Quando nobres ideias perecem, as pessoas tendem a crer que houve uma mudança súbita na personalidade daquele indivíduo.
Tolas.
Tal como as folhas que caem no Outono, a degradação é um processo lento, gradativo, quase sutil. Embora, é claro, quase sempre sejam fatores externos que levam à mudança. Com nosso individuo de destaque não foi diferente.

Quase infinitos foram os fatores que levaram a modelagem de sua mente e às mudanças impostas a ela. É claro que, sem um pouco de todo aquele esforço do destino em destruir aquela existência, talvez tudo pudesse ter sido difente.
Ou será que não?
Quem sabe a mácula já estivesse ali desde o nascimento.

Fushiguro Akira, quando ainda um jovem genin de Kumogakure, acreditava que um dia lutaria para proteger todos os moradores da vila. Sendo uma criança pobre e que batalhava para (tentar) custodiar o tratamento de sua mãe, o jovem garoto tinha pouco tempo para si mesmo. Essa condição criou nele um forte sentimento de querer ajudar a todos, o que o levou a sempre dar o seu melhor.

Não obstante, sua determinação refletia-se em seu treinamento e suas missões, sendo rapidamente reconhecido como apto ao cargo de Chunnin. Não sendo possuidor de nenhum tipo de habilidade especial desde o nascimento, filho de um pequeno clã miserável, tomou em mãos sua determinação e fez dela sua maior arma. Buscava sempre elevar seu físico a perfeição, aperfeiçoando-se no combate corporal para compensar todo o restante.
Mas enquanto evoluía, o próprio Akira não se dava conta da degradação que tomava conta de sua mente. Pouco a pouco, corroendo sua alma.

A sociedade sente uma paixão desenfreada por enaltecer e romantizar o esforço desmedido. Quando veem um jovem genin dando tudo de si, logo o apontam como exemplo a ser seguido, como se todos tivessem que se sacrificar em nome de algo. A verdade, todavia, é que tal esforço é a prova de que o sistema de organização das vilas shinobi já não mais funcionava – isto é, se um dia funcionou.

Pois, afinal, ainda que muito poucos se recordassem disso nos dias de hoje, a razão de uma Aldeia ter sido criada não era exatamente manter as crianças longe do campo de batalha? Dar a elas treinamento seguro, até estarem aptas a seguir adiante?

Toda a pressão imposta sobre o jovem roubou qualquer chance de ter uma infância. Tornou-se, afinal, um genin ainda aos oito anos. A responsabilidade de cuidar da mãe – doente e cada vez mais louca –, as constantes visitas da Máfia do Porto vindo para cobrar dívidas de quando ele sequer era nascido, e nenhum apoio verdadeiro da aldeia ou de seus colegas de equipe foram fatores que corroboraram para que, aos poucos, sua personalidade boa e determinada a fazer o bem fosse morrendo.
E, se aproveitando do vácuo que era deixada por esta, outra tentava tomar seu lugar.

Akira sempre soube o valor do dinheiro. Não demorou para descobrir que era o dinheiro que movia o mundo, em todos os aspectos possíveis. O que era uma aldeia shinobi sem dinheiro, afinal? O que eram os shinobis, se não meros mercenários nacionais e muito mal pagos.

Tudo nesse mundo se resume ao dinheiro. Quem o tem está no topo, e para todo o resto sobra apenas uma morte lenta na sarjeta: assim como fora com sua mãe. Quando a mulher enfim desfaleceu por completo, vítima de uma doença curável, mas extremamente cara, foi quando a última gota de água rompeu aquela velha represa.

Akira, já um adulto com o peso de diversas missões nas costas, um shinobi experiente, mudou completamente sua forma de pensar. Para ser mais exato, assumiu o manto que já vinha carregando, mas se demorava para vestir.

Se antes Fushiguro acreditava que poderia mudar o mundo a sua maneira, usar de sua própria força para fazer as coisas como achava correto e assim proteger a todos, agora tudo com que ele se importava era ele mesmo. Decidido a nunca mais passar fome, a nunca mais sentir dor pela falta de uma mísera moeda de ryo, o homem se tornou a mais perfeita definição do individualista.

Quando deixou a aldeia da Nuvem e começou a realizar missões como Nukenin (que tinham um pagamento muito mais significativo, assim como maior liberdade para fazer o que quisesse) a frase que mais marcou sua nova identidade foi aquela que também definia seu modo de pensar.

“Eu não me importo do por que me contrataram, com quem você é, sua idade ou sua força. Contanto que eu seja pago no final, só isso importa”.

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