Concentrado, absolutamente imerso, seu olhos fixos dançavam objetivamente sobre o papel, digerindo o conteúdo formado pelo amontoado de letras, que se dava num amontoado de palavras, que emergiam em frases e formavam o todo do texto prescrito. Nisso, não tardou — embora a passagem desse tempo pudesse ser considerada relativa, uma vez que seu estudo aficionado parecera transpassar a barreira do espaço-tempo atual e transportá-lo em pensamentos e considerações. Pousou o pergaminho sobre a relva abaixo de si, entre as duas pernas estiradas no descampado. O fogo lhe viera naturalmente, desde que podia se lembrar de usar ninjutsu, mas era outra estória aprender uma nova natureza elemental.

Como diabos deveria iniciar-me no raio?, pensou, observando as nuvens cinzas e volumosas que deslizavam, distantes, pelo céu igualmente cinza. Tentou escavar na mente alguma memória que lhe remontasse ao uso de técnicas do Relâmpago, esforçou-se, pensou, espremeu seu cérebro com mãos invisíveis; dele, escorreu um líquido econômico, incolor; inútil. Colocou as palmas das mãos viradas uma para a outra, deixando um espaço ao centro, como se comprimisse uma caixa ao centro, uma caixa invisível. Deixou fluir por entre seus dedos aquela energia que, ainda agora, pouco conhecia, pouco entendia de suas origens e possibilidades além do que já se sabia. Um vento forte, arauto da tempestade, balançou-lhe as vestes, farfalhando o tecido de linho fino e dobrando-o a se debater contra o corpo esguio que espreitava debaixo das roupas. Todas as coisas fazem sentido então!, e pôs-se a imprimir um ritmo maior, uma intensidade que jorrou abrupta e forte entre suas mãos, se fazendo matéria, como pulsos vivos de um azul ainda discreto, que mal se distinguia do ar diante da visão — semi-visível apenas. Não fechou os olhos, pois já agora conseguia evocar uma outra vez aquela mesma concentração de que fizera uso quando lendo o pergaminho com afinco, imerso em absoluto foco no emprego de seu chakra que dançava, cada vez mais agitado, perigando vez ou outra sair de controle — pois ainda não o dominava em seu auge, como buscaria fazer muito em breve — vislumbrava alguns acenos, lampejos azulados, o ascender daquela força misteriosa. Um trovão, o ribombar súbito, um rugido beijando seus ouvidos; os pelos eriçados; um sopro gélido na nuca desprotegida; o calafrio que corria rapidamente espinha acima, para morrer onde o pescoço dividia cabeça e tronco; suas mãos, calejadas da prática com espada; o risco branco, o céu negro, as nuvens cinzas, tons mortiços embrenhados na noite, a voz inaudível, o chamado da natureza. Os céus desciam sobre ele e ele não se abatia, não hesitava, afastava o medo com sua aura inabalável de confiança. O rugir! Bem soube: o deus do trovão se acovardaria diante daquele jorro momentâneo em suas mãos, a dádiva da criação, uma centelha do infinito; a criação. Entre os dedos, lambendo a derme em toda sua fragilidade, pequenas faíscas, raios pré-formados: o domínio, a aurora.

Hp: 950. Ck: 1200. RC: 1000.

Spoiler:

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