Numa noite lúgubre, labaredas dançavam sob a impalpavel escuridão que ofuscava mistérios de histórias desconhecidas. Os estalos da madeira seca, consumida pelas chamas da fogueira que se inflamava naquela pequena casa, eram melodicamente acompanhados pelo som de uma respiração incessante que continuava lentamente. Seus olhos se abriram, revelando o calor da luz das chamas que representavam-se tão belamente em sua forma visual. Era como uma dança.

Yoruichi havia se apressado em dormir, por isso, a casa estava mais vazia que nunca. Ela trazia a luz praquele lugar, ainda que parecesse só figura de linguagem, era mais real do que conseguia imaginar. O silêncio da solidão abafava até mesmo o som dos grilos do lado de fora da casa. Naquele pequeno sobrado, escondido no fundo de uma comunidade repleta de casas, estava Ring. Sozinho. Sentindo como se o clima pesasse diante à solidão, aonde memórias pareciam se aflorar e quase que o sufocarem em busca de respostas.

Um miado do lado de fora chamou a atenção. Um pequeno gato estava frente à varanda de fundo da casa, sentado, parecia querer chamar, justamente, o garoto. Ele se levantou do sofá e pegou um pequeno pote, enchendo-o de água e descendo até a varanda. O pote deixado no chão chamou a atenção do pequeno felino que se aproximou. Ao beber a água, não pareceu incomodado em que o garoto se aproximasse e o acariciasse. Os olhos azuis do menino brilharam como se a felicidade plena estivesse escondida nesses pequenos gestos.

Ele podia sentir essas gotas de bondade aflorarem em seu peito, salvando-o de uma tristeza profunda que o afligia diariamente. Não podia lidar com os fatos que lhe ocorreram, muito menos, entende-los por inteiro. Nem Yoruichi saberia responder suas perguntas, o que o fez esconder qualquer indignação que pudesse aparecer à curto prazo. Descontava seus transtornos nas balas que jogava na boca e deixava dissolver lentamente. Uma espécie de teste de paciência.

Dado momento, deixou o pequeno animal ir embora. As plantas sobre o pequeno muro estavam começando a murchar, provavelmente, porque a tia havia esquecido de rega-las; como de costume. O resto da água que o gato tomou foi direto para os pequenos vasos, entretanto, não parecia suficiente.

"Me lembro que minha mãe costumava plantar algumas coisas lá em casa. Ela sempre dizia que a noite não era o melhor horário para isso, então, se fosse necessário, pouca água deveria ser jogada na terra. Na verdade, ela nunca teve tempo de me ensinar o quanto seria pouco ou muito. Acho que uma pequena dose é suficiente e, pela manhã, eu posso ver se o solo esta umido o suficiente. Tenho certeza que Yoruichi-san não irá lembrar."

Ele voltou para dentro da casa, enchendo o pote novamente e levando-o de volta à varanda, deixou lá para que o gato pudesse retornar. Estava cansado, por isso, decidiu se deitar no sofá da sala, ele era mais afastado da fogueira que a poltrona onde estava sentado anteriormente. O outono estava chegando mas muito do verão ainda era perceptível, tal como o clima. Ele deitou-se olhando para cima, e percebeu as pequenas manchas de musgo no teto.

"Essa casa ja teria caído aos pedaços se eu não estivesse aqui pra ajuda-la." Ele não conteve o sorriso e, fechando os olhos, tentou descansar. "Amanhã tenho que lembrar que ela precisa passar no mercado, estamos sem leite. Bom, talvez eu compre quando for dar uma volta" Ajeitou-se na cama, deitando de bruços e, depois de alguns pensamentos, adormeceu.

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