Era mais um dia pacato na belíssima Kumogakure no Sato. O clima... Não era agradável. Ensolarado, quente, claro demais – terrível! Absolutamente terrível! Enquanto a maioria da população do vilarejo não desprezava esse tipo de clima tanto quanto eu, ainda era aparente que boa parte das massas procuravam abrigo dentro dos vários edifícios pontilhando as laterais dos barrancos de Kumo. Enfim, hoje era o dia em que eu havia combinado com meus colegas para... pagar o churrasco que eu devia para Hisoka, agora que sabia que nós fazemos parte do mesmo time (E por que o filho da mãe não me contou, eu acho que nunca vou entender), e trazer o ilustre Kazuha-sensei, agora Raikage, conosco para aproveitar um pouco de tempo fora daquele gabinete.

E aqui estava eu... sendo zombada por tal Uchiha. Na minha primeira visita ao restaurante após a inauguração. Por acaso eu tinha cara de palhaça? Um dia eu mato esse idiota...

- “Se nós não estivéssemos em uma praça pública em plena visagem do próprio Raikage, eu iria fazer todo o meu possível para te despedaçar, Uchiha. Mas, como essa possibilidade está completamente fora do meu alcance, vamos adiante.”

Continuei a seguir meu caminho, eventualmente chegando até a porta do estabelecimento... o qual eu iria aguardar alguns momentos, perplexa, esperando ser atendida. Estranho... Após alguns vinte segundos esperando, decidi abrir as portas eu mesma – Observando que logo após que eu entrei, Hisoka fecharia a porta grosseiramente atrás de mim, impedindo o Kazuha-sensei de entrar. Filho da mãe... Em minha mente surgiam várias frases, como ‘Qual é seu problema’ e ‘Por que você é assim’, mas no fim apenas fixei um olhar decepcionado contra Hisoka, e regredi alguns passos para abrir a porta para o Raikage.

- “Perdão pelo desrespeito do nosso mais novo colega, Raikage-sama. Ele tem dano cerebral, é terminal. Aliás, não era para ter uma recepcionista abrindo a porta para nós, Afinal? Raikage-sama, eu deixei bem claro que era de grandíssima importância que sempre houvesse uma recepcionista para receber os clientes e direcioná-los eles às suas mesas... Por acaso você ignorou aquele documento?”

Virei o mesmo olhar decepcionado em direção ao Raikage, dessa vez. Mas, não obstante, apenas iria balançar a cabeça e acenar para que me seguissem até a escadaria para o ambiente VIP, no andar superior... mas também observava enquanto Hisoka foi em frente e se sentou em uma das mesas livres, sem considerar os meus direcionamentos... Criança irritante. E ele virou Chunin? A Fortuna trabalha de maneiras estranhas, muito estranhas...

- “... O que está fazendo, Hisoka? Nós vamos nos sentar no andar superior, na área VIP. Pare de agir como uma criança... Acha que o Raikage vai se sentar aqui no local mais comum do restaurante onde qualquer um pode entrar e vir incomodá-lo?”

Havendo falado aquilo, iria balançar a cabeça mais uma vez – já ficava tonta... – e andar em direção até a grande escadaria que levava até o segundo andar, muito mais luxuoso do que o primeiro... E sinceramente esperava que pelo menos houvessem contradado o maldito guarda como eu havia falado!- Ah, ele esta ali.

“Saudações. Nora Kumori, Genin, Acompanhada de Hisoka Uchiha e Kazuha Uzumaki. Temos uma reserva para hoje.”

O homem, grande a fortão, vestido em um fino terno preto, levantou o queixo e olhou para nós, balançando a cabeça positivamente quando batia os olhos na visagem do Raikage em pessoa, dando um passo para o lado e gesticulando para as escadas.

- “Ah, sim, claro. Por aqui, Raikage-sama. Sua mesa já está pronta.” Falou o homem, reverenciando.

Virei para Kazuha-sensei e Hisoka, com um sorriso presunçoso em meu rosto, enquanto subia as escadas para o segundo andar.

- “Não é um Luxo? Hihihi... Olha só essas tapeçarias, foi um esforço escolher as melhores. E ainda queriam colocar as de segunda mão... Hn, Até parece que eu iria deixar que o meu restaurante usar aquilo que não é o melhor...”

As palavras de Hisoka rangiam e riscavam contra minha estável psique – O garoto hoje estava muito mais irritante do que o normal, notei. Talvez a sua afabilidade estava apenas atrelada ao perigo que circundava aquela arena á todos os momentos... E agora que estava no lar, não havia mais nada para segurar suas ânsias detestáveis. Enfim, tentava meu melhor para ignorar as provocações.

O comentário de que Hisoka quase incendiou uma casa realmente me chamou a atenção, porém. – “...Hisoka fez o que? Por favor, elabore.” – Falei, me virando para Hisoka – “Pois deve ser uma história realmente intrigante, já que Hisoka está aqui e não preso no andar mais fundo da Cochlea.”

Caso minhas suspeitas estivessem corretas – e provavelmente estavam – Kazuha havia simplesmente perdoado as... intrusões e desrespeitos de Hisoka. Certamente, nosso novo Raikage havia um coração muito mais generoso e amável do que o anterior, Nidaime, mas bondade é somente boa até certo ponto, especialmente no nosso ramo. Após esse ponto, vira uma fraqueza que pode ser aproveitada pelos outros e enfraquece a si próprio e aqueles que te cercam. Firmeza e Justiça, nada menos. Enfim, decidi responder ao outro comentário do Raikage.

- “Infelizmente, Raikage-sama, não houve tempo para ir visitar seu lar ainda. Nossos calendários simplesmente não se encaixaram até agora – Mas quando houver um recesso nas missões, breve que seja, eu irei tentar lhe visitar.”

Já no segundo andar, não havia o porquê atrasar mais. Me sentei, e escutei Hisoka fazer uma inquisição peculiar. – “Trabalho traz seus frutos, Hisoka. Mas não, eu não fico só no trabalho. Tento manter uma rotina estável e confortável, e faço somente aquilo que me interessa. Não estou disposta a viver uma vida miserável para alguns Ryous extras no bolso, mas eu tenho meus objetivos, e vou fazer tudo o possível para alcança-los.” – Finalizei, e então escutei ele fazer seu pedido, enquanto um pequeno sorriso surgia em minha feição. – “Alias, fique à vontade, Hisoka. Você também, Raikage-sama. Como eu falei, hoje é tudo na minha conta. Vinhos finos, Carnes nobres, Queijos, Massas, aqui tem de tudo. Aproveitem.”

Enquanto eles fizessem seus pedidos, eu iria apenas olhar para o garçom com um ‘olhar’, aquele ‘olhar’ que todos conhecem... – “Eu vou querer o combo especial da casa. Tamanho extra.” – Falei, com um sorriso grande e preguiçoso em meu rosto, enquanto me fazia confortável no assento almofadado e bebia de uma taça de vinho.

Isso vai ser divertido, e bem merecido.

Se já não bastasse Hisoka me provocando incessantemente, agora Kazuha também me cutucava sobre minha aparência juvenil. Filho da mãe... – “Eu sou uma adulta. Já matei pessoas. Eu vou beber quanto eu quiser e o senhor não vai me impedir.” – declarei com firmeza, agarrando tanto a garrafa de Vinho quanto o copo já servido em minhas mãos. Ninguém vai me impedir de aproveitar isso. – “Aliás, disponha. Eu também estava precisando de um dia de folga – as coisas no escritório estão ficando bem bagunçadas com toda essa algazarra pelo vilarejo.”

Mas, é claro, como mencionado, Hisoka continuava com suas provocações. De início, uma pequena parte de mim acreditava que o garoto estava sendo pelo menos um pouco sincero com suas palavras, mas afinal, isso nunca durava muito tempo. Eu preferia ele quando estava tão exausto que eu poderia derrotar ele com um soco só, garoto irritante. – “Raikage-sama, se você não me impedir, eu vou matar ele.” – Declarei em voz alta, fixando meu olhar profundamente nos olhos de Hisoka. Só me provoque mais um pouquinho, vai...

E então, a comida começou a chegar. Primeiro, o prato de Hisoka, como ele havia pedido. – “O que é o combo especial da casa, você pergunta? Bom, esse é um prato do cardápio que eu mesma criei... Alias, olha ele ali chegando.” – Falei, com um sorriso enorme estampado no rosto, enquanto assistia três garçons carregando as diversas bandejas. Uma grande bandeja completa com mais de dez tipos de carnes, entre eles Linguiça, Costela, Lombo, Pernil, Espetinhos, Bacon, além de vários acompanhamentos – Curry, polenta, batata, legumes assados, e de sobremesa, um Petit Gateau.

- “Cada vez que eu vejo tal beleza a minha frente, meu coração se enche de animação... Se eu engasgar, me deixem morrer. Itadakimasu.” – Falei, e bom, o que aconteceria nos próximos momentos nada mais era do que a descrição mais bela da palavra ‘Carnificina’. Passei apenas um único momento me perguntando se a forma como que eles me viam iria alterar muito... Mas não importava o suficiente. Agora era hora do rango. Quem precisava de talheres, afinal? Temos mãos, dentes e boca, e essas são todas as ferramentas de que preciso.

Quando tudo tivesse terminado... Nem Hisoka nem Kazuha teriam chegado até metade dos pratos deles. Olhos arregalados, questões assustadas, pavor? Nada importava.

- “Isso é o combo especial da casa, Hisoka... E ai, vai terminar isso ai?”