[Filler] (Re)Nascer

Seus olhos azuis como o mar profundo mergulhavam-se na imensidão do azul cobalto que era o céu daquela noite estrelada que abraçava os redemoinhos. O breu cobria o vilarejo como um manto sombrio, e uma fina cerração adornava a vestimenta macabra. A respiração pesada de Jiro congelava enquanto ele namorava a lua cheia da varanda de uma estalagem qualquer. Sua irmã dormia tranquila enrolada em suas cobertas e Shiroyuki o fazia companhia enquanto perdia-se em seus devaneios.
　　Viajava de volta para os dias em que era tudo mais fácil. Os pais eram vivos, os dias pareciam-lhe mais coloridos, tinha uma paixão que queimava forte pelo simples fato de ser um shinobi e tudo o que fazia era com gosto; sentia-se mais completo naquela época. Amava a vida que levava, mas esse seu amor levou seu pai e sua mãe e esse mesmo amor não lhe permitira dar a eles um velório digno. Isto é ser shinobi constantemente se lembrava de como costumava repetir para si mesmo esta frase como um mantra para justificar todas as vidas que tirou, todas as vezes que passou alguém na espada sem saber o porquê de estar o fazendo. Hoje, as mesmas palavras soam como escárnio e fazem o vazio em seu coração ser preenchido pelo mais obscuro dos sentimentos.
　　Respirou fundo e cerrou os punhos com força sobre o parapeito da varanda, fazendo a madeira estalar. Em uma de suas muitas missões pela Folha, lembrava-se de ter conhecido uma mulher que fora responsável pela morte de uns tantos shinobis e ele próprio lhe ceifou a vida. Suas últimas palavras não foram uma ameaça e tampouco uma súplica e ele bem se lembrava delas, como se estivessem sendo ditas para seu eu atual, mergulhado em toda a sua dor. “Pare de ser manipulado” disse a nukenin antes de explodir toda uma caverna num último ato antes de a morte beijá-la. “Pelo que você luta?” ela perguntara antes enquanto sua espada beijava suas estacas de diamante rosa.
　　Olhou para trás e observou por algum tempo sua caçula aninhada em suas cobertas e dormindo tranquilamente, como se nada a preocupasse. É por ela que eu luto pensou, voltando seus olhos e encontrando os dois poços sangrentos que eram os olhos de seu lobo gigante. Por ela e por ele. Teve sempre bem claro para si o porquê de ter abandonado Konoha e escolhido outro vilarejo por mais que o sistema shinobi o enojasse. Ela estaria protegida pelos mares e pelos redemoinhos e por mim, mas eu não viverei para sempre. Temia que a morte o levasse não por seu último suspiro, mas quem protegeria a pequena em sua ausência? Não poderia simplesmente tornar-se um foragido e largar Asami para o mundo, dar a ela uma perigosa vida de nômade.
　　Fechou os olhos e suspirou. Tornou a fitar a rainha da noite com seus calmos olhos, tão perdido em seus pensamentos que mal percebera que seu grande lobo não estava mais consigo. De viés, notou o grande borrão branco entrando, mas deu pouca importância. Aquela mulher, e novamente tornou a se lembrar da kunoichi que matou no passado, ela falava em mudar o mundo e eu falava em defender o sistema. Balançou a cabeça para ninguém, o desgosto era para consigo mesmo e o único culpado era ele.
　　Quando pisou pela primeira vez em Uzushio, foi recepcionado por ninjas que lhe disseram que a Sombra da Água se sentiria feliz em recebê-lo, mas até então não o conhecera pessoalmente. Pouco importa, o sistema é um só e o sistema já havia lhe tomado quase tudo. Pai, mãe, avô, sua inocência e sua pureza infantil. Aos treze anos já via o mundo sob lentes sombrias que deveriam levar anos para terem se tornado tão escuras, pelo menos assim pensava. Confiava tanto no Mizukage e em Uzushio quanto confiava em Konoha e em sua Sombra. Mas aqui ainda não me causou desgosto, e não tenho lembranças dolorosas deste lugar refletia consigo mesmo ainda não tenho lembrança nenhuma daqui, ainda não vivi os redemoinhos.
　　Caminhou para dentro e correu tanto a porta quanto a cortina da varanda, escurecendo todo o quarto para ele, sua irmã e seu lobo. Pensou por horas e mais horas, não questionava o motivo de sua escolha ou se havia escolhido corretamente. Mergulhou-se em si próprio apenas para se resguardar de quem era Sarutobi Jiro, antes um shinbi devoto e que alimentava o único sonho de se tornar Hokage. Este morreu deitou-se e puxou a coberta, embalando-se para o sono. Não pertenço mais a horde que segue fielmente o sistema, não vivo simplesmente para seguir e cumprir e suas pálpebras pesaram um pouco mais e sentiu-se mais leve. Ela tinha razão, eu estava sendo usado. E agora tornarei a missão dela a minha: este mundo precisa ser mudado, custe o que custar.

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