ㅤㅤ... As Marés da Guerra o tinham Afogado.

ㅤㅤNem em seu próprio lar o fantasma da vergonha lhe dava uma trégua.

ㅤㅤJá haviam se passado mais de duas semana, desde que o exército de Kiri havia regressado para o País da Água, com a moral estremecida e com perdas irreparáveis, tanto de vidas humanas como de recursos políticos e bélicos. Mesmo não tendo culpa alguma sobre o desfecho desolador, Eru, sentia-se com um grito atado em seu âmago, e um fracasso entalado na garganta.

ㅤㅤLevantar de sua cama era um torturante dever, que ele só realizava quando não tinha mais como protelar seus ônus como ninja. Maldição, por quê só não esquecem que eu existo? Uma dia. Só por um dia.

ㅤㅤTeri - que também havia ido para a guerra -, outrossim estava esmorecido, contudo, diferentemente do Kaguya, ele canalizou seu fracasso em campo em uma vingança, uma feroz e infantil vingança, que ele esperava que o amigo pudesse ajuda-lo a formular. Não vou ajuda-lo nisso. Esse ódio é passageiro, vai conseguir superar-lo cedo ou tarde. Ele próprio, porém, não tinha certeza se seria capaz de superar tal acontecimento. Por quê é tão difícil aceitar? Perdemos... acabou.

ㅤㅤOs encargos como ninja, não deixaram que suas lucubrações terminassem em sua completude, sendo obrigado a leva-las para o trabalho consigo.


ㅤㅤAmbos, iriam até o orfanato, mostrar apoio emocional e financeiro as crianças carentes de Kirigakure, que, como sempre, seriam as primeiras a sentirem os efeitos colaterais, a médio e a longo prazo da Grande Guerra. Muitas delas, haviam acabado de se tornarem órfãs, perdendo para sempre a chance de verem seus pais novamente. Lembrou-se de também ser um, até onde tinha conhecimento. Esse mundo é uma grande tragédia. Uma tragédia do acaso. Qual nosso papel nesse grande abismo da casualidade? ...Qual o meu papel?

ㅤㅤA pequena residência que abrigava os pequenos era húmil, porém aconchegante. A alegria deles ao ver os dois genins era uma daquelas sensações que não tem como medir. Não tem como mensurar. Lembrou-se que Akemi - a garota nobre, aparentada do Senhor Feudal, que ele havia conhecido durante a visita de sua família ao centro da Névoa -  adorava ajudar crianças carentes. Ela gostaria de estar aqui.

ㅤㅤDivertiram as crianças, contaram histórias e inventaram outras. Como contar para eles que a vida é dura e difícil? Que a maioria delas pode nem chegar aos dez? Pegou-se refregando consigo mesmo, mais uma vez inconformado com toda àquela estância.

ㅤㅤ– Ei, Eru, tudo bem? – O amigo percebeu sua inquietação.
ㅤㅤ– Sim. Só estava pensativo. – E quando não estou? As crianças iam e vinham até eles, oferecendo desenhos e brinquedos, convidando-os para acompanha-las.
ㅤㅤ– Pensando na...? – Não completou.
ㅤㅤ– É. Por favor, podemos não falar mais sobre isso? – Até mesmo a dinâmica entre os dois havia sido afetada. Eru, jamais pediria algo daquela forma.
ㅤㅤ– Claro. Vai ser muito melhor assim. – Teri, jamais responderia algo dessa forma. A seriedade com que disse, lembrou até mesmo a de Eru.

ㅤㅤDesconsertados, fizeram a alegria dos miúdos por mais uma hora. Se despediram das responsáveis por cuidar deles e do prédio, e prometeram voltar mais vezes nos próximos dias.

ㅤㅤO gabinete os esperava para direciona-los a mais uma tarefa. A máquina de remoer ninjas não podia parar, ele bem sabia. Quando subiram os degraus do edifício, um homem de aparência obtusa, com nariz fino e a cabeça inteiramente raspada estava a espera deles. Ele acompanhava uma das assistentes, encarregadas de repassar as missões de acordo com a patente e conhecimento de cada ninja.

ㅤㅤ– Oh, finalmente chegaram. – Ele disse ao lado dela. Quem é esse? Nunca o vi aqui. – Entrem. – Eles obedeceram.
ㅤㅤ– Nós recebemos um relatório hoje, sobre uma seita que está agindo próximo de nossa vila. – Os genins entreolharam-se. – Vocês dois foram selecionados para investiga-los.
ㅤㅤ– Não seria melhorar escalar ninjas rastreadores para essa missão? – Teri, lançou. Eru, concordou internamente.
ㅤㅤ– Vocês dois tem as habilidades necessárias para concluir tal investigação. Daremos todos os detalhes e localizações que temos. – Ele os olhava com felicidade, demasiada felicidade. Nós acabamos de ser derrotados numa guerra... O Kaguya, também se mostrou desconfiado. – Eru, você será importante para essa missão. Tive acessos a seus relatórios médicos e ninjas, são muito bons. Seus exames psicológicos também são adequados. Está em plena condição de ir até lá e acabar com esses caras, creio eu. – Mais uma felicidade desmedida. Muito estranho...
ㅤㅤ– Se você acha... tudo bem. – Não teve escolha senão aceitar.
ㅤㅤ– Amanhã retornem a este gabinete. Podem ir. Descansem. Até mais... – Quando o homem acenou, despedindo-se dos garotos, o Kaguya notou uma marca estranha em seu pulso, tingida em negro, com um símbolo que ele nunca havia visto. Chamou sua atenção apenas durante aquele breve momento, após, foi fugaz de sua mente.

ㅤㅤDeixaram o prédio juntos, porém separaram-se na metade do caminho.

ㅤㅤO garoto Kaguya quis correr para sua casa assim que o amigo o deixou, e afogar-se na banheira. Ele acabou fazendo, mas afogou-se apenas para molhar os cabelos. A água fria, quase congelante, o fazia debater-se e desejar por algum acalento. É isso que você merece. A derme já assumia uma tênue coloração roxa, causada pelo inicio de uma hipotermia. Levantou-se, trêmulo e enfraquecido, tropeçando no tapete á frente da banheira. Não levantou.

ㅤㅤPermaneceu caído e nu, com o rosto encostado ao chão e mergulhado em uma tristeza irreparável. Chorou, mas só porque não havia ninguém por perto. Não tem problema chorar se não tiver ninguém perto. Era seu mantra. A depressão o tornava ainda mais melancólico e distante das pessoas. Até dele mesmo. Só preciso dormir... amanhã vai ser melhor, sei que vai. Não sabia, mas torcia. Adormeceu ali, despido e mazelado.

ㅤㅤ...Abriria os olhos no meio do oceano, velejando uma pequena barcaça. Em sua mão, apenas um remo puído. À sua volta, águas escuras e incomensuráveis o guiavam... para onde? Ele não fazia ideia. Não podia contra elas...

Notas:

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