Fiquei pronto não muito tempo após ser convocado. Dessa vez as atividades da missão estariam concentradas no interior da vila, lidando diretamente com o controle de pessoas e situações. Chequei as pequenas bolsas de equipamentos espalhadas estrategicamente pelo corpo mais de uma vez, ajustando uma coisinha ou outra em cada uma delas. O prazer em vestir a capa enegrecida acentuava-se um pouco mais por ser uma missão onde ela provavelmente mostraria utilidade. Digo, utilidade específica é claro, uma capa vestida é útil por si só.  

Esgueirei-me pela vila como a sombra de um felino fujão. O hábito era bastante comum e quase indispensável, apesar de não precisar fugir de ninguém. Causava certa sensação de conforto e controle. Não havia notado a falta de detalhes nas instruções até estar perto do lugar. Quem deveria encontrar, onde ou quando especificamente eram informações que escapavam da minha pessoa, mas de forma alguma deixavam qualquer ansiedade ou dúvida para trás. Baixei o capuz negro e amarrei a bandana próxima ao fecho da capa, quase na altura do pescoço. Chegaria ao local pronto para ser identificado e instruído ou devidamente preparado para já começar a função, se preciso.

- Escanis, certo?! Tenho as instruções da sua missão. Sou Wasak. Em velocidade e agilidade virei-me como um gato assustado, no controle das minhas expressões. O homem era alguns centímetros mais alto que eu, o que me levou a levantar um pouco a cabeça. Se eu tivesse o cabelo um tanto mais curto talvez parecesse com o dele, e nossas peles tinham tons semelhantes. - Ecanis, senhor. Havia gentileza no som da voz de Wasak quando havia falado comigo e procurei retribuir, de forma mais moderada. Só naquele instante, durante o decorrer da breve conversa mantive o tom inexpressivo com algum sinal de vida da cordialidade, mas bem pouco. O que eu deveria fazer era simples: haveria uma feira que reestabeleceria a moral dos habitantes depois de um tempo difícil, e meu papel seria fazer com que ocorresse de forma pacífica e sem variáveis não planejadas, pelo menos de uma parte do evento. Não trabalhar em parceria com outra pessoa era algo que decepcionava meu lado curioso a respeito dos ninjas da Folha.

Uma boa maneira de recuperar parte da moral de um povo é celebrando e relembrando conquistas e feitos históricos do próprio povo. Konoha exaltava seus heróis antigos e enfatizava as retomadas e voltas por cima em momentos de muita dificuldade através do teatro, música, dança, competições e a arte em toda forma que conseguiam encontrar. De primeira pensei em tirar a capa logo que me misturei na multidão, mas a relutância em nos separarmos das coisas que mais gostamos nos ajuda muito em nossa característica primordial: adaptação. Encontrei uma forma de manter-me banhado pelo tecido negro, mas sem esconder muito de mim. Puxei para trás o pano que caía ao lado esquerdo do corpo e prendi-o atrás, deixando minha metade esquerda inteiramente visível para quem quisesse. A bandana ainda se destacava, mas não tanto quanto o sorriso encenado perfeitamente interpretado por minha pessoa. Enquanto andava entre os civis eu era apenas mais um da vila, não importa a perspectiva.  

Talvez fosse a missão que mais me entretinha e treinava ao mesmo tempo no interior da vila. A qualidade artística da Folha era realmente o que descreviam, o sabor das comidas também e a música nem se fala! Gastei um pouco tanto em satisfação dos meus desejos carnais quanto em melhoria do meu papel na missão. Ao mesmo tempo, observava de perto as características dos cidadãos de Konoha, em um número muito grande de amostras. Seus aspectos pessoais, físicos, sociais, geográficos também, tudo se apresentava como o conteúdo da aula de um excelente professor. Até tive o prazer de ver e trocar alguns sinais com Kaname, conseguindo fazê-la entender que estava em missão e não era uma boa hora, mas apreciava vê-la.

De modo geral tudo parecia ter ocorrido bem, em toda a região da feira. Atentei os ouvidos nas conversas das pessoas que vinham de outras partes e a qualidade aparentemente não diferia muito. Não significava que incidentes não haviam ocorrido, na porção central por exemplo, um dos genins havia lidado com um grupo pequeno de bêbados burgueses, como era de se esperar. Apesar da confusão, a velocidade e praticidade com que fora resolvida agradou todo mundo e o espetáculo que se passava continuou normalmente. Por mal em algumas perspectivas e bem em outras, meu maior problema fora a chuva leve logo no finalzinho da feira, enlameando boa parte das ruas. Não parecia ser problema para a maioria das pessoas, mas certamente não passaria despercebido pelo meu desagrado.  

Considerações:

Equipamentos:

Com o anúncio do fim da feira e os cinco minutos de funcionamento restantes, deixei meu papel de lado por um instante e ajudei alguns comerciantes a guardarem as mercadorias e fecharem suas lojas. A atividade faria bem aos músculos ansiosos e enrijecidos, além de me aproximar dos habitantes da vila e talvez criar algum contato necessário. Tinha esperança de encontrar Kaname novamente e aproveitar um tempinho antes de ir descansar, mas minha vontade não influenciava em nada nos fatos das coisas e acabei sendo o último a ir embora e sem vê-la, mas com um dos vários bolsinhos do interior da capa confortavelmente cheio.

Considerações:

Equipamentos: