taichi tentava manter a compostura enquanto caminhava pacientemente até o ponto de encontro marcado. sua presença havia sido requisitada pelo mizukage em pessoa, o que poderia ser considerado uma grande honra para alguns, mas, para ele, nada mais era do que um convite para uma possível censura. o garoto havia abandonado o exame chūnin sem qualquer motivo aparente, tentou fugir do coliseu e possivelmente envergonhou toda a sua nação como inferência de seu egoísmo. e tudo isso para quê? o que ele havia de fato conquistado com a sua pequena aventura?

ele bateu três vezes contra a porta do gabinete, sustentando a contagem de suas inspirações como um meio de conter a ansiedade. colocou um sorriso singelo no rosto quando o espaço lhe surgiu à frente, mantendo os dentes bem escondidos atrás dos lábios para não desatar a rir, tamanho nervosismo, e caminhou para dentro. que surpresa foi, no entanto, ser recebido pela euforia do outro pequeno, e taichi não pôde conter um olhar assustado quando o outro estendeu cordialmente a mão em sua direção, muito simpático. retribuiu o gesto, apertando-a com a sua, e mordeu a língua antes de começar a falar, enquanto se deixava ser conduzido pelo mais velho para outro lugar.

“bem...” começou, esforçando-se para driblar a insegurança que lhe acometia frente a um assunto tão delicado. taichi não tinha com quem conversar a respeito dos seus problemas, mas certamente sabia que o mizukage não era a melhor opção para aquilo; cheio de obrigações e deveres, taichi entendia que o passado de um mero genin não seria relevante para alguém tão importante quanto senko, e que a sua pergunta não era mais do que fruto de uma boa educação. por isso, ele ponderou bem antes de soltar: “poderia ter sido melhor, mas finalmente tenho uma pista para seguir. obrigado pela oportunidade, senhor. foi muita generosidade sua.” comentou, sintetizando o assunto.

já no amplo terraço, taichi não conseguiu disfarçar a admiração que sentiu ao vislumbrar a paisagem deslumbrante de sua terra natal. sentiu vontade de subir nas grades de proteção que circundavam o ambiente, louco para ver as pessoas como formiguinhas andando apressadas pelas vielas da vila, mas conteve o impulso de correr para a borda do local. taichi se voltou para senko quando ele lhe dirigiu a palavra novamente, e arqueou uma das sobrancelhas, tentando evitar fazer uma careta.

“acho que para me dar um esporro, né?” arriscou, tímido. taichi antecipava mentalmente aquela bronca desde que deixara a vila da nuvem, mas era verdade que ele não esperava que ela fosse vir logo no dia seguinte.

por mais que tentasse esconder, taichi não conseguiria disfarçar os sinais de confusão denunciados em seu semblante. os cenhos franzidos e os lábios apertados eram sinônimo de surpresa como inferência da quebra de expectativa que ele construiu até aquele momento. em sua cabeça, senko teria todos os motivos do mundo para empalá-lo vivo e colocar a sua cabeça no meio da praça de uzushiokagure como forma de exemplificar a sua força disciplinar, mas lá estava ele tecendo possibilidades de uma nova chance de transformar taichi em um chūnin.

o mais baixo piscou duas vezes, tentando assimilar a situação. ainda não havia processado bem as palavras de conforto ditas anteriormente pelo mizukage, tentando decidir se o tom de sua voz, cheio de equidade e intimidade, era real ou coisa da sua cabeça, e por isso não conteve o espanto que tomou conta de seu rosto quando a proposta lhe foi feita. ele abriu a boca para argumentar, embora não soubesse o que de fato deveria falar, mas, antes que o fizesse, ele se viu encarando olhos tão vermelhos quanto sangue, e, de repente, o mundo antigo se dissipou, dando lugar a uma nova realidade na qual taichi sairia glorioso do evento abandonado, cercado por colegas. cercado por amigos.

seu coração apertou quando a ilusão foi desfeita, e seus olhos demoraram a focalizar o outro garoto novamente. engoliu em seco, cheio de dúvidas, sem ter certeza do que essencialmente significava tudo aquilo. mas não havia motivos para desconfiar do mizukage. mais que isso, taichi sentia a sinceridade impregnada nas palavras e no olhar de seu superior, e, por um momento – por um único momento – ele não se sentiu completamente só. reuniu toda a coragem que conseguiu, antes de falar:

“o que eu preciso fazer?”

as peripécias da vida são mesmo imprevisíveis, e taichi não imaginou que iria ser pego por uma delas naquela situação. a sua ansiedade o fizera conjecturar os piores cenários possíveis para a reunião que ele teria com o mizukage, mas agora tudo não parecia ser mais do que uma grande bobagem da sua cabeça frente à proposta real da figura à sua frente.

o pequeno genin olhou para o céu, reflexivo. quando foi a última vez que alguém verdadeiramente acreditou em seu valor? tendo crescido num ambiente opressivo com um pai abusivo, para logo em seguida ser jogado no meio militar com tão pouca idade, era natural para taichi ser desprezado ou se sentir inferior às outras pessoas, como se a sua própria existência precisasse ser aprovada consecutiva vezes por gente mais velha que não o via mais do que como uma arma.

mas ali estava senko, tratando-o como um igual, enxergando o garoto por detrás da máscara de shinobi, e taichi não conseguiu esconder a própria felicidade. ele sorriu para a sombra da água, nos olhos uma convicção poucas vezes antes demonstrada para terceiros, e fez uma mesura respeitosa, inclinando-se levemente para frente em direção a senko.

“não vou te decepcionar,” proferiu, simplesmente, carregando a sua fala com uma intensa determinação. sempre de poucas palavras, ele não via necessidade em elaborar um discurso para demonstrar a gratidão que sentia pela oportunidade ofertada, pois, para além da óbvia possibilidade de ser promovido, aquela situação era reflexo da confiança depositada sobre ele pelo mizukage, alguém que ele não apenas aprendera a admirar e a respeitar desde o exame chūnin, mas que também se expressava perante a ele como um verdadeiro... amigo.

“tô curioso para saber o que é esse negócio que eu vou aprender. mas eu não vou ficar com o olho vermelho também não, né?” gracejou, soltando um riso com uma naturalidade incomum.