O moreno seguia seus companheiros com um largo sorriso no rosto, destilando deboche por onde caminhava. Ser aluno do homem mais importante da vila tinha suas vantagens, afinal. Dezenas de pessoas aleatórias o paravam na rua para cumprimentar e pedir bençãos. E eram nesses momentos em que o garoto tinha liberdade para se exibir sobre essa recente conquista. O mais engraçado era observar a cara de inveja de alguns, principalmente daqueles próximos da sua idade. Entretanto, ao passar dos minutos, tal atividade passou a ficar cada vez mais repetitiva e entediante, fazendo com que desejasse chegar o mais rapidamente possível em seu objetivo. Para sua sorte, o trajeto inteiro não demorou mais do que vinte minutos.

O restaurante era bastante chique, um lugar que nunca antes havia visitado. A ala vip, ainda por cima, permitia que eles tivessem total discrição, e não tivessem problemas ao contar de suas vidas, justamente a finalidade daquele encontro. Shion, seu professor, dedicou algum tempo a dissertar sobre alguns detalhes de sua carreira e certas habilidades que detinha. Sentia interesse em aprender mais sobre a kekkei genkai que ele havia mencionado, e qual era o dojutsu que ele detinha consigo. O que mais lhe impressionava, de qualquer forma, era saber que a filha dele era uma Sannin com apenas treze anos, um fato que demonstrava com clareza o seu próprio fracasso como ninja.

Por outro lado, escutar aquela história, ao invés de desmotivá-lo, fez com que tivesse ainda mais vontade de treinar. O seu ânimo pela possibilidade de aprender novas coisas e evoluir era tão grande que mal prestou atenção nas palavras da moça de cabelos alaranjados. Não que importasse muito, pois tinha certeza de que acabaria esquecendo aquilo uma hora ou outra. Isso também fez com que quase não percebesse que havia chegado o seu turno de contar sobre a própria trajetória, algo que todos ali teriam que passar. Contudo, iria buscar ser o mais rápido e breve possível, para que pudesse prosseguir para outras atividades.

— Quero algo com bastante proteína! — gritou ao garçom, que se apressou e logo trouxe o seu pedido. — Certo, certo. O senhor quer saber ao meu respeito, né? — questionou retoricamente, intercalando a comida com a fala. — Sendo sincero, não há muito o que dizer. Eu não sei quase nada sobre mim. — deu de ombros e riu consigo mesmo. — O meu pai diz que eu sou como um bebê, sabe? Não pela minha personalidade, mas por outro fator... — continuou comendo, sem se importar com a falta de educação transmitida. — A minha primeira lembrança é no hospital há dois anos. Os médicos disseram que eu tinha de doze a treze anos biológicos, mas... — fez uma breve pausa, pensando em como diria aquilo.

— O meu pai disse ter me encontrado abandonado na estrada, com uma picada venenosa na cabeça. O que quer que tenha feito isso prejudicou severamente o meu sistema nervoso, e eu tenho dificuldade para criar memórias e ainda mais para lembrar das antigas. — finalizou sua alimentação e cruzou os braços, já estando um pouco irritado. — Não estou mais afim de falar disso. Por que não vamos treinar ou sei lá? — perguntou, recostando-se na cadeira e esperando que o monólogo do rapaz ao seu lado fosse tão pequeno quanto o seu.