As fases da vida de um artista são diversas e é quase impossível definir em qual ele está sem ao menos conviver e avaliar seu trabalho a critérios minuciosos e olhares críticos. Algumas vezes até mesmo os próprios artistas sequer sabem a fase em que estão passando para transcrever seus sentimentos em uma poesia, uma música ou até mesmo em traços na tela branca. Não era diferente com o Kurama que, após uma experiência considerada por muitos aterrorizante, se encontrava perdido dentro da própria existência, refletindo cada passagem de sua vida que o trouxera até aquele momento de dúvidas, quase uma incerteza da sua própria existência quanto humano, deixando de lado todos os traços shinobis que um dia foram fortes em si, mas agora descansavam para os poucos momentos onde era obrigado a agir como tal. Ainda que fosse um adorador da arte, sua essência shinobi, nomeada pelos demais como chakra, ainda era forte em si e não poderia negar ou ignorar a força que sua essência possuía. Justamente estes pensamentos o deixavam confuso, desejando de alguma forma conciliar a própria visão artística com a essência que nadava em suas veias e o preenchiam por dentro em cada tenketsu do próprio corpo. Aos ventos frescos do verão em Konohagakure, o Kurama posicionava sua tela branca na frente de uma arvore, tão antiga quanto o artista, podendo lembrar vagamente da mesma em fragmentos das memorias bloqueadas. A cada traço lento, fechava os olhos sentindo o corpo formigar, como se o próprio corpo respondesse a pintura que estava sendo feita. Aquilo gerava ainda mais confusão, como se sua experiência no controle da própria essência estivesse respondendo a um chamado naquela pintura. Aceitou o convite, suspirando na tentativa de transpor a própria energia sobre o pincel, transportando-a para a tinta na tela, em um desenho singelo de um pássaro que repousava sobre a arvore. Ao fechar os olhos, era como se pudesse observar o desenho se mover, como se um fragmento da própria essência se colocasse na pintura, gerando uma vida artificial naquele pequeno ser desenhado. Aos poucos, repetia como um processo mecânico, transformando aquilo em uma espécie de dom, capaz de gerar vidas artificiais e de certa forma manipuláveis através de pinturas infundidas em chakra, como diziam as lendas do Clã Kurama.