A Guerra havia acabado, recebi a mensagem nas últimas folhas do jornal diário que consegui encontrar. Eu havia retornado para casa mais cedo que os demais do fronte, e tive a chance de vê-los por uma última vez, os remanescentes, que não foram mortos durante o cerco de Konohagakure ou em qualquer outro momento daquela guerra. Eu acredito que apenas pude manter-me são porque ainda restava um resquício de esperança em mim, mas não pude nem mesmo desviar minha atenção daqueles semblantes de derrota, de luto, a perda inevitável de um conflito premeditado, é como se os demônios que habitavam meu próprio passado tivessem retornado para fazerem sangrar uma ferida que sempre cobri, mas nunca tratei, ainda está aberta como se tivesse feito-a a pouco tempo. A desilusão foi o que assolou Kumogakure durante aqueles meses. A população estava aflita, ressentida, fomos derrotados e de nós foi tomado o que nos foi dado, e agora, nossa principal colônia foi entregue as mesmas mãos que questionaram-nos, o poder que tanto temiam agora é deles, e não há julgamento, não há decisão, é apenas uma questão de sobrepujar aqueles abaixo de você ou que seja considerado inferior em qualquer aspecto. Jogos políticos, brincadeiras de homens e mulheres que se desprezam, e colocam pessoas boas para se matarem em nome de um moralismo-: ー ... Hum, você vai continuar falando até quando, Kaonashi? ー Digo, olhando meu reflexo úmido no espelho, após banhar-me para refrescar o corpo e revigorar a mente. Eu sabia que não bastariam palavras, se é que existe palavras que eu poderia usar para descrever aquele sentimento. Eu nunca fui bom de expressar-me usando-as, mas eu sabia transmiti-las pelo som do meu samisém.

Nuvens de chuva,
Choram não flores, apenas pétalas,
Num campo de lágrimas esquecidas.
Aqui, onde jazem pessoas,
Agora incrédulas,
Porque foram abandonadas em vida.
O amor pode matar,
O amor morto pelas trevas,
Mas a alma dos que se foram será mantida.
Que seja feito o que se deve,
O destino está acorrentado a nós,
Pelo amor, eu declaro guerra.

Termino de cantar, fazendo o último dedilhado e então, parando para respirar. A todos que se foram nessa luta, suas almas ainda viverão e serão a chama interminável que aquece Kumo nesse dia de chuva. O mundo nos traiu, se esqueceu de quem somos, por motivos injustificáveis, e arruinou a paz  que foi construída com o sangue de muitos. Não posso apenas abaixar minha cabeça perante essa imoralidade, eu fiz muito em vida para deixar que esse abismo me consuma. Já chega de música, por hora ao menos.

Levantando-me, me visto com meu yukata e parto para o centro do vilarejo. A luta que lutamos foi cravada para que o próximo amanhecer fosse mais ensolarado, mas hoje parece que o sol apagou-se. Havia uma aura sombria que se propagava pelo ar nos arredores onde minha vista alcançava, não eram dias bons. Movimentando-me pelo topo das casas e construções, procurava pelo único lugar que poderia me servir aquilo que eu precisava antes do que eu pretendia fazer, minha cafeteria favorita, a Hana Kōhīshoppu, havia muito tempo desde a minha última visita, e com minha partida para Otogakure, acredito que me deliciar com uma xícara de um Latte Macchiato seria o agrado do meu dia. Servido e com a excelência costumeira, eu estava bem para um treinamento. Kumo possui um formações de relevos bem destacáveis, sendo a principal região montanhosa do mundo ninja, com cordilheiras no coração e afluentes da grande nação, sendo assim, é comum que desague várias cachoeiras nos ambientes mais florestais do país, e um em especial era qual eu buscava. O lugar estava vazio, apenas eu e o som das águas fluindo por através das rochas e batendo contra o lago. Busquei uma pedra próximo e comecei um exercício de concentração para focalizar em meu âmago, meu fluxo de chakra interior. Desejava fazê-lo fluir tal como a cachoeira, de forma rítmica e ininterrupta, e tinha familiaridade com esse tipo de transmissão devido a meu dōjutsu, que constantemente me força a manter meu chakra centrado na região orbicular. Desejava praticar por três semanas ao todo, para aumentar minhas reservas de chakra e para fortalecer meu controle de chakra. Minha rotina era bem restritiva, eu preparava uma porção de comida usando legumes, minha preferência alimentícia e também rica em nutrientes, e levava para aquele espaço para continuar meu treinamento. Dia após dia, eu precisava me fortalecer para a próxima estação. Inegavelmente, haverá uma retaliação por parte de Kumo, relações diplomáticas não existirão a partir de agora, eu preciso me preparar. Apesar de minha primeira impressão de Kagaya, nosso atual Raikage, ter sido ruim, eu o vi na guerra e como sua liderança movia a vanguarda inteira, desde as forças regulares até os civis que encontravam-se dispostos a sacrificarem suas vidas a causa. Talvez sejamos água e óleo, mas ainda é possível haver uma intersecção entre duas linhas diferentes.

Ao terminar o treinamento, muitos dias já haviam se passado. Imaginava que a essa altura, estaria sendo feita uma reestruturação do poderio econômico de Kumo, e meu palpite estava certo. Se me permitir a ousadia, não seria estranho pensar que futuramente, haverão novas colonizações ao redor do mundo, e tanto Iwagakure quanto Sunagakure, que permaneceram neutras durante a guerra, enfraqueceram-se politicamente, ainda mais com o desaparecimento de Naomi, que acredito veementemente ter sido morta por Widowmaker, e com a morte de Tobirama, pelas mãos daquele mesmo indivíduo. Eu precisava reportar o que havia adquirido de informação em meu último encontro com o Kyūseishu, sobre a falsa morte de Orochimaro, sobre a ausência de qualquer envolvimento por parte das outras nações em sua aparição e agora, pensar em uma forma de lidar que a nova organização que surgira. As espadas lendárias agora estavam em posse das outras nações, mas ainda havia muito que nós poderíamos fazer, e tenho planos para tomar de volta o que era nosso por direito. Eu não sou a favor da guerra pela crueldade que ela proporciona a vida de todos, mas não há vitoriosos no mundo ninja, tal como não há de fato heróis. E se não há um herói no mundo ninja, então também não há vilões em sua totalidade.

Decido passar por uma última vez no memorial da vila para homenagear todos aqueles que se foram na guerra. Um adeus, e que seus sacrifícios não tenham sido em vão.

Considerações: