Angell Hyuuga Hattori
[ HP: ????/???? | CH: ?????/????? | CN: ???/??? | ST: ??/?? ]
[ Byakugou no In: ???/??? | Byakugou no Jutsu: ??/?? ]
[ Hachibi: ????/???? ]
Naquela noite, Angell voltou à casa de sua mãe um pouco menos desanimada. Deparou- se com a mesma criança de tantas horas antes ao adentrar o bairro Hyuuga, mas, quando recebeu dela uma nova florzinha azul de presente, conseguiu esboçar um sorriso. Gyuuki até chegou a se animar em seu interior, porém, tão logo se lembrou de que não era por si própria que a azulada demonstrava simpaticidade e educação; era pela criança. No dia seguinte, se Angell saísse para treinar outra vez, ela talvez fosse capaz de cumprimentar os anciãos, mas também não por si; por eles. Era assim há tanto tempo... então por que deveria mudar agora? Angell sempre tinha vivido pelos demais, dedicando sua força, sua determinação, suas energias, enfim, sua vida inteira por eles... então por que justo agora seria diferente? A perda de seu pai e de seu irmão mais velho não mudaria sua natureza altruísta. ...mas e a confusão quanto aos sentimentos sobre suas memórias?, ela poderia ser capaz de permitir que lhe mudasse – e tanto assim –?
A azulada não jantou; apenas tomou um banho quente e demorado antes de ir para sua cama. Hakurei ainda não tinha voltado, então ela talvez conseguisse cochilar e melhorar ao menos um pouco mais seu humor para esperar por ele. ...ou era o que ela imaginava, até Gyuuki de repente lhe impedir de descansar.
“Smile, the worst is yet to come; we’ll be lucky if we ever see the sun.”, ele resolveu cantarolar quando a azulada já estava quase adormecendo.
“...quê?”, ela rebateu.
“Got nowhere to go; we could be here for a while.”, e ele continuava. “But the future is forgiven, so smile!”
“Gyuuki... quer me deixar dormir um pouco?”
“Na... na, na, na... na, na, na... na, na, na...”
“Gyuuki?”
“Na, na, na... na, na, na... na, na, na... na, na, na...”
“Gyuuki?!”
“Smile, the worst is yet to come; we’ll be lucky if we ever see the sun! Got nowhere to go; we could be here for a while. But the future is forgiven, so smile!”
A azulada enfim se sentou de novo em sua cama.
“Tudo bem...”, mas bufou quase como uma criança mimada quando se irrita com sabe-se lá o que. “o que você quer com todo esse tragedismo?”
“Eu que devia perguntar.”, e o hachibi finalmente escolheu respondê-la direito. “Você devia estar um pouco menos emburrada depois do treinamento de hoje, hã? Fez um belo de um avanço para o primeiro dia.”
“Foi só uma transformação, Gyuuki... não há nada tão grandioso assim em uma transf-... espere, o que você acabou de dizer?, ‘primeiro dia’?”
“É disso mesmo que eu estou falando. Desde a guerra, você tem se tornado cada vez mais desatenta, tanto que nem consegue notar mais o potencial total do seu próprio poder; não notou o chakra do Tenseigan em volta do seu corpo, nem espalhado nem concentrado em alguns pontinhos específicos. Você tem se focado muito nesses seus sentimentos fúnebres e se esquecido de sentir a vida que não deixou de acontecer à sua volta. Você está viva... então viva!, viva pelos seus sonhos, pelas suas vontades e ânsias, pelos seus desejos! Viva para se tornar cada vez mais forte e não perder mais pessoas que você ama, nem sem perceber! Eu sei que você pode.”
Angell sentiu um calor em seu peito, como se uma pequena chama de esperança que se acende para aquecer um coração resfriado e cresce para alimentar uns bons sentimentos que podem ser esquecidos pela falta de se senti-los tivesse surgido graças às palavras do hachibi. Ela deu mais uma boa olhada no quarto que dividia com Hakurei, lembrando-se de que ele também ainda estava vivo, e pensando na casa em que ambos moravam, que pertencia à sua mãe, que também ainda estava viva. Não seria injusto se Angell deixasse de aproveitar a mesmíssima vida que compartilhava com eles?
Ela tornou a se levantar e saiu de seu quarto. Jantou junto de Katsura e esperou com ela, na sala de estar, pela chegada de Hakurei.
[...]
No dia que se seguiu, a azulada se levantou cedo, antes de sua mãe e de Hakurei, tomou um daqueles seus costumeiros cafés da manhã reforçados e saiu rapidamente. Enfurnou-se mais uma vez na floresta que circunda a Folha e se concentrou na nova transformação que tinha conseguido atingir na noite anterior, não apenas a ativando, como também já começando a analisá-la, antes de mais nada, de novo ao observá-la com cuidado através da imagem refletida dela em seu pingente em formato de lobo. Conseguiu visualizar com mais exatidão do que se tratava o “chakra do Tenseigan concentrado em alguns pontos específicos em volta de seu corpo” de que Gyuuki tinha lhe falado antes: ao contrário do que havia imaginado, não eram manifestações disformes e indefinidas de energia; eram, literalmente, esferas escuras feitas de chakra, que rodeavam seu corpo inteiro quando o chakra de seu Tenseigan lhe concedia sua tal nova transformação.
“Para que isso tudo serve?”, ela perguntou a Gyuuki.
“Sinceramente,”, e Gyuuki respondeu. “eu não faço ideia.”
“E de como utilizar?, tem alguma ideia?”
“Eu não tenho a mínima.”
Angell passou a se apoiar na visão privilegiada que seu Tenseigan lhe concedia, deixando seu pingente em formato de lobo voltar a repousar quietinho em seu pescoço. Apesar de sentir um receio quase indescritível – até porque já tinha visto poder demais nos últimos tempos, sobretudo durante a última guerra de que participou, e sabia talvez melhor que ninguém dos perigos de se utilizar mal um poder grande – em simplesmente pensar em mexer com alguma daquelas esferas, tentou fazer com que uma delas se movesse; focou seu chakra na esfera escolhida (aleatoriamente), utilizando-o para empurrar um pouco a mesma mais para longe de seu corpo. Viu-a deslizar pelo ar sem dar quaisquer sinais de dificuldade ou resistência, então começou a aumentar aos pouquinhos a quantidade de energia que utilizava para empurrá-la. E bem pensou que estava fazendo progresso, visto que a esfera se movia gradativamente mais rápido em pleno ar... porém, a partir de certo ponto, assim que a notou de repente parecendo se tornar mais leve, tendo mais fluidez nos movimentos que estava sendo condicionada a fazer, também a viu sendo atirada sem qualquer controle contra uma daquelas árvores que lhe cercavam.
De olhos arregalados, braços estendidos e mãos entreabertas, como se já tivesse tentado conter o avanço da esfera – que, àquela altura, já atravessava o tronco de uma terceira, de uma quarta, de uma quinta árvore, deixando um rastro de flora ainda sendo destruída por onde passava –, Angell flagrou aquela coisinha escura retornando ao ponto de onde tinha partido como que por vontade própria. Continuou naquela mesma pose por um instante longo, sentindo seu queixo cair.
“Eu acho que isso serve para destruir árvores, hã?”, Gyuuki comentou.
E então a azulada voltou a si.
“Isso é perigoso...”, ela ponderou.
“Smile, the worst is yet to come...”, e Gyuuki tornou.
“Don’t you give up! Nah, nah, nah. I won’t give up! Nah, nah, nah!”
“Hum... sério?”
“Sim, sério!”
“Eu achei que você estivesse ficando com medo.”
“Já estava com medo desde antes de começar... mas não posso deixar essas coisinhas se controlarem sozinhas; eu que preciso controlá-las.”
“Senão elas destroem mais árvores?”
“Ou algo mais preocupante...”
Gyuuki se sentou no interior da azulada, como se desse de ombros. Mas, pela expressão dele, notava-se um quê de ainda mais ponderação; por mais que andasse provocando a azulada, em uma tentativa (muito bem sucedida até aquele momento) de incentivá-la a continuar seguindo em frente, mesmo que, por ora, só por meio de alguns treinamentos de novas habilidades ninja, ele não tinha qualquer intenção de deixá-la desamparada em mais aquela empreitada. ...que, diga-se de passagem, meio que tinha sido ele mesmo a arquitetar para ela.
Enquanto isso, porém, Angell voltava a se concentrar na esfera de antes e a envolvia com seu chakra, preparando-se para tentar movê-la outra vez. Inspirou profundamente antes de começar a empurrá-la devagar, e, ao fazê-lo, deu mais atenção ao chakra que, agora, havia ao redor dela, do que a ela própria. Quando notou a mesma instabilidade estranha e repentina tomar conta da esfera, tentou contê-la com a ajuda do invólucro de energia, confiando na força de seu chakra. No início, sentiu que seus esforços seriam superados a qualquer momento, e que a esfera conseguiria romper a contenção, escapando de novo de seu controle para destruir mais da floresta que lhe rodeava. Porém, com mais alguns instantes de insistência, conseguiu reestabilizá-la dentro do invólucro.
“Eu acho que não é assim que se faz, hã?”, Gyuuki comentou.
“‘Assim’ como?”, e a azulada rebateu.
“Assim, precisando de um chakra a mais para conter as esferas... que já são feitas de chakra. Devia ser como uma manipulação simples.”
“...isso poderia ter a ver com a vontade que o chakra do meu Tenseigan tem de escapar de mim? Mesmo que eu tenha conseguido misturá-lo com o chakra do restante do meu corpo e possa sentir os dois fluindo juntos, em harmonia?”
“Talvez. Eu não vou saber te dizer.”
“Estamos deixando alguma coisa para trás...”
“...lá nas memórias de que você não consegue se lembrar.”
A azulada encarou diretamente a esfera que tentava “manipular”, contida no ar à altura de seus olhos, 5 metros à sua frente. Talvez devesse concordar com o hachibi... ou talvez devesse entender que, se a maneira convencional e mais lógica de se atingir um objetivo não estava funcionando naquela ocasião, uma outra maneira de se “manipular” aquelas esferas deveria ser encontrada – ou, quem sabe, até mesmo criada, a depender apenas da forma com que aquele treinamento fosse avançando. Mas por que Gyuuki não podia apostar na ideia inicial da azulada?
“Epa!, não foi nada disso que eu disse!”, ele reagiu. “Eu só pontuei que não devia ser assim; não quer dizer que não possa vir a ser.”
E Angell sorriu.
Porém, ela ainda precisaria pensar melhor sobre aquele assunto antes de insistir em um método que, além de nunca ter utilizado antes, não tinha como saber se realmente viria a funcionar com a maestria necessária para se controlar aquele poder. Então, por aquele dia, pausou seu treinamento e retornou para a casa de sua mãe.
[...]
Angell levou uma semana inteira para retornar à floresta que circunda a Folha. E isso não porque demorou a ter alguma ideia diferente, mas porque já estava demorando demais a retomar seu treinamento justamente por nem ela própria nem Gyuuki terem tido uma ideia melhor que a inicial.
Daquela vez, a azulada se instalou na clareira que se lembrava de sempre utilizar. Iniciou seu treinamento no mesmo ponto em que o tinha pausado uma semana antes; focou sua atenção na mesma esfera da última vez e a conteve no mesmo invólucro de chakra que o hachibi tinha estranhado. Teve a mesma dificuldade para retomar seu controle sobre a esfera depois de empurrá-la devagar até o mesmo ponto, mas ainda conseguiu mantê-la quietinha em pleno ar com a ajuda da contenção de energia. Inspirou profundamente de novo e foi movendo a esfera com cuidado pelo espaço vazio da clareira, tentando manter a consistência de seu chakra em termos de força, para que a velocidade e a trajetória da esfera não oscilassem muito mais do que já estavam oscilando. Inclusive, ela perguntava a si mesma quando conseguiria fazer com que a esfera se movesse com uma linearidade natural e fluida, como muito provavelmente já devia ser...
Gyuuki continuava observando os avanços – se é que realmente se podia chamar aquela situação de avanço – da azulada, e tentava analisar o treinamento junto dela, querendo ajudá-la a encontrar alguma forma de viabilizar de vez todos os esforços que ela andava fazendo, nem que, para isso, fosse mesmo precisar modificá-los por completo. Porém, ao passo que Angell se preocupava com o aspecto disforme dos movimentos que precisava fazer esfera desenvolver, Gyuuki se satisfazia com o simples fato de ela já conseguir fazer a esfera se mover totalmente sob seu controle. ...e, então, ele percebia que ainda havia um longo caminho para ela percorrer quanto à melancolia que a tinha abatido uns anos antes, bem no meio da última guerra, graças à perda gigantesca que ela sofreu. Não era como se ela não estivesse se esforçando para superar a tristeza e continuar seguindo em frente junto daqueles que tinha conseguido salvar, mas ainda havia muitas nuances que a incomodavam, sobretudo, por ela não ser capaz de se lembrar de muitas coisas que lhe tinham acontecido naquela época. E, de uma forma ou de outra, caraminholas na cabeça não costumam ajudar na concentração de quem quer que seja.
De qualquer maneira, mesmo um pouco mais pessimista, Angell notava os resultados de seu treinamento e se esforçava para, antes de mais nada, mantê-los, depois, melhorá-los como e com a rapidez que pudesse. Foi quase mais um mês até ela conseguir alcançar a fluidez que queria dar aos movimentos da única esfera que andava “manipulando”, mas tanto ela própria quanto Gyuuki se animaram um pouco mais depois de constatarem que havia, sim, como aquela ideia inicial dela ter um resultado positivo, mesmo que acabasse ralentando o treinamento todo.
[...]
“Eu tenho uma sugestão para o seu treino de hoje.”, Gyuuki sentenciou. “Vamos ficar por aqui mesmo por enquanto, hã?”
A azulada mal tinha adentrado a floresta, mas estacou bem no meio do caminho entre os limites da mesma e a clareira que visitou por quase um mês inteiro.
“Você sabe que o seu controle sobre uma das esferas já está relativamente bom.”, ele tornou. “Mas sabe quanto ainda dá para melhorar? Na primeira vez em que você quis mexer com a esfera, ela destruiu umas árvores sem a sua permissão. E agora, quantas você a impediria de destruir, hã?”
Angell olhou ao redor com um certo receio.
“...isso é realmente seguro?”, ela perguntou.
“Me diga você.”, e Gyuuki respondeu. “Eu confio no seu potencial e acho que ele é o bastante para você avançar um estágio no seu treino.”
Mesmo hesitante, Angell assentiu com um aceno de cabeça e assumiu sua transformação advinda do chakra de seu Tenseigan em meio às árvores. Atentou-se à mesma esfera de sempre e a fez veredar entre duas, quatro, seis árvores em uma trajetória quase bonita – de tão natural – de ida, depois entre mais duas, quatro, seis, oito, doze, vinte árvores em uma trajetória igualmente fluída de volta. Porém, antes de conseguir esboçar um sorriso graças aos avanços efetivos de seu treinamento, a azulada ouviu Gyuuki pigarrear dentro de si, chamando-lhe a atenção.
“Primeiramente, eu te disse.”, ele começou, sorrindo orgulhoso. “Em segundo lugar, eu acho que você já pode tentar ir mais rápido, hã?”
Ansiosa, Angell nem mesmo respondeu o hachibi antes de se preparar para dificultar um pouco mais as coisas. Porém, responsável, ela tornou a respirar fundo e se atentou com o mesmo afinco à esfera que mantinha paradinha no ar. No início, fez com que a mesma se movesse aumentando a velocidade aos poucos. Mas, com o passar dos instantes e das árvores que eram serpenteadas sem parar, começou a acelerar a esfera com mais avidez, aproximando cada vez mais a velocidade que a fazia tomar da velocidade que já a tinha visto ter originalmente, quando completamente descontrolada. Ainda hesitava, mas, aos poucos, confiava mais em seu chakra e em seu potencial, como Gyuuki mesmo tinha dito antes que confiava. Ora, ela conhecia seu próprio senso de responsabilidade, sabia bem que podia contar com sua própria força e tinha certeza de que sua própria determinação nunca lhe abandonou nem jamais lhe abandonaria. Então por que tanta insegurança?, só porque o poder parecia grande e difícil de ser controlado?, sendo que ela estava dando seu melhor para domá-lo?
Quando notou, estava fazendo a esfera ultrapassar a velocidade que a tinha visto atingir antes, mas impedindo-a de estraçalhar as árvores pelas quais passava.
[...]
O hachibi sugeriu a Angell uma pausa de mais uma semaninha. Mas, tendo deixado essa semaninha passar, ela retornou à floresta que circunda a Folha com a mesma animação de quando percebeu já ter um controle decente sobre a esfera pela qual tinha começado seu treinamento para controlar todas as dez que lhe rodeavam quando ativava sua mais nova transformação. Também por sugestão do hachibi, ela retornou à clareira da última vez. Agora, ele queria testar os limites da esfera em termos de forma, e, para isso, disse à azulada que seria melhor ela contar com mais espaço.
“Nesse seu tempo de pausa, eu andei pensando.”, ele continuava. “Chakra é um tipo incrível de energia, que pode se moldar e ser moldado quase infinitas vezes de jeitos inusitados. Você é uma usuária exímia de chakra, então deve saber que eu não estou falando nenhuma abobrinha. O que você me diz de tentar remodelar essas esferas e dar a elas um propósito melhor que a destruição massiva?”
“Considerando que eu nem gosto de destruição...”, e a azulada concordou.
“Pois bem! Eu já tenho uma ideia exclusiva para você. Remodelar um cenário é fácil quando você se especializa em doton, mas quanto tempo você levou para remodelar o seu chakra quando inventou de criar as suas plataformas flutuantes?”
“Aquelas do Joukou-Ba?”
“Elas mesmas.”
“Umas... semanas, talvez?”
“Pois é, não parece ser tão fácil quando você não tem alguma forma predeterminada para modificar e te levar de um lugar a outro especificamente. Você sempre tem uma necessidade clara quando remodela o cenário ou cria as suas plataformas. Mas e se pudesse transmitir essa necessidade para as esferas, hã?”
“Agora, sim, me parece manipulação simples.”
“É, eu acho que nós podemos classificar assim agora.”
A azulada ativou seu Tenseigan e assumiu a forma que o chakra do mesmo lhe concedia. Afastou a esfera de sempre de seu corpo, mas, ao invés de mantê-la parada à sua frente, a uma altura considerável, posicionou-a rente ao chão, ao seu lado direito. Apoiando-se no invólucro de chakra que sempre fazia ao redor da mesma para contê-la, mentalizou a utilização de seu Joukou-Ba e começou a pressionar o chakra da esfera, a fim de achatá-la até transformá-la em uma plataforma – escura, ao invés de pouco visível, e circular, ao invés de quadrilateral – fina, mas maciça e (aparentemente) resistente.
“Hum... eu pensei que fosse ser mais difícil.”, Gyuuki comentou.
“Pensei que você confiasse em mim.”, e a azulada rebateu.
“Smile...”
“Nem comece com isso de novo!”
“Eu só estou brincando. Mas você ainda tem um caminho comprido pela frente, hã? Precisa dar mais formas a essa esfera e precisa controlar todas as outras junto dela. Você acha que pode conseguir?”
“Não importa mais o que eu acho; eu preciso conseguir.”
“É assim que se fala!”
Por aquele dia, Angell se limitou a continuar remodelando a forma daquela esfera que já conseguia manter sob seu total controle. O hachibi lhe dava as ideias, sobretudo quanto a armamentos grandes que ela nunca tinha utilizado – e, muito provavelmente, também jamais viria a utilizar –, mas conhecia de vista para poder reproduzir o formato; bastões, tonfas, lanças, espadas, foices, flechas, fuuma shurikens... enfim, era amplo o arsenal de ideias de Gyuuki. Mas, em um dado momento, ele acabou se esgotando, e, então, ficou para a azulada a tarefa de delinear as formas diferentes que podia fazer a esfera assumir; agora, formatos simples, voltados à redecoração de um campo de batalha ou mesmo de treinamento, prontos para dar suporte a estratégias mais mirabolantes, tomavam conta daquela clareira da floresta.
A noite chegou, e, assim como sempre leva o sol embora do céu ao surgir, também levou Angell de volta à casa de sua mãe, lá no bairro Hyuuga. Mas, naquela noite, nem Katsura nem Hakurei tinham chegado ainda, e Everything demorou um pouco mais que o comum a recepcioná-la na porta de entrada. Naqueles poucos instantes de solidão, Angell teve a sensação de que nada estava diferente do normal, mesmo tendo a plena consciência de que, na verdade, tudo estava completamente diferente do normal. Ela se virou para trás, para a porta fechada, como se conseguisse enxergar lá ao longe a floresta que circunda a Folha através da mesma, apesar de seu Tenseigan desativado naquele momento. Podia jurar que sentia o ímpeto de retornar e passar a noite fora, já que isso devia ser natural, por mais que só tivesse dormido em uma cama diferente das suas próprias – fossem elas de solteiro ou de casal – enquanto Hakurei, mesmo depois de já ser seu namorado, ainda não tinha se mudado para a casa de sua mãe. Estranhou... mas até que ponto?, por qual motivo, mesmo? Por que de repente tinha lhe parecido e mais de repente ainda agora já lhe desparecia ser normal dormir em plena floresta da Folha?
“Angell?”, Gyuuki a chamou.
“...hm?”, e ela respondeu.
“Está tudo bem por aí?”
“Acho que sim. É só uma sensação... diferente.”
“De novo?”
“Sim... de novo. Mas não é preocupante; eu estou bem.”
“But the future is forgiven, so smile!”
“Sim, eu vou sorr-... não!, não desse jeito!”
Gyuuki desatou a rir logo que percebeu a azulada voltar – mesmo que forçosamente, ao que tudo indicava – à realidade. E quase conseguiu arrancar um riso dela com isso, mas, por mais que ainda não estivesse conseguindo animá-la por completo naturalmente, fora dos momentos de treinamento, já julgava melhor do que nada.
[...]
Na manhã seguinte, Angell não ganhou uma sugestão de Gyuuki tão cedo quanto ao seu treinamento; considerando o nível de manipulação – por mais diferenciada que fosse do comum conhecido pelo mundo ninja – que já tinha conseguido atingir graças ao controle sobre a primeira das dez esferas, ele mesmo se perguntava se o próximo passo devia ser mais proveitosamente dado em alguma das clareiras ou em meio ao pouco espaço entre as árvores do restante da floresta. ...até porque o próximo passo, segundo ele próprio já tinha sugerido no dia anterior, seria para resultar no total controle de Angell sobre todas as esferas de uma única vez.
Mas ela mesma teve mais uma ideia inicial: antes de mais nada, dirigiu-se à clareira para testar o controle que poderia conseguir ter sobre as esferas com as quais ainda não tinha tentado mexer; sabendo como comandar a primeira esfera, talvez fosse conseguir mexer com as demais sem causar nenhuma destruição descontrolada. E, por sorte – ou por seu potencial próprio –, Angell notou que os padrões quanto aos movimentos e às alterações de forma da primeira esfera se repetiam para as outras nove, encurtando considerável e satisfatoriamente seu treinamento. Agora, restava a ela descobrir como seria conciliar os comandos de todas elas ao mesmo tempo.
“Vejamos...”, Gyuuki se manifestou. “eu acho que tenho uma teoria, mas não sei se o embasamento dela seria suficiente nessa situação. Talvez dê para você começar com o controle simples sobre as esferas, sabe?, colocando uma por vez em jogo. ...como se você estivesse aprendendo a fazer malabarismo.”
Na verdade, a azulada realmente nunca tinha aprendido a fazer malabarismo; tudo que sabia era como manter duas bolinhas rodopiando verticalmente no ar, passando de uma de suas mãos para a outra sequencialmente. Mas, ao menos, ela não apenas conhecia o conceito de malabarismo, como também já tinha visto alguns artistas de rua espalhados pela Folha comandando bolinhas para que as mesmas fizessem acrobacias diferenciadas e bastante atrativas, diga-se de passagem. Então, sim, ela optou por acatar mais aquela sugestão do hachibi.
Aproveitando o formato original das dez esferas, manteve-se ali pela clareira por ora. Ao se transformar, envolveu-as todas ao mesmo tempo – mas ainda individualmente – com seu chakra. Começou pela de sempre, afastando-a de seu corpo e fazendo-a lhe rodear devagar várias vezes e várias seguidas. Enquanto isso, afastou uma segunda esfera de si e quis fazê-la também lhe rodear devagar, mas em uma circunferência mais aberta. Ainda não sentia dificuldade em manter as duas órbitas diferentes das esferas ao redor de seu corpo, então arriscou adicionar uma terceira... uma quarta... uma quinta. Parecia sentir um pouco mais de cansaço do que imaginava, mas podia continuar, então adicionou uma sexta, uma sétima, uma oitava. Já começou a suar, talvez por precisar fazer uns esforços mais intensos para manter todas as esferas sob seu completo controle. Mas conseguia ir um pouco além ainda... então adicionou a nona e arriscou fechar com a décima esferas. Ofegava um tanto, mas, ao menos enquanto mantivesse uma constância na velocidade e na trajetória orbital de cada esfera, imaginava que seria capaz de lidar com todas elas ao mesmo tempo e ainda ganharia alguma resistência para fazê-lo se insistisse naquilo por mais alguns minutos, talvez até por mais algumas horas...
Porém, pegando-a de surpresa – e, claro, assustando-a –, Katsura surgiu ali na clareira e lhe perguntou o que ela estava fazendo. Como da primeira vez em que perdeu o controle sobre a esfera com a qual tentava mexer, viu todas as dez sendo atiradas aleatoriamente contra as árvores que cercavam a clareira, atravessando troncos – fossem mais finos ou mais grossos; parecia não fazer qualquer diferença para elas –, deixando dez rastros bem delimitados de destruição por dez caminhos diferentes de uma única trajetória de ida e volta desde Angell até Angell de novo. Quando percebeu, estava, assim como sua mãe, agachada no chão da clareira, com ambos os braços rodeando sua cabeça, como que na esperança de uns poucos ossos serem capazes de frear o avanço das esferas, impedindo- as de destruírem seu crânio se o acertassem por qualquer motivo.
De olhos arregalados, ela encarou Katsura.
– ...o que foi isso? – e a ouviu perguntar.
– Foi... o meu treinamento atual. – Angell respondeu. – Mãe, como você me encontrou aqui? Como me reconheceu?
– Ah, meu amor, as mães sempre encontram e reconhecem os seus filhos, até nas mais inusitadas das situações que você pode imaginar. Mas... me conte um pouco mais sobre esse seu treinamento; do que se trata?
– Estou tentando controlar essas esferas do chakra do meu Tenseigan.
– E por que você aparta o chakra do seu Tenseigan o seu chakra?
– Não sou eu... é ele mesmo. É uma história longa...
– Eu tenho tempo. Venha, me conte tudo.
Katsura estendeu os braços para a azulada. Ela desativou aquela sua transformação e se aproximou mais de sua mãe, até se aninhar em um abraço dela. Foi sendo conduzida de volta ao bairro Hyuuga aos poucos, porém, no caminho, já ia explicando em detalhes sua situação atual para sua mãe.
[...]
Tinha vezes que era difícil para a azulada simplesmente se levantar de sua cama; mesmo com Hakurei, sua mãe, Everything, todo o bairro Hyuuga, a Folha inteira já acordados e muito bem dispostos, ela penava para encontrar disposição para continuar. É que... tinha dias que o treinamento parecia não avançar nada, e, nesses dias, ela se flagrava em seus dilemas internos: da mesmíssima forma que tinha se convencido de que era o certo viver por aqueles que também ainda viviam, sentia como se fosse errado não ter morrido por aqueles que já tinham sido mortos; parecia injusto para os dois lados. Mas era também nesses dias que Gyuuki voltava a cantar, provocando-a para que ela entendesse que nem tudo estava perdido, então, que valia a pena continuar seguindo em frente, até enfim ela ceder e retomar o treinamento. A conversa que tivera dias antes com sua mãe também lhe dava mais forças para superar o que pareciam ser seus “traumas de guerra”... mas, às vezes, ela preferia se apoiar no calor dos braços de Hakurei, na companhia de Everything e nas conversas que tinha com Gyuuki; até mesmo as lembranças que tinha de sua mãe vez ou outra pareciam estranhamente distorcidas e um tanto distantes, por mais que ela fosse atenciosa, carinhosa e presente ao extremo consigo.
[...]
Finalmente chegou o dia em que a azulada se flagrou capaz de controlar com maestria a movimentação de todas as dez esferas ao mesmo tempo. Se não fosse por Gyuuki, talvez ela tivesse perdido a noção da passagem dos meses, mas, como ele estava sempre junto de si para lhe apoiar – e lhe provocar também, claro –, não lhe deixou esquecer que dia aquele já era; fazia quase seis meses desde que ela tinha iniciado seu último – e atual – treinamento. Porém, mesmo que estivesse mais próxima do que nunca de finalizá-lo, ela ainda tinha um passo gigantesco a dar: precisava se tornar capaz de manipular com toda aquela mesma maestria as alterações no formato das esferas também simultaneamente, sem deixar de estar no comando de cada mínimo movimento delas.
Talvez fosse ser difícil, talvez fosse ser fácil. A azulada ainda não sabia. Mas uma certeza ela tinha: se continuasse seguindo os métodos que andara desenvolvendo para si própria naquele treinamento, devia logo conseguir conclui-lo com êxito. Considerando a fórmula com que tinha se capacitado a comandar todas as esferas ao mesmo tempo depois de já ter se capacitado a comandar totalmente apenas uma delas, tentou alterar o formato de uma após a outra, começando com formas mais simples, como ao achatá-las bem rentes ao chão para transformá-las em plataformas circulares. Não julgando aquela uma tarefa difícil, alinhou as plataformas e começou a elevá-las uma a uma, criando uma escadaria com um palmo de diferença de altura entre o degrau anterior e o degrau seguinte. Para finalizar, arriscou-se a subir aqueles dez degraus... porém, ao chegar ao último, moveu o primeiro de forma a transformá-lo no décimo primeiro, o segundo, no décimo segundo, o terceiro, no décimo terceiro, e assim por diante, até conseguir se ver na altura das copas das árvores que lhe rodeavam. Depois, reverteu a situação, fazendo com que a escadaria itinerante que subia agora descesse. Firmando-se no chão mais uma vez, Angell voltou a se ater mais às ideias do hachibi, passando a imitar com as esferas o formato de grandes armas ninja, mas, sem poder empunhar mais de duas ao mesmo tempo, precisou mantê-las sob seu controle ao seu redor, bem rentes ao seu corpo, como que fingisse ser capaz de empunhar todas as dez de uma só vez. Em um dado momento, moldou as esferas em dez espadas idênticas, todas quase do tamanho de seu próprio corpo, e as lançou contra dez árvores diferentes, a fim de acertá-las com força suficiente para marcá-las, mas não para atravessá-las, destruindo-as. Depois, trouxe-as de volta para si... para poder atirá-las mais uma vez contra as árvores, mas, agora, de forma a fazê-las serpentearem os troncos de vinte, quarenta, sessenta delas no caminho de ida e mais quarenta, sessenta, oitenta delas no caminho de volta.
“Isso me parece satisfatório.”, Gyuuki comentou. “O que te parece?”
“É um tanto... animador, eu acho.”, e a azulada respondeu. “Mas talvez ainda caiba uns aperfeiçoamentos. Uns... vários aperfeiçoamentos.”
“Você não se dá por vencida, hã?”
“Acho que não.”
“Mas isso é muito bom.”
Angell sorriu.
[...]
O tempo passava. Várias foram as ocasiões em que Angell se perguntou mentalmente se não haveria mesmo problema em estar dando um chá de sumiço do mundo ninja... mas tudo estava na mais perfeita paz; então como não? O que mais parecia lhe dar trabalho eram suas lembranças, mesmo...
“But it’s the only thing that I have.”