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— Que saco! Por que ainda não consegui finalizar esse teste? —  Reclamava a jovem ruiva batendo com a testa na estante de livros. No dia anterior havia começado uma nova fase em seu treinamento com Kagayaki, seu pai. Achou que iria se dar bem, que conseguiria passar para outra fase já no primeiro dia, mas se enganou feio. Aprender a teoria por trás de jutsus medicinais, anatomia humana e até controlar bem seu chakra ela conseguia, mas não enquanto evitava ser atingida por kunais, shirikens e todos os tipos de lâminas possíveis as quais eram lançadas por seu pai sem cessar. As missões que o time de Saori recebia eram "procure um gato perdido", "resgate o cachorro", "limpe o jardim" e coisas do gênero e por esse motivo a garota queria melhorar suas habilidades, na esperança de que se o fizesse, começaria receber missões melhores, mais perigosas e divertidas.

Depois de passar parte da manhã inteira arrancando erva daninha do quintal da senhora Gamaryu ela se despediu de seus companheiros de equipe e não voltou pra casa sem antes passar no mercado e comprar mais ingredientes para a cozinha, afinal, sua mãe estava numa missão de espionagem há cerca de uma semana; e seu pai, trabalhando no hospital da vila, não tinha tempo para cozinhar, então o mínimo que ela podia fazer era deixar o almoço pronto para quando ele chegasse.


Após o almoço, a genin direcionou-se para um dos campos de treinamento de Kumogakure para dar continuidade ao processo de aprendizado e melhoria de suas habilidades. Concluiu que, se quisesse desviar dos ataques com facilidade e infundir chakra ao mesmo tempo, ela precisava ficar mais rápida. E assim o fez. Com os cabelos amarrados em um coque no alto da cabeça e uma roupa um pouco grossa para protege-la do frio intenso ela deu a largada. A meta era atravessar o campo e contar em quanto tempo finalizava a tarefa para ter uma base e após isso ela tentaria por mais vezes na tentativa de melhorar o seu tempo final. Poucos minutos depois, chegou ao fim da área demarcada e anotou a quantidade de minutos exigida para chegar até ali. Não estava muito cansada, porém começava se arrepender de ter ido treinar com um casado pesado. Devia ter imaginado que apesar de todo o frio, quando começasse correr o sangue esquentaria e ela sentiria calor. Que tipo de médica queria ser se não se tocava à fisiologia do próprio corpo?

Segunda rodada. Pos-se a correr, forçando cada fibra dos músculos de suas coxas e panturrilhas afim de ganhar um pouco mais de velocidade dessa vez. Com o calor aumentando e o coração pulsando forte no peito, o suor começou a escorrer por seu corpo. Deixava pequenas nuvens por onde passava, deixadas por sua respiração e corpo extremamente quente em contato com o ar frio ao redor. Ao fim do percurso soltou um gritinho de alegria por ter chegado trinta segundos mais rápido do que na primeira vez. Livrando-se do casaco, iniciou a corrida trajando um top para proteger o busto e, ao fim, percebeu que o peso de sua roupa estava lhe atrasando. "Nota para mim mesma: treinar com roupas mais leves." A ruiva continuou repetindo a corrida por vezes sem parar até que suas pernas já não aguentavam mais, o músculo fatigado, falhando hora ou outra, sentou-se à beira de uma grande árvore e escorou a cabeça em seu tronco para descansar.

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Com o tempo o corpo da garota foi se esfriando. Estava parada a alguns minutos, os músculos das pernas ainda muito cansados, mas o coração já não pulsava rápido e forte porque ela não estava mais em movimento. Um arrepio frio se iniciou no meio de suas costas e correu para dentro do cabelo que, por sinal, estava um bagaço; o rabo de cavalo frouxo e torto com fios pendendo de todos os lados. Quando o frio apertou a garota se levantou de onde estava e vestiu seu casaco outra vez. Hora de ir pra casa? Não, melhor não. Suas pernas estavam falhando, não podia mais tentar correr visto que era difícil até andar, mas ainda podia treinar. Se queria melhorar sua velocidade para focar o chakra em movimento, por que não treinar o controle de seu chakra? Até onde ela podia ir com ele? Nunca havia testado seus limites e essa era a hora.

Sentou-se à beira da grande árvore novamente e fechou os olhos para se concentrar enquanto fazia alguns selos de mãos em frente ao peito. Sentia seu chakra nascer, crescer, fluir e girar. Era como se pudesse ver sua rede de chakra, como seu sistema cardiovascular. Concentrava-se cada vez mais para usar sua primeira natureza elementar de chakra, o Suiton. O clima estava tão úmido e favorável, não precisaria de muito esforço para efetuar essas técnicas. Focada, direcionou determinada quantidade de chakra para seus pulmões e o comprimiu cada vez mais, até que sentiu a impossibilidade de continuar forçando e o assoprou para fora como um trompete de água. O jato foi preciso mas não forte o suficiente, acertou uma pedra logo à frente e ela mal se moveu.

Deixando um longo suspiro escapar, Saori continuou a repetir o que havia feito, vez após vez. A cada sopro o jato ia mais certeiro mas ainda não causava dano algum à pedra. — Ai cara... Já estou quase sem chakra, acho melhor ir pra casa. — Pensou alto, batendo a cabeça de leve na copa da árvore. Fechou os e se concentrou para tentar outra vez. Dessa, preencheu os pulmões com o chakra elementar, mas de uma forma focada. Todo o chakra devia sair por uma única via e não por todas como ela estava deixando acontecer. Isso foi um pouco mais difícil de conseguir. Com os pulmões carregados de chakra comprimido, Saori lançou o jato d'água focado exatamente no centro da pedra. Quando terminou a execução a ruiva percebeu que, para sua surpresa, a rocha havia sido perfurada e o buraco aberto na pedra era grande o suficiente para passar seu braço inteiro. Assim, muito mais exausta do que antes, a genin se levantou de onde estava sentada e rumou de volta para sua casa com um sorriso de realização no rosto, muitas dores musculares e a certeza de que podia continuar melhorando mais e mais a cada dia.

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Outro dia frio se iniciava em Kumogakure no Sato e Saori, como sempre, rezava para que o inverno acabasse logo. Não era como se odiasse o inverno, ela simplesmente se sentia mais disposta a levantar e colocar seus afazeres em prática quando não estava tão frio de manhã. Como não tinha o poder de decidir quando as estações acabavam ou de controlar o tempo, a ruiva se forçou a levantar e tomou um banho gelado para despertar de vez. Que erro, o contato da água com sua pele chegou a doer. Assim que terminou sua higiene matinal, a garota saiu de casa, tremendo, coberta por uma grossa e pesada capa de linho, e o cabelo solto para aquecer o pescoço. Não gostava de deixa-lo assim quando ia treinar, mas com o frio que fazia na vila, viu necessidade.

Chegando em um dos campos de treinamento da vila, deu início ao seu. Queria obter mais resistência física, e para isso devia forçar-se ao seu máximo. Seja gastando chakra, correndo ou qualquer outra coisa, desde que chegasse ao nível da exaustão. Assim, começou correndo ao redor do campo. Nas primeiras duas voltas segurou-se para não atingir a máxima velocidade, mas isso não a estava cansando, então resolveu forçar até o limite. Concentrou um pouco de chakra nas solas de seus pés, isso era tarefa fácil devido o seu grande controle sobre sua rede de chakra, e retomou a sua corrida. Dessa vez, forçando os músculos de sua perna para atingir a velocidade máxima que podia alcançar. Correu por minutos, sem parar até que começou a sentir os músculos de suas coxas queimarem e um intenso calor sendo formado no centro de seu peito devido as intensas contrações feitas por seu coração. Sentia o sangue pulsar em suas veias e a caixa torácica em intenso movimento, mas ainda assim não parou. Precisava forçar até o limite. Forçou a corrida o máximo que pode, até que se tornou difícil a respiração, com os pulmões queimando por não dar suporte de oxigênio suficiente para o corpo devido a pulsação elevada, Saori deixou-se cair sobre os joelhos e deitou-se na grama que cobria o solo.

Olhando no cronômetro que trazia pendurado em seu pescoço, um sorriso fraco se formou em seu rosto. Orgulhosa de si mesma por ter conseguido bater seu próprio recorde. O preço era ficar incapacitada de se mover por algum tempo, até que sua pulsação voltasse ao normal e seu cérebro parasse de enviar reflexos espasmódicos às suas pernas cansadas. Olhava para cima, para as nuvens pesadas e cinzas. "Vai chover." Fechou os olhos e cochilou ali mesmo, no meio do campo de treinamento. Quando seu corpo esfriou e o suor secou na pele, não sentiu frio pois ainda estava coberta por sua capa.

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Cerca de duas horas depois, Saori acordou de seu sono profundo com as primeiras gotas de chuva fria que começaram cair em seu rosto. Sentou-se na grama um pouco confusa, parcialmente recuperada de sua corrida, já não estava mais exausta. Levou a mão esquerda à parte anterior de sua cabeça e notou que seu cabelo estava rígido e empastado de lama devido. "Droga, vou ter que lavar o cabelo outra vez nesse frio..." — Ugh! — Resmungou, antes de levantar-se para fugir da chuva. Nos arredores do mesmo campo de treinos havia uma pequena reserva florestal com diversas árvores de pequeno médio e grande porte, o lugar perfeito para se esconder da chuva. Sem demorar muito, sentou-se sob a sombra de uma grande árvore cuja quantidade exagerada de folhas cobria uma grande área ao seu redor. Aqui está bom., pensou.

O cansaço havia se esvaído, mas as pernas ainda apresentavam sinais da corrida desesperada de algumas horas antes, como dor no quadríceps da coxa e no conjunto de músculos que compunham sua panturrilha. Esticando as pernas para frente a garota começou massagear os músculos afim de aliviar a tensão das fibras que insistiam em permanecer com tônus elevado. Não obtendo bons resultados, Saori concluiu que teria que descansar por mais tempo e resolveu dar continuidade a seu treino de outra forma. Ha algum tempo notou que não conseguia realizar selos de mãos com tanta velocidade como seus pais ou alguns chunins que conhecia e queria chegar neste nível.

De coluna reta, a ruiva começou a praticar seus selos de mãos. Cavalo, tigre, javali, serpente, pássaro, ela repassou todos os que conhecia enquanto repetia seus nomes; incluindo os selos específicos para os jutsus do clã ao qual ela descendia, Yamanaka. Tentava repetir a sequencia da execução cada vez mais rápido, até que as mãos começaram a doer. Parecia tarefa fácil, mas não era. Em meio ao treino, notou que de nada adiantava fazer os selos corretamente se não aplicasse a quantidade de chakra necessária para cada um deles, afinal os selos de mãos servem para ajudar no controle da rede de chakra para a concretização de jutsus. Assim, aproveitando-se da chuva resolveu utilizar seus jutsus do elemento Suiton para melhorar o treinamento.

Efetuou os selos de mãos necessários para a realização da mais fácil técnica do elemento conhecida por Saori. Focalizando nos pulmões, o chakra conjurado pelos selos. — Suiton: Mizurappa — Soprou todo o chakra suiton para fora e uma torrente d'água saiu de sua boca, acertando uma das árvores à sua frente. Nada muito danoso. Passado isso, resolveu dificultar um pouco mais e unir a execução de duas técnicas. Prontamente, começou a fazer os selos para a primeira das duas, focando o chakra nos pulmões novamente. Tentava executar os selos o mais rápido que podia e soprou toda água de seus pulmões com pressão. "Suiton: Suijinheki" Uma parede de água foi se formando em sua frente enquanto a genin continuou a fazer selos. Era difícil manter a água sendo expelida ao mesmo tempo que focava o chakra em outra ação para realizar outra técnica, mas ela conseguiu. — Suiton: Suiryūdan no Jutsu — Exclamou alto e toda a água que estava sendo expelida na execução do Suijinheki se contorceu no ar, tomando forma de um enorme dragão de água que circulou algumas árvores enquanto a ruiva mantinha a execução de selos para controla-lo e em seguida se desfez completamente sem atingir nada. Ela não queria derrubar uma das árvores a toa.

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