Eu tinha acabado de ser admitido na academia, sinceramente até que era legal, mas como eu odiava ter que perder meu tempo estudando Genjutsus e Ninjutsus que nunca saberia. Pelo menos eu podia conhecê-los para saber lidar com eles, menos Genjutsus, que eu não tenho nenhuma capacidade no momento nem de anular. E odiava perder meu tempo treinando com meninos tão ruins, mas entendo que era certo orgulho meu, meus mestres gastavam seu tempo para me ensinar, eu deveria fazer o mesmo. Mas pelo menos eu era esforçado, diferente de meus colegas. Pelo menos só tinham sido trazidos os melhores alunos de cada turma, alguns deveriam valer a pena em um treino. Os da minha turma eu sabia que não, eram pouco esforçados, mas me conhecer tinha aumentado à determinação deles, mostrado que tinham mais a evoluir.

  A princípio não estava animado com um acampamento, preferia treinar com o Sensei Chiharu sozinho, mas eu tinha que socializar também, é algo importante pra vida, o descanso. Além disso, me animou o fato de conhecer os melhores de outra turma, talvez eu conhecesse até alguém melhor que eu. Fui com esse pensamento em mente.

  Fui o primeiro a chegar; afinal, não poderia perder nada, até a pontualidade dos alunos poderia revelar os melhores dentre eles. Cheguei até mesmo antes dos Senseis, eles chegaram juntos e ficaram surpresos em me ver. Todos eles menos Chiharu, que já me conhecia bem. O diretor chegou logo após, e depois os primeiros alunos. O segundo aluno a chegar foi um aluno alto, um pouco mais velho. Ele obviamente estava lá, não por causa da pontualidade em si, para procurar alguém. Ficou olhando ao redor constantemente até a chegada de uma garota, a quem ele devia estar apaixonado. “Uma dependência dessas no mundo ninja... isso não vai dar certo, esse é o tipo que morre rápido” – pensei. Quanto ao resto, ele parecia estar entediado, provavelmente não estava ali pelo acampamento, só pela garota. Ele aparentava, por isso, ser fraco. Como alguém que não leva o mundo ninja a sério poderia ser forte? Mas era melhor não julgar um livro pela capa. Vários outros estudantes chegaram, mas só outro chamou minha atenção. Era um garoto evidentemente mais velho, de aparência comum. De duas uma, ou ele era um fracassado (mas no mínimo era paciente e esforçado) ou ele era extremamente esforçado e começou o caminho ninja mais tarde. De qualquer jeito, ele era alguém que merecia atenção, justamente pelo seu potencial de se diferenciar do resto.

  Após todos chegarem e o professor explicar o básico (deixando certo mistério) caminhamos silenciosamente seguindo os professores. Pouco tempo depois, meu sensei gritou:

  - UMA EMBOSCADA!

  Como o Sensei podia ser tão descarado? Eles não nos contaram o que seria feito, isso era obviamente um treinamento. Permaneci calmo por causa disso, mas me preparei para reagir. Selos apareceram no chão e, a princípio, não fiz nada. Não conhecia tanto Ninjutsu, deveria ser prudente. Uma menina idiota encostou-se à barreira invisível que apareceu, mesmo não sabendo do seu comportamento, e desmaiou. Para um treino isso parecia um pouco excessivo e nesse momento me dei conta, ao ver a cara do meu Sensei, isso provavelmente não era um treinamento, eu conhecia o Sensei Chiharu. O outro garoto idiota, apaixonado pela menina (tanto que a pegou antes de cair no chão) encostou-se à barreira, mas por algum motivo não desmaiou. Dois caras esquisitos apareceram, mas eu não conhecia ninjas assim na nossa vila, aquilo definitivamente não era um treinamento.

  Estava me preparando para golpeá-los e afastá-los de meu colega (o com a menina no colo) quando a barreira brilhou muito, me cegando. Quando o brilho acabou, todos haviam sumido, exceto os garotos em que eu tinha reparado. “Isso deve ser o destino, às vezes eles não são tão ruins quanto imaginei a princípio” – pensei.

- Vocês estão bem? – o apaixonado perguntou.
- Perfeitamente. – respondi, ele que não deveria estar bem, encostou-se à barreira, viu a amada desmaiar e ainda foi cercado. Pelo menos a mente dele parecia forte.
- Vamos voltar para vila, temos que avisar os superiores o quanto antes sobre o que acabou de acontecer aqui. – ele continuou. Parecia um plano idiota, os Senseis poderiam já ter avisado aos superiores ou estarem lutando. Preferia ficar para analisar o local, mas poderia ser muito perigoso, então preferia voltar à vila por questões de segurança. Eu me garantia, mas será que eles se comprometeriam a ficar? Por isso então não me oporia.
- É um plano coerente, não sabemos o que aconteceu com os outros e temos que avisar alguém o mais rápido possível. – disse o garoto mais velho concordando com a cabeça.

  Ao o ver concordar, fiz o mesmo. E o garoto apaixonado saiu correndo à frente.

- Não posso deixar ele me ultrapassar... vamos garoto! – disse o mais velho, que competitividade estúpida em um momento desses. Fiz um som afirmativo e os segui, de forma calma e atrás, analisando o ambiente. Ainda poderia haver inimigos por ali.
- Qual seus nomes? – perguntei no início da caminhada. Afinal, se um combate se desenrolasse antes de chegarmos à vila, deveria ao menos saber o nome de meus colegas para chamá-los.

  Enquanto isso eu brincava com minhas Shuriken, desejava aprender a utilizá-las melhor durante esse acampamento. Não perderia a oportunidade de treinar nem na situação atual, a vida é um treinamento.

   — Me chamo Usui Takumi. – Disse o apaixonadado.
  - Ren. – respondeu o mais velho em tom sério e seco. Me lembraria daqueles nomes.

  Continuamos a caminhar em passo acelerado, enquanto eu tacava shurikens e frente, e as pegava quando passava novamente por elas, obviamente eu tinha que continuar meu treino. Depois de um tempo brincando disso aprendi a tacar duas simultaneamente, de forma que, quando elas se encontravam, a primeira voltava para minha mão, voando, e a segunda era arremessada ao solo. Continuei brincando assim, durante um tempo. Até que eles pararam, mas ainda brincava, fazendo o mesmo que antes, com 3 Shurikens. Até que Usui fez uma pergunta:

  — Espera... Isso é Uzushio? — e ao ouvir isso, parei de brincar. Algo estava muito errado ali, aquilo com certeza não era Uzushio. O símbolo era diferente, as construções não eram tão modernas. Ou estávamos presos em um Genjutsu, ou alguma coisa estava muito errada. — Vocês sentem isso? É como se a tristeza, raiva e ódio estivesse tomado conta da vila. — continuou Takumi interrompendo meus pensamentos. Mas o ignorei e continuei pensando, se fosse um Genjutsu, era um muito forte, pelo menos eu achava que era assim. E de qualquer jeito, eu seria incapaz de anular qualquer Genjutsu, não tinha nada que eu podia fazer.

  — Acho que obviamente teremos de pular esse muro. Caso tenham alguma outra ideia melhor digam. — Disse Usui. Demorei muito para responder e eles acabaram entrando sem mim, mas eu nem sabia se eles eram um Genjutsu, talvez o fato de eu ter reparado neles antes fez o Gen user me fazer achar que estou com eles. Não poderia confiar totalmente neles, mas não poderia desconfiar totalmente também não, poderiam ser reais. De qualquer forma, não entraria na vila, não parecia seguro para mim. Aí me lembrei de algo, eu e meus pais viemos só recentemente para Uzushio, que tinha sido reconstruída. Olhei rapidamente o símbolo da vila, era outro. Se ela foi reconstruída, quer dizer que foi destruída. E se esse fosse um mecanismo de viagem no tempo? E se fosse um Genjutsu que causa danos reais?

  - USUI, REN! SAIAM DAÍ! – Gritei, mas deviam estar meio longe. E quase ao mesmo tempo em que eu gritei, o chão começou a tremer, minha hipótese estava certa, tinha algo muito errado. Rapidamente subi em uma árvore e infinitos troncos começaram a surgir do chão vindo do interior da vila. Minha sorte é que estava em um lugar alto, os troncos selvagens que vieram a derrubaram, mas fiquei trocando de árvore até os troncos pararem de se agitar. A fila estava quase completamente destruída. Agora com os portões e muros derrubados consegui ver meus possíveis companheiros. Estavam em um estado meio deplorável. Não tiveram a mesma sorte que eu de estar em um lugar alto, mas estavam bem, sem ferimentos. Em compensação a maioria dos civis morreram, aquilo era um campo de batalha realmente sangrento.

  - Estou vivo! Resgatei dois civis! – gritou Ren seriamente - Lee? Como você está?! - continuou.

  - Estou bem! – respondi e fui até ele, civis eram prioridade, e eu não tinha certeza que estávamos em um Genjutsu. – Eu estava em um lugar alto, vi a destruição de cima. Parece que tem dois ninjas brigando, e Usui está se aproximando perigosamente deles! – gritei de volta.

  Aproximei-me dele e disse:
 - Vamos nos juntar a Usui, pode ser que levar os civis pra longe não salve a vida deles. Precisamos agir juntos, mas dificilmente podemos lutar com alguém capaz de um Jutsu desse, nem somos ninjas ainda, vamos fugir.

   Depois de eu falar para nos juntarmos tudo começou a dar errado. A mulher que destruiu o vilarejo tinha falando algo que irritou muito Usui, e minha fala o fez retomar consciência. Isso foi tranquilo, o pior veio depois. A mulher foi derrotada, aquela que defendia a vila. Já era óbvio que nós não seriamos capazes de derrotar a invasora. Eu analisei calmamente a situação, não conseguiríamos vencer e dificilmente fugir. Como último ato meu, sabendo que a morte chegaria, salvaria os civis. Daria uma chance a eles.

  O impulsivo estúpido do Usui foi para morte, golpear a mulher. “Ele consegue ser tão impulsivo em uma hora dessas? Não vou conseguir articular nenhum plano; vou improvisar em cima dos acontecimentos” – pensei.

  - Temos que buscar o Usui o mais rápido possível. – disse Ren.

  Não respondi, isso não era possível naquele momento, e nem daria tempo de responder. Já tinha enrolado todos meus papéis explosivos nas quatro Kunais que eu tinha, tinha que ganhar algum tempo para Usui e para nós. Atirei na mulher, e logo após atirei metade das minhas Shuriken. Quando estavam no ar, no início do trajeto, todas as cinco se chocaram e foram em direção e ela por ângulos e até lados diferentes, simultaneamente.

  Minha mente estava a todo vapor, eu tinha que salvar os civis. Logo após atirar tudo eu me virei, afinal: já sabia o resultado. A mulher ficaria intacta e Usui morreria. Não tinha como esperar algo diferente.  Todos, Usui e os projéteis que eu arremessei, estavam no ar, em direção à mulher, simultaneamente. Ela começou a fazer selos e me virei logo no primeiro. Ao me virar, vi Ren fugindo. “Covarde.” – pensei – “Nem tentou salvar os Civis.”. Ele saiu correndo a toda, enquanto isso, minhas Kibaku Fuuda explodiram atrás de mim. Nesse momento eu já tinha saído correndo com os Civis, e nem olhei para trás, eu sabia qual seria o resultado de tudo aquilo.  Para minha sorte, corria para um lado em que não haviam mais árvores invocadas, o que me impediria de ser morto por elas. A vila tinha começado a afundar e tudo a desabar, mas tudo bem, eu correria mesmo sobre as águas, enquanto tivesse pernas, para salvar aquelas pessoas.  Utilizei o Suimen Hokō no Gyō para me manter caminhando sobre as águas. Rapidamente cheguei à costa e achei um barco. Coloquei os dois lá dentro, se aquela mulher me perseguisse eles não sobreviveriam.

  - Sobreviva – falei – Eu tenho que buscar meu amigo.

  Virei-me e fui à direção para onde Ren tinha corrido. Procurei bastante por ele, e só o achei mergulhado, afogando, com raízes o perfurando. Mergulhei para pelo menos recuperar seu corpo e enterrá-lo. Quando encostei  na árvore para tentar desvinculá-la dele meu Chakra foi sugado pela metade no menor toque.  Estava fraco e percebi que isso não seria possível, teria que deixar o corpo dele ali.

  Quando eu subi árvores vivas me atacaram de todos os lados. Aceitei minha morte, sabia que não havia mais nada a fazer. Entreguei-me  enquanto todas as raízes me perfuravam. Depois de todo meu chakra fiquei inconsciente.

  - Você nos salvaria... – Escutei uma voz falando na escuridão de minha consciência. Acordei sentado, do lado de Ren e Usui, era um Genjutsu ou algo do tipo, como eu suspeitava. Só não poderia tratar como se fosse, pois poderia me arrepender caso fosse a realidade. Não tenho nenhum arrependimento de minhas ações. “Fui ficar preso logo com esses caras, um impulsivo e um covarde” - pensei, mas mantive tudo para mim mesmo. Não contei a covardia de Ren para Usui, isso poderia causar conflitos. Além disso, se ele for alguém descente  sua consciência já vai o atormentar bastante.

  - Pensei que eu tinha morrido.— suspirava Usui levemente depois de falar para nós — De qualquer forma, parece que voltamos para perto de Uzushio, conheço esse local. — completava. Durante o caminho para Uzushio, perguntou-nos — Vocês reconheciam aquela vila que afundou? Sabem de algo sobre ela?  — finalizou.

  - Não tenho certeza. Mas lembra-se de que Uzushio foi construída há pouco tempo? Talvez aquela seja a vila ninja do nosso país de antes de Uzushio. Não lembro como chamáva, mas acho que estudamos sobre ela na academia. – eu disse.

   Depois disso não houve mais conversa no caminho. Quando chegamos a Uzushio a explicação não foi nada convincente. Aposto que esse foi o objetivo do acampamento, nos ensinar história e nos testar. Mas algo me incomodava, aquela fala. “Você nos salvaria...” indicava totalmente o oposto. "Será que eles tinham ouvido algo também?" - perguntaria um dia se ficássemos mais próximos novamente.

 - Eu... – disse Ren – Não podemos ser fracos da próxima vez. –.  Assenti com a cabeça, eu treinaria duro, mesmo achando que não haveria uma próxima vez naquele contexto. Mas com certeza haveria no mundo ninja.

  Ele saiu sem se despedir.

  - Falou Usui. Até a próxima. – eu disse – Tenta não ser tão impulsivo na próxima e talvez você fique vivo. Eu quase fiquei haha, mas ainda bem que morri e não fiquei preso no Genjutsu, quem sabe quanto tempo mais eu ficaria lá. Isso se for um Genjutsu, talvez não seja, nós sumimos para nossos Senseis. Mas pelo menos você não é um covarde... – deixei escapar no final, ainda estava com um pouco de raiva de Ren. Fui embora depois de falar isso.