O clima em Konoha era tudo, menos agradável. Fazia em torno de 33°C e o Sol reinava nos céus. Algumas nuvens negras aos poucos começaram a surgir e davam indícios de que poderia chover muito em breve. Togyuu tentava se refrescar deliciando-se com uma grande pote de sorvete de morango, sentado em um banco localizado no centro comercial da vila e observando o movimento. “O inverno não chega nunca…”, reclamou.

Em meio a multidão, uma mulher com vestes simples e um capuz azulado despertou a atenção do Yuki. Ela passeava pelo local e tentava gentilmente vender, sem muito sucesso, alguma espécie de arte feita à mão. De onde estava não era capaz de definir exatamente o que realmente era aquilo. No entanto, não demorou para que a moça viesse para seu lado.

— Com licença, senhor. Gostaria de comprar um origami? — Ela era gentil e tinha uma voz doce. Togyuu permaneceu em silêncio por alguns instantes, apenas observando o belo rosto por de baixo do capuz. Enquanto aguardava pela resposta, a mulher criou um tsuru sem utilizar as mãos para dobrar o papel. “Como?”, o jovem se questionou.

— Como você fez isso? — Apontou para o pássaro de papel, curioso.

— É uma espécie de ninjutsu para criar e manipular papeis como origamis, seu nome é Shikigami no Mai. — Informou, com a mesma gentileza demonstrada anteriormente.

— Muito interessante, parece ser uma habilidade bem útil e criativa. — Elogiou. — Como aprendeu?

— É uma arte que a séculos é passada de geração para geração, foi meu pai quem me ensinou. — Enquanto respondia, ela sentou-se ao lado do platinado. Cuidadosamente, realizou um movimento com a mão e o passáro voou até o shinobi. — Nossos antepassados descobriram como utilizar os papeis não só como uma expressão de nossa arte, mas também como uma ferramenta de guerra. — Seu braço se desfez em dezenas de folhas únicas de papel, reformando-o na sequência. — Particularmente, prefiro apenas a parte da arte… Desculpa, acabei falando demais.

— Não tem que se desculpar, muito pelo contrário. — As primeiras gostas de chuva começavam a cair. — Se importaria em me ensinar? — Perguntou, esperando por uma resposta negativa.

— O que? — O rosto da mulher corou. — N-n-não sei se consigo. — Aparentou estar nervosa. — M-mas posso tentar. — Ela dobrou outro pedaço de papel e o entregou à Togyuu. — É o endereço da minha casa. Me encontre lá amanhã por volta deste mesmo horário. — Informou, levantando-se e despedindo-se.  

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O dia seguinte amanheceu chuvoso e a temperatura estava mais amena. “Talvez seja um indicativo de que o clima está prestes a mudar”, pensou sem esboçar nenhuma expressão facial. A agradável temperatura, entretanto, estava acompanhada de um sentimento de melancolia. “Merda!”, reclamou mentalmente. Togyuu tinha a sensação de que alguma coisa de ruim poderia acontecer.

Não tardou para um mensageiro bater em sua porta e entregar-lhe um pergaminho lacrado com o selo oficial do Hokage. “Uma missão, justo hoje? Sério?”, reclamou. Ao abrir o papiro, percebeu que se tratava de uma convocação para realizar a guarda de um casarão localizado em uma das regiões mais afastadas da vila, pois a proprietária da residência havia sido encontrada morta nas primeiras horas do dia. “Esse endereço… parece com o qual aquela mulher me passou”, pensou. Levando as mãos ao bolso de sua calça, retirou o papel entregue pela moça e comparou os endereços. “Não… Não é possível”.


— Bom dia, Togyuu Yuki se apresentando. — Informou a um dos shinobis que aparentava ser responsável pela investigação. — O que aconteceu aqui? — Perguntou.

— Não sabemos de nada, mas precisamos ficar atentos.

— E a mulher?

— Infelizmente, morta. Os médicos já removeram o corpo da casa e levaram para a perícia.  

— Entendo. — Respondeu, abaixando a cabeça. — Posso entrar na residência?

— Sim e nos reporte qualquer problema.

Togyuu acenou positivamente com a cabeça e rapidamente adentrou ao casarão. Desde o primeiro instante, não foi possível notar nenhum sinal de arrombamento, roubo ou lutas. Quais seriam as causas da morte daquela mulher? Por que aquela preocupação dos shinobis da vila? Os questionamentos eram perturbadores e sempre levavam a uma nova pergunta: quem era ela? O Yuki passou a vasculhar pelas estantes do móvel em que estava por quaisquer informações que indicassem a identidade dela ou de sua família. Todavia, a busca parecia impossível.

Passados alguns minutos, o jovem encontrou um livro de capa branca com detalhes em dourado que o destacava dos demais. Intrigado, pegou-o nas mãos e fixou o olhar no título: “Chuva de Origamis”.

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“Você não se importa, não é?”, perguntou mentalmente. Após retornar a sua residência, Togyuu pegou o livro que havia encontrado e colocou sobre a mesa de madeira localizada na sala de estar. Direcionou-se à cozinha, onde preparou uma xícara de café e pegou alguns biscoitos salgados, retornando ao cômodo anterior e sentando-se próximo a mesa.

Calmamente, O Yuki iniciou a leitura daquele livro intitulado como “Chuva de Origamis”. Os primeiros capítulos apresentavam apenas a história por trás daquele curioso jutsu. Apenas próximo aos capítulos finais, algumas informações sobre a prática começaram a aparecer.

“Os usuários da técnica Shikigami no Mai transferem seu chakra para papéis e tornam-se capazes de cria-los e manipula-los como origamis. Dependendo do nível de conhecimento do shinobi, ele torna-se capaz de se transformar em papéis ou produzi-los a partir de seu próprio corpo”, pausou para tomar um gole do café. “Infundindo chakra aos papéis, o usuário é capaz de deixá-lo tão cortante quanto uma katana e tão rígido quando uma rocha”, finalizou o capítulo.

Togyuu precisava, antes de tudo, arrumar um amontoado de folhas de papel para colocar em prática todas as informações adquiridas com a leitura. Às pressas, o platinado começou a revirar as gavetas ao redor da casa em busca do material necessário. Todavia, não encontrou nem uma mísera folha rascunhada.

“Precisarei sair para comprar”, decepcionou-se.

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Uma nova xícara de café foi preparada e Togyuu se sentou próximo a mesa de madeira sobre a qual diversos pedaços de folhas de papel em branco estavam espalhados. Após o primeiro gole, pegou uma folha com uma das mãos e passou a canalizar o chakra e transferi-lo para o papel. Todavia, nada acontecia. “Obvio, se eu não souber no que quero transformá-lo, fica impossível obter algum resultado”, refletiu. “Vejamos… Uma shuriken? Pode ser”, conversava consigo mesmo.

O Yuki pensou inicialmente em um objeto simples e que conhecia muito bem, afinal, era a primeira vez que tentava utilizar aquela técnica. Novamente, com o papel em mãos e a imagem da shuriken na mente, passou a transferir o chakra para a folha. Diferente da primeira tentativa, o papel reagiu ao chakra, porém, nada formou – ele apenas foi brutalmente amassado.

Apesar do seu exímio controle de chakra, apenas isso não seria o suficiente, ainda faltava algo. Então, pacientemente, Togyuu reabriu o livro e iniciou uma nova e atenta leitura. Estava ciente de que estava esquecendo algum detalhe importante no processo e, caso fosse preciso, gastaria horas para descobrir o que.

“Seria mais fácil se você estivesse aqui… De alguma forma, me ajude!”, lembrava-se da mulher dos origamis.

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Nem mesmo a mais bela das mulheres da vila seria capaz de tirar a concentração de Togyuu naquele momento. O platinado leu e releu os capítulos daquele livro incontáveis vezes, tornando-se até mesmo capaz de recitá-lo completamente sem tê-lo em mãos.

As últimas dez páginas do livro continham uma lista de antigos usuários de Shikigami no Mai, aos quais a obra foi dedicada. Chegando nessa parte, o Yuki teve a certeza que não havia deixado escapar nenhum ponto. Entretanto, em uma dessas páginas, escrito a lápis e quase totalmente apagado pelo tempo, havia um breve lembrete: “Iniciantes, o importante é o processo e não o resultado final”.

Uma luz acendeu-se na mente de Togyuu que imediatamente arrastou o livro para o lado e pegou uma folha de papel. “Como eu construiria uma shuriken?”. Com o processo simulado em sua cabeça, o shinobi canalizou o chakra em sua mão e o infundiu a folha. Então, esperou pacientemente até que a shuriken finalmente tomou forma. Um sorriso ameaçou escapar pelo canto da sua boca, mas logo foi contido pelo arremesso da arma de papel em direção a uma vaso de flores que estava sobre a estante.

O que o Konoha-nin conseguiu fazer naquele dia era apenas uma das infinitas possibilidades que surgiram com aquele aprendizado. Porém, isso exigiria mais algumas horas de dedicação.

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