozinho no mundo. Desabafei inúmeras vezes durante semanas olhando aquela fina faixa de fumaça que subia e dançava antes de se dispersar no ar.

—Pai, isso não era o que eu sonhava pra mim. De fato eu tenho sido omisso aos meus deveres a pedra.

Nas ultimas semanas eu estive saindo todas as noites, ido a lugares que costumava ir quando era apenas um delinquente e sempre sem a minha bandana a vista. É muito difícil abandonar um passado onde estive mais da metade da minha vida vivendo apenas por mim mesmo, sem rótulos e sem regras. Os curativos em meu rosto e faixas sujas espalhadas pelos meus aposentos denunciavam o que tinha feito nessas últimas semanas. Tenho me metido em brigas arranjadas, algo que fazia com frequência antes de parar no reformatório. Por mais que me sentisse vivo fazendo desta forma, não estava interessado em viver para sempre nas sombras como um delinquente de rua, eu ainda tinha que me encontrar. Esse sempre foi o dilema da minha vida.

O incenso continuava queimando, purificando o ar do quarto que entrava pelos meus pulmões. Esse momento regular de reflexão que tinha sempre me levava a breves e as vezes vagas resoluções dos meus problemas, era como se o antes e o depois não existisse a menos que as resoluções no meu coração se acalentassem. Sim, um dilema comum entre a maioria das pessoas, ir de encontro ao seu propósito na vida não é fácil principalmente quando nunca lhe foi dada opção de escolha. Não me admirava o fato de tornar parte de mim os maus hábitos que me fizeram sobreviver durante toda minha curta vida até então, provavelmente carregarei a imagem de uma pessoa difícil pelo resto de minha vida, mas bem, se é o meu propósito de vida que busco encontrar, estar perdido é o primeiro passo, afinal de contas só é possível encontrar aquilo que está perdido.

Removi os curativos espalhados pelo meu rosto, recolhi as faixas jogadas pela chão e as coloquei no lixo. Voltei a me ajoelhar a frente da mesa, dessa vez, com os olhos fechados e as palmas das mãos juntas como em oração.

—Obrigado pai, obrigado mãe. Tenho que voltar ao trabalho.

Antes mesmo de me levantar, coloquei a mão abaixo da mesa e retirei a minha bandana da pedra e então a enrolei no pescoço, deixando-a totalmente visível. Chegou ao fim o meu momento de maior vulnerabilidade, estava na hora de retornar aos meus deveres como shinobi, claramente ainda tinha muitas dúvidas mas farei disso uma experiência que me levará as respostas. Levantei-me do chão dando as costas para a mesa e segui em direção a porta, deixando para trás o incenso que continuava queimando em memória de meus pais.

HP:  200/ 200 • CH:  200/ 200 • ST: 00/03

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