Como um cometa que deixa sua marca por onde passa, Opus deixava um rastro de destruição ao atravessar sequencialmente as paredes de várias casas. Shion o havia chutado com uma força descomunal, potencializando seu golpe com Chakra e Dharma, tornando-o mais violento e poderoso do que qualquer ser deste mundo poderia suportar. No entanto, após ser arremessado para quilômetros de distância dos demais conflitos e acabar tombando em diversos edifícios, Opus apenas se levantou, tirou a poeira de sua armadura e se impulsionou mais uma vez contra o Hattori. Uma aura de raios negros e amarelos cobriam todo o corpo do Hikari, em seus olhos não se via íris ou esclera, apenas um dourado profundo. Inclusive, mesmo o olho direito de Opus, o qual Shaka tinha perfurado, havia sido restaurado, mas deixou uma notória cicatriz no local. Potencializado por suas manifestações elementais, o Paladino Sombrio voou contra Shion numa velocidade surpreendente e com um movimento brutal e preciso, Opus, de posse da Matadora de Deuses, desferiu um corte diagonal contra o Hattori. Com uma reação tão rápida quanto apenas alguém que possui os lendários Olhos Escarlates poderia conseguir, Shion levou sua destra à uma das barbatanas de dragão que trazia consigo e desembainhou três das cinco espadas restantes que Date Masamune lhe havia conferido. Dispondo-as horizontalmente, o Hattori foi capaz de frear o ataque mortal de Opus.
— Você era meu amigo... VOCÊ ERA MEU IRMÃO!! — gritou Shion.
— E você matou meu pai! — respondeu o Hikari, expressando em sua face nada mais que desprezo.
O choque das espadas fez com que uma poderosa onda sonora se propagasse por quilômetros, destruindo o que ainda restava de pé em Iwagakure — se é que restava algo — e afastando todos os destroços, ocasionalmente criando uma espécie de arena circular para aquele embate épico. Embora poderosas, as icônicas espadas de Masamune Date não se comparavam à lendária Matadora de Deuses. Com o impacto das lâminas, além do afastamento súbito entre Shion e Opus, uma das cinco espadas se estilhaçou, restando apenas quatro.
— O que foi? Eu quebrei seu brinquedinho? — disse o Paladino, de forma provocativa. Até mesmo Shion teria problemas para lidar com uma arma como a Matadora de Deuses, um artefato lendário forjado pela união de Hattoris e Hikaris, mas que agora servia de estandarte para a guerra entre as duas famílias. Isto porque dentre aqueles que forjaram a arma, apenas os Hattoris eram capazes de empunhá-la, mediante um sacrifício em forma de juramento. Opus, no entanto, a empunhava através do braço que cruelmente havia arrancado de Hope. Ver aquilo fazia a fúria de Shion ascender de uma forma imensurável.
Os Hattoris eram conhecidos por sua confiança e fidelidade perene, embora muitas vezes para com o lado errado. Foi ciente disto que Azshara Grey por muito tempo usou Shion como seu arauto, aproveitando-se do que na época não passava de um garoto para fazer seu trabalho vil. Para os membros deste clã, laços de amizade devem ser duradouros, senão eternos. Entretanto... se para os Hattoris os laços de amizade são importantíssimos, os laços familiares são ainda mais! Quando por meio das tramoias de Lilith, Opus descobriu que Shion foi o executor de seu pai, Hikari Van Hohenheim, e desejou matá-lo, Shion não revidou. Talvez o Hattori pensasse que morrer pelas mãos do seu melhor amigo fosse um fim digno, uma forma justa de expurgar todos os seus pecados, e por isso não reagiu. Porém, quando Opus derramou o sangue de Katsura, o Lobo Hattori não mediu esforços para derrotar seu amigo. Ainda assim, por conta de todo afeto que nutria pelo paladino, Shion decidiu deixá-lo vivo, no entanto, quando o Hikari agiu de forma dissimulada, atraindo Hope para sua armadilha, arrancando o braço de sua sobrinha a sangue frio e consequentemente, matando-a, uma antiga Maldição de seu clã, há muito superada, despertou em Shion e todo o amor que ele sentia por seu amigo se transformou em Ódio. Ao olhar para Opus, Shion não via mais seu velho amigo, aquele com quem compartilhou dores e alegrias, aquele com o qual sempre rivalizava, aquele que lutou ao seu lado na Batalha dos Três Santos, aquele que para Shion era como um irmão de sangue. Ao invés disso, quando olhava para o Paladino, ou ainda, quando olhava para aquele braço que não o pertencia, tudo que Shion sentia era fúria e repugnância! Tomado pela mais pura cólera, o Lobo Gélido gritou:
— Opus, seu desgraçado! Pela memória de Hope, eu irei lhe matar com as mais poderosas técnicas Hattori!!Sem executar selo algum, Shion fincou uma das espadas no chão e conduziu o seu chakra através dela.
— Hattori-ryū: Hyōgaki! — num piscar de olhos, todo o campo de batalha foi tomado por gelo. Em seguida, Shion ergueu sua mão e a apontou para Opus. O gelo reagiu ao comando do Hattori como se tivesse consciência própria e uma trilha de enormes espinhos de frígidos surgiu e fez seu caminho rumo ao Hikari. Opus tentou se evadir para o lado, mas logo notou que não conseguiria sair do lugar. Ao olhar para baixo, percebeu que o gelo que havia tomado o ambiente congelara também seus pés, e agora subia por suas pernas e torso na forma de correntes álgidas, enraizando-o onde estava. Não demorou muito para que todo o corpo de Opus fosse coberto por uma espessa camada de gelo, imobilizando-o bem na direção de onde o ataque de Shion o acertaria.
Quando os espinhos de gelo estavam prestes a atingi-lo, Opus esboçou um pequeno sorriso cínico no canto da boca e fez seu chakra Hikariton resplandecer intensamente, ofuscando todos os olhares. A explosão luminosa derreteu o gelo que o circundava e estilhaçou o ataque que lhe havia sido direcionado.
— Vamos lá, Picolé! Eu sei que você pode fazer melhor que isso! — disse o Hikari, provocativamente.
— Eu estou só começando... — respondeu Shion.
Usando dharma para impulsionar-se no ar, Shion partiu em disparada contra Opus, empunhando três espadas simultaneamente. Opus respondeu à altura e também usou dharma para ir de encontro ao seu adversário, levando aquele combate para os céus. Os movimentos de ambos os guerreiros eram ágeis e brutais, difíceis de serem acompanhados mesmo pelos olhos mais atentos. Cada golpe desferido tinha um efeito colateral e remodelava o ambiente circundante. A priori, a batalha parecia manter-se em pé de igualdade, nenhum dos dois se livrava de receber alguns golpes e danos, mas não demorou muito para Shion conseguir abrir vantagem, por conta do seu Sharingan. Ao imbuir chakra da Liberação de Relâmpago nas famosas espadas de Date Masamune, Shion foi capaz de cortar até mesmo a armadura de Opus, partindo-a em dois. Em seguida, utilizou seus olhos escarlates para induzir seu adversário em um genjutsu e conseguir uma abertura para um segundo e mortal ataque.
A estratégia de Shion parecia ter funcionado, Opus ficou paralisado por um instante. Porém, quando Shion estava prestes a impiedosamente cortar o torso do seu antigo amigo em dois, o Leão Hikari simplesmente parou o ataque com uma mão. Rindo de forma arrogante, o Paladino falou:
— Eu já estou calejado desses seus joguinhos mentais e truques baratos, isso não irá mais funcionar em mim!Opus ainda freava o ataque de Shion com sua mão, então o Hattori intensificou o chakra Raiton que revestia as espadas, eletrocutando o corpo do Hikari. As lendárias espadas do samurai do País do Ferro possuíam uma enorme aptidão com o elemento raio, quando essa liberação da natureza era utilizada através destas armas, seu poder se intensificava incontáveis vezes. Uma descarga elétrica conduzida por aquelas espadas poderia matar qualquer pessoa em segundos. No entanto... mesmo com aquela quantidade mortal de chakra eletrificante sendo conduzido por seu corpo, Opus não esboçou sentir sequer um pingo de dor. As espadas de Date Masamune eram sim poderosas com raiton, mas Opus era mestre neste elemento.
Com as mãos limpas e usando apenas sua força, Opus partiu aquela espada ao meio e retribuiu o chute que Shion lhe dera, lançando-o para quilômetros dali. O Hattori caiu como um meteoro no centro do acampamento onde se aglomeravam os membros da Aliança em seu descanso, criando uma enorme cratera. O Paladino surgiu acima de todos, com o chakra de raios azuis induzidos por Shion ainda correndo por seu corpo. Ele então ergueu seu braço — o mesmo que fora tomado de Hope — ao alto e liberou toda aquela descarga nas nuvens acima. No mesmo instante, uma tempestade de relâmpagos soturnos e dourados se formou, e conforme o braço de Opus descia, em um movimento de guilhotina, um enorme dragão de raios, cuja cor permeava entre o negro e amarelo, emergiu de dentro das nuvens e despencou sobre o Hattori.
Um ataque daquela escala e magnitude poderia ser letal até mesmo para Shion e ele sabia bem disso. Saindo da cratera e erguendo seus braços aos céus, o Hattori fez surgir acima de si um enorme círculo roxo, que resistiu àquele ataque massivo sem grandes dificuldades. Opus ficou pasmo por alguns segundos, pois nunca tinha visto Shion usar aquele jutsu antes.
— Surpreso?! — gritou o Hattori.
— Este jutsu eu aprendi com Hope, aquela cuja confiança você usou como se fosse nada! — Opus apenas olhava de cima para Shion, com um ar prepotente. Aquelas palavras não tinham significado algum para ele. Furioso com o desprezo que o Paladino demonstrava pela vida que havia ceifado de Hope, o Lobo Gelado decidiu romper todas as amarras que o continha e atacou com força total.
A coloração negra dos orbes do Hattori logo tornou-se amarela e uma pigmentação alaranjada surgiu no entorno de seus olhos. Unificando chakra convencional, dharma e chakra natural em um único jutsu, Shion manifestou a essência do poder Hattori no ambiente. O seu corpo tremulava com o tamanho poder fluindo por suas veias e sua respiração estava gélida. O ar em toda Iwagakure — e até mesmo fora dela — tornou-se frio e pesado, nuvens de tormenta se formaram mais uma vez no céu, porém desta vez era neve que precipitava delas. Do corpo do Hattori, uma aura branca como gelo emanava e da própria umidade do ar, pequenos flocos de neve se moldavam e se unificavam até dar forma a algo maior, muito maior. Um enorme avalanche de gelo, capaz de ser visto e sentido mesmo a quilômetros de Iwagakure ascendeu e despencou contra Opus.
— Estilo Hattori... ZERO ABSOLUTO!! — o Hikari desferia diversos ataques contra aquela montanha glacial, tentando desintegrá-la, mas não bastasse seu enorme tamanho, à medida que o gelo era quebrado, novas formações cristalinas surgiam. Mesmo Opus, que havia lutado ao lado de Shion por décadas, se espantou com tamanha demonstração de poder, Shion pretendia encerrar a batalha naquele instante!
O Hattori havia atacado com o seu melhor, então o Hikari, que sempre disputou força com seu antigo amigo, decidiu fazer o mesmo. Já com seus pés em solo e com a Matadora de Deuses disposta verticalmente à sua frente, Opus fechou seus olhos e recitou algumas palavras. Uma luz negra e corrompida resplandeceu de seu corpo e se concentrou na arma, Opus então a lançou ao alto e bateu com suas duas mãos ao chão. Shion conhecia muito bem aquela técnica, ele já havia visto o Paladino usá-la através de seu Martelo. Uma técnica Hikari que gera uma explosão monstruosa, capaz de desintegrar tudo que a luz toca; a mesma técnica que Opus havia usado para destruir Iwagakure meses atrás, durante seu último confronto com o Hattori. Agora, porém, ele a replicava com a Matadora de Deuses.
— SUPERNOVA TITÂNICA! — gritou o Hikari.
Shion não estava poupando esforços para derrotar seu antigo amigo — e agora inimigo mortal —, mas conhecendo a magnitude daquele ataque, o Lobo Hattori tinha ciência de que as consequências seriam catastróficas. O choque entre aquelas duas técnicas de nível divino seria suficiente para matar qualquer ser deste mundo, nem mesmo suas melhores defesas combinadas seriam páreo. Sem pensar duas vezes, Shion projetou mais uma das técnicas de Hope contra o grupo de shinobis, uma ainda mais poderosa desta vez.
— Hattori-ryū: Hokkyokuken! — múltiplos círculos roxos surgiram no céu e criaram uma espessa redoma de gelo transparente, composta de diversas camadas, e que enclausurou todo o acampamento. A colisão entre jutsu do Hattori e Hikari gerou uma explosão ensurdecedora e de estragos imensuráveis, a barreira criada por Shion rachou e as camadas foram se estilhaçando, restando apenas uma. Aqueles ninjas se livraram por pouco, muito pouco. Quanto ao Leão Hikari e o Lobo Hattori, mesmo estando aos trapos e com seus corpos repletos de ferimentos, ambos permaneciam de pé. O nível de poder daqueles dois era irreal e absurdo, Shion e Opus eram verdadeiros monstros! Mas mesmo eles eram falhos e mortais...
Usar técnicas tão poderosas havia um preço, seus corpos já beiravam a exaustão, mas ainda assim, nenhum dos dois cessava de atacar. Cada um usava dos seus elementos de domínio, Shion lançando cristais de Hyōton e Opus atacando com lanças de Hikariton. Num destes ataque, Shion conseguiu romper a corda que prendia o Grimório e o Martelo de Opus em sua cintura. O Paladino estendeu sua mão e tentou atrair o Martelo de volta para si... ele não respondia. Opus então se aproximou e tentou erguê-lo manualmente. Nada aconteceu.
— Desista, Opus! A Luz te abandonou, você não é mais digno! — disse Shion.
— Cale a boca! A Luz está comigo! — retrucou o Hikari. Ele insistiu novamente, mas o Martelo não se movia um centímetro sequer.
— Dane-se, eu não preciso disso pra te derrotar!No fundo Opus temia que aquilo acontecesse, talvez por isso ele não tivesse usado seu Martelo durante toda a batalha, porém o Paladino se recusava a aceitar tal fato. No lugar de seu Martelo, Opus usava agora a Matadora de Deuses.
Novamente num combate de espadas, o Hattori e o Hikari usavam as forças que lhes restavam para tentar ferir um ao outro. Mais uma vez usando seu Sharingan e aproveitando que o ritmo de Opus agora estava mais lento, Shion tomou a vantagem. Com seu olho esquerdo, o Hattori conseguia analisar meticulosamente os movimentos de seus adversários e foi assim que Shion sucedeu um corte horizontal no abdômen de Opus, levantando sangue do Hikari. Em seguida, Shion congelou o sangue emergente e perfurou a barriga de Opus, fazendo o Paladino Sombrio gritar de dor. Aquilo fez a fúria de Opus inflamar ainda mais e seus olhos, que antes reluziam um profundo dourado, se tornaram em negros intensos. Tomado por uma fúria berserker, Opus começou a atacar freneticamente com a Matadora de Deuses. Shion usava as espadas que o Masamune havia lhe dado para interceptar os golpes, mas a energia demoníaca que concedida a Opus por Lilith o tornava implacável. A cada golpe impetuoso, uma das espadas de Date se quebrava... e outra... e outra. No fim, todas as seis espadas de Date Masamune foram subjugadas pela Matadora de Deuses. Desarmado, Shion não conseguiu conter o golpe seguinte de Opus, que lhe executou um corte na lateral do abdômen, seguido de um impiedoso chute no rosto que o lançou para perto de onde o Martelo havia caído.
Com aquele olhar sombrio e sádico em seu rosto e uma aura de relâmpagos negros o engolfando, Opus gargalhou.
— Olhe só pra você, que patético! Você já foi melhor, Hattori, já foi mais forte, mas agora você não é páreo para mim. Veja o poder que ganhei de Minha Rainha!— Eu tenho nojo de você, Opus! Você um dia foi um símbolo de justiça, um Cavaleiro da Luz! Mas gora você não passa de um capacho de Lilith, trocou tudo que tinha por poder e se vendeu para um demônio. A custo de quê?! Você ao menos pensou em Erik e Linda antes de fazer isso?— Cale a sua boca! Você não tem o direito de falar estes nomes! — gritou o Hikari.
— Você não passa de um hipócrita, Hattori. Você engana a si mesmo ao vestir essa máscara de moralista, fingindo ser alguém que não é! Um símbolo? Um herói? Um bom pai? Não, você não é nada disso! — Shion não conseguia falar nada, apenas ouvia, assim como todos ao redor.
— Eu conheço você melhor do que ninguém, Hattori! Eu sei quem você realmente é, sua verdadeira essência! Você é um mercenário, um assassino! Não é atoa que todos que você ama ou de quem você se aproxima acabam morrendo de forma trágica. Você é uma praga, uma maldição para aqueles que o cercam! Suas mãos estão manchadas de sangue inocente! No fim, o que fiz com Hope foi um favor!— Como ousa dizer isso, seu imundo! Ela acreditou em você, ela confiou em você! — quando Opus citou o nome de Hope, Shion encontrou forças para retrucar.
— Eu também confiei em você um dia! Assim como meu pai confiou e veja onde isto terminou! Qual a diferença?!— Sim, eu sei disso, eu sei bem... A diferença é que eu vacilei, me deixei ser manipulado. Mas você não, você fez de propósito!— MORRA, HATTORI!Opus saltou para o alto, pronto para finalizar Shion com um corte vindo de cima. Em um ato puramente instintivo, Shion buscou qualquer coisa que tivesse por perto para se defender. Sem perceber o que fazia, Shion ergueu o Martelo de Opus e o lançou contra o Paladino. A arma colidiu contra o peito do Hikari, arrancando-lhe um profundo suspiro e retornando para a mão de Shion.
Até mesmo o Hattori ficou surpreso ao perceber que estava empunhando aquela arma, porém não tanto quanto Opus, que se enfureceu produndamente. Shion seguiu atacando Opus com a própria arma do Paladino, mesclando ataques de Hyōton, Raiton e Hikariton de uma forma nunca antes vista. Mesmo com seu poder demoníaco, Opus pouco podia contra aquele combo implacável. O Leão Hikari ergueu a Matadora de Deuses ao alto para buscar mais poder de sua Luz Corrompida. Um raio negro caiu sobre a espada e se alastrou para seu corpo, Opus esperava que aquilo fosse revitalizá-lo, mas o efeito foi exatamente oposto. O braço com o qual ele segurava a arma, o mesmo braço que ele havia arrancado de Hope e transplantado, começou a se desfazer. Não demorou muito para que ele sumisse por completo e a Matadora de Deuses caísse no chão.
— Droga, o que está acontecendo? — resmungou. Ao ver aquilo, os olhos de Shion se arregalaram, talvez apenas ele fosse capaz de entender aquilo.
Quando o Hattori voltou no tempo, ele pediu para que Hope nunca viesse para esse mundo. Quando retornou e viu que ela ainda estava aqui, Shion imaginou que ela o tinha desobedecido e vindo mesmo assim. Entretanto, o que Shion não sabia era que o tecido do espaço-tempo demorava a se solidificar e nem todas as alterações na linha temporal eram refletidas de imediato. Quando o braço de Hope simplesmente desapareceu, Shion entendeu que sua filha nunca tinha vindo para este mundo, logo, todos os resquícios de sua passagem por esta terra desapareceriam. Ou seja, Hope estava viva!
A descoberta fez o coração gelado do Hattori se aquecer. Shion não tinha chegado a ver o corpo de Hope, sequer pôde velá-la, pois ficou em coma por dias. No começou ele custou a acreditar que ela tivesse morrido e desejou que ela o tivesse ouvido e nunca vindo para este mundo. Talvez fosse seu instinto paterno lhe falando. Com aquela descoberta, o semblante de Shion mudou completamente, por um momento ele pareceu esquecer de todas as intempéries que havia passado e começou a rir de alegria. Contente e mais confiante, Shion prossegui atacando com seu combo implacável de Gelo, Raios e Luz. Com um braço a menos e sem a Matadora de Deuses, Opus não conseguia reagir de maneira alguma. Shion então lançou o Martelo contra Opus, que por força do hábito tentou pará-lo com a mão, porém isto o fez ser levado junto com a arma e cair no chão. Shion então surgiu atrás de Opus e lhe imobilizou com uma chave de pescoço.
Desde o início do combate Shion estava decidido a matar Opus. Agora, porém, sabendo que Opus não a havia matado de verdade e vendo seu velho amigo num estado deplorável, os tais laços Hattori pareceram florescer novamente. Com Opus imobilizado e relutando em seus braços, Shion não pôde conter suas lágrimas de angústia. Ele achou que quando o momento da decisão chegasse, não hesitaria em matá-lo, mas agora que o tinha em suas mãos, não conseguia terminar o que havia começado.
— Eu não quero fazer isso... Opus, por favor, pare! — implorou Shion. No entanto, a escuridão já havia penetrado profundamente em Opus e se enraizado em seu coração, ele não era mais o Leão Hikari da Luz, mas um Paladino Sombrio, cego pelas trevas.
Na situação em que se encontrava, Opus sabia que não tinha mais chances contra Shion, então decidiu se aproveitar do que ele julgava ser uma fraqueza do Hattori. Embora tivesse feito todo aquele discurso sobre a "essência" de Shion e sobre seu passado, o Hikari sabia melhor que ninguém que seu velho amigo tinha mudado de verdade e sabia também como Shion se preocupava com os próximos. Em um ato de pura covardia, Opus lançou de seus olhos uma contínua rajada de Hikariton e tentou inclinar seu pescoço para o lado, mirando aqueles que assistiam ao combate. Dentre todos, um parecia ter se desgarrado do grupo em meio a toda aquela confusão. Diante da ameaça iminente, Megumi Fushiguro, o jovem Hyūga da Folha, ficou paralisado de medo e não conseguiu reagir, ele tentava se mover, correr dali, mas suas pernas não respondiam. Shion tentava a todo custo conter Opus, mas o Hikari continuava forçando sua cabeça para o lado.
— Não faz isso! — implorou novamente.
— Se você ama tanto essas pessoas, então pode chorar por elas! — os raios já estavam perigosamente pertos de Megumi, mesmo que ainda não os tivessem alcançado, o jovem Hyūga já devia sentir o calor do Hikariton queimar sua pele.
— Não, para!!— NUNCA!!Com os olhos fechados e o coração despedaçado, Shion usou toda a força que lhe restava e impulsionou a cabeça do Paladino para o outro lado, quebrando o pescoço de Opus. O movimento foi tão brutal que todos ouviram nitidamente o som do estalar de ossos. Quando abriu seus olhos, Shion viu seu velho amigo jogado no chão, morto, com os olhos abertos e fitando os seus. As pernas do Hattori não puderam sustentar tamanha aflição e ele caiu sobre seus joelhos, frente ao corpo de Opus. Com suas mãos trêmulas e banhadas de sangue, Shion gritou de dor.
Ele levou suas mãos trepidantes à cabeça, pensando no que havia feito. Nesse instante, uma luz singela saiu da boca de Opus. Esta luz, porém, não era dourada e resplandecente, como próprio do Hikariton, mas negra e nefasta. A luz então foi absorvida pela Matadora de Deuses, que selou em si a essência da vida do paladino.
Era o fim de Hikari Van Opus.