Um silhueta se movimentou pelo seu quarto. Andou em passos largos na direção da janela. Estava tudo escuro, embora fosse dia. Em meio as sombras, fez-se a luz. O homem alto abriu as cortinas que impediam os raios do sol de atravessarem. Eles então invadiram o quarto numa enxurrada, ofuscando e trazendo dor aos olhos de Kenta. Suas pupilas se contraíram e entre imagens borradas, ele viu o seu pai. Era um homem adulto, alto, com músculos rígidos e volumosos. Pelos negros lisos cobriam toda a pele do antebraço, além de uma barba longa que cobria o queixo e parte da face graças às costeletas grossas. Ele vestia um quimono totalmente preto, de um algodão liso e aconchegante.
— Acorde, filho, é hora. — disse ele com uma voz imponente. — Agora já és um Genin. E, a partir de hoje, daremos continuidade ao nosso treino. Você um dia herdará a nossa casa e, por isso, deve ser o mais forte Sarutobi.
— Certo, pai... — convalesceu erguendo o tronco.
Bocejou e esfregou os olhos com as costas das mãos. Espreguiçou-se e finalmente estava pronto.
— Vista-se... Teremos uma grande aventura pela frente... — advertiu sorrindo.

Trajou-se adequadamente. Camisa negra longa de linho, um tecido suave e que não grudava com o suor. As calças eram de nylon, igualmente escuras. Calçou as sandálias verdes que comprara recentemente e partiu. O cabelo longo balançava a cada passada. Deparou-se novamente com seu senhor nos fundos de casa. A residência dava acesso às montanhas mais ao norte do vilarejo. E era localizada junto à periferia do vilarejo.
— Aonde vamos? — questionou o jovem.
— Iremos para lá. — apontou na direção da grande cordilheira. — Se quer ser um grande ninja, é lá que deve treinar.
E juntos caminharam. E logo a caminhada virou uma corrida. Os atributos de Kenta não poderiam se comparar aos de seu pai. Estava longe de ver a sombra dele. O mais velho era consciente disso e reduzia o passo. Percorreram uma longa trilha lado-a-lado. Já aqueciam para o que viria a seguir.

No sopé de uma grande rocha, Kenta vislumbrou o céu e não conseguiu ver o seu cume.
— Esta daqui deve ter uns dois mil metros... Talvez mais... — avaliou.
— Cinco mil. — disse o pai. — Esta é a maior montanha que Kumogakure possui. Possivelmente a mais íngreme de todo o mundo. Suas paredes estão recheadas com musgo verde que dificulta a escalada. Incontáveis ninjas tentaram e pereceram ao escalá-la. Aqui antes havia um cemitério deles, entretanto ele foi devastado por incontáveis lutas que se deram por aqui entre ninjas e tribos nativas. Este terreno é uma verdadeira provação. Se conseguir enfrentá-lo, Kenta, se tornará verdadeiramente forte. — garantiu ele. — Vou acompanhá-lo, contudo só irei agir se sua vida for colocada em risco. Depender de mim não fará bem a você, garoto. Dê o seu máximo. — instruiu.
O rapaz concordou com um balançar de cabeça simplório. Colocou-se afrente da formação colossal e a agarrou com pés e mãos. Estavam embebidos em energia, o chakra. Era escorregadio, ainda sim tinha atrito o suficiente. Escalou-a com dificuldade. Cada vez que erguia o braço e as pernas, parecia um desafio completamente novo. Já Koto fazia diferente. Com um dos braços e ambas as pernas amarradas por cordas, ascendia o terreno com somente uma das mãos.

A altitude aumentava progressivamente, tornando exaustivo o treinamento. Ao final de três dias, encontrou a primeira das plataformas. Um lugar onde finalmente poderiam repousar. Ou poderiam, se não fosse pelo regime intenso de treinamentos programados pelo pai.
— O mundo não perdoa os despreparados, Kenta. Perder tempo não é uma opção. É nosso dever aproveitar qualquer curto intervalo que tenhamos... — comentou pouco antes de explicá-lo o que fariam adiante.
Decidira o homem por treinar a velocidade de seu filho. Naquele lugar, poderia praticar duas de suas valências em uma só oportunidade. Iniciou com uma série de exercícios focados na explosão, a fim de fazê-lo alcançar uma aceleração maior.

Durante uma semana inteira, praticaram sobre as nuvens. Treinava-o tão pesadamente que tudo o que o garoto sentia desde o início era cansaço. Todavia, não deixaria que a sua peteca caísse. Permaneceu em persistências, resiliente, acreditando que depois de toda aquela tortura seria agraciado com os louros, os resultados. Se seu sonho era o de se tornar o líder do vilarejo, um mero treinamento de velocidade não amoleceria seu espírito vigoroso. Corridas incontáveis e trocas de golpes aos montes, somava-se tudo na intenção de provocar seu corpo ao melhoramento. Se passavam dez dias desde a saída de casa e os músculos doíam tanto que um simples contato era capaz de nocauteá-lo. Aprendeu, lentamente, a alcançar novas velocidades com o corpo. Seu nível de consciência corporal não acompanhou seu progresso enquanto velocista. Por isso, não conseguia manter a coordenação dos movimentos ao utilizar-se de seu máximo, criando-se uma questão a ser resolvida numa outra oportunidade.

Tendo acentuado a agilidade de seus movimentos, chegava a hora de continuar ascendendo a montanha. Pés e mãos iam lentamente se aproximando do final da jornada. A cada metro escalado, aumentava-se a dificuldade dos demais. O lodo tornava-se escorregadio demais e os vincos no grandioso rochedo já eram escassos. Ao final de uma quinzena, melhorara bastante o seu condicionamento físico, conseguindo respirar mesmo onde a oferta de oxigênio era baixíssima. Seu pai achava interessante a capacidade dele em se adaptar às situações adversas. E era provavelmente esse o motivo de Kenta ser um prodígio reconhecido. Um mês bastou. Com os pulmões dilatados ao máximo, alcançou o cume da montanha. Do alto dela, viu todo o vilarejo e as terras mais distantes no além-mar. Seu desejo era de desbravá-las, mas ele era ainda menor que seu desejo por um dia comandar Kumogakure. Com a sensação de dever cumprido voltou para casa.

Kenta; 225/225 225/225 00/04

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