A Jornada se Inicia

Algumas memórias são como janelas embaçadas. Se desejarmos realmente ver, basta exercer um pequeno esforço. Contudo, algumas lembranças são dolorosas demais. De forma que a melhor escolha se torna tentar manter a memória adormecida, como se coberta por uma leve camada de algodão, assim como em um ferimento ainda por cicatrizar. Mas no caso de Nara Hajime, o pai de Fuyuki, tudo ainda era recente demais. As lembranças pareciam brasas quentes em sua mente, queimando seu caminho através de qualquer parca barreira que o menino pudesse tentar erguer.

Contudo, havia algo que ajudava muito com a dor: treinar. Quando Ren concentrava a totalidade de sua mente no objetivo de seu treinamento, por alguns breves momentos isso o permitia pensar em algo além de sua dor e perda. Isso o permitia superar seu luto. Mesmo que fosse apenas um pequenino passo de cada vez. Poderia até não parecer muito, mas no momento era tudo o que ele tinha para se agarrar. Uma última esperança.

O pequeno shinobi treinava na companhia de seu avô. Esse treino em especial se baseava no velhote prender o neto em um genjutsu básico qualquer, e então conduzi-lo ao processo de fugir da técnica ilusória. Sem qualquer habilidade com genjutsus, o desafio era grande, mas o que Fuyuki não possuía de habilidade em domínio de ilusões, ele tinha de sobra em inteligência para aprender.

— Argh... – O sangue pingava de sua mão, mas Ren sorria. — Certo, ainda sou um total fracasso em matéria de genjutsus, mas com alguma concentração ao menos consigo me ferir o bastante para acordar. – Isso era apenas uma meia verdade, já que essa estratégia o ajudaria somente com um grupo muito seleto de genjutsus. Ainda assim, para quem não tem nada, metade é o dobro. Certo?

— Fique tranquila criança. Continue a aprimorar sua percepção. Lembre-se do que lhe falei e as táticas de indução que usuários de genjutsu experientes podem usar. Você pode ser um jovem exigente, mas pude ver algum avanço hoje. – Com essas palavras, Midorikawa deu um leve aceno para o neto e se despediu, seguindo na direção de sua casa. Eles iriam se encontrar novamente no dia seguinte, a fim de continuar a tarefa.

Sem perder tempo, Ren seguiu correndo pelas ruas da vila, passando pela periferia rumo a sua casa. Diferente do que as palavras de seu avô poderiam sugerir, a cara amarrada do genin indicava claramente que ele não estava nem de longe tão satisfeito com seu suposto ‘avanço’ quanto seu avô fazia soar.

— Um menino apressado...

A voz seca e baixa quebrou o silêncio e o fez parar subitamente. Pelo canto do olho, no limite de sua visão uma sombra pequena, envolta em escuridão e sombras. A origem da voz.

— Nas cavernas ao norte, você encontrará o poder que busca conquistar. Uma força antiga que requer um preço de sangue para ser dominada. Se tiver sucesso, talvez possa transformar uma de suas maiores fraquezas... Em sua maior força.

Nesse instante Fuyuki girou para ficar de frente para a sombra e... Nada. “O que?”






OFF:



Palavras: 505.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

No dia seguinte, logo cedo pela manhã, antes mesmo de o sol ter aparecido por completo no horizonte, Ren já cruzava as ruas correndo para chegar até o campo de treinamento. Ao se aproximar da entrada, ao longe pode avistar a figura de seu avô. Ansioso para compartilhar os acontecimentos estranhos e misteriosos do dia anterior, Fuyuki não fez qualquer tentativa de acalmar sua respiração antes de começar a falar, com palavras entrecortadas, como uma voz havia lhe dito a localização de onde poderia conseguir mais poder.

Midorikawa ouviu pacientemente, então meneou a cabeça, com uma expressão grave em seu rosto franco. — Acredito que não haja realmente problemas em averiguar, contanto que eu esteja com você, é provável que não encontremos tantas dificuldades. – Afirmou o velho Nara em tom mais tranquilo. — Mas acredito que se isso esperou até agora, ainda pode esperar mais alguns dias. Vamos continuar nosso treinamento, e partiremos ao entardecer.

Ren apenas confirmou com um aceno, e sentou-se no chão. Estava realmente animado para começar sua aventura, e ansioso para conquistar seu novo poder, seja lá qual fosse. Mas seu avô estava certo. Não sabiam quais desafios iriam enfrentar no caminho, e qualquer coisa que pudesse treinar agora que fosse lhe deixar ao menos um tantinho mais forte, ele estaria completamente disposto a tentar.

O treinamento seguiu o mesmo padrão do dia anterior. Midorikawa usava jutsus de Rank baixo contra o neto, enquanto o pequeno genin de apenas nove anos se desvencilhava deles da melhor maneira que pudesse. Horas se passaram, e mais uma vez Fuyuki pareceu dar mais um pequenino passo na direção de seu objetivo.

— Bem, por hoje basta. – Afirmou o avô. — Sei que está ansioso para partir. Vamos apenas comer algo e então podemos ir. – Concluiu com displicência natural, dando uma rápida piscadela para o neto, com o rosto sério, mas os olhos brilhando de divertimento.

Após terminarem de comer, saíram da vila. Eles seguiam rumo ao norte, as cavernas próximas ao mar, assim como a voz havia sugerido que fizessem. O avô de Fuyuki possuía certa familiaridade com a geografia local, então conseguia lembrar-se de cabeça dos possíveis túneis que a tal voz poderia ter se referido. Contudo, Midorikawa não podia deixar de pensar que aquela história toda não cheirava bem. Havia algo de errado acontecendo, e ele ainda não havia sido capaz de captar exatamente o que era.

A final, o que seria o ‘preço em sangue’ que o menino teria de pagar para conquistar esse poder misterioso? Durante o caminho Fuyuki continuou a repassar em sua mente as habilidades que todo usuário de genjutsu deve possuir. Ele ainda não era nenhum mestre nessa arte, na verdade ainda tinha muitas dificuldades para quebrar uma ilusão simples, mas querendo admitir ou não, sentia que estava realmente progredindo.







OFF:



Palavras: 464

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

Ren caiu de quatro, ofegante.

— Nesse ritmo não chegaremos lá nunca! – Esbravejou, se sentindo frustrado, mas a irritação que o preenchia era mais direcionada a si mesmo do que a qualquer outra coisa. Eles estavam treinando novamente, uma ideia de seu avô, para que pudessem aproveitar melhor o tempo até chegarem ao local das cavernas. Ren se sentia tão fraco, tão terrivelmente indefeso em frente aos ataques ilusórios, e o pior é que sabia que o avô não estava sequer tentando realmente feri-lo. Esse tipo de conhecimento apenas o deixava com um gosto amargo de derrota em sua boca. Ele compreendia que era somente um processo do treinamento. Que falhar fazia parte do aprendizado.

Mas ainda doía.

Seu coração ainda parecia sangrar a cada passo. As lagrimas começaram a cair antes que ele se desse por conta do que acontecia. Sentia saudades. Assim como para muitos filhos, seu pai era seu herói. Um exemplo de vida. A força que Nara Hajime representou em sua vida, no breve tempo que tiveram, era como uma pilastra que jamais poderia ser derrubada. Uma coluna de sustentação essencial para a sua estrutura emocional.

Contudo...

Ren respirou fundo e soltou o ar lentamente. Limpou as lágrimas com as mangas de suas roupas ninjas e se levantou. Seu pai jamais aprovaria aquele tipo de atitude. Desejava ficar mais forte e não iria desistir. Acenou para seu avô e deu um passo à frente. Então notou algo diferente... Não uma sensação. Algo muito mais tênue. Uma diferença tão sutil que seria impossível perceber. Quase. Fuyuki liberou seu chakra na direção em que aquela sensação provinha e o cenário ao seu redor começou a rachar e se quebrar.

Sorte, doce sorte. O menino sorriu e gritou a plenos pulmões com os punhos cerrados. Podia ter se tratado apenas de sorte, mas aquela marcava sua primeira vitória contra as técnicas ilusórias de seu avô.

Mas no instante em que saiu do genjutsu, viu uma ponta de kunai a poucos milímetros de seu rosto, firmemente presa no punho fechado de Midorikawa. Com um olhar de relance ao redor pode notar que estavam cercados por várias figuras escusas. Ladrões de estrada? Não fazia diferença. Sacou sua própria kunai e pôs-se em posição de combate. Dois. Cinco. O mais afastado deveria ser o líder do grupo, não que isso fizesse diferença.

Para sair dessa situação, o único modo era vencendo.

— Bunshin no jutsu! – Com um selo os clones ilusórios surgiram. Correu e saltou, atirando shurikens contra os dois inimigos da esquerda, e no breve instante em que passou por trás de um de seus bunshins fez rapidamente os selos a fim de preparar um kawarami, apenas uma pequena precaução. Chocou-se contra o adversário mais próximo passando através de um dos clones, no momento em que ambos iriam se chocar, e deu para notar pela surpresa nos olhos do salteador que ele não esperava tamanha força por trás do ataque de uma criança.

Girou rapidamente no próprio eixo no sentido horário e abaixou, esticando a perna direita a fim de acertar as pernas do bandido com o calcanhar. Sem equilíbrio, o inimigo caiu e Ren saltou sobre ele rápido feito um gato, afundando a kunai em seu peito, bem sobre o coração sem hesitar um instante sequer. O outro bandido finalmente reagiu, atirando a kunai que tinha em mãos quase que por puro desespero, frente a cena surreal bem diante de seus olhos. O idiota deveria ter realmente acreditado que aquele seria um roubo fácil.

Ren repeliu a kunai e usou um Shunshin para se aproximar, surgindo no lado direito do homem e lhe atingindo na lateral do pescoço com a lamina de sua kunai. Outro assassinato frio. Com as mãos e rosto manchados de sangue, seus olhos buscaram outros inimigos, como se estivesse em uma espécie de transe frenético, mas não havia mais luta. Seu avô estava sentado sobre uma rocha, observando. Os outros três bandidos nocauteados no chão.

Seu avô o observava.







OFF:



Palavras: 661.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

A vida de um shinobi não é limpa. Nunca é. Manchar suas mãos com o sangue de alguns salteadores de estrada, isso é o mínimo que deveria esperar. E com apenas nove anos, tão pequeno quanto uma criança de sua idade deveria ser, Fuyuki sequer pestanejou ou sentiu qualquer sentimento ruim em seu coração. De joelhos na beira do lago, o jovem Nara deixava manchas avermelhadas na água ao se limpar. Soltou um leve suspiro e olhou para seu avô por sobre o ombro, sem querer que ele notasse que estava o observando.

Soltou um suspiro e se levantou. — Estou pront... – As palavras morreram em sua boca. Mais uma vez, aquela sensação. Liberou seu chakra na direção do sangue no lago, tão afiado quanto uma lâmina. E o mundo ao seu redor se rachou. Estava progredindo lentamente. Sua habilidade de detectar quando estava preso no interior de um genjutsu começava a ficar mais aguçada, e também conseguia localizar o ponto fraco da ilusão com maior precisão agora. Não me entenda mal, não era nada como sucesso total ainda. Nem de longe. Era mais como uma a cada cinco tentativas. Ainda assim...

— Estamos perto agora. – Resmungou o avô. — Mais um pouco e podemos parar pela noite. Só quero averiguar a primeira caverna da região. – Afirmou enquanto alongava, com as costas velhas estalando, mas os músculos flexionados dizendo que ele duraria para sempre.

Ren confirmou e seguiram viagem. O velho o prendia em ilusões, e as vezes o menino conseguia sair, outras precisava de mais tempo. A noite se estendeu e a viagem seguiu em um ritmo lento. Quando finalmente chegaram à caverna que Midorikawa havia comentado, a lua já estava no topo do céu. Eles entraram em silêncio, caminhando com cuidado. O ar estava leve, quase diferente. Como um aroma adocicado. Uma fragrância suave de...

A sensação do chakra de seu avô preenchendo seu sistema de fora a fim de quebrar o genjutsu em que havia caído foi súbita. Ren caiu de joelhos, tossindo e sorvendo o ar desesperado. Seus pulmões queimavam, o corpo tremia descontroladamente.

— Um genjutsu de alto nível. – Midorikawa estendeu a mão e ajudou o menino a se levantar após um momento. — O que quer que tenha feito isso, teria nos matado sem hesitar. Acredito que achamos o que estávamos procurando.

Fuyuki trincou os dentes. O genjutsu em que caiu não o permitia respirar. Era como se estivesse congelado, completamente paralisado, ao mesmo tempo em que se sentia bem. Um pouco distraído talvez, mas ainda assim, bem. Seguiram caminhando, até que avistaram ao longe, no fim do túnel, uma luz. Por mais clichê que isso possa soar, é o único modo de descrever algo assim.

Entreolharam-se e foram em frente.







OFF:



Palavras: 452.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

O túnel se alargou em um espaço aberto, com o teto forrado de cristais brilhantes. No centro um lago de águas cristalinas, tão azuis quanto o céu lá fora. Ren se sentiu atraído por algo e seguindo sua intuição, caminhou até a borda. O avô não tentou impedi-lo, mas observava de perto, atento a qualquer anormalidade. A água era transparente, tanto que era possível ver o fundo do lago. E lá no fundo, Ren viu... Algo. Uma pedra? Talvez. Não, não uma pedra. Então o que? Tinha que chegar mais perto.

Chutou os sapatos e largou a bolsa ninja na margem, então sem hesitar mergulhou. A água era salgada, assim como no mar. “É claro, quando o nível do mar sobe muito essa caverna deve ficar preenchida até a metade, talvez mais.” Os dedos de Fuyuki tocaram a concha. Mas ele puxou a mão com a mesma rapidez, vendo o sangue se espalhar na água. Chifres. Pequeninos chifres muito afiados. Era o que pareciam aquelas pequenas pontas. Com mais cuidado, Ren pegou a concha e se impulsionou na direção da superfície, enquanto batia as pernas.

Mas antes que chegasse a metade do caminho, ouviu algo soar em sua mente. Uma voz infantil, como se fosse à voz de uma criança assustada. “Por favor.” Ela disse. “Ajude-me. O mar. Preciso do mar. Quero voltar para casa.” A voz parecia com medo. Ainda submerso, o menino encarava fixamente a concha em suas mãos, a voz vinha daquilo.

Saiu e contou para o avô tudo o que havia acontecido.

— Isso é muito interessante... – O velho shinobi sorriu, mas não se estendeu. — Então, o que decide? Vamos ajudar ou seguir em frente? Ainda deve dar tempo de ver mais uma caverna essa noite, se seguirmos agora.

— Não. Vamos ajudar. O mar não fica longe daqui, vamos e depois continuamos. – Ren afirmou com olhos determinados e uma expressão séria. Ele realmente não era do tipo heroico, mas que tipo de monstro iria ignorar um pedido de ajuda assim? Conseguia entender a lógica de seu avô, contudo, o velho não havia ouvido a voz da concha. Não havia ouvido o medo na voz daquela criatura tão frágil.

E, medo, era algo com que Fuyuki conseguia simpatizar. Ele sentia um medo semelhante todos os dias, toda vez que encarava sua própria fragilidade em relação ao mundo. Seu pai não iria mais voltar. Sua família poderia não precisar de sua proteção agora. E por isso Ren era grato. Mas quando eles precisassem, gostaria de estar pronto.

Fez um curativo simples sobre o corte em seu dedo, calçou os sapatos novamente e prendeu a bolsa shinobi, antes de seguirem viagem.







OFF:



Palavras: 441.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

Nove anos. Conseguia lembrar apropriadamente de quatro. Talvez cinco, sem grande confiança para os detalhes. Antes disso era jovem demais. Não que agora não fosse, é claro. Nara Fuyuki sabia que era uma criança. O que ele odiava era que todos os tratassem como se fosse apenas uma criança. É óbvio que pesar quarenta quilos e ter um e quarenta de altura não ajudava, mas a bandana com o símbolo de Uzushio em sua testa deveria lhe ajudar a receber pelo menos o benefício da dúvida, certo? Se não com todos, ao menos com alguns dos adultos ao seu redor.

Mas nada disso. O único, em toda a sua breve existência, que o havia enxergado como uma pessoa digna de confiança foi seu pai. E talvez fosse por isso que a falta dele doesse ainda mais agora que sabia que jamais poderia vê-lo novamente. As conversas que tinham, sobre teorias malucas, sobre as leias da física que moldavam o mundo ao seu redor, ou sobre os jutsus do clã Nara e suas possíveis utilizações. Os jogos mentais, as batalhas de estratégia. Fuyuki sentia falta de tudo isso. Era como um buraco em seu peito.

Não o entenda mal. Ele também amava sua mãe e seu irmãozinho. Amava seu avô. E eles eram a única família que ainda lhe restava, por isso ele poderia afirmar a qualquer momento, sem hesitar que cada passo que dava em direção ao futuro, era por eles. Se tentava conquistar algum tipo de poder ou força, mesmo naquele momento, era por eles. Para protegê-los caso fosse necessário algum dia.

No entanto, toda vez que fechava os olhos... Era seu pai quem via. E isso fazia seu coração doer imensamente. Era como um peso monumental sobre suas costas. O qual suportava no limite de suas forças. Todos os dias, Ren sorria. Ele comia e bebia. Agia como se tudo estivesse bem. Ele treinava e se esforçava para fazer missões. Mas por nem um único instante a falta de seu pai era completamente esquecida.

Fuyuki pestanejou.

Liberou o chakra e cancelou o jutsu ilusório de seu avô.

— Você demorou. Conheço você. Suas memórias são suas maiores fraquezas. Mas existe uma infinidade de genjutsus que mexem com suas lembranças. – Declarou Midorikawa. Por mais que o neto estivesse melhorando em suas habilidades com genjutsu, era obvio que ainda tinha alguns pontos fracos bem óbvios. E era para isso que ele queria chamar a atenção do menino. Não que fossem necessárias quaisquer explicações adicionais. Fuyuki já havia entendido.

“Muito rígido. Apressado demais. Precisa de mais paciência. Não pode deixar que o vazio domine seu coração. Deve se tornar inteiro.” As palavras da pequena concha em sua mão eram um enigma. Um quebra cabeças que o menino sequer sabia por onde começar a resolver. Ou quase. Não era nada perto de uma sensação concreta. Era mais algo semelhante a uma leve intuição e nada mais. Mas já era um começo.

Exibindo o mais leve dos sorrisos, seguiu caminhando.







OFF:



Palavras: 496.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

A voz ecoava em sua mente. Parecia tão frágil e tão cheia de medo. Isso fazia o menino querer apertar seus passos, chegar mais rápido. Mas toda vez que se distraía um pouquinho sequer, se pegava preso em uma ilusão de seu avô. O genjutsu mudava sempre, mas era de nível baixo o suficiente para que Fuyuki conseguisse sobrepuja-los após alguns momentos. Sua habilidade em quebrar ilusões fracas estava avançando de maneira consistente. Um em cada três dos jutsus ilusórios em que caia, conseguia se libertar imediatamente, caso estivesse com sua guarda levantada no momento. Os outros dois ele precisava de um esforço maior, mas já não levava mais que alguns instantes para fazê-lo.

Ainda assim, sabia que seria uma conversa diferente caso seu avô não estivesse pegando leve com ele. E isso o deixava preocupado. Jamais havia estudado genjutsus antes. Não conhecia o poder daquela área de conhecimento. Até agora. Sentia que sua compreensão havia se expandido novamente. Sentia-se mais forte. Contudo, perante aquela ilusão petrificante da pequena concha em sua mão, havia sido completamente derrotado. Por mais que odiasse admitir. Mas ao menos isso lhe dava algum olhar em perspectiva. Não era muito, mas já era alguma coisa.

O amanhecer os encontrou no alto de uma colina. Ambos estavam um pouco desgastados após um longo dia e uma noite ainda mais cheia, então pararam para comer. Os olhos de Ren estavam cheios de areia, mas ele se recusava a ceder. Jogou um pouco de água no rosto para clarear a mente e comeu a ração de viagem que seu avô havia preparado para eles.

Assim que terminou, o menino se levantou.

— Temos que continuar. – Afirmou olhando para o oceano. Estavam perto agora.

O avô arqueou uma sobrancelha. E os olhos castanhos avermelhados do pequeno Genin se aguçaram por um instante, seus sentidos se expandiram, e ele liberou seu chakra focando no céu azul bem acima de sua cabeça. O genjutsu se quebrou. Midorikawa abriu um largo sorriso orgulhoso, então se levantou sem dizer palavra, alongou os quadris para os lados e seguiu caminhando na frente.

“Estamos perto agora amiguinho. Vou te levar para casa.” Ren sussurrou em sua mente, para a pequena concha que havia parado de chorar e parecia cada vez mais esperançosa. Apenas tinham que caminhar mais um pouco e chegariam até a margem do mar, onde seria um adeus e poderiam voltar à busca original. Seja lá qual fosse a recompensa por isso.

O sol continuou a deslizar lentamente pelo céu. Mas poucas horas mais tarde estavam na praia. Ren mais uma vez tirou os sapatos e a bolsa, deixando-as na margem com o avô, e seguiu pela areia até que seus pés tocassem o mar. Ajoelhou-se e colocou a pequena concha de volta na água. E foi quando algo aconteceu. Uma sensação... Algo diferente de tudo o que já havia experimentado.

Por vários instantes tudo pareceu ficar em silêncio absoluto. E então, sem qualquer aviso ou explicação, o mar começou a se levantar. E do meio daquela elevação absurda, uma concha de proporções gigantescas surgiu.

“Vovô!” Sussurrou a pequenina em suas mãos.







OFF:



Palavras: 518.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

— E-então... Então esse é seu... S-seu avô? – Ele não sabia o que dizer.

Por alguns minutos as duas conchas pareceram se comunicar entre si. Então um momento mais tarde outra concha, de tamanho médio, algo semelhante ao tamanho de um cachorro grande talvez, surgiu na beirada do mar, bem próximo de onde Fuyuki estava. Nesse momento o avô de Ren também se aproximou.

“Agradeço a ambos por terem ajudado nosso pequenino. Seus esforços não serão esquecidos. E se houver algo que possamos fazer...” A concha ecoou com uma voz grave, diretamente em suas mentes.

— Um contrato. Um pacto de sangue. Esse é o pagamento que meu neto deseja. – O velho Nara se pronunciou de imediato. O silêncio se estendeu por um minuto, então dois. A concha deveria estar usando esse tempo para se comunicar com o ancião atrás dela, pois após um breve instante o monstro gigantesco se foi, mergulhando de volta para as profundezas do oceano onde sua espécie deveria habitar.

“Nós aceitamos sua proposta.” E foi simples assim. Após lutar contra bandidos, enfrentar um genjutsu de congelar os ossos e uma dura noite de viagem, o menino teve que morder seu dedo e escrever o nome em um pergaminho gigante. Então seu avô o ensinou como deveria fazer para invocar suas criaturas contratadas. “A criança ainda é fraca, então não irei exigir que venham conosco até o reino no fundo do mar. Mas se quiser avançar para níveis mais altos... Bem, não cabe a mim dizer. Adeus, criança humana. Espero que saiba usar esse poder com sabedoria no futuro.”

“Adeus irmãozão! Irei me tornar mais forte, então poderemos lutar juntos também!” A pequena concha se pronunciou, deslizando em círculos pela água, animado. Então com as palavras de despedidas ditas, ambas as conchas submergiram na água clara do mar e se foram de volta para seu reino no fundo do mar. Enquanto Fuyuki mal podia acreditar em tudo o que havia acabado de lhe acontecer. Havia assinado um contrato de invocação. Um pacto de sangue com... Conchas?

— Conchas. Podem ser aliados bem fortes. É isso o que queria, não é? Ficar mais forte. Elas podem não parecer tanta coisa a princípio, mas se minha intuição estiver correta, você ganhou um excelente aliado para as batalhas futuras. Com certeza. – O velho se virou e começou a caminhar até a praia, onde caiu deitado e começou a dormir imediatamente, roncando sonoramente. Estava exausto.

Ren também foi até o lado do avô e desabou. Pegando no sono de imediato.

Em seus sonhos, sonhou com as profundezas do oceano.







OFF:



Palavras: 426.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

Esse é um exercício mental. Algo para ajudar a eliminar as distrações desnecessárias que vem de sentimentos e pensamentos de qualquer natureza. Concentrando-se melhor de forma mais completa e absoluta em seu objetivo. Isso é algo que seu pai tentou lhe ensinar quando ainda era mais novo, mas jamais conseguiu executá-la. Não se tratava de um jutsu. Era apenas um truque da mente, a fim de clarear os pensamentos e aumentar a concentração. Mas Ren nunca se perdoou por não conseguir algo que seu pai tentou lhe ensinar.

Mas, agora, por alguma razão, algo parecia ter se encaixado. As palavras da pequena concha ainda ressoavam em sua mente. E no instante seguinte, era a voz de seu pai que ele ouvia, no limiar de sua consciência. Guiando-o passo-a-passo. Imagine um circulo; Uma aliança; Um Elo. Esse Elo o protege mais que as grossas paredes de pedra de uma fortaleza, mais que uma pesada armadura feita com escamas de dragão negro, mais até mesmo do que as formas de luta dos punhos gentis dos membros do clã Hyuuga. Use todo o seu medo, raiva, frustração, ansiedade; faça tudo escoar para as paredes do Elo que o circunda e protege, fortalecendo-a ainda mais. Então, se deixe inundar por esse vazio inominável e se torne um com o universo ao seu redor.

— Kokoro no doumei... – O Elo da Mente era como seu pai se referia a esse pequeno exercício mental.

O menino sacudiu a cabeça e fez os selos que seu avô o ensinou. Midorikawa possuía um contrato com tartarugas, então era um invocador experiente. Sob a supervisão do avô, o jovem Nara mordeu o dedo e bateu a palma da mão contra o solo.

— Kuchiyose no Jutsu! – Não era algo que exigisse muito de suas reservas de chakra atuais. Mas as proporções da concha invocada o deixaram bastante surpreso. Uma concha de tamanho gigante, não tão grande quanto o avô da pequenina que haviam ajudado, mas ainda bastante grande. Eles ainda estavam na praia, então a concha surgiu na beira do oceano, onde parecia mais confortável no momento. — Sou Ren, prazer em conhecê-lo. – O menino não gritou, sequer levantou sua voz. Sabia que não era necessário.

“Sou Baira Ou, criança. Espero que possamos lutar juntos contra inimigos formidáveis. Não me chame para lidar com fracos.” Rugiu em sua mente, com uma voz grave como o rosnado de uma fera. A concha com chifres enormes parecia saber que era poderosa, e gostava disso. “Agora estou indo, treine e fique forte, Ren.”

Então, com um ‘puff’ dramático, Baira desapareceu.







OFF:



Palavras: 424.

Informações:

Pacto de Sangue

A Jornada se Inicia

Caminharam em silêncio por horas. O avô assoviando uma melodia agradável, enquanto o menino estava perdido em seus pensamentos. Havia se tornado um invocador de... Conchas. Não é que estivesse triste ou decepcionado, muito pelo contrário. Sentia-se mais forte. Além dos jutsus da academia, esse era o primeiro jutsu que conquistava. Um pacto de sangue, uma técnica de invocação de alto nível. Agora tinha um aliado no campo de batalha, a qualquer momento e em qualquer lugar.

Durante a viagem, Midorikawa ainda lançava um genjutsu ou outro sobre seu neto, ainda eram apenas distrações do mais baixo nível, mas agora Fuyuki os quebrava com facilidade. Com a mesma facilidade que alguém mata uma mosca. Ele poderia levar alguns momentos para notar que estava dentro da ilusão, mas no mesmo momento que percebia, conseguia focar sua atenção no intuito de captar a origem da falha, a fraqueza da miragem que o envolvia e então a quebrar de imediato.

Seguiram em um ritmo muito mais rápido que na vinda.

— O que ele queria dizer com nível mais alto? – Indagou, avistando ao longe os portões de Uzu.

Midorikawa levou vários momentos antes de responder. Então sorriu. — Isso ai... Bem, já não tem como prever. Vai depender do seu destino. De sua sorte. – O menino olhava o avô pelo canto do olho, sem entender exatamente o que o velho shinobi queria dizer. Ainda assim, não quis estender o assunto.

“Sorte, heim? Isso é difícil.” Realmente, se fosse questão de esforço ou habilidade. Caso o avô tivesse falado sobre talento ou tempo. Cada um desses fatores poderia ser alcançado, até superado, de uma forma ou outra. Mas Sorte. Nossa. Fuyuki sequer sabia por onde deveria começar. Ainda assim... Se não havia outra maneira de conquistar o poder pelo qual ele tanto ansiava, então apenas lhe restava ajustar a rota e seguir em frente.

Cruzaram o portão de entrada de Uzu e ali se despediram. O menino estava sujo e cansado, com a mente em frangalhos após dias viajando com pouco sono e comida sem gosto. Mas não podia deixar de sentir-se extremamente grato e satisfeito com tudo o que havia conquistado nessa curta jornada. E não parava de pensar, nem por um instante, que alguém poderia estar observando-o das sombras naquele exato instante. Seja lá quem tivesse lhe dado a informação sobre as cavernas e as conchas, sabia sobre sua existência.

Mas esses eram pensamentos para outro momento. Problemas para outro dia. Agora tudo o que queria era voltar para casa. Tomar um banho, comer e dormir. Queria beijar sua mãe na face e brincar com seu irmãozinho. Por alguns momentos, por mais curtos que fosse, o jovem genin apenas aproveitar o tempo com sua família.







OFF: Quest finalizada.



Palavras: 415.

Informações:

Pacto de Sangue