A região que deveria ser colonizada não localizava-se tão distante de Kumogakure. Localizando-a no mapa, seria necessário cruzar a região fronteiriça do País do Relâmpago com o País do Fogo. Hachō Mura manteve durante o período pré-guerra um relacionamento diplomático pacífico com seu vilarejo vizinho, e principalmente com a grande nação de Konoha. A viagem fora exaustiva, e por problemas simples como desvios de rota durante minha ida, além de que meu azar fez com que as rodas da carroça que usava para me transportar não suportassem a trilha sinuosa e pedregulheta. Superando-se esses imprevistos, tive a chance de defrontar-me com a vila de Hachō. A vila cercava um grande afluente, tendo um litoral de fascinar o vislumbre. Era bem maior do que eu esperava, com construções altas e um fluxo populacional considerável. Tratando-se de uma tentativa de colonização pacífica, eu deveria evitar ser visto como um nukenin à procura de conflito com a justiça, logo, decidi manter um disfarce. Eu assumi a identidade de um homem utilizando da técnica de transformação, e forjei um histórico para convencer os olhares de que eu era apenas Suterusu, um comerciante de quartilharias. Aluguei um quarto em uma pousada e desfiz minha bagagem, pronto para pensar em um plano de ação. Eu deveria superar a força defensiva da cidade, composta por guardas de baixo nível, alguns mais habilidosos, e o líder da região. Saindo para as ruas na procura de um mapa da cidade, um grupo de crianças me perseguiam. Suas intenções eram nítidas, eu já estive desse lado. Provavelmente pretendiam roubar minha carteira assim que eu levantasse a mão dominante, e em seguida, correr para longe usando a paisagem urbana da cidade. Não somente as crianças me preocupam, mas em todas as principais estradas, famílias inteiras se deitavam no calçamento em um estado deplorável. A pobreza afetava severamente a vila, e claro, ao longe era possível ver-se que bastava chegar do outro lado da cidade, que a condição financeira parecia desprezível. Homens e mulheres ricas de um lado, enquanto a outra parte do povo devorava brioches: — Eu consigo entender essa dor como se estivesse vivendo ela nesse exato momento. — Monologava: — É uma realidade diferente da minha, entretanto. Eu ainda tinha como agarrar-me à música… Não vejo o mesmo cenário para o povo de Hachō — Prossigo, finalizando. Passando por multidões de pessoas mal trapidas, consigo chegar na propriedade governamental do vilarejo. Uma casa bem protegida, guarnecida pela guarda da cidade, mas com diversos pontos acessíveis, como janelas e varandas. Para minha infelicidade, não somente era difícil evitar chamar a atenção da guarda, como a própria população limitava meus movimentos, rondando as ruas. Caso eu fosse visto, meu disfarce seria perdido, e eu teria de confrontar diretamente a defesa da vila: — É impossível lutar contra esses seguranças com tantas pessoas ao redor. Se eu conseguisse arranjar um jeito de colocar essa desvantagem ao meu favor… — Indagava-me. Demorei algum tempo para pensar em uma estratégia. Era impossível contornar a atenção do povo, e assim que eu me mostrasse como um shinobi, uma série de possibilidades poderiam acontecer. Talvez eu pudesse cativar os outros com minhas atitudes, ou eu poderia tornar-me um alvo. Ambas as possibilidades eram plausíveis, mas colocá-las em prática poderia arruinar essa missão. Entendendo as regras do jogo, esse era meu turno, eu devo mover minhas peças. Se eu usasse da minha desvantagem como vantagem, tudo seria resumido a uma questão de tempo. A pobreza pode ser usada para atiçar a vontade do povo e fazê-los revoltarem-se com o governo atual. Propor mudanças faria com que eles aliassem-se a mim, e por mim, bastava que eu desse ao povo suas armas. Destruir as muralhas daquele palácio exigiria muita força, além de que forçá-los a lutar contra a guarda colocaria a vida de pessoas inocentes em perigo, não há como eu prever as ações dos governantes da vila. Eu teria que dar ao povo a coragem para avançar. Retornando para as ruas, esperei para que um grupo de crianças se aproximasse. Sabendo como seus métodos funcionavam, dei a eles a oportunidade perfeita, para conseguir conversar. Antes que pudessem roubar minha carteira, rapidamente retornei minha mão para o bolso da calça, segurando o pulso de um dos garotos: — Ei, pivete. Eu tenho apenas alguns trocados, nada demais. Você quer fazer dinheiro de verdade de forma fácil, e principalmente, rápida? — Pergunto. Sua expressão vai de medo genuíno para curiosidade. Ao lado das crianças de rua, eu pedi para que me mostrassem o arsenal da vila. O local era protegido por alguns guardas, e com um clone das sombras e a técnica de liberação de relâmpago, Rastreamento de Presa da Besta Relâmpago, os dois guardas foram derrotados. Com as armas em nossa posse, estava na hora de virar o tabuleiro de cabeça para baixo. Eu jamais permitira que crianças carregassem armas afiadas, logo, pedi para que elas chamassem os adultos para o armazém. Com o sol já nascendo, várias pessoas reuniram-se em torno. Eu sabia que não demoraria muito para que fosse chegada a notícia aos poderosos da vila, então isso deveria acontecer imediatamente. Juntando a todos, soergui a postura, me pus de frente a todos e respirei fundo: — Escutem! Eu vim de Kumogakure com a intenção de ajudá-los. Imagino que suspeitam de mim, é óbvio, mas principalmente estão confusos quanto a meu propósito ou do porquê estão aqui. — Digo, percebendo olhares duvidosos: — Eu quero ajudá-los a recuperarem o que é de vocês por direito! Eu vi como estão passando por dias difíceis, e sei que querem mudar isso! Desejo dar um basta a tamanha crueldade, e para isso, não quero que lutem com seus punhos. Hoje, quero que me digam se desejam lutar pela sua vila. Se desejam dar a quem amam a riqueza que jamais terão. Muito já lhes foi roubado, então desejo propor a retaliação! — Brado, elevando meu tom vocal para intensificar o discurso: — Aqui é onde a guarda da vila deixa suas armas. Peguem-as e as levantem acima de suas cabeças. Mostrem a força do povo de Hachō Mura! Mostrem que valem mais que a podridão que lhes servem! Povo de Hachō Mura, ergam-se! LUTEM! — Digo, acompanhado de um grito de fúria. O povo sacou suas armas e partiu em direção a guerra. Eu decidi seguir na frente para evitar que a população se ferisse, pois meu objetivo era pessoalmente me encarregar da colonização. Com o genjutsu Utakata, os guardas mais poderosos sucumbiram, faltava o líder. Ao vê-lo no último andar da grande casa, saltei em direção às paredes e as escalei. Ao chegar, o vejo sacando uma grande lança, empunhando-a e avançando contra mim. Numa rápida sequência de selos, substituo meu corpo com uma folha de papel, finalizando atravessando seu ombro com meu Chidori. Com seu braço temporariamente paralisado, acerto alguns golpes em seu pescoço, derrubando-o. Eu arrasto seu corpo até uma varanda, e então, mostro-o inconsciente para o povo, que vibra. Naquele dia, a aldeia estaria livre das mãos tirânicas. No dia seguinte, toda a parte diplomática foi feita pelos superiores de Kumo. Eu faço os preparativos para retornar, mas não sem antes me encontrar novamente com aqueles garotos: — Acreditem se quiserem, crianças, mas eu sei muito bem como é ser como vocês. Se quiserem ouvir um conselho de alguém pouco experiente, agarrem-se aquilo que amam, e vivam disso. Quando estamos ao lado do que amamos, qualquer dor é suportável. Entendem? — Digo, abraçando o pequeno grupo. É inevitável lembrar-me da minha infância. Quando penso na coragem daqueles garotos, me pergunto se um dia eles serão raposas do verão, ao invés de congelarem no inverno.

Considerações: