Os passos calmos e descompassados de Shigaraki perpassavam as ruelas de Konoha, indo de encontro ao centro de treinamento. A luz do sol não o agradava completamente, contudo, naquele dia, decidira adiantar as leituras pendentes, e, principalmente, realizar atividades físicas em prol do Exame Chuunin. Embora não possuísse qualquer apreço pelo lugar em que estava sendo colocado, o suposto patamar de aluno do Hokage – apesar de não ter tido qualquer maior contato –, o moreno propunha-se a minimamente melhorar alguns aspectos que considerava degradantes em si, sendo eles, a preguiça para leitura e o sedentarismo.

Embaixo do braço canhoto, ainda a caminhar, o rapaz carregava alguns livros especialmente selecionados por si, em principal, os que se referiam as táticas de batalhas e estratégias. Mesmo que fosse considerado alguém de inteligência notável entre os antigos companheiros de turma, existia a necessidade de obter maiores conhecimentos de base teórica que, em conseguinte, poderiam ser transpassados para a prática. Preferia estar lendo sobre o peculiar dōjutsu citado pelo Hokage durante a primeira reunião do grupo, mas não tinha acesso a estes conteúdos, o que lhe intrigava.

De todo modo, esperava minimamente ser capaz de melhorar as suas capacidades cognitivas, exercitando igualmente o corpo e a mente. Quando finalmente chegou a seu objetivo, fitou o Monge que o aguardava, iniciando o seu aquecimento.

— Como sempre, pontual. — disse o Monge Michelin, e o rapaz o fitou com o semblante cansado.

— Eu preciso me aquecer para a etapa de leitura? Isso apenas vai me distrair. — respondeu desmotivado, perceptível no quedar dos ombros e postura.

— Os Monges são seres capazes de equilibrar o corpo e a mente.  Você pode não ser completamente parte de nós, mas devemos passar alguns ensinamentos a ti. Precisará disso quando for a hora de compreender o seu passado. — os orbes escuros de Shigaraki fitaram o monge, tomados por insatisfação. Detestava quando utilizavam a sua real origem como uma forma de motivá-lo, visto que tal ato não o auxiliava. Tampouco, o apetecia.

— Façamos como quer, portanto. — disse de forma simples.

O treinamento habitual de ambos era formado especificamente pela enormidade de conceitos e áreas de foco, em suma, visava consertar inúmeras falhas do jovem Genin de uma única vez, poupando-lhes tempo. Ao primeiro instante, precisaria realizar um circuito simples, pular cones e efetuar o máximo de flexões possíveis, intercalando o tempo de descanso para ler os livros alugados. Contudo, como forma de dificultar as coisas, existia a necessidade de manter seu chakra equilibrado, permanecendo de cabeça para baixo em uma árvore ao prosseguir com a leitura.

Michelin não era um monge conhecido por facilitar as coisas, tampouco por ser alguém amigável em treinamentos, o que obrigava Shigaraki a não abrir brechas que pudessem ser utilizadas contra si posteriormente. Alongou os músculos, evitando a busca incessante para discernir os atos de seu "companheiro de treino", principalmente ao referir-se ao seu histórico. Em seguida, iniciou todo o processo necessário para completar a sua leitura; saltando os cones, percorrendo o trajeto, e escalando a árvore, em seguida equilibrando o seu chakra para prosseguir com o texto a respeito da escalada de prata. Uma estratégia muito comum no Shogi, onde a vitória era apresentada pelo sacrifício dos aliados de menor poder.


Colocou uma grande fatia de pão entre os lábios, comendo vagarosamente. Deliciava-se como uma criança faminta, e talvez não pudesse ser diferente. Havia passado longas horas na prática anterior, e diferentemente do habitual "praxe", sentia-se minimamente satisfeito. Nos últimos dias, os acontecimentos ao seu redor pareciam estar dando certo, algo incomum, mas preenchia-lhe de peculiar energia, mesmo para um preguiçoso.

— Terminou a sua alimentação? — o monge questionou, recebendo o fitar de Shigaraki. O rapaz enrolou alguns segundos para finalizar a última fatia do pão, e em seguida se pôs de pé, detendo seus aspectos visuais, grosso modo, suas roupas, extremamente sujas. As vestimentas tradicionais do Templo do Fogo estavam encardidas, sujas de poeira e marcadas desde as barras com lama. Mesmo a faixa esbranquiçada em sua testa detinha o tom amarelado, contudo, ainda assim era capaz de esconder o símbolo indesejado.

— Estou liberado? — perguntou, notando que Michelin movia a cabeça negativamente.

— Não. — disse cruamente. — Shigaraki, há algo que precisa fazer. Apesar de ter habilidades notáveis em técnicas de selamento, você ainda peca na prática de ninjutsus. Não possui nenhuma habilidade em seu arsenal, porque você não treina as suas mãos.

— O que quer dizer com isso?

— Selos. O sucesso de suas técnicas depende não apenas da quantidade e o controle de chakra, mas também da velocidade e sabedoria a respeito dos selos efetuados, algo em que você é... Dizendo por um vocábulo suave: medíocre.

— Entendo. — optou por não discutir, consciente de que o monge estava coberto de razão. — O que posso fazer para melhorar isso?

— Quero que treine durante a noite. Como bem sabe, sua afinidade elemental é o Katon. Procure alguma técnica do porte.

Shigaraki inspirou e suspirou pesadamente, balançando a cabeça positivamente para demonstrar concordância, embora de forma preguiçosa. Em conseguinte, pegou um dos livros que continha, onde lera anteriormente sobre a técnica da grande bola de fogo.

"Tigre ou cobra, carneiro, macaco, javali, cavalo, tigre."

Caminhou vagarosamente até as proximidades da árvore, iniciando a realização de selos. Nas primeiras três tentativas, sequer foi capaz de equilibrar o seu chakra, esquecendo-se ou errando a formação dos selos de mãos. A falta de prática na área era visível, mas não acreditava que fosse uma tarefa dificultosa se comparada à aplicação de técnicas de selamento.

Apenas na décima tentativa, Shigaraki foi capaz de liberar uma pequena quantidade de fluxo de chakra do elemento fogo, embora a técnica não fosse efetuada. Limpou o suor com as costas das mãos e retornou ao ato, passando o restante da noite a repetir o mesmo exercício. Ao final dela, quando Michelin finalmente o liberou para ir para sua casa, Renji não havia aprimorado o seu arsenal de técnicas, contudo, suas mãos haviam se tornado mais ágeis e eficazes na execução dos selos. Agora, com um pouco mais de dedicação nos treinamentos, o sucesso das técnicas, em tese, viria naturalmente.

Ao menos, gostava de pensar daquela forma.