eu sei que a vida é breve e não tarda a passar

deixo cair de leve, que é pra não quebrar o silêncio

pisando bem devagar; cuida pra não apagar

o caminho que eu fiz

na areia:

no campo de treino, taichi alongava seu corpo com calma. braços, pernas, nuca, coluna, quadril... queria se assegurar que nenhuma lesão inferiria do que ocorreria ali a seguir. ele controlou a respiração, contando a entrada e a saída do ar dos pulmões para garantir a melhor distribuição possível do oxigênio nos músculos e a serenidade na alma. estalou os dedos das mãos, apertando-os uns contra os outros, e fitou os pertencentes jogado debaixo de uma árvore. entre eles, a capanga com toda a sua areia de ferro, sua principal arma no campo de batalha. justamente por isso, deixara-a de lado naquele dia, decidido a não fazer de sua kekkei genkai uma muleta.

taichi reconhecia o quanto dependia do jiton, e não via problema algum em reconhecer nisso uma falha. a sua última missão foi bem-sucedida graças a ele, mas sabia que não poderia contar exclusivamente com a areia de ferro para sempre – hora ou outra ele encontraria um inimigo formidável que exigiria dele um arsenal mais versátil. não foi por outro motivo que ele resolveu desenvolver as suas habilidades, expandir o leque de oportunidades para se fazer capaz quando o momento chegasse, e por isso mesmo decidiu começar a evoluir no mesmo dia da emboscada que armara para os nukenins; a princípio, com o chunin camarada que aceitou ajuda-lo, e agora, sozinho, disposto a turbinar o seu condicionamento físico.

com os ensinamentos do colega shinobi ainda frescos em sua cabeça, taichi encarou o saco de terra preso ao tronco de madeira. inspecionou-o por um momento, deslizando os dedos, conferindo as cordas, certificando-se de que estava bem amarrado, e se afastou. respirou fundo, de olhos fechados para reunir concentração, e iniciou uma sequência de chutes altos contra o alvo inanimado. golpeava cada vez mais fortemente, insistindo em movimentos repetitivos para ganhar resiliência e tolerância a dor. ora fazia dos pés a sua arma, ora as canelas, ora os joelhos... taichi fingia não sentir suas fibras musculares romperem a cada novo contato que seu corpo fazia.

decidido a não parar antes do último pedido de socorro do seu organismo, ele insistiu em tentar uma série de chutes virado de ponta cabeça. com as mãos no chão, sentiu os músculos dos seus braços tensionarem à medida que a resistência lhe eram cobradas, e a sensação lhe causou uma onda gostosa de dopamina. para além do limite, até que não lhe restasse suor ou lágrimas para derramar, ele voltou a chutar.  

taichi não percebeu a despedida do sol. quando deu por si, já estava na companhia das estrelas e da lua. ele olhou para cima, encarando o astro que era seu melhor amigo, e retirou a venda dos olhos. agora livre do bloqueio, ele pode contemplar a dimensão do seu treino, refletido não apenas no saco desgastado, mas também na vermelhidão das feridas provocadas em suas pernas. bom trabalho, diria a si mesmo se tivesse forças; em vez disso, sentiu seus músculos cederem e seu corpo bater contra o chão.

a grama lhe parecia um bom lugar para dormir.