O primeiro homem trazido até ela usava roupas esfarrapadas, de um tom bege-escuro, mas sujas de lama seca, como se tivesse feito uma longa viagem até ali. Tanto sua maneira de falar, quanto a forma descrente e repleta de dúvidas como olhou para Neko, entregavam que ele, de fato, não era do País do Ferro. A essa altura, afinal, não haviam habitantes daquele país que não olhassem com respeito ou temor para a pequena Shogun – na maneira das vezes, com as duas coisas.

— Diz aqui que você é um viajante, vindo de... Amegakure no Sato? — Leu em um pergaminho. — Onde fica isso? Como eu faço para chegar lá? Quero que me diga tudo que sabe sobre a geografia do lugar.

Sua voz era meiga, mas carregada de intenções assassinas. Neko emanava constantemente seu Sakki, em uma intensidade que alguém do nível daquele sujeito não era capaz de aguentar. Assim que sentiu as primeiras emanações de seu desejo por sangue, sua respiração acelerou, agitando os braços contra as correntes que o prendiam na cadeira.

— Por favor, não me machuque! — Implorou.

Neko apenas sorriu.

— E que graça teria não te machucar? Responda minhas perguntas, e talvez eu deixe um pouco de você ainda inteiro.

Facilmente vencido pelo medo, ele fez exatamente tudo que foi pedido. Gravando as informações na memória, Neko aproveitou para também registrar tudo em um pergaminho, como faria com todas as informações que coletasse hoje.


A segunda pessoa a ser trazida era uma mulher. Jovem, pele clara, cabelos curtos, na atura do ombro, de cor dourada. Suas vestes eram bastante simples, denotando, talvez, uma origem pouco nobre. O novíssimo Departamento de Inteligência de Tetsu no Kuni , sob ordens da Shogun, havia requisitado a presença – leia-se: sequestrado — diversas pessoas que poderiam ter conhecimentos que fossem do interesse da pequena renegada. Para hoje, haviam separado aqueles que tinham um bom entendimento sobre a geografia de seus países de origem.

— Sayuri Ogosiri, correto? — Leu o nome no pergaminho. — Parece que você é originária de Takigakure no Sato. Humm... — Cutucou o próprio queixo, pensativa. — Por favor, me fale tudo que sabe sobre o terreno do país.

Lutando contra as amarras, a mulher fechou a cara para aquela que julgava ser uma criança.

— E por que acha que eu sei de algo sobre isso? Me solte, agora!

Neko sorriu.

— Porque o motivo de você estar aqui é por ser professora, e sua área é justamente ensinar sobre a geografia de seu país — apoiando suas mãos nos joelhos dela, Neko se inclinou para frente, de maneira que seus rostos quase se encostassem. Novamente, estava projetando seu Sakki sobre a interrogada. — Agora, por favor, faça o que eu pedi. Odiaria ter que arruinar esse lindo rostinho... — Deslizou um dedo pelo pescoço dela. — Ou abrir algumas cicatrizes aqui, outras ali. Para alguém da sua idade, tsc tsc, seria o fim.

E, fácil assim, ela também se quebrou.


A terceira também era uma mulher, de aparência ainda mais jovem que a última. Essa tinha longos cabelos rosados, olhos grandes, com a íris brilhando em um verde-musgo, e usava um kimono todo rasgado. Se fosse tentar adivinhar, Neko diria que ela tentou lutar contra os captores.

— Sakura Tayu, dezenove anos. Você é de Tonika Mura, certo? — Puxou uma cadeira e se sentou defronte a ela, de maneira que ficassem bem próximas. — Como é lá? Muito sol? Por aqui é sempre um frio arrasador. Lá também faz frio? Por favor, me conte tudo que sabe, eu adoraria ouvir!

A mulher cuspiu em sua cara, sujando a máscara.

— Isso foi um pouco de exagero. Quer dizer, nós procuramos manter um pouco de classe por aqui! — A renegada disse, enquanto pegava um martelo do chão. — Sabe, você, como muitas pessoas hoje, vão aprender que ter duas pernas funcionais é um privilégio, e não um direito.

Então, sem mais nem menos, golpeou o joelho dela. O grito de dor ecoou pela sala, junto aos gemidos subsequentes. Neko nunca antes ouvira uma torrente tão massiva de xingamentos como agora.

— Continuando, me diga, por favor, tudo que sabe sobre a geografia de Tonika Mura. Prometo que ficará só entre a gente — sorriu, encostando o martelo na bochecha dela.

Felizmente, a moça havia se tornado muito mais dócil e cooperativa, e nenhum outro osso precisou ser quebrado.
Não dela, pelo menos.


— Não me machuque! — O homem foi logo dizendo, assim que os guardas o prenderam na cadeira. Neko piscou algumas vezes, como se estivesse ligeiramente confusa.

— Mas eu nem fiz nada ainda. Calma, vamos por partes.

Deu uma risadinha. "Vamos por partes". Isso soava diferente nessa sala.

Deu algumas voltas pela sala, rodeando o homem na cadeira, enquanto lia o pergaminho. Os agentes estavam sendo pouco criteriosos na captura, mas, em parte, isso era culpa dela. Ela pediu por qualquer pessoa que parece saber qualquer coisa. No futuro, iria se lembrar de ser mais especifica.

— O seu nome é Tonikaku Kabay, correto?

— Sim!

— Você é de Kumogakure no Sato?

— Sim, isso mesmo!

Sem aviso, ela certou o ombro dele com o martelo. O som de osso se quebrando parecia música, uma melodia relaxante. Pena que o berro de dor lancinante atrapalhava um pouco.

— Minta para mim de novo, e vai ter muito mais do que um braço quebrado. — Seu tom de voz meigo de alguma forma tornava a ameaça muito mais efetiva. — Aqui diz que você é de Hachō Mura. Nunca ouvi falar. Nem sei porque te trouxeram aqui. Mas enfim, já que estamos aqui, que tal termos uma conversa amigável? — Ela sorriu. — Eu, você, e o Senhor Quebraossos aqui.

Ao final do interrogatório ela quebrou três dedos dele da mão direita, só pra garantir que estava falando a verdade. E mais um, só pra ele ficar esperto.


E, finalmente, haviam chegado na última entrevistada do dia. Por pura coincidência, a cereja do bolo. Olhando para ela, uma pessoa normal não veria mais do que uma criança. Onze anos, talvez doze. Mas os olhos de Neko eram mais afiados, e os detalhes estavam ali: um cinto, que deveria conter uma bolsa de armas (previamente confiscada), a fina cota de malha por debaixo das roupas, estas também bem escolhidas para não atrapalhar os movimentos. E, a mais óbvia de todas, a bandana, trazendo o símbolo de uma folha desenhada.

— Nila Iamiri, genin de... Konohagakure no Sato? — Neko abriu um sorriso, que faria inveja àquele que havia em sua máscara. — Esta um pouco longe de casa, criança. Ou não. Eu não sei, na verdade.

Neko sabia onde o País do Fogo ficava, já tendo um conhecimento prévio do Mapa Mundi, mas, para o bem de seu jogo de palavras, era um detalhe que ela decidiu omitir.

— É melhor me soltar, ou vou acabar com todos vocês! — Sua tentativa de parecer ameaçadora era admirável, considerando que a criança tremia.

— Eu adoraria te soltar — a Shogun passou um dedo pelo rosto dela, circulando a região dos globos oculares. — Talvez depois de arrancar esses lindos olhos. Você já imaginou quão incrível seria, uma kunoichi sem olhos?

A suavidade de sua voz provocava arrepios. A chama de resistência nos olhos da genin brilhava cada vez com menos intensidade, sendo sufocada pela presença aterradora da Shogun.

— Você sorri muito pouco. Talvez eu pegue uma faca e abra mais sua boca, lhe dando um lindo sorriso vermelho. O que me diz? — Sorriu, vendo as lágrimas se formando nos olhos dela. — Ou, você pode me falar sobre como é lá no País do Fogo. Tem muitas montanhas? Os rios são bons de se nadar? Há muitas árvores? Por favor, me conte tudo.

E ela contou.

Informações: