O jovem Hyuuga corria por horas para um desconhecido destino. Apenas corria, cada vez mais rápido, seus pés se movendo rumo à escuridão. Ele seguia visivelmente abalado, envolto num redemoinho de pensamentos, não pela cabeça que fez rolar, mas sim pela manifestação de um poder negro que florescia como vinhas venenosas em seu espirito. O mais assustador era que aos poucos ele entendia do que se tratava aquele poder, ele podia senti-lo pulsar. A marca sussurava. Ao poucos, a energia do selo tornava-se intima, confundindo-se com a própria essência do shinobi. Seigen queria, ou melhor, precisava entender as intenções de Happosai.

O chuunin saltava sobre dunas de areia, sentindo o pescoço queimar naquele sol escaldante do deserto árido. Seu trajeto era incerto, pois não tinha nada além que vagos palpites e um norte indefinido que colheu do manuscrito deixado por Izu. A localização das terras sombrias seguia como um mistério, mas Seigen estava disposto a cortar o mundo até encontrar aquele suposto inferno e lar de demônios. Certamente, lá encontraria o cadavérico ancião que depositou tantas questões obscuras em seus pensamentos.

Silenciosamente, Hyuuga Isao seguia seus rastros. Primo de Seigen, Isao era o mais próximo que o jovem tinha de uma amizade. O recém graduado Jounnin, Isao havia assistido das sombras o duelo de Seigen contra Fujako, e foi mais um a se espantar e se preocupar com a cena protagonizada pelo primo. Isao conhecia o Juinjutsu, estudara sobre aquele tipo de maldição, e por isso a preocupação com Seigen era incessante. Era mais um Hyuuga buscando respostas. Já  Seigen, mesmo com sua característica frieza e falta de empatia, nutria apreço por Isao, uma vez que foram criados juntos desde que se lembra. Por muitas vezes, Isao foi sua única companhia.

E quando Seigen finalmente parou para descansar, o Sol dando lugar à lua, foi que Isao finalmente revelou sua presença. Seigen não se espantou.

- Demorou para me alcançar. Você está ficando lento, Isao. – Seigen zombou.

- É... e você já está velho demais para fugir de suas responsabilidades. – Respondeu Isao.

- Que responsabilidades você diz? – indagou Seigen.

- Você sabe, toda essa coisa de ninja, vila, kage. Não seja burro, você sabe muito bem que não pode deixar a vila sem uma autorização. – disse Isao.

- Ah, isto... – Seigen desdenhou.

Os olhos de Isao fitavam o companheiro numa mistura de curiosidade e preocupação. Conhecia bem o primo, por isso media as palavras com cautela, para não tocar em uma ferida que o afastasse de si. Preferiu deixar o diálogo desenrolar-se por si, e então as inevitáveis perguntas e as submersas respostas certamente encontrariam a superfície.

Considerações:

Últimos Episódios:

Os dois shinobis conversavam sobre muitas coisas. A noite avançava cada vez mais. Um manto escuro de alívio, acalentando as recentes queimaduras de sol daquela longa jornada deserto adentro. Gargalhadas e nostalgia de memórias da infância, intimidades e piadas sopradas no ar. Dois velhos amigos conversando num tom de despedida, pois ambos sabiam que não se encontrariam mais. Naquele ponto, Isao entendera que Seigen não retornaria à vila, seu caminho já estava traçado.

Gotículas de ar começaram a cair. Uma rara chuva no deserto. O céu escuro e infinito sobre suas cabeças. Seigen permanecia sentado em uma rocha, cabisbaixo. O assunto havia terminado, dando lugar ao silêncio. A chuva limpava o rosto impregnado em sangue expondo os ferimentos, as marcas do duelo vencido daquela manhã. Seigen sorria aliviado com a água lavando seu corpo. No deserto, chuva é sempre um bom motivo para sorrir.

A expressão do chuunin sobre a rocha mudou drasticamente ao fitar o mundo se transformar à sua frente. Sua tranquilidade nostálgica deu origem a uma expressão de surpresa e terror. Seu primo alheio a tudo aquilo, continuou a olhar em sua direção.

- Que foi? parece que viu um fantasma! Você... – Antes que pudesse avisar ou dizer algo, Seigen viu seu primo cair à sua frente em pedaços. Sangue espalhou-se pelo local junto a órgãos rasgados. Ele sacou suas espadas lendárias rapidamente deixando as bainhas cairem diante do susto. Nada que pudesse fazer faria diferença para salvar a vida de Isao.

Uma grande massa musculosa, repleta de manchas necrosadas, levantou-se à sua frente. Uma enorme criatura com o dobro de sua altura, um monstro bestial que destroçou Isao ao meio, com um único golpe de punho, sem uma única lâmina a facilitar o corte. Era o fim, um pesadelo vestido de carne capaz de acabar com os homens mais fortes, um medo que Seigen não sentiu.

“Happosai" imediatamente pensou.

Rajadas de vento rasgaram pela noite, golpes de chakra futon disparados pelo conjunto de espadas lendárias, em uma tentativa louca de acertar a cabeça do monstro. Este não se abalou, foi mais rápido, avançou, mesmo com a pele retalhada com cortes e o vento irritando os múltiplos olhos. O monstro chutou o chuunin metros de distância, com um poderoso golpe no peito. Algumas rochas o impediram de ir mais além, ecoava no ar o som de suas costelas se chocando com a geografia local.

Mesmo caído no chão, Seigen saca algumas kunais a arremessa sem eficácia, apenas tentava prolongar sua vida inutilmente. O inimigo veio em sua direção andando, enquanto suas garras ensanguentadas eram reveladas, contudo esta não era a hora de sua morte. As marcas do Tsuki no Juin voltam a se manifestar, pela terceira vez naquele dia. Seigen agora detinha o controle da maldição. Ignorando a dor, o Chuunin consegue manifestar seu chakra mais uma vez. Com as espadas caídas no chão, Seigen recorre à tradição Hyuuga.

- Hakke... Kusho!!! – gritou enquanto, ainda caído, dispara um poderoso golpe no ar, acertando a criatura no estômago. A criatura, no entando, só desacelera por um momento, mas continua avançando.

Respirar se tornava uma tarefa difícil, mesmo com o selo ativado, várias costelas quebradas.  A morte parecia inevitável.

Jutsus usados por Seigen:

Considerações:

Seigen seguiu para a caçada. Imaginou que a criatura ainda estivesse atordoada pelo Raiton de Isao. Precisava tomar vantagem disso. Com o byakugan, sua visão se expande em 360°, varrendo todo o perímetro e vasculhando atrás das rochas. Não demorou muito para localizar a besta.

Ele seguiu sem medo enquanto várias coisas passavam na sua mente: murmúrios, o vento que cortava a chuva, sons noturnos do deserto, as dores que pareciam romper suas vísceras. Fatores que acompanharam Seigen em seu caminho pela caçada durante os minutos seguintes. Precisava ser rápido para minimizar a chance do inimigo se recuperar e voltar mais forte.

Seigen não esperou, aproximou-se sorrateiro, parecendo esquecer-se do real perigo que o voraz inimigo representava, mas a cautela foi admirável. Se esperava por algo ali, esperava também surpreendê-lo pelas costas. Sem emitir um único ruído, abaixado, aproximou-se das enormes pedras à sua direita, sempre fitando a retaguarda e a vanguarda. Um ruído repentino veio aos ouvidos, conferiu mais uma vez com o byakugan e soube o demônio sofria para arrancar as kunais de sua pele, uma a uma. Viu a massa de músculos familiar se contorcendo para desvincular-se das armas metálicas cravadas, voltado de costas para a Seigen. Era este o momento certo, iria matar aquilo agora e encerrar a noite.

Em um ato de descuido misturado à vontade de mata-lo, Seigen moveu-se, seguindo em frente até uma próxima rocha. Surpreenderia o demônio pelas costas, entretanto, esqueceu-se de analisar o ambiente à volta, acabou pisando em alguns pedregulhos espalhados pelo chão. Nada mais que sons misturados à chuva, indistinguíveis a humanos. Para monstros como aquele, a história era outra. O silêncio repentino tomou conta do ambiente. O que tinha acontecido? Seigen não sabia, até fitar as pedrinhas se esfarelando sob seus pés. Era tarde para voltar atrás. Fechou seus olhos temendo, ainda esperançoso que não tivesse notado sua presença. Nada aconteceu por alguns instantes, dando um breve alívio. Seria apenas um engano? Claro que não. Antes que pudesse se desvencilhar da pegada, Seigen foi surpreendido após uma rocha repentinamente ser destruída. O monstro atirou uma das kunais de suas costas, com tanta força, que despedaçou aquela grande rocha como se nada fosse.

Seigen só teve tempo para saltar em fuga, desviando por poucos dos fragmentos que voam para todos os lados. Naquele momento perdera o efeito surpresa, e precisava se recompor. Contudo, a criatura não parecia que lhe daria o tempo para isso.

”Ele é muito rápido!” pensou Seigen, surpreendendo-se com a velocidade que o monstro saltava em sua direção.

A dor nas costelas travou seus movimentos. Tarde demais. Em um ataque furioso, a besta erra o primeiro golpe. As mesmas garras que cortaram Isao no meio, passam rente ao rosto de Seigen. Mas então num segundo movimento ele o agarra pelo kimono. A criatura o puxa com voracidade e com dentes afiados o morde na altura do braço, sacudindo-o como um cão raivoso, impiedoso, na terceira chacoalhada o membro é completamente arrancado. Era o fim. Os berros de dor não podiam ser ouvidos por ninguém naquele fim de mundo. Não havia para onde correr ou se esconder. Seigen sabia que morreria despedaçado.

Arremessado após o ataque sobre um montante de areia, o chuunin ficou sem reação, ofegante e quase em estado de choque. Sua consciência parecia lhe abandonar momentaneamente enquanto seu sangue, banhava o cenário à sua volta. A criatura a alguns metros não teria mais problema com ele, tinha a escolha de devorá-lo se assim o desejasse. Tonto pela perda excessiva de sangue, Seigen levantou-se juntando últimas forças enquanto segurava firme a Kusanagi. As marcas do selo amaldiçoado se alastravam ate cobrir todo o corpo do rapaz. Naquele instante, ele não era mais o mesmo Seigen. O selo lhe roubou a identidade, agora Seigen também se tornou um monstro. Era o segundo e derradeiro nível do Tsuki no Juin. Chifres, garras, a pele manchada pela vilania. Olhos completamente bestiais. À sua frente, a ofegante criatura de rosto achatado sem narinas e multiplos olhos vermelhos, fitava aquela cena, percebia que precisaria reagir contra aquele imediatamente, viu que o rapaz era perigoso demais com aquele novo poder.

Seigen estava transformado. Veias saltaram imediatamente sobre sua pele, enquanto a dor pareceu sumir por alguns instantes decisivos, agilidade e força aumentaram. Sua expressão tornou-se ríspida enquanto fitava o demônio como um leão feroz. Seigen não esperou o ataque, saltou dois metros do solo e chutou com potência o rosto do gigante, fazendo o som da pancada estridente soar pelo galpão junto com seu berro, surpreendendo o demônio que atacou sem medir as consequência. Seria uma briga justa agora? Ele esperava que não. Seigen fitou seu inimigo retornar, levantando-se em um salto e correndo em sua direção. Seu rosto estava esmagado lateralmente na região do golpe, liberando um fluído negro. Deveria estar mais furioso do que o normal. Frente a frente, os combatentes observaram-se por alguns instantes esperando o primeiro movimento que decidiria o combate mortal. Ambos pareciam entender a seriedade da situação. A criatura, mesmo que receosa com o pequeno oponente, tomou a iniciativa movendo-se rapidamente com um salto. Seigen rolou ao lado esquivando-se habilmente, golpeou com a Kusanagi rasgando uma fileira de seus olhos. O alvo urrou de dor, porém seus movimentos não foram abalados. Deu início a uma segunda investida, uma quase impossível de se desvencilhar.

Com o Bakugan, Seigen viu o momento exato que um soco de garras o rasgou próximo ao rosto. Desviou célere abaixando-se e estocou com a Kusanagi entre as costelas da besta. O monstro recuou sentindo o golpe e atacou logo em seguida buscando o pescoço da vítima, que mais uma vez esquivou facilmente com um contra-ataque no rosto, abrindo mais um grande corte. Fez o demônio recuar mais um metro, sua lâmina parecia surtir efeito a cada golpe. Não seria difícil manter aquele ritmo até que o demônio estivesse morto ou exausto demais. Agora para ele, a história era outra. O sangue jorrava de suas veias, no local do braço arrancado. Seria melhor acabar de uma vez com aquela luta, pois não conseguiria continuar de pé por muito tempo.

E assim o fez.

Seigen literalmente arremessa a Kusanagi na garganta da criatura. Esta que prontamente segura sua lâmina e tenta retirar, sem sucesso. Seigen visualiza órgãos e os estranhos tenketsus negros no corpo da criatura, e então vislumbra um coração ofegante que batia sem ritmo, a representação do desespero. Concentrando chakra fuuton, Seigen avança numa investida em linha reta, lançando-se como um projetil, sua mão como uma faca envolta numa ventania rubra de chakra. O golpe perfura a enorme caixa torácica e o coração da besta sai pelas costas, apertado pelo punho de Seigen. Este que larga o órgão na areia e recolhe o braços do meio de suas entranhas. Seigen assiste a criatura ruir, desabando sem vida.

Ele era o próximo.

Seigen da alguns passos para trás e também se vê desfalecido. Mutilado. Sem perspectiva de conseguir alguma ajuda.

Mas eis que uma voz familiar ecoa pelo deserto.

- Kukukuku... gostei de ver. – a voz gargalhava.

“Hap..po..sai..". Pensou Seigen. Sua consciência se apagando.

- Você é mesmo o escolhido. É mesmo o receptáculo perfeito... Seigen-kun. Passou no meu teste – o velho surge montado em uma núvem negra. Seus olhos negros como a noite, os dentes cerrados e reluzentes esbanjando grata satisfação.

- M.. maldito... – murmurou Seigen.

- Calma, minha criança. Não vou deixa-lo deste jeito. Vou conserta-lo. - disse o demônio.

Com um único in, Happosai provoca uma massa de Chakra que parece brotar das entranhas do garoto Hyuuga. Misteriosamente, em meio a dor nunca antes sentida, o corpo de Seigen flutua enquanto esperneia com gritos de agonia. Ele sente todas as suas celulas arderem principalmente na região do braço amputado. Sem entender nada, ele vê os seus tecidos se reconstituindo numa massa negra que logo da forma à um novo braço, exatamente como o original.

- Viu só? Kukukuku... jamais desamparo minhas crianças. - enfadou-se o velho com sua risada diabólica.

O stress corporal fora tamanho que o Tsuki no Juin se desfez. Seigen cai desacordado.

- E como fez por merecer... lhe dedico mais um dos meus presentes... Seigen-kun. –

Que presente seria? O que pretende Happosai? Os planos daquela misteriosa entidade permaneciam ocultos... mas não por muito tempo.

Fim.