Era mais um fim de tarde na Vila da Pedra. Mais um fim de tarde em que Ren e seu avô, o generoso velhinho que cuidava da loja de venenos e poções, sentavam para treinar a habilidade da menina em Genjutsu e Taijutsu. Costumavam sentar-se no quintal de trás da casa da família, local em que a luz do sol ainda abatia até mais tarde. Porém, para deixar as coisas mais “sérias”, Ren e seu avô agora treinavam no Centro de Treinamento da Vila.  O clima era ameno e uma brisa gentil passava pelo lugar.

Ren suspirou, feliz enquanto sentia seus cabelos sendo carinhosamente balançados pelo vento. Seu pensamento estava focado em sua respiração e logo conseguiria ter a atenção total no ambiente. Até que sentiu alguma coisa passar próximo de seu rosto. Abriu os olhos e acompanhou os movimentos de um inseto que voava próximo a eles.

- Hyakkimaru! Eu já falei três vezes para você prestar atenção aqui! – o velho disse, sem sequer abrir os olhos ou sair da posição de lótus em que estava. – Não adianta nada me pedir para te treinar quando você mesma não se ajuda!

Ren arregalou os olhos quando seu avô chamou sua atenção. Virou o rosto rapidamente o rosto na direção do velho, mas logo desviou o olhar, envergonhada do fato dele ter percebido que estava com os pensamentos bem longe dali. Na verdade, nem sequer estava pensado em algo específico, mas apenas impressionada com o tamanho de uma grande borboleta bruxa.

Ela suspirou e fez uma careta. Parecendo perceber o estado da neta, ele logo tomou o ar e, com uma voz calma, ele logo começou:

- Como eu já disse mais de uma vez, o Genjutsu é quando conseguimos acessar o chakra interno de nosso inimigo, mexer com a mente do adversário. Fazê-lo ver ou sentir algo que não está, de fato, lá. – ele finalmente abriu os olhos, de forma calma. Ao olhar para Ren, sorriu.

- Para isso, fazemos o chakra se movimentar de forma diferente no corpo do inimigo.

Ele inclinou-se para frente e empurrou de leve a testa de sua neta. Seu sorriso acabou se perdendo.

- Não enganar apenas os olhos, mas o tato, audição, olfato e paladar. Se for fazer o inimigo andar por um campo de flores, não só a visão das mesmas deve servir, mas você deve pensar: Quem sons as flores fazem ao vento? Que cheiro elas produzem? São bons? São anestesiantes? Qual o gosto estas flores teriam se seu inimigo as colocasse na boca? Seria amargo? Se ele encostasse nas flores e em seus galhinhos, seria áspero?

Ren pareceu pensar no que o velho dizia. Ela fechou os olhos, emburrada. Ao ver a neta se esforçar, ele logo completou:

- Apenas visualize este campo de flores, Ren. Depois disso, podemos partir para o que você gosta: taijutsu.

Ren sorriu enquanto visualizava sua descida até o interior de seu ser: desceu escadas imaginárias, em um ambiente negro, até, por fim, terminar em um grande campo de flores. Andou por elas e prestou atenção em como o vento batia por cada pétala e como cada uma das flores movimentava-se quando uma brisa leve batia sobre elas.
Respirou fundo e sentiu o cheiro que as flores emanavam. Prestou atenção nas pequenas nuances que cada elemento trazia ao perfume: as notas leves das pétalas. O cheiro fresco de seus caules. O Petricô que a terra trazia....

Dentro de sua mente, Ren andou pelo local e passou suas mãos pelas pétalas macias. Os matos menores incomodavam suas pernas, fazendo-as coçar.
Após alguns minutos, Ren ouviu ao fundo a voz de seu avô. Era hora de retornar.

Aos poucos, a kunoichi visualizava-se subindo as escadas imaginárias. Abriu os olhos novamente quando chegou ao 50 e o simpático senhor estava a sua frente, com um meio sorriso.

-Percebo que conseguiu visualizar muito bem o que pretendia.

Ele ergueu uma das mãos, colocando-a bem de frente ao corpo.

-Preparada agora para seu taijutsu diário?

Hyakkimaru abriu um meio sorriso quando ouviu aquelas palavras. Fazia muito tempo que queria aprender algumas técnicas com seu avô, mas o mesmo dizia que era cedo demais para ela aprender alguma coisa.

Agora que era uma Genin na Academia da Vila da Pedra, as coisas eram diferentes.

Ren levantou-se em um pulo e colocou os braços na frente do corpo, com os punhos erguidos, como se estivesse pronta para brigar. O velho olhou aquilo e segurou um riso.

- O que é isso? Vai fazer figuração em algum filme de meia tigela?
Em um movimento rápido com sua perna, o velho bateu seu pé contra a perna de Ren. Foi um movimento de fora para dentro. O pé do ancião bateu contra o pé da menina. Por faltar firmeza em sua base, Ren acabou caindo de bunda no chão.

- Ei, não valeu!!

Ren jogou o corpo para trás, encolheu as pernas e apoiou as mãos no chão. Impulsionou-se e levantou-se em um pulo. O velho riu de novo.

-Pelo menos levantar você sabe! Quero essa base firme! Depois, quem sabe, faremos alguns socos e chutes!

Ren apoiou firme os pés no chão. Tão firme que achou que poderia tirar um pedaço de pedra com os dedos dos pés. A posição das pernas era importante. Em todas, os pés deveriam estar por inteiros no chão. As pernas eram levemente flexionadas, para evitar qualquer tipo de ataque ou lesão ao joelho.

Ela ficou alguns bons minutos alternando entre diversos tipos de base: uma com defesa no meio, outra com defesa no alto e outra com defesa embaixo. Enquanto fazia isso, o velho caminhava ao redor dela, dando leves chutinhos nos pés e nas pernas, para garantir que Ren não iria desequilibrar. Algumas vezes, corrigia a posição dos braços da menina, colocando-os no lugar certo e dando leves golpes contra os mesmos. Queria ter certeza que ela saberia o que fazer. Quando se deu por satisfeito, ele parou na frente dela e abriu um sorriso. Dessa vez, era um sorriso genuíno. Um sorriso de um pai que parecia um pouco menos preocupado com sua filha.

“É a única maneira de eu conseguir manter essa menina segura.”

Ao lembrar-se como encontrou Ren, seu sorriso desapareceu. Tinha medo do que acontecera com a família da menina. E se isso refletisse nela?

-Ei! Tá prestando atenção?!

O velho voltou a si e sorriu para a menina. Agora, ele mesmo entrou em posição de luta e seu sorriso foi um convite à batalha.

-Agora quero ver se consegue me acertar com esses golpezinhos aí! E preste atenção na base! Para dar chutes bons e socos bons, a força vem do quadril! Para ter força no quadril deve ter força na base!

Até mais tarde daquela noite, Ren e seu avô ficaram trocando socos e chutes. O velho ficou satisfeito. Pelo menos a base da menina estava certa agora. Isso facilitava os socos, chutes e outros golpes.

Por fim, seu avô terminou o treinamento. Foram para casa cansados e felizes.

Observações:

STATUS:

Bolsa de Armas:

@Ok