Em um dia comum, onde a noite recaía sobre os horizontes e os gélidos ventos permeavam os finos tecidos que recobriam as janelas das casas da cidade, Avalon, o promissor shinobi que iniciava sua vida e ascenção, ansiava por um afazer que lhe removesse do tédio em que se encontrava. —— Imperdoável! Poderia estar usando esse tempo para expandir ainda mais meu poder e conhecimento! —— Esbravejava.

Convicto, deixou sua residência mesmo no frio em que encontrava-se, vestindo apenas um casaco por cima de suas roupas para afastar a sensação térmica baixa. Não havia muito o que fazer aquela hora da noite, e mesmo que quisesse aprimorar sua técnica de ninjutsu, sentia que estava no limite máximo que poderia alcançar no momento. Portanto, seus passos se guiaram para um objetivo muito mais plausível no momento, muito mais palpável. —— Deve haver algum conhecimento digno na biblioteca. —— Estava decidido.

Com as mãos dentros dos bolsos do casaco e suas loiras madeixas voando, com os ventos frios açoitando suas orelhas e nariz, graças à umidade alta do vilarejo. Seus passos eram espaçados e lentos, sua postura era ereta e passava confiança e segurança, seu olhar jamais dobrava-se para pessoa alguma que cruzava seu caminho. Sua soberba não conhecia limites.

Encontrou as portas da biblioteca entreabertas e uma meia-luz vindo de seu interior, Avalon passou alguns segundos olhando fixamente a porta antes de decidir se adentraria ou não, acabando por entrar. Removeu uma única mão do bolso e empurrou a porta entreaberta com pouca força, ouvindo seu ranger amadeirado típico de móveis antigos. Arriscou alguns passos devagares olhando para os lados com calma, sem virar o rosto e sempre mantendo seu queixo alto. —— Alguém encontra-se? Responda já! —— Indagou, sem resposta. "Misterioso", pensou, mas continuou seu percurso até uma mesa com uma lamparina acesa. "Ficarei aqui", concluiu.

Procurou primeiramente por um livro, um clássico que lhe interessava. "A arte da guerra", não convinha nomear seu autor, mas se tratava de alguém muito conhecido. Era um livro sobre estratégias militares contadas através de histórias factuais — ou inspiradas em histórias verídicas — que Avalon adiava a leitura havia meses. Sentou-se com o livro em sua mão, removeu uma kunai de sua bolsa e colocou-a no meio das pernas. No pior dos casos, usaria-a para cessar agressão atual ou eminente.

Assoprou a capa do livro, esfregou-a um pouco com a mão e abriu-o, iniciando assim sua leitura de fato. Os minutos voavam enquanto Avalon deleitava-se com histórias e exemplos práticos de estratégias muito comuns e facilmente aplicáveis no cotidiano.

Cercos, isolar o inimigo em um acampamento e impedir a chegada de recursos; guerras relâmpago — sua preferida — que consistia em atacar um assentamento e deixá-lo rapidamente antes da chance do contra-ataque para enfraquecer e minar as forças do inimigo; outras estratégias menos conhecidas.

Avalon se interessava principalmente por ataques estratégicos, rápidos, bem direcionados à pontos de fraqueza do inimigo. Era a estratégia mais lógica contra um inimigo mais poderoso ou que possuísse mais recursos militares como tropas, armamento superior, poderes que decidem uma guerra rapidamente, etc. Não dar chance de contra-ataque é negar o direito de reação e frustrar assim as tropas inimigas, baixando sua moral e dando a impressão de que estão vulneráveis a todo momento. Um ataque físico e psicológico simultaneamente, concretando uma ofensiva perfeita.

—— Por essa noite estou satisfeito. —— Fechou o livro, olhou para os lados com a sensação de que estava sendo observado, mas suspirou ao imaginar que seria coisa da sua cabeça. Levantou-se com o livro na mão direita e a faca na mão esquerda, ambos nos bolsos do casaco, e saiu lentamente da biblioteca. Ao chegar a porta ouviu, quase como um sussurro: "boa noite..." O rapaz arregalou os olhos por um momento, mas seguiu seus passos sem olhar para trás.

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