Era notório que no País do Ferro toda a cultura militar girava ao redor do uso da espada. Kenjutsu, uma arte que, conforme Fushiguro pôde observar durante seu tempo ali, ia muito além de uma simples utilização de Bukijutsu.

Foi natural, portanto, que Akira desejasse dominar a utilização de espadas. A oportunidade surgiu em uma tarde frígida, quando o jovem nukenin bebia em um pub na capital. Entre um copo e outro conheceu uma mulher chamada Naomi, de longos cabelos pretos e lábios fáceis para sorrisos.

Conversa vai, conversa vem, ela acabou revelando ser uma samurai peregrina, que um dia servia ao líder anterior aquele que Akira havia destronado. Quando seu chefe caiu, ela foi exilada por vários anos. Havia retornado recentemente ao País do Ferro, para confirmar os boatos de que um extrangeiro havia reclamado a liderança da nação, matando o homem que a expulsou.

Totalmente embriagados, não demorou para terem a brilhante ideia de ir para a rua, para que Naomi mostrasse suas técnicas de kenjutsu das quais tanto havia se gabado àquela noite.

Ficaram um defronte o outro, cada um com sua espada em mãos. Naomi sorriu para ele enquanto virava levemente a cabeça para a esquerda, jogando uma mecha para trás da orelha.
Por razões inexplicáveis segundo seu próprio entendimento sobre si mesmo, Akira achou o movimento bastante... Bonito? Talvez não fosse essa a exata palavra que ele gostaria de usar, mas era a que mais servia.

Então, sem aviso, Naomi atacou com sua espada. Um movimento ligeiro, preciso e soturno, que teria repartido a cabeça de Fushiguro em duas caso ele não detivesse a habilidade – e velocidade – para reagir a tempo.  Felizmente seus reflexos eram de um combatente experiente, e o renegado logrou em defender a investida com a lâmina negra de sua katana.

— He, está melhorando — o elogio vinha acompanhado por um sorriso zombeteiro.

— Espadas são bons adereços para se brincar

— Com qual das duas acha que se sai melhor?

— Du... Ah!

Com um sorriso nos lábios, ela voltou a atacar. Suas investidas eram um casamento perfeito entre agressividade felina e passos de dança, mergulhando o pátio em uma orquestra de sons metálicos por horas sem fim. Ambos compartilhavam da paixão fervente por duelos. Ambos se recusavam a aceitar a derrota, mesmo em uma situação de treino.
Então, quando Akira finalmente arrancou a espada das mãos dela usando a sua, Naomi, após um breve momento de surpresa, seguido por um sorriso zombeteiro, investiu em alta velocidade batendo com a palma da mão aberta no peitoral do renegado. A força do ataque o empurrou para trás, batendo contra a parede. Sem hesitar ou dar chance para o oponente revidar,  Naomi desferiu o golpe letal, finalizando Akira com um beijo certeiro.

A luta então prosseguiu, mas em outro local.
O duelo durou toda a noite.


Os dias se passaram, e a medida que os meses vinham e iam embora ambos os renegados mantiveram uma relação que ia cada vez mais além do acordo prévio. Nunca houve um pedido formal de namoro, nem sequer uma palavra trocada sobre estarem ou não em um relacionamento. Não era preciso, não para aqueles dois.

Akira e Naomi operavam na exata mesma sintonia. Rebeldes, orgulhosos, não pouco metidos a querer sempre sair por cima em qualquer situação. Não falavam sobre sentimentos, não diziam estarem apaixonados um pelo outro: não com palavras, pelo menos. Eram guerreiros, e tal como é devido conversavam com o corpo, através de gestos e ações.

Ao final do terceiro mês Akira dominava completamente o Kenjutsu. Mas essa estava longe de ser a maior das surpresas... Bom, não que possa ser chamado realmente de surpresa após tantas... Enfim, foi durante uma tarde de Verão que Naomi lhe deu a notícia.
Ela estava carregando o filho de Fushiguro.

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