— Vocês dois foram uma dupla maravilhosa, sabiam disso? — Digo, entoando a Yoshiaki e Yuna. Ambos discutiam sobre algum assunto, mas eu gostava de vê-los daquela forma. Mesmo que estivessem em meio a um debate, a forma orgânica que interagiam era aprazível aos olhos: — A quanto tempo você está aí? — Pergunta Yoshiaki, ajeitando seus cabelos vermelhos para cobrir seu rosto corado: — A uma hora, eu imagino. — E porquê diabos você não disse uma única palavra? — É mais divertido assim, e eu prefiro não interromper vocês dois. — Digo. Yuna se absteve de comentar, mas ela sorriu ao perceber que não teria mais que discutir, enquanto o ruivo, constrangido, suspirou e retirou-se para preparar o estabelecimento para a freguesia. Eu acabei por pedir uma xícara de café e uns assados de aperitivo. A ausência de compromissos havia se tornado uma eventualidade rara em meu cotidiano. Com minha graduação, as responsabilidades conseguintes ocuparam diversas datas do meu calendário de parede. Para minha felicidade, eu estava livre de afazeres, livre dos compromissos. Todavia, bastou que essa felicidade batesse às portas de meu coração para revelar-se um cavalo de troia. Com o cotovelo apoiado no encosto da janela da cafeteria, vejo ao longe um pássaro aproximar-se com um envelope lacrado em sua pata. Eu havia sido encarregado de uma missão: — Como me encanta a sensação de estar morbidamente errado… — Digo, abrindo o envelope para ler a descrição da missão. Eu deveria infiltrar-me em um vilarejo que, de acordo com as informações obtidas pelo vilarejo, possui um grupo de nukenins que acomodam-se nos arredores da vila e mantêm-se fora de alcance. Segundo a descrição, estes nukenins dominam a arte de Fūinjutsu, o que necessita de um alto nível de habilidade em ninjutsu para superá-los em combate. Ateando fogo na carta com o isqueiro que uso para acender um cigarro, eu me despeço dos funcionários da cafeteria e parto em direção aos portões do vilarejo. Com a documentação em mãos, andejo pela estrada até deparar-me com a vila em questão. Durante o caminho, aproveito a oportunidade para pensar em uma forma de derrotá-los. Devo me atentar a possíveis armadilhas ou técnicas de selos que interceptarão ou bloquearão-me durante o combate. Estrategicamente, minha melhor alternativa será usar de meus genjutsus, minha especialidade, entretanto, eles provavelmente serão inteligentes o suficiente para escapar de ilusões simples. A melhor opção por enquanto é aguardar o momento chegar para agir. O vilarejo era pacífico à primeira vista, dificilmente via-se qualquer anormalidade, o que significa que é um local perfeito para esconder-se. Como não quero me colocar em desvantagem, mantenho a discrição, escondendo a placa metálica de minha bandana e mantendo a cabeça baixa para evitar que eu seja reconhecido.

Considerações:

A grosso modo, o vilarejo era pacífico, nenhuma anormalidade fácil de ser percebida, e nenhuma figura suspeita que pudesse me evar ao grupo de nukenins. Sabendo de suas artimanhas e conhecimentos em técnicas de selamento, eles são perspicazes, inteligentes o suficiente para manterem-se nas sombras de perseguidores ou shinobis. Imaginando que eu possa demorar tempo demais na procura dos alvos, me dirijo a um bar local. Escorando meus ombros na superfície do balcão, peço por um copo de saquê tokubetsu, sem adição de álcool. Embebedar-se durante uma missão não é uma boa escolha. Aos lentos goles, mantenho a postura baixa e atento-me as conversas. Qualquer informação é útil por enquanto. Demoram-se várias garrafas de saquê até que eu escute não muito distante, em uma mesa separada, uma discussão que atiça meus sentidos. Duas figuras trajadas com roupas simples, superficialmente, conversavam casualmente. Entretanto, por debaixo da mesa, alguns papéis eram passados, como pergaminhos lacrados. Haviam assinaturas gravadas em kanjis naqueles pergaminhos, o que poderia indicar o uso de um Fūinjutsu. Remover o selo exigiria domínio na arte do ninjutsu, mas eu deveria focar-me em obtê-lo primeiramente. Planejar um futuro possível me causa ansiedade. Eu me aproximo vagarosamente, na tentativa de ouvir com mais clareza a conversação, evitando abordá-los e evidenciar minhas intenções e subsequentemente, arruinar meu disfarce. Com os olhos desleixados, mas a audição afiada, consigo distinguir algumas poucas palavras, até que então uma das figuras levanta-se, e faz menção de retirar-se do estabelecimento. A figura masculina e de cabelos ruivos parece segurar aquele pergaminho, enquanto a outra permanece sentada. Espero alguns poucos segundos, me despedindo do barista e seguindo o ruivo. Usando de minha inteligência e sagacidade, escondo-me entre as casas paralelas entre si. A princípio, sua calma me sugere que ainda não fui percebido pelo mesmo: ー Derrubá-lo com um genjutsu em plena luz do dia poderia fazer com que algum olheiro alertasse os demais. Eu prefiro evitar um confronto direto, e além do mais, sabendo das habilidades desses nukenins, eu teria que usar uma técnica avançada para conseguir desnorteá-los, afinal, técnicas de selamento exigem grande inteligência. ー Monólogo, aos sussurros, completando meu raciocínio. O ruivo então, desvia-se da estrada e segue pela escadaria de um beco, descendo para uma aparente parte subterrânea, abaixo da parte aberta do vilarejo. Pela localização da escadaria, é deduzível que este local foi arquitetado meticulosamente para não ser encontrado, um convite receptivo a um shinobi em missão. Eu sigo adiante por algumas ruas e então, na tentativa de evitar que qualquer pessoa me vigie, realizo uma sequência de selos manuais e crio um clone das sombras. Com este, avanço em direção as escadarias na tentativa de manter a perseguição.

Considerações:

Seguindo adiante com meu clone, vejo a figura adentrar por corredores estreitos que atravessam a vila. No enclaustro, meu clone quase perde-o de vista. O ruivo, através dos atalhos, havia consigo passar pelo coração do vilarejo sem que a luz do dia sequer reluzisse sobre sua cabeça, como uma sombra. Com dificuldade, o clone mantém a perseguição, finalizando quando enfim o ruivo abre portas deslizantes de papel de uma residência solitária. A casa apresentava uma arquitetura tradicionalista, tendo uma área externa, o tokonoma, com diversos papéis, com kanjis desenhados nas folhas, pendurados sobre uma fina corda. Tal corda cercava a casa, o que levanta suspeitas. O homem desliza a porta atrás dele, fechando-se dentro da casa. O clone movimenta-se sutilmente, aos passos lentos e cuidados, encurtando distância na tentativa de delimitar a distância mínima que poderia tomar antes de invadir a casa. Aqueles papéis apresentavam uma grafia semelhante ao que vi no pergaminho entregue no bar, e se minhas suspeitas estiverem corretas, essa casa está sendo protegida por uma técnica de selamento. Desfazer o selo poderia revelar minha posição, mas eu precisava entrar se quisesse perseguir aquela figura suspeita. Com tal escolha em mãos, acreditava que me restava pouco tempo, e para evitar dúvidas, optei pela ação mais ofensiva. Meu clone tateia a superfície da porta. Nenhum resultado aparente é revelado, o que pode indicar que eu fiz suspeitas demais. O interior da casa era mobiliado com móveis de madeira e algumas decorações, nada que chamasse a atenção a primeira vista. O clone segue pelo corredor principal, até que enfim, ouve uma voz masculina familiar. Com as costas na parede, ele guia-se pelo som da voz, e para ao deparar-se com uma abertura na parede, que leva a uma grande sala. O ruivo estava sentado e parecia conversar com pessoas que, pelo ângulo que o clone encontrava-se, era incapaz de reconhecer. Ouvindo atentamente a conversa, os nukenins pareciam discutir sobre uma estratégia. Eles pretendiam fugir do país o quanto antes para evitar serem  detidos pela força shinobi de Kumogakure, a nação mais perigosa no momento. Receio dizer que é tarde demais. Ao finalizarem, o ruivo estende sua mão direita e entrega o pergaminho, desfazendo o selo que o protegia, revelando que tratava-se da posse de um terreno no País do Fogo. A documentação de um terreno foi negociada e agora, estava nas mãos dos nukenins. Caso eles atravessassem a fronteira, seria impossível acusá-los em território estrangeiro e principalmente, condená-los de forma justa. Eles partirão amanhã, durante o período da madrugada, ainda na calada da noite. Com as informações adquiridas, o clone desfaz-se, repassando-as para mim. Eu sabia a localização daquela casa, do plano dos nukenins e que o restante do grupo reunira-se lá durante a noite. Restava planejar uma forma de neutralizá-los para concluir a missão.

Considerações:

Aluguei um quarto em uma hospedagem próxima para poder passar a noite de forma mais sossegada e para que pudesse preparar um plano de ação. Subindo a escadaria, abrindo a porta do meu quarto e trancando-a atrás de mim, me sento na cama e começo a planejar uma estratégia. Minha melhor opção seria surpreende-los e então, atacá-los individualmente, para evitar que a quantidade de nukenins me desfavorecesse. Um genjutsu, além de ser minha especialidade como shinobi, mesmo que pudessem escapar, me permitiria durante uma fração de segundos oportunizar um ataque. O espaço daquela casa é pequeno, facilitando que eu cerque-os ou então, que impossibilite que fujam. Eu poderia preparar armadilhas simples nos corredores e cegá-los através de uma kemuridama. Quando atravessei os corredores, pude estipular que possuem entre um a dois metros de largura, suficiente para que eu coloque alguns metros de arame de aço e papéis explosivos acoplados. Com as kibaku fudas, devo ser cuidadoso, afinal, abusar no poder destrutivo comprometeria as estruturas da casa. No pior dos cenários, eu seria enterrado junto dos nukenins, uma opção que não posso aceitar. Me restava então decidir como eu os neutralizaria. Atacá-los em seus pontos vitais enquanto cegos seria a forma mais rápida e limpa de executá-los, mas o combate não está decidido. Prefiro deixar minha inteligência fluir durante o momento derradeiro. Imaginando ter tudo planejado, me deito na cama e brinco com as mexas do meu cabelo até que eu consiga dormir. A noite nesse vilarejo é estranhamente barulhenta, o que me faz revirar no colchão por infernais horas. Acordo ainda com o céu escuro, me retirando rapidamente da pousada e seguindo adiante até aquela residência. Ao chegar, paro abruptamente ao me deparar com os nukenins. Haviam seis figuras, de aparência hostil e que portavam consigo não somente armamentos, como também pergaminhos lacrados. Aquilo poderia significar que aquelas figuras utilizam do Fūnyū no Jutsu para transportar suas armas. Todos são recebidos pelo ruivo, que abre as portas para que os mesmos entrem individualmente. Eu sou o último a entrar, ainda furtivamente, na tentativa de manter uma aproximação silenciosa. A quietude é substituída por murmuros dos presentes, que mostravam sua inquietude, ansiosos pela partida do país. Enquanto eles direcionam-se para o salão principal, eu começo os preparativos. Amarrando dois metros de arame de aço nos dois corredores que levam para as saídas e papéis bombas atados, aqueles que tentassem sair da casa seriam engolidos pelas chamas da explosão. Após isso, deixo entre meu dedo indicador e médio uma bomba de fumaça. Os nukenins discutem por uma última vez o plano, e quando finalizam, apenas ouve-se a bola de papel cair no tatame, e então, uma cortina de fumaça surge repentinamente.

Considerações:

Para calibrá-los, decido utilizar de uma técnica ilusória. O Nehan Shōja no Jutsu consome uma quantidade menor de chakra para sua utilização e minha especialidade dificulta o escape da ilusão. Do grupo que encontrava-se temporariamente cegado pelo uso da kemuridama, apenas um dos seis permanecia de pé, era o ruivo, que havia poupado especificamente: ー Compreenda sua situação, ruivinho. ー Digo, entoando por através da fumaça, movimentando-me para camuflar minha presença e ecoar de forma a tentar tornar imperceptível minha posição: ー A maior parte do grupo foi facilmente abatido com uso de um genjutsu. As saídas estão comprometidas, e você é incapaz de me ver. Posso estipular minimamente que sua chance de vencer esse combate é próxima de nula. Se desistir desse combate, não vejo motivo em matá-lo, posso apenas levá-lo a justiça e condená-lo de forma justa. Você será um homem livre depois de cumprir sua pena. Me soa como a opção lógica. ー Continuo, pressionando-o a render-se e evitar que eu tenha de lutar. Desestabilizar a figura de maior autoridade dentre os nukenins abalaria as estruturas sólidas de confiança entre eles. Não haveria motivo de continuar uma luta contra um oponente de maior poder: ー A inteligência de Kumogakure fez questão de contatar a força regular shinobi, e as fronteiras do país estão cercadas. Se tentarem fugir, serão interceptados antes de enxergarem o horizonte maravilhoso do País do Fogo. ー Prossigo, blefando, uma tentativa de fazê-lo compreender sua posição de inferioridade. O ruivo permanecia com sua guarda alta, observando atentamente os arredores, cauteloso para um ataque em suas costas: ー Mesmo que consiga me ver, o que fará? Posso acabar com esse combate de forma dolorosa, mas prefiro convencê-lo de forma a poupar esforço. Você está disposto a sacrificar sua vida em prol do seu orgulho? Seu nome não será lembrado, você será apenas parte da economia de Kumo- ー Finalizo, sendo interrompido pelo ruivo, que esclarece a natureza do planejamento. O plano dos nukenins estava parcialmente completo, pois um grupo específico encontrava-se a algumas centenas de metros da fronteira, e tinham ordens de fugir imediatamente caso o grupo não se encontrasse com eles em uma hora. Não havia porquê mentir, mas eu precisava ter certeza. Com o Genjutsu de Interrogação, o forcei a revelar detalhes da localização desse suposto outro grupo. Tendo-o como vítima da interrogação e incapaz de enxergar com a fumaça, pressiono seu pescoço com a lâmina de uma kunai, executando-o em conjunto do restante, incapacitados pelo genjutsu. Finalizando, aciono uma das armadilhas, destruindo a entrada principal e partindo em direção ao resto do grupo. Me lembrando da última vez que havia invadido aquela casa, o ruivo havia entregado um dos pergaminhos lacrados a figuras irreconhecíveis. Provavelmente são as mesmas que estou prestes a me deparar.

Considerações:

Eu tinha apenas uma hora para chegar na localização indicada. Sabendo que eu não seria rápido o suficiente usando unicamente da minha velocidade, o Shunshin no Jutsu aprimoraria minhas capacidades físicas por tempo suficiente. Arashigakure é uma cidade próxima da fronteira, eu não precisei me esforçar muito para averiguar a veracidade do ruivo. Quando restavam-me apenas vinte minutos, eu já estava na estrada principal de uma planície florestada, a passos de distância do País do Fogo, e não encontrava nada. Comecei a buscar pelos arredores por algum grupo minimamente suspeito. Eu poderia abordá-los casualmente para confirmar tratarem-se de nukenins, mas não havia ninguém. Talvez o ruivo tivesse blefado em seus últimos segundos de vida, mas não faria sentido. Se ele quisesse, poderia ter me ludibriado por mais tempo, afim de garantir que eu não tivesse como chegar. Mesmo com minha velocidade baixa, fui capaz de chegar com tempo de sobra. Talvez a missão já estivesse completa, e agora, bastaria que eu carregasse os corpos de volta para Kumo. Decidi voltar seguindo a estrada, e apenas após caminhar alguns poucos minutos que percebi meu erro. A luz refletiu sobre um fino arame de aço a centímetros de minha garganta. Ouço algo soltar-se por entre as árvores e então, me vi sendo paralisado por um selo preso ao fio. O selo me imobilizou antes que eu pudesse reagir, e então, duas figuras surgem das sombras. Dois homens, sorrindo de forma presunçosa, aproximavam-se. Fiz um último esforço para inclinar sorrateiramente meu dedo indicador, na intenção de aplicar um poderoso genjutsu, mas fui acertado por uma grande espada, que atravessou meu ombro direito. Eu não sei como eles sabiam que eu estava aqui, mas de qualquer forma, eu estava nitidamente em desvantagem. Minha visão se enturva lentamente, como se estivesse perdendo minhas forças. A lâmina não parecia envenenada, então talvez o selo estivesse drenando lentamente meu chakra: ー Vocês me pegaram, malditos... Como vocês sabiam que eu estava aqui? E porque demoraram tanto para atacar? ー Digo, contendo a dor de ser transpassado pela espada. Aquela casa era cercada por uma técnica de selo. Se alguém que não fosse parte do grupo de nukenins invadisse a propriedade, o grupo daqui seria alertado no mesmo instante. Bastou que eu entrasse por uma segunda vez para eles terem certeza de que estavam sendo perseguidos: ー Bom, lamento a má notícia, mas vocês são os únicos que sobraram. O restante foi detido e está sendo levado para Kumo, e reforços chegarão logo mais. Vocês deveriam ter me matado a tempos, mas agora não importa. ーContinuo, blefando: ー Se me soltarem, poderão ter tempo de escapar enquanto ainda conseguem. Se preferirem, fiquem aqui comigo, adoro companhia ~. Se tirarem essa espada do meu ombro posso até falar que vocês foram na direção contrária. ー Finalizo, com um sorriso debochado. Eles não parecem acatar com minhas mentiras, mas suspeitam que eu possa estar falando a verdade. Vejo suas dúvidas nitidamente, pois conheço bem como pressionar psicologicamente alguém.

Considerações:

A insegurança dos nukenins os impediu de me atacarem no instante que me viram. Eu poderia tê-los derrubado rapidamente com minha prestidigitação, executando selos manuais mais velozmente que seus ataques. Aguardarem pacientemente deve ter sido angustiante, mas agora, eu estava a mercê do dom da palavra, pois imobilizado e tendo meu chakra drenado, eu estava em completa desvantagem. Estamos longe demais de Kumo, e como essa operação foi encarregada unicamente a mim, não haveria forma de eu ser salvo por reforços, além de que, isso provavelmente diminuiria minha recompensa: ー Vocês tem muitas possibilidades nas mãos... Isso é perigoso, é fácil perder-se com tantos caminhos. Posso facilitar para vocês, que gostam de deixar as coisas claras como a luz do dia. ー Digo, com uma pausa para recuperar o fôlego e diminuir a dor da ferida aberta em meu ombro, que continuava a sangrar: ー Fugir é a única forma de vocês viverem. Serão mortos antes de conseguirem chegar na aldeia mais próxima se continuarem parados e se preocupando comigo. ー Prossigo, mantendo a pressão psicológica: ー Estão dispostos a morrerem dessa forma? Bom, já posso fazer um adiantamento do meu salário. Vocês só tem uma mísera chance se fugirem. Lembrando, eu já matei seus amigos, só restaram vocês dois. ー Finalizo, com uma expressão serena, para manter as aparências. Falar me ajuda a pensar, e também, é uma forma de direcionar suas atenções. Mantê-los distraídos é uma tática válida quando se está imobilizado. Os homens entreolham-se, buscando por uma solução. Se eu mantivesse essa pauta, cedo ou tarde eles perceberiam que os reforços estão demorando demais. Preciso mudar o assunto: ー Ei. O ruivo havia dito que vocês pretendiam arrumar um terreno no País do Fogo. Vocês sabem que estão registrados como nukenins em nosso país, não? Sem aquele documento, é impossível que vivam mais que alguns poucos dias. ー Digo. Vejo que eles percebem que o documento. Uma nova preocupação surge, e agora, eu teria uma chance: ー Escutem, eu não quero morrer. É a segunda coisa que menos quero. Se me soltarem, e podem até manter o gume da espada em direção minhas duas mãos, eu posso ajudá-los a procurar e então, mantenho vocês fora de vista. ー Sugestiono, propondo uma oportunidade: ー Pensem de forma prudente. Arashigakure inteira deve estar sob proteção. Se me soltarem, não só estarão vivos, como também, livres. Eu farei de vocês donos de terras maravilhosas. Uma vez já estive no Fogo, e posso dizer com certeza, a paisagem é magnífica. Termino, esforçando-me para me debater, inutilmente. Usando de meu domínio psicológico e das constantes ameaças, eles decidem aceitar minha ideia. Um deles aproxima-se na intenção de libertar-me, uma técnica de liberação. O outro, portador da espada, pressiona-a contra meus braços, cortando-os superficialmente, apenas que eu sinta a força da espada. Com o selo desfeito, eles acreditavam que sem as mãos, eu não seria capaz de realizar nenhuma técnica ninja: ー Como me encanta a sensação de estarem morbidamente errados. ー Digo.

Considerações:

Tendo os provocado, conjuro um clone das sombras imbuído com a liberação de relâmpago, uma técnica de clonagem que carece de selos manuais. O clone, por sua vez, é evocado a centímetros de distância atrás do homem em minha retaguarda. Realizando, por sua vez, sua própria sequência de selos, um lampejo surge de sua mão destra, manifestando-se na liberação de relâmpago o Chidori. O clone desfere um ataque sob as costas do adversário, na tentativa de atravessá-lo tal qual ameaçou com sua espada. Simultaneamente, com o oponente de trás a instantes de sua execução, elevo minhas mãos a altura de meu peito e então, estendo meu dedo indicador rente ao campo visual do homem, codificando uma técnica ilusória e ludibriando-o com uma ilusão que o faz crer que seu aliado foi capaz de me matar, desviando do ataque do clone. Dominando sua mente com o genjutsu, me prontifiquei a atacá-lo em seu pescoço com a ponta de meus dedos, na tentativa de atingir um ponto vital e levando-o ao desmaio instantaneamente. Suas pernas cedem, mas antes que faça menção de cair no chão, seguro seu corpo inconsciente e deixo-o lentamente sobre o chão. A título de precaução, me certifico de observar os arredores a fim de garantir que não seria atacado novamente, com uma inspeção minuciosa para evitar que mais uma armadilha me imobilize: ー Preciso saber de mais detalhes, e para embelezar o relatório, vou interrogá-lo pessoalmente quando tiver a oportunidade. ー Digo: ー Além do mais, será mais fácil carregar os corpos... Ainda tenho que levá-los de volta para Kumo. ー Finalizo. Antes que o mesmo acorde, levo-os de volta para Arashigakure junto de meu clone, carregando-os em nossos ombros, uma viajem lenta e cansativa, mas não me forço além dos limites. O restante dos nukenins estavam dentro da residência, e mantinham-se imóveis, o que indicava que não haviam sido verificados: ー Talvez não haja mais nenhum grupo, e enfim, eu tenha terminado... Caaaaaaaaaaaaaaaara~, essa foi difícil. ー Digo, suspirando e passando o braço na testa para enxugar o suor. Ainda dentro da casa, muitos pergaminhos estavam espalhados pelo chão ou guardados em móveis, como armários e cômodas. Alguns permaneciam lacrados com técnicas de selamento, outros, pareciam instrutivos, ensinando a aprimorar o domínio da arte ninja, principalmente o Ninjutsu, essência do Fūinjutsu: ー Eu poderia acordar aquele idiota agora, mas me parece irresponsável deixar isso tudo aqui. ー Digo, apoiando o queixo com a direita. Usar o Kaifū no Jutsu não surtiria efeito, considerando que as armas não foram seladas por mim, então recolho qualquer pergaminho que acredite ser valioso e coloco-os empilhados em um canto da sala principal. Enquanto aguardava pelo nukenin retomar a consciência, decido avaliar meus conhecimentos lendo os pergaminhos soltos.

Considerações:

Quando percebi que o último nukenin estava prestes a acordar, fechei o último pergaminho, deixei-o de lado, e fui em sua direção. Com uma kunai em seu pescoço, aplico o genjutsu de interrogação. A lâmina contra sua garganta lhe faz recuar, mesmo que ainda desnorteado: ー Boa tarde, flor da tarde. Não se mecha muito, pode acabar cortando sua carótida acidentalmente, o que seria um infortúnio trágico, se me permite a palavra. ー Digo. Seus olhos remetem seu estremecer, com ele, engolindo a seco e demonstrando submissão, consciente de sua vulnerabilidade: ー Eu tenho algumas perguntas. Nem se esforce, você teria que usar suas mãos para desfazer meu genjutsu, e se movê-las minimamente, prepare-se para um sangramento pior que o meu. ー Prossigo, afirmando a utilização da técnica. Com o genjutsu ativo, decido confirmar algumas teorias. A primeira, se haveria mais algum grupo que eu ainda não tenha conhecido, sendo respondido que todos os nukenins estavam mortos, com exceção a ele próprio. Segundamente, questiono-o sobre detalhes adicionais do plano de ação dos nukenins. Eles pretendiam dividirem-se em dois grupo. Os dois que me atacaram na fronteira estavam encarregados de guiarem os nukenins que aqui encontravam-se. O ruivo era como o intermitente, seu objetivo era explicar o plano aos restantes e então, seguir até o País do Fogo. Por fim: ー Ainda quero saber porquê vocês não me atacaram assim que me viram? Imaginei que seria fácil me derrotar com um ataque oportuno. Vocês tinham a vantagem numérica e também a vantagem estratégica, com uma armadilha posta. ー Digo. Ele me responde que estavam garantindo que eu estava sozinho e que não estaria respondendo a nenhum chamado. A casa tinha um selo que permitia a aqueles dois saberem quando alguém indesejado a invadia. Como houveram duas invasões, deduziram que Arashigakure havia se tornado uma zona de guerra, com ninjas de Kumogakure contra os nukenins. Preferiram evitar que fossem encontrados, e quando perceberam que eu não havia relatado nada em nenhum momento, seja via comunicar ou semelhantes, me atacaram antes que eu voltasse. Isso explica o porque acataram facilmente com a ideia do vilarejo estar sendo guarnecido naquele momento: ー Que conveniência maravilhosa. E eu achando que eu era azarado... Enfim, acho que isso significa que terminei minha missão. Se eu não soubesse como manipular pessoas, eu teria sido morto quando vocês me imobilizaram. ー Finalizo, pressionando a kunai a ponto de sangue escorrer: ー Bom, foi bom enquanto durou. Alguma última palavra antes de você se reencontrar com seus amigos? ー Pergunto. O medo parece subir a cabeça do nukenin, que implora por sua vida: ー Olha... Não tem porquê eu te matar, para falar a verdade. Meu objetivo é levar vocês, vivos ou mortos. ー Continuo: ー Eu não acho que você terá uma vida fácil, mas é melhor do que estar morto. ー Finalizo enfim, usando do meu genjutsu mais poderoso, a Armadilha Esférica de Genjutsu, e assim, o último dos nukenins fora abatido. Com uma carroça, que pretendia devolver ao dono após o término da missão, levo seus corpos para Kumo, e então, minha missão havia terminado.

Considerações:

Levando seus corpos de volta para Kumogakure levou o restante da tarde daquela manhã. O sol já se punha, a noite caía lentamente, como aos trotes dos cavalos, Deixei os nukenins aos cuidados dos responsáveis mais apropriados, meus superiores. O relatório da missão foi entregue a um tokubetsu jōnin que me aguardava no gabinete, o mesmo que me encarregou da operação de infiltração. O pagamento foi adiantando logo após a parte burocrática, e com o dinheiro em mãos, decidi passar no hospital do vilarejo para recuperar meu fôlego e tratar meu ferimento. A espada que atravessou meu ombro causou um sangramento ininterrupto que precisava ser tratado. Algumas horas após, estava completamente recuperado. Não havendo mais nada para fazer até o restante do dia acabar, decido passar no meu lugar favorito, a cafeteria Hana Kōhīshoppu. Um copo de café com leite sempre ajuda a aquecer o coração de um musicista inspirado. Aqueles nukenins estavam preparados para o combate. A missão teria seguido um rumo completamente diferente caso eu tivesse escolhido uma abordagem direta. Os pergaminhos que possuíam, por mais que não pude ver as técnicas de selamento em prática, tratavam de exercícios para aperfeiçoar a arte ninja. O Ninjutsu é a arte matriz do Fūinjutsu, e pude ver sua eficiência quando fui alvo de um selo: ー Para falar a verdade... Ainda tenho um tempo livre de sobra. Bom, deixa eu tirar esse tempo pra algo mais produtivo, já que não estou no clima para tocar. ー Digo. Eu saio as pressas da cafeteria, esquecendo inclusive de pagar pelo meu pedido, e sigo rumo a biblioteca. Há uma seção específica para pessoas de maior graduação, e na minha atual, tenho acesso a livros de alta qualidade. O restante do meu dia foi destinado a folhear as diversas páginas daquela grande galeria de conhecimentos. O ninjutsu como um todo é uma área que tenho facilidade, e com a experiência que obtive com essa missão, foi fácil absorver o que eu precisava. Minha facilidade em Genjutsus se deve a minha habilidade inata de manipular perfeitamente meu chakra, uma característica que auxilia em muito o uso de técnicas ninjas. Despender aquelas horas a leitura me permitiu saber algumas coisas que nunca tive conhecimento, como a capacidade de desenvolver novas naturezas elementais, tal como a modelar a forma do chakra: ー Hum, faz alguns anos desde que eu vi isso pela primeira vez. Durante o Exame Chūnin, conheci um garoto muito habilidoso com a liberação de fogo. ー Digo, em um momento nostálgico. Independentemente da forma como se veja, o ninjutsu é algo comum aos shinobis, mas somente alguns familiarizam-se tanto com a arte. Ao encerrar, fecho a última obra e coloco os livros de volta as estantes. Já estava escuro, mas ainda não estava com sono: ー Talvez haja alguma coisa pra fazer por ai... Cara, como é ruim não ter nada para fazer.

Considerações: