A biblioteca da vila

Missão Rank D

Acordei cedo, o sol ainda se preparava para aparecer, alguns finos raios de luz escapavam e amenizavam a escuridão, mas o sol ainda permanecia escondido atrás do horizonte. Levantei lentamente da cama e coloquei minha roupa habitual. Olhei pela janela da minha casa o ambiente lá fora, todas as casas na escuridão, as ruas desertas da vila eram habitadas por um silêncio perfeito, era uma noite boa para se estar imerso em sonhos, mas não pra mim. Eu havia recém me formado, Depois de ter vivido como um fracasso em meu antigo grupo, essa era a primeira vez em que agiria sozinho, cumpriria minha primeira missão, não consigo explicar, mas era um marco para mim, então, não estava conseguindo dormir propriamente.
Perdi a noção do tempo olhando pela janela, divaguei por horas com a mente focada no passado, mas sem pensar em nada específico, quando me dei conta, o sol já havia emergido o suficiente para que fosse quase plausível ir atrás de minha primeira tarefa como ninja.
Pulei pela janela, a capa esvoaçando em minhas costas. Aterrisei com maestria e me pus de pé, saboreando a doce sensação que só o amanhecer é capaz de oferecer. Degustei-a por alguns segundos e comecei minha caminhada até o quadro de missões, onde seria atribuído meu primeiro dever.


O resultado não me foi uma surpresa, mas também não posso dizer que não foi decepcionante: Fazer a faxina da biblioteca da vila. Onde estava Axel e todo seu papo de grandeza agora? Dei uma breve risada carregada de remorso ao pensar nisso.
Minutos depois, lá estava eu atravessando as portas do lugar, foi estranha a sensação de entrar lá, a movimentação nas ruas já estava consideravelmente maior do que quando tinha saído de casa, sair daquele ambiente carregado de vozes para o silêncio quase absoluto da biblioteca me fizera pensar, por um segundo, se tinha acontecido algo de errado, até eu me lembrar de onde estava.
Aproximei-me do balcão onde estava uma bibliotecária, uma senhora do auge de seus... 80 anos eu diria. Chega uma idade onde é difícil adivinhar quantos anos uma pessoa tem, somente se pode dizer que é idosa, uma dedução que, não maioria das vezes, não se erra.
- Bom dia! Vim ajudar com a faxina - Falei, tentando achar um ângulo em que pudesse olhar nos olhos da mulher de maneira que seus olhos não ficassem escondidos por sua cabeleira grisalha, desisti depois de um tempo.
- A vassoura e o resto do equipamento está nos fundos, boa sorte - Disse secamente.
Olhei para ela fixamente esperando que fizesse o mesmo, não pareceu notar. Afim de chamar sua atenção, estendi a mão para que ela a apertasse. Ignorou esse gesto também. "Velha ignorante" falei mentalmente.
Andei até os fundos e separei panos, vassoura, balde, inseticida, etc. Depois disso, comecei a fazer coisas de faxina. Primeiro varri o chão, essa  com certeza foi a parte mais chata do processo, não se tem muito o que fazer quando se está esfregando uma vassoura no chão, mesmo assim, como iria varrer todo o lugar, aproveitei o processo como modo de conhecer a biblioteca, decorar os corredores, conhecer as salas, ver que tipo de categorias de livros tinham por lá...
Depois de terminada a primeira parte, era hora de tirar a poeira dos livros. Basicamente, pegava os livros um por um e os surrava com o pano para que a poeira fosse embora. Apesar de ter sido bastante demorado, não foi tão chato quanto parece, a não ser pelos espirros constantes que me causava. Toda vez que pegava um livro, observava se era interessante ou não, muitos deles eram, não parava para lê-los claro, mas o simples ato de ver um livro sobre algo que nos agrada já é algo prazeroso. A expectativa de saber se o próximo seria interessante ou não tornou o processo bem menos massante, e se eu me decepcionasse com o título do livro, podia torcer para que o próximo fosse melhor.
A última parte consistia em caçar insetos que pudessem ser uma ameaça para os livros, como as traças, por exemplo. Essa foi a mais legal de todas. Digo "legal", e não "menos chata", porque realmente me diverti, imaginei-me como um caçador, ocultado pela densa folhagem de estantes e mesas, observando a presa e esperando o momento certo para atacar. Desenvolvi várias estratégias para achar os insetos e suas casas, estratégias que não vale a pena contar aqui. Resumindo, pode-se dizer que era simplesmente emocionante procurar pelas criaturas atrás de papéis, nas frestas dos móveis e nos cantos menos corridos da biblioteca.


No fim, eu havia feito um ótimo trabalho, estava levemente orgulhoso, e mesmo que a bibliotecária não tivesse mostrado o mesmo sentimento quando me despedi, estava feliz. Minha primeira missão não tinha sido como imaginei, sinceramente, esperava um pouco mais de explosões, lutas, romance, como nas histórias, sabe? Mas isso não significa que não estava satisfeito, meu primeiro trabalho de verdade tinha sido um trabalho bem feito, e isso é mais do que eu jamais esperei em meus tempos na Fênix vermelha.
Fiz um breve desvio no caminho para casa e apresentei o relatório da missão para meus superiores. Depois disso, voltei para casa com o sol em minhas costa e os passos irregulares, como se fosse uma dança, mas não era propriamente isso, era meu corpo expressando algo que minha mente, sozinha, não seria capaz de expressar, algo que, por muito tempo, jamais esperei sentir, estava ansioso pelo amanhã.
- A jornada de mil quilômetros começa com um passo. A jornada de mil quilômetros...


CH: 200/200
HP: 200/200
 

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