saindo da loja de dango, taichi recebeu a intimação para comparecer no quartel general, entregue a ele por uma criança, não muito mais velha do que o próprio tokujō, o qual o cumprimentou com um aceno de cabeça. o shinobi do chapéu excêntrico agradeceu com uma mesura, antes de desenrolar o pergaminho para ler o conteúdo da mensagem; mas as palavras não revelavam mais do que o próprio mensageiro, e taichi logo entendeu que precisaria comparecer presencialmente para saber do que se tratava.

ele enfiou na boca todo o resto dos doces que ainda tinha, mastigando com dificuldade enquanto corria pela vila, indo em direção ao seu destino. em sua cabeça, escondido pelo adereço característico de taichi, tails reclamava do quão frio estavam aqueles últimos dias, e como seria fascinante caso taichi resolvesse passar alguns dias de férias em algum ponto do estrangeiro ensolarado. o garoto limitava-se a rir, vendo graça no mau humor do amigo, ciente que dificilmente conseguiria uma licença para sair do país da água naquele momento. mais que isso, ele estava ocupado demais se dedicando a desenvolver-se como ninja, para sequer pensar em ficar de bobeira por aí.

chegando ao grande prédio que concentrava a área administrativa do corpo militar de uzushiogakure, taichi encontrou o superior que o havia convocado em uma das pequenas salas do primeiro andar. com ele havia um segundo homem que taichi não conhecia, de aparência comum e não muito chamativa, o que sugeria que não fosse nenhuma figura famosa dentro da vila. o garoto os cumprimentou com a formalidade gravada em seu dna, e manteve-se perfeitamente ereto, as mãos para trás, enquanto esperava alguém lhe dirigir a palavra.

“taichi miura, não é?” perguntou o jōnin, enquanto comparava as informações na ficha do tokujō com o rosto redondo à sua frente. o homem estreitou os olhos, como se duvidasse de alguns dados contidos no papel, antes de suspirar e olhar diretamente para a criança. aquela era uma reação comum, taichi bem sabia, já que suas habilidades eram constantemente subestimadas devido a sua tenra idade, o que era consideravelmente irônico, considerando que o líder máximo da vida só era um ano mais velho do que ele.

“tivemos um problema com o nosso esquadrão de titereiros. um dos nossos quartéis foi atacado recentemente, e aparentemente algumas marionetes estão sendo utilizadas para causar confusão aqui perto. como você é um lutador de longa distância, acredito que conseguirá lidar com essa situação.” explicou.

o mais novo da sala balançou a cabeça afirmativamente, demonstrando que havia entendido a situação. o terceiro presente tratava-se de yamato, um dos marionetistas que havia sido resgatado do ataque, e que iria ajudá-lo a recuperar os itens supostamente roubados.

“alguma ideia de quem está por trás desses ataques?” perguntou o garoto para o seu acompanhante, os pés ligeiros correndo pela estrada que, de acordo com os relatos, levariam até o local do último incidente. mantiveram o ritmo por um bom tempo, alternando entre o solo e os galhos das árvores, e aquela era a primeira vez que taichi perguntava alguma coisa para o desconhecido.

“dois dos meus antigos companheiros sumiram durante o desastre no quartel. achávamos que eles tivessem sido assassinados, mas agora já não tenho mais tanta certeza. pelos relatos que chegaram, as marionetes que estão sendo utilizadas nos ataques são bastante específicas, difíceis de usar. não são muitos os titereiros hábeis para isso.” relatou yamato, o que fez taichi refletir sobre a arte das marionetes.

ele sempre achara a técnica muito bonita; às vezes, quando ainda morava na casa de seu pai, ele conseguia fugir das suas obrigações para ir a um show de fantoches que ocorria de vez em quando no seu bairro, e muitas vezes taichi se pegou desejando ser um boneco ao invés de um menino, achando que a vida seria mais fácil assim.

“entendo. é muito legal isso, né – manipular as coisas. você conseguiria fazer isso com uma pessoa?” perguntou, inocentemente, mantendo um interesse genuíno pela arte das marionetes. o homem ponderou um pouco antes de responder.

“sim. já ouvi dizer de gente que luta justamente assim: amarrando fios de chakra em seus colegas e fazendo deles suas próprias marionetes. nunca tentei, se quer saber, mas é uma estratégia válida, dependendo da situação.”

“é, deve ser...” comentou taichi, segundos antes de chegarem a grande área desmatada, com a vila que procuravam devidamente construída no centro da clareira. a ideia principal era conseguir novas pistas que pudessem levá-los aos seus procurados, e por isso haviam decidido que interrogariam os moradores locais antes de procurarem qualquer outra informação... mas os gritos inesperados anteciparam seus planos, e, quando procuraram a fonte do pandemônio, encontraram os seus alvos ateando fogo em civis inocentes.

“são eles.”

“vamos pegá-los então.”

“ora, ora, yamato. não esperava que logo você fosse vir.” berrou um dos bandidos, e ambos riram jocosamente, como se aquela afirmação fosse uma piada engraçadíssima, mas taichi logo percebeu que se tratava de algum escárnio, pois yamato trincou os dentes, irritado. era nítido que havia alguma relação entre aqueles três, o que parecia deixar o garoto relativamente irritado. não se sentia confortável com antigos companheiros debochando um do outro.

taichi aproveitou a oportunidade para reparar mais ou menos na técnica dos titereiros. ele conseguia acompanhar as duas marionetes do ambiente, que voavam de um lado para o outro como se tivessem vida própria, e aquilo deixou taichi relativamente preocupado. começou a calcular as suas possibilidades, levando em consideração a distância entre ele e seus alvos e a velocidade das marionetes, e chegou à conclusão que precisaria de uma distração para ser capaz de pegá-los efetivamente com seu yamiton.

“tenho uma ideia.” informou o garoto para seu colega de time, tomando o cuidado para mexer os lábios o menos possível, de forma que tornasse impossível para os seus inimigos tentarem lê-los. “aquele seu negócio de fazer as outras pessoas de marionete... vamos tentar. eles estão muito alertas para eu acertá-los com um ninjutsu padrão, então vamos precisar confundi-los. vamos fazer com que acreditem que eu sou um lutador de taijutsu, assim eles vão ficar preocupados demais com os movimentos do meu corpo, e talvez não se atentem para ofensivas de longa distância.” confidenciou o tokujo, detalhando o seu plano o máximo que conseguiu para o parceiro.

em verdade, taichi sabia que suas habilidades físicas eram bastante limitadas, e embora ele tivesse uma agilidade acima da média, a sua força, como potência, ainda deixava muito a desejar. por isso era importante que ele trabalhasse com yamato naquele momento: se este o conduzisse aquele cenário, as chances do tokujo de se esquivar e conseguir, de fato, simular-se como um usuári de taijutu aumentariam drasticamente. por sorte, o marionetista pareceu concordar com a tática, e enquanto invocava a sua própria arma para o campo de batalha – algo que, para taichi, parecia uma aranha gigante com cabeça de cavalo, ele fixou linhas de chakra discretamente pelo corpo do garoto.

sem que avisassem, a dupla de uzushio partiu para cima dos seus inimigos, incapazes de dialogar ou responder as ofensas que os outros dois soltavam pelo vento. taichi mantinha-se concentrado, conseguindo ir diretamente para cima dos seus alvos graças à sua grande mobilidade, mas sempre que se aproximava de um dos dois, alguma das marionetes inimigas o encurralava. por dois momentos diferentes, taichi pensou que seria o seu fim; mas as habilidades de titereiro de yamato eram realmente surpreendentes, e ele conseguia afastar o colega do perigo com louvor.

a sensação que taichi experimentava naquele momento era ambígua, pois, se por um lado ele conseguia mover o seu corpo de acordo com os seus instintos, por outro seus músculos eram de repente puxados contra a sua vontade sem que ele sequer notasse, e taichi sentiu como se estivesse no meio de uma dança que ele não ensaiara, mas que soubesse os passos ainda assim. ele se divertia, percebeu, mesmo quando seu corpo entrava em contato com alguma das marionetes, e taichi entendeu que a sua capacidade combativa estava evoluindo durante a batalha.

com certa satisfação, taichi percebia que seu plano estava funcionando bem. seu corpo estava se desenvolvendo e, aos poucos, ele conseguia se adaptar melhor aos movimentos das marionetes por conta própria, o que permitia a yamato se concentrar em sua própria arma para emboscar os inimigos. da mesma forma, os dois bandidos pareciam realmente concentrados em desviar dos golpes físicos do garoto, como se seus socos e chutes fossem a arma mais mortal que uma criança de 9 anos tivesse a oferecer.

não obstante, quando finalmente conseguiu uma brecha de ouro na defesa do seu alvo, conseguindo diminuir a distância entre eles para menos de 5 metros, taichi projetou a sua revoada negra contra o homem, que foi engolido pela miríade de pássaros em questão de segundos; o jutsu tori no kyoen o cortava profundamente, arrancando-lhe sangue e dignidade até fazê-lo desmaiar. o outro titereiro malfeitor olhou para cena horrorizado, gritando palavras de ordem e incredulidade por terem sido pego desprevenidos pelas habilidades do pequeno tokujo, e por isso não foi capaz de reagir quando a marionete de yamato o atingiu diretamente na cabeça, e seu corpo caiu no chão, inconsciente.

“bem, foi mais fácil do que eu imaginei.” comentou o menino, satisfeito pelo resultado. envolveu os dois bandidinhos em seu yamiton, como fizesse um cobertor negro para esquentá-los do frio, e suspendeu-os no ar, para levá-los sob custódia. no caminho de volta para uzushiogakure, não pôde deixar de agradecer a yamato pela colaboração bem-sucedida – ele havia, afinal, ajudado taichi a crescer, como ninja, um pouco mais.