taichi não se lembrava da última vez que havia pisado no campo de treinamento, mas chutava que deveria ter sido mais ou menos na mesma época em que descobrira a sua aptidão inata para manipular a escuridão. desde então, águas cada vez mais fortes passaram pela ponte da sua vida, e o garoto sentia que ele já não poderia ser considerado mais a mesma pessoa que estivera naquele lugar há tanto tempo.

de fato, ele havia crescido, evoluído, se tornado mais forte. passara por demasiadas provações escondidas em missões, em campeonatos, em suas próprias decisões; até mesmo o seu passado se fazia mais consistente e mais real a cada novo passo que ele dava em seu caminho shinobi, e por isso taichi sentia que as suas chances de encontrar a sua mãe estavam cada vez mais próximas de se tornarem possíveis.

mas para isso, ele precisava se tornar mais forte. seu poder já era reconhecível, ele bem sabia disso, principalmente tratando-se do seu domínio sobre o yamiton, e suas habilidades de combate já não eram mais tão vergonhosas como as de antigamente; mas seu corpo ainda clamava por melhora, exigindo que dedicasse tempo e respeito a ele tanto quanto dedicava ao seu controle sobre o seu chakra.

em verdade, taichi descobrira que seu estilo estava se tornando cada vez mais previsível à medida que seu poderio se concentrava sempre no mesmo viés. ele sempre procurava manter o máximo de distância do seu inimigo, buscando formas de finalizá-lo o mais rapidamente possível, mantendo-se longe sempre, a fim de evitar qualquer tipo de dano físico. era aquele um estilo padrão de se lutar, mas a falta de repertório e versatilidade no combate o incomodava, pois ele sabia exatamente que isso nada era do que o reflexo de uma deficiência: a incapacidade de se recuperar rapidamente.

ao longo de suas vivências, taichi notou que seus ferimentos se curavam de forma assustadoramente lenta. levou um tempo para se conscientizar, mas finalmente se deu conta quando criou coragem para delimitar comparações; ao lado de outros ninjas, suas habilidades regenerativas pareciam muito mais com uma piada de mau gosto. era difícil para ele continuar a lutar quando se machucava, por isso era tão inconveniente manter batalhas muito longas que exigissem demais de seu condicionamento.

por sorte, ele esbarrara em um livro sobre anatomia na biblioteca, quando estudava os preceitos iniciais dos comedores de chakra, e nele encontrou o que ele julgava ser a resposta para os seus problemas atuais: a capacidade de regeneração corporal. tratava-se, basicamente, de um estudo relativamente aprofundado com a explicação do funcionamento do organismo e da sua reabilitação natural, contendo até mesmo instruções práticas para quem desejasse depender menos de medicamentos e hospitais para restabelecer a própria saúde.

graças a isso, taichi detinha agora um ponto de partida capaz de engatilhar um novo crescimento, e ele se agarraria a essa oportunidade com a mesma diligência dedicada à manipulação do yamiton. ele martelava consecutivas vezes todos os ensinamentos que lera enquanto se alongava, esticando os braços para o alto, levando as mãos para tocarem o chão, dobrando a coluna numa ponte a fim de destravar as articulações, criando espaço entre suas juntas. seus olhos observavam o campo de treinamento despreocupadamente, e quem os observava de volta veria duas bolotas negras que muito se assemelhavam a ébano, de tão brilhantes que estavam. mas taichi estava sozinho naquele momento, razão que justificava o seu contentamento, e por isso ele não conseguia sentir nada além de gratidão pela solitude.

voltando o corpo para a postura original, a coluna perfeitamente reta, seguindo o desenho natural de sua anatomia, ele jogou o tronco para frente, deixando que a gravidade agisse sobre si, e tocou o chão com as palmas da mão, os cotovelos dobrados como meio de absorver o impacto da energia cinética. em seguida, ele empurrou o solo com força, desprendendo sua força contra a terra, pernas perfeitamente esticadas, e iniciou uma sequência de flexões a fim de incitar o trabalho em seus peitos e tríceps. uma repetição. duas. três. quatro. cinco. taichi planejava levar seus músculos ao limite, até que os deuses se tangibilizassem à sua frente para levá-lo para o além.

quando finalmente foi atingido pela queimação contínua, ele entendeu que o momento de avançar para a próxima série havia chegado. ele concentrou chakra em suas mãos, e delas uma nuvem negra se fez matéria, flutuando para cima de sua cabeça até se solidificar na forma de uma barra fina. agarrou-a em seguida, sentindo agora a tensão percorrer seus bíceps, e os forçou com rigidez, obrigando seus braços a elevarem todo o peso de seu corpo até acima do yamiton num movimento repetitivo de sobe e desce, contraindo as escápulas a cada subida. repetiu até não aguentar mais, e só quando sentiu que seus braços se descolariam do corpo que ele se permitiu uma pausa.

ofegante, ele entendeu que já estava na hora de seguir para a segunda parte do treinamento. de pernas cruzadas, ele se sentou e juntou os dedos das mãos sobre o colo sob a forma do mudra cósmico, e concentrou-se para desacelerar a respiração. seus músculos estavam exaustivamente desgastados, e agora ele precisava forçar a restauração das fibras musculares e a revitalização dos tecidos a fim de acelerar a regeneração de seu corpo. focou-se completamente em seu organismo, imaginando a circulação de seu sangue pelas veias, as células se reagrupando, seu corpo se restabelecendo. a mente é poderosa, dizia os ensinamentos de siddharta, e taichi confiava na aliança harmoniosa entre físico e psique. pouco tempo depois, sentiu-se revigorado. estava pronto para repetir o processo.

se preparou para uma série infinita de agachamentos.