O mundo todo parecia chorar sangue, os céus crepusculares tingiam as cabeças de todos com tons de carmesim. As pessoas mal podiam se esconder em suas casas, pois os ataques das criaturas abissais não paravam. Os líderes levaram seus melhores homens para Iwagakure, acreditando que a batalha se passaria apenas por lá; eles não podiam estar mais enganados! O demônio, ardiloso, atacou aquilo que eles mais lutavam para proteger, foi um verdadeiro massacre! Mesmo com a chuva forte, ainda era possível ouvir os gritos de terror das pobres vítimas, enquanto eram mutiladas e devoradas pelos demônios. A esperança nos olhos de alguns se esvaía a cada instante passado, a sensação de impotência, medo e frustração já se apoderava de todos. Muitos deles não passavam de pessoas comuns, civis, comerciantes, etc. Quase não existia soldados, e os que ainda lutavam, pouco a pouco iam perdendo suas vidas.

No centro da vila, uma mãe e sua filha corriam desesperadas, procurando onde se esconder. Seu esforço parecia vão, pois aquelas criaturas horrendas estavam por todos os lados, mas a situação piorou quando em meio a corrida, a garotinha tropeçou, tornando-se uma presa fácil. Vendo sua filha no chão, aquela mãe jogou-se por cima dela, tapou os olhos da criança e aceitou a morte. Porém, quando aquelas feras bestiais estavam prestes a tragar as duas com suas garras afiadas, um grande tremor abalou as estruturas da região circundante e do subsolo duas serpentes gêmeas enormes emergiram, engolindo toda aquela horda de demônios e salvando aquela família.

No topo de uma das serpentes estava uma pessoa, uma mulher bastante conhecida pelos mais velhos de Kumogakure.
— Olhem, é a Raikage! — gritou um jōnin.
— Está maluco? — retrucou um outro ninja — O Raikage está em Iwagakure neste momento!
— Não, não estou falando de Akira Haruno. Veja, é a Décima Raikage, Hinka! — respondeu o jōnin, apontando na direção da mulher.
— Não pode ser... Mas... mas... ela não estava morta? — indagou o ninja, não acreditando no que seus olhos viam. De cima da invocação, a mulher saltou e encarou aquele homem face-a-face.
— Mortos estarão vocês, se não fugirem imediatamente! — não havia dúvidas, aquela era Hinka, a Serpente das Trevas, conhecida na vila como Jūdaime Raikage.

Hinka virou-se e falou para todos que estivessem perto ouvir.
— Escutem bem o que digo, esta vila está condenada! O que vocês estão presenciando agora é literalmente o fim do Mundo Ninja, forças além de sua compreensão e capacidades são as responsáveis por isto! — a angústia e desespero era perceptível no olhar de muitos, aquela era uma realidade que poucos queriam aceitar — No entanto... enquanto houver em vocês a memória e os valores da Nuvem, Kumo prevalecerá! Esta vila como vocês a conhecem pode até estar ruindo, mas Kumogakure no Sato não é apenas um lugar, mas também um povo. Independente de onde estejam, enquanto seu povo viver, a Vila Oculta da Nuvem também viverá! — estas últimas palavras trouxeram algumas fagulhas de esperança para aqueles corações desolados. Hinka não era de realizar discursos como estes, na verdade seu mandato como Raikage foi meteórico, talvez ela nem nutrisse tanto apego assim pela Vila, mas a mulher sabia que precisaria dar um incentivo para que aquele povo lutasse.

— Aqueles que quiserem viver, me sigam! — correndo com suas serpentes gêmeas pelas vielas de Kumogakure, Hinka foi eliminando as hordas de demônios que via pela frente e limpando o caminho que levava direto ao portão de saída da Vila.

A Longa Noite

Lugar Desconhecido| Hīro Murakame

Mesmo que não tenha sido uma ato de coragem, e mais um de desespero, o sucesso em abater a criatura mostrou para Hiiro que a força de vontade para agir com convicção é crucial para um ninja vencer, mesmo que sua mente se tome por pensamentos negativos, é necessário não se deixar dominar por eles e continuar lutando. Essa era uma lição que precisava ser aprendida pelo gennin, e mesmo que pela dor, ela finalmente foi.

Com sua vitóriam até mesmo Hinka o elogiou, deixando o garoto sem graça por um segundo, mas ele logo retomou o foco para o perigo que se aproximava, mas a Ex-Kage já tinha tudo em mente e os guiou para fora da caverna e ressaltou "-Além disso, precisamos ajudar o seu amigo, se é que ele e os demais ainda estão vivos..."

Enquanto corriam em meio a chuva sangrenta, Hīro era protegido por capuz mas isso não o impedia de se atentar ao ambiente ao seu redor a procura de qualquer sinal que indicasse que a caravana de kumo pudesse ter tomado algum desvio do caminho que Hinka o guiava. Enquanto via que as núvens começavam a se abrir ele refletiu sobre o que Hinka disse mais cedo. Não sabia se o podia chamar de amigo visto que haviam se conhecido só naquela noite, mas de fato Shiso foi a primeira pessoa que ele pode chamar de aliado desde que deixou os monges a tantos anos e tanto ele como Hinka haviam salvado sua vida. Não sabia o que o aguardava no fim daquela noite, na verdade não sabia nem se veria o nascer do sol novamente, mas caso o melhor cenário se concretizasse, esses dois seriam pessoas que conquistaram sua confiança e que ele gostaria de ter por perto pelos dias que se seguirem.

Seus devaneios foram interrompidos com a visão de uma explosão logo a frente. Ele apertou o passo e pode ver uma enorme criatura tri-cranídea em meio a vários destroços, estava virada para a caravana de Kumo, que estava um pouco mais distante e entre eles e a criatura estava Shiso. Obviamente se tratava de um combate pela vida dos cidadãos.

"-Vamos Hinka-sama, enquanto ele está distraído!" — Diria isso e tentaria saltar sobre os destroços, até chegar no pico mais alto deles para pegar impulso e saltar o mais alto possível sobre a criatura e disparar seu Jutsu que já havia se tornado o principal agora, o Reizā Sākasu. Levando suas mãos para baixo e mirando todos os feixes para as costas da besta. Então sacaria sua espada e a embeberia com o chakra Raiton e tentaria apoiar todo o seu peso nela, para uma queda perfurante em uma das cabeças das pontas. Após a estocada, tentaria saltar de cima da criatura e se juntar a Shiso, se pondo ao lado dele, com a guarda levantada com a espada, virado para a criatura.

Se fosse notado pela criatura em quando estivesse se aproximando, invés de procurar um ponto para saltar sobre ela, saltaria entre os destroços procurando esquivar-se de qualquer ataque físico contra ele e fazendo-se de chamariz para um possível ataque de Heika ou um ataque de longa distância de Shiso, usaria o Shunshin para isso se necessário e caso visse uma brecha dispararia seu Reizā Sākasu e então iria para o lado de Shiso com a guarda levantada, da mesma forma que no caso anterior

Se um desses dois rumos descritos fossem tomados e Hīro parasse ao lado de Shiso, caso não houvesse nenhum ataque iminente da besta, ele perguntaria:

"-Alguma baixa?" — diria sem tirar os olhos do inimigo

Quem é digno de viver? Que é merecedor de morrer? E quem de nós é capaz de julgar tais decisões? Se alguém realizar a pior das atrocidades, como ameaçar extinguir o mundo como conhecemos, esta pessoa será merecedora de pena de morte? Isto parece óbvio, não? Mas realmente é tão simples assim? A resposta é não. Não há neste mundo um único ser humano que seja justo o suficiente para decidir sobre o direito de terceiros à vida ou à morte. E ainda assim, muitos o fazem. Não por querer ou por prazer — embora alguns realmente vejam beleza na morte e até a idolatrem como uma deidade —, mas pela necessidade.

Os traumas passados de Shiso o fizeram permanecer por muito tempo de sua vida com indagações como estas na mente. Sua última missão, em especial, tornou o pensamento ainda mais presente, o que certamente lhe foi prejudicial em certos momentos decisivos. Mas após ver e sentir o desespero daquele povo, após viver a dor de perder quase tudo que possuía e conhecia, o Senju finalmente pareceu entender que embora não haja neste mundo ninguém com o direito de deliberar sobre a vida alheia, decisões como estas precisam ser tomadas. O ato de matar não é tão simplório ao ponto de poder ser definido de forma binária, como certo ou errado. Ao invés disso, surge de uma necessidade: a de zelar por um "bem maior". A diferença entre aquele que que mata, mas zelando pela vida e seus valores, e aquele que mata por pura tirania está apenas no que se credita como um "bem maior". Enquanto Shiso mantivesse em seu coração os valores corretos e não se deixasse levar pela sedução do Deus da Morte, ele poderia finalmente compreender e suportar o fardo da morte e assim executar o que fosse julgado necessário. Ciente desta convicção, o pequeno grisalho finalmente pôde se libertar das amarras que o restringiam e assim foi capaz de entregar o seu melhor ao lutar por seu povo.

Quando as muralhas erguidas por Shiso conheceram o poder máximo daquela besta infernal, elas não puderam suportar. Uma a uma, as paredes de terra iam caindo, sucumbindo perante tamanha ferocidade... até restar apenas uma parede. Embora destruídas, os primeiros muros serviram para atenuar a intensidade do ataque, de forma que ao colidir com o último nível da defesa do Senju, aquele ataque devastador já não era capaz de devastar mais nada. Sabendo que não poderia perder novamente uma janela de oportunidade, o garoto imediatamente encaixou sua ofensiva. Shiso usou o conhecimento adquirido durante a batalha para inferir que o Doton: Gōremu seria capaz de imobilizar a besta atroz, e com isto, executou se último movimento, arrancando uma das três cabeças da criatura.

Era surpreendente a desenvoltura que aquele mero genin possuía em batalha, mas embora seus ataques fossem eficazes, Shiso já estava chegando ao seu limite. Se a batalha durasse mais uma "rodada", provavelmente o Senju sucumbiria. Felizmente, o pequeno grisalho não estava mais sozinho. No momento mais crucial, Hinka e Hīro surgiram para ajudar na finalização da criatura. Quando os raios do Murakame atingiram o corpo molhado — por conta do ataque anterior de Shiso — da criatura, eles não só a causaram um severo dano, como também imobilizaram. Desta forma, Hīro pôde mostrar como ele mesmo também havia evoluído durante esta árdua prova de sobrevivência, arrancando mais uma das cabeças da fera com sua espada. Por fim, Hinka saltou para cima da besta e com um chute brutal em seu pescoço, decepou a última cabeça restante, pondo um fim definitivo naquele demônio.


[...]
Os cidadãos de Kumo vibraram com a vitória alcançada pelo trio. Após se erguer de cima do corpo morto, Hinka acenou positivamente com a cabeça e falou:
— Parabéns, meninos! — no início, a Raikage não havia depositado tanta confiança nos dois genins. De fato, ela não esperava nada deles, senão o fracasso e uma morte precoce. No entanto, Murakame Hīro e Senju Shiso haviam se provado bem mais capazes do que a Serpente das Trevas havia imaginado, conseguindo o incrível feito de que Hinka nutrisse por eles um certo respeito. Os jovens haviam provado seu valor!
— Vamos andando, o porto já está bem perto! — e assim todos conseguiram chegar ao porto marítimo do País do Relâmpago, onde jaziam algumas embarcações abandonadas.

Após entrarem no barco e darem uma última olhada para sua terra natal, Hīro e Shiso notariam que a chuva de sangue havia cessado e que em meio às nuvens ainda vermelhas, o Sol se erguia, imponente e radiante, decretando o fim da Longa Noite.



Sempre, sempre leiam as considerações!

A Longa Noite

Lugar Desconhecido| Hīro Murakame

Os cidadões estavam salvos! A ultima e maior criatura estava agora abatida, os gritos e comemorações do povo ilustravam a vitória deles. Até mesmo Hinka se ergueu sobre o corpo morto da criatura e parabenizou os jovens, sem sarcasmo ou acidez, apenas simples e direta congratulação aos jovens.

Hīro olhou para Shiso e inconscientemente abriu um sorriso em seu rosto com a cena antes de voltar seus olhos para a besta, mas só agora ele pode se atentar para o cenário como um todo.Aquela criatura era avassaladora, e toda aquela destruição em volta, era o que tinha sobrado dos esforços dele para proteger o povo. Enquanto ele com ajuda quase morreu nas mãos de um único, Shiso protegeu a si e ao povo de uma criatura de três cabeças.

"Esse garoto...É bem mais forte do que eu..." — Pensou enquanto apertava os punhos, frustrado com sua própria impotência e o sentimento de inferioridade, até que seus devaneios foram interrompidos pela ordem de Hinka para ir até o porto

Ao zarpar da embarcação Hīro retirou seu capuz e expremeu o sangue que restava nele da chuva, enquanto observava o país do relâmpago se afastando cada vez mais de seus olhos