Que manhã agradável era aquela. Daquelas a inspirar grandeza. O céu amanhecia límpido de nuvens, embora abaixo dele ainda houvesse algumas poucas esparsamente posicionadas. Repousou da sacada de sua casa e observou por alguns seguintes o horizonte longínquo. Apesar de relaxado no seu estilo de viver, não fazia o mesmo em relação aos seus treinamentos. Devidamente desperto, saltou da sacada rumo ao solo aterrissando com a flexão dos joelhos a fim de amortecer a queda. Caminhou por alguns instantes e as passadas se alargarem até tomarem o ritmo de uma corrida leve. Correu e deu algumas voltas por seu quintal, até totalizarem um total de alguns quilômetros percorridos. Rotineiramente, aproveitava a brisa das manhãs a encher seus pulmões de vigor enquanto praticava corridas.

Aquela rotina lhe era prazerosa, afinal a endorfina provinda dos exercícios também era uma fonte de vício. O suor empapou as roupas e logo se livrou delas, indo em direção às fontes termais não muito distante de sua residência. Controlou o chakra ao redor das pernas e manteve-se sobre a água enquanto a pequena cachoeira lhe banhava o corpo. Depois da higienização, passou trabalhar com pesos. Um método não muito ortodoxo com o propósito de ver-se aumentar a sua velocidade. E fazer aquilo por vários dias seguidos apresentou resultados definitivos. Não poderia ser diferente.



Pela manhã, corrida. À tarde, focava seus esforços no treinamento de sua desenvoltura física. Mais precisamente suas técnicas em relação ao movimento do próprio corpo; desde o equilíbrio ao alongar das articulações. Iniciava posicionando-se sobre fina estaca de madeira, mantendo-se imóvel por alguns segundos e, seguindo, atacava com golpes de seu estilo de luta, o punho suave. Os de maior simplicidade, imaginando estar atingindo a sombra de um oponente imaginário qualquer, tática essa utilizada no intuito de atingir tenketsus ainda que eles não existissem, ali, de fato. No entanto, embora um prodígio altamente habilidoso na arte do combate físico, falhava em manter-se com a compostura firme estando somente um pé em contato com a superfície. Caía repetidas vezes, uma tentativa após outra, até que chegasse à hora de jantar e desse por finalizado o dia.

Apesar de existir o senso comum da falta de esforço aos prodígios, essa não era uma total verdade à Sasaki. Pelo contrário, ele era o exemplo da união entre prodigiosidade e persistência. Permaneceu praticando, dia após dia, sob forte chuva e radiante sol, até que finalmente atingisse o nível minimamente satisfatório em que conseguia se manter totalmente ereto ao aplicar a sequência de técnicas.


A noite não lhe reservava qualquer descanso. O seu propósito maior o instigava a continuar sua rotina. Depois de esbanjar-se em jantares regados a quantidades pequenas de saquê — totalmente inapropriado a sua pouca idade —, deixou-se guiar através das cadeias montanhosas em direção aos confins do vilarejo. Num ambiente inóspito, onde apenas habitava a luz refletida através da lua, iniciou a sua musculação. Erguia pedregulhos e os carregava de uma ponta a outra, em séries intervaladas, aumentando o peso de maneira progressiva a cada repetição. Aquele era um estilo de treinamento nada ortodoxo. No entanto, sentia-se bem ao fazê-lo. Ao final de cada dia, o teste final era o de destruir o menor dos corpos rochosos com o poder dos seus punhos, sem que utilizasse para tanto qualquer tipo de chakra ou técnica. No primeiro dia, aplicou um poderoso golpe. No entanto, nenhum dano fora causado senão uma pequena rachadura.

A exemplo do que acontecera anteriormente na corrida e no treino de taijutsu, repetiu até que tivesse sucesso. E, no final daquela semana de cão, finalmente conseguira reduzir à farinha o grandioso daqueles que carregara acima das costas. Demonstrando, finalmente, o seu mais absoluto sucesso no que tangia ao acréscimo de seu poderio físico.


Fora aquela uma semana produtiva, geradora de resultados imprescindíveis ao alcançar de sua meta final: se tornar um grande mestre da espada. Acordara inspirado, porém ainda mantendo a calmaria. Moveu-se vagarosamente, sentiu a brisa transcorrer-lhe os cabelos da janela de seu quarto e desceu, finalmente, à cozinha. Encontrou-se com Takuan, seu tutor, ainda a lavar a louça do jantar do dia anterior.
— Oh! — bocejou. — Bom dia, Takuan-san. — desejou ao descer das escadas, sorrindo.
— Bom dia, garoto! — o monge respondeu com o mesmo sorriso. — O que pretende para hoje? — questionou curioso, deixando escapar a vontade de passarem o dia juntos.
Há muito que a rotina de ninja roubara a presença do rapaz. Ou talvez fosse apenas a natureza vadia a impedi-lo de permanecer quieto em casa.  
— Hoje... Hein... — divagou, sentando-se à mesa de jantar próximo à pia. Colocou os pés sobre a mesa e viu o rosto indelicado do homem que o fez retirá-los. — Acho que vou só ficar de bobeira, vendo o tempo passar...
— E por que não joga um pouco de xadrez comigo? — propôs.
Takuan era um homem tão e largo quanto uma porta. Como todo monge sério, sempre estava com a careca raspada. O rosto era repleto de sulcos profundos, tão carnudos quanto nodos de uma árvore velha. O garoto sorriu e assentiu à proposta com um balançar de cabeça. "E por que não aceitar?" pensara.

Dos afazeres domésticos, partiram à área externa. Sentaram-se um de frente ao outro com o tabuleiro de xadrez entre eles. Iniciaram a partida e, embora conhecesse o jogo e fosse minimamente inteligente, fora totalmente incapaz de superar o senhorio. As estratégias do monge estavam além das expectativas.
— Maldição! — praguejou Sasaki ao ser totalmente derrotado. — Não sabia que era tão bom nesse jogo, velho. — reclamou irritado.
— Há muito que não sabe, Sasaki. Essa é somente uma gota no oceano de sua ignorância. — brincou. — Venha, tente outra vez... — convidou.

E assim, criara-se uma nova rotina. A do estudo estratégico. E, sem que se notasse, Sasaki crescia...  

Sasaki; 225/225 225/225 00/04

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