Voltar às missões de rank D era, no mínimo, uma atividade interessante. Quanto mais o tempo passa, menos valor damos aos detalhes. Hoje eu entendo o quão importante foi a minha infância ali, sofrendo o que sofri e me calejando com a vida ano após ano. Desde cedo sonhei em me aventurar fora da vila, enfrentar inimigos poderosos e subjugá-los com a minha força. Conhecer o mundo, me lançar em tramas políticas e ser um bom adendo para a vila. Tudo isso para proteger aqueles que amo e - não menos importante - crescer como shinobi seguindo um líder admirável.

Antes, quando eu era apenas um Genin, caminhar por essas ruas não significava ver tantos sorrisos: Pelo contrário. Não que o Tirano trabalhasse em prol da alegria, não me entenda mal. A questão é que ele sabe como conduzir uma população e eventualmente as pessoas se sentem mais felizes quando são guiadas. Infraestrutura, saneamento, segurança. Isso era o que eu encontrava enquanto observava todos ali.

Caminhava tranquilamente pouco após o almoço, torcendo encontrar os destinatários dessas cartas a quem essa missão havia me incubido de encontrar. O primeiro, ao que as coordenadas indicavam, ficava na construção em pedra avermelhada que se encontrava no momento em minha frente. Bati na porta e um homem me recebeu. Nos identificamos e eu entreguei a ele uma nota. Pelo que entendi, eram os suprimentos necessários para levar ao quartel general para alimentar os militares de serviço. Tudo bem, então. Me despedi e parti quando eu e o outro ninja entramos num contrato mútuo de que nenhum dos dois queriam realmente conversar.


Já fazia algum tempo desde que eu havia feito alguma atividade militar pela vila, e eu não conseguia deixar de me sentir contente. Havia tirado o dia para entregar algumas correspondências de tramite referente ao bom andamento de algumas necessidades internas da vila. Eram informações militares como reposições do estoque de armas do quartel general, alimentação ou fardas. Apesar de não menos importante que mensagens fora do vilarejo, era inevitável chegar a conclusão de que isso me dava uma tranquilidade de parar em uma venda ou outra, cumprimentar um conhecido e até mesmo comprar um sorvete - tudo isso em missão -, o que não era comum para mim.

Na minha Bolsa de Cartas era possível encontrar outras duas correspondências. No momento, encaminhava-me para o Almoxarifado do Vilarejo da Pedra, onde deixaria uma delas. O local ficava após subir algumas escadas de pedra ao norte, ainda dentro das imediações de Iwagakure. Adentrei e me direcionei ao balcão.

- Bom dia. Tenho essa mensagem para vocês - Disse, colocando o envelope no balcão e arrastando até o homem com a Flack Jacket de Iwa. Parecia que ele já aguardava aquela lista de necessidades, como se esse tipo de informação fosse trocada todo mês.

- Interessante - Pensei enquanto saía do prédio - Talvez seja por isso que achem importante esse tipo de missão. Isso nos ensina mais sobre o funcionamento da vila e o seu ecossistema onde cada célula é importante: Desde o guerreiro no campo até o cara atrás do balcão dentro de uma sala apertada e escura.


Já era um sol de quatro horas e a tarde começava a esfriar um pouco mais em Iwagakure. Minha última correspondência do dia tinha um endereço interessante: Era diferente dos demais, afinal não remetia a uma construção militar ou coisa do tipo. Parecia um endereço normal. Ótimo, seria mais fácil ainda. Sendo assim, atravessei um pedaço do vilarejo até chegar a uma casa rodeada com algumas flores em sua frente. A porta tinha uma decoração feliz e um cheiro de café saía da janela.

Estendi minha mão e desferi quatro toques na porta de madeira. Ao ser aberta, pude ver uma mulher de meia idade com vestido verde e uma feição extremamente agradável. Entretanto, logo ao me ver, sua feição mudou completamente. Fiquei um pouco em dúvida, mas estendi a carta para ela.

- Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou pra mim, já quase começando a deixar que as lágrimas rolassem pelo seu rosto - Aconteceu algo com Haruko?

Ela pegou a carta e a rasgou em minha frente. O conteúdo da entrega era a notícia da morte de seu filho. Eu havia sido o arauto para o caos na vida daquela mulher, porém eu não soube como agir. Veja bem, como eu poderia esperar por uma situação como aquela? Eu era um mensageiro e não cabia à mim confortá-la.

- Meus pêsames, senhora - Foi tudo que eu disse antes de me retirar e me partir até minha casa com a sensação de dever cumprido, porém extremamente pensativo quanto à tudo que eu havia vivido hoje.

Considerações do Post:

Notas gerais:

Bolsa de Armas: