[treino] ao relento,

Um filete de suor escorreu pelo meu rosto, brilhante à luz do luar. Ali estava eu, correndo incansável por entre as poucas árvores dos arredores da montanhosa Kumogakure. O cenário outrora colorido pelas nuances do verde das folhas agora era, de fato, completamente amarronzado e seco como as inúmeras pedras, exatamente como os outonos devem ser. Entretanto, apesar do cenário, eu realmente conseguia me sentir bastante confortável ali. Afinal, quem reclama da estação do ano não passa de maricas. Se eu quero ser realmente forte, preciso estar preparado para percorrer um caminho que vai requerer esforço - por mais que eu faça reclamando.

Próximo das nuvens nessa noite fria, com a respiração ofegante e o incomum moletom suado sobre o corpo por causa daquela corrida, eu só pensava em me tornar mais apto como ninja, afinal essa profissão não aceita menos que dedicação, empenho e duros treinos. Tudo que não seja isso significa a morte, embora as missões recentes não exigissem tantos esforços assim. Este que também é um dos motivos de eu não ter conseguido ficar deitado hoje: Precisava me tornar mais forte para fazer missões mais difíceis do que fazer entregas de um prédio para o outro ou recolher amostras de animais - apesar de ter sido bem complicado pegá-las daquele urso mutante, parando pra pensar.

O fato é que ao usar técnicas mais complexas, tenho ficado exausto. Sendo assim, para aguentar o fôlego que era requerido para utilizar habilidades mais desenvolvidas durante uma maior parte de tempo, reparei que era de extrema importância que aumentasse sua estamina. Minha força corporal e espiritual. Graças a isso, obviamente, eu não poderia parar de correr, ainda que me sentisse sem forças ou que minhas pernas queimassem. Eu só pararia aquela corrida quando terminasse as duzentas voltas. Duas horas depois, eu ainda não havia parado e finalmente atingi a marca.

Quando minha corrida chegou ao fim, sabia que se parasse não demoraria a sentir as cãimbras e não conseguiria dar sequência ao treinamento. Semicerrei os olhos e me concentrei em sentir o Chakra fluir por dentro dos pontos vitais e tenketsus do meu corpo. Minha veia era sangue quente. Tudo em mim precisava trabalhar em harmonia para manter aquele ritmo, afinal não é possível aumentar a durabilidade, vitalidade e chakra antes sem passar por processos árduos de treinamento.

Dessa forma, visando dificultar ainda mais minha noite, parei próximo a algumas árvores e comecei a chutá-las, não como um medidor de força, tampouco para quebrá-las, mas para que os movimentos me cansassem. Executei selos com a mão esquerda e manipulei meu chakra elemental, utilizando-me da grande capacidade de controle que exercia sobre ele. Acessei minhas perícias e aptidões elementais, conectando-me também com o solo - doton - que era a base do elemento cristal. Senti a natureza fluindo pelo meu corpo. Afinal, o que havia na natureza que não existia dentro de mim? Esses eram os pensamentos que passavam pela minha mente chute após chute.

Até onde aguentaria? Minhas canelas sangravam graças às pancadas na casca da árvore, que também demonstrava sinais de impacto. Saltei durante, no mínimo, mais duas horas. Quando senti que não conseguiria mais, daí então coloquei-me a correr novamente, ainda que cada músculo de minhas pernas queimasse e todas as células do meu corpo pedissem para que eu parasse. Pois não pararia. Não poderia parar. Precisava me tornar mais forte, tão forte que ninguém poderá me dizer o que fazer. Vai saber se 10 passos dados a mais num treino fosse o suficiente para que eu adquirisse um segundo a mais de resistência e talvez isso me mantenha vivo um dia após um embate contra algum inimigo. Se eu decidi seguir o caminho de um ninja, então precisava ser o melhor.

Apertei ainda mais o passo, transformando o trote em um disparo que deixou o meu coração quase a sair pela boca. Joguei o corpo para frente, projetando a cabeça e ombro para que fornecessem peso ao meu eixo de gravidade. O corpo formigava e eu cheguei a pensar que aquele era um bom sinal. Afinal, se eu não sinto minhas pernas, isso quer dizer que elas não vão doer, logo não me incomodariam mais. O problema foi que em dado momento elas falharam e então despenquei no chão de terra e poeira, totalmente sem apoio. Não era tão ruim quanto havia pensado, mas sentia uma dor aguda em meu queixo. Rolei e coloquei a barriga para cima, antes de falhar ao tentar colocar-me de pé.

- Merda. Minhas pernas não respondem mais - Estava realmente cansado. Isso significava que meu treinamento precisaria de no mínimo uma pausa, ou enfim acabar ali, apesar de eu não ter me dado por vencido.

Entre pensamentos e devaneios, um sorriso involuntário de "dever cumprido" brotou em meu rosto. Apesar de ter chegado até o limite e pagar o preço por isso, ao menos sentia que meus treinos estavam valendo a pena cada vez mais. Afinal, ninjas incríveis recebem missões incríveis, certo? Isso era tudo que eu precisva. Meu corpo queimava cada vez que eu respirava, e deitado no chão reparei o quanto a terra poderia ser confortável.

Sendo assim, a verdade é que eu acabei pegando no sono ali mesmo. É, isso aí, no relento e à mercê de insetos ou seja lá o que mais habite o campo de treinamento em noites iluminadas como essa. De qualquer forma, preocupar-me com isso era tarde demais. Quem sabe o sol não me acorde amanhã...