A caminhada a esmo nas ruelas de Konoha perdeu sua insignificância quando uma Strigidae voou baixo e despejou um pergaminho branquiço. De oblíquo, meus olhos captaram a ave e também o papel. Desvencilhei o pergaminho e comecei a lê-lo. Era uma missão. A escrita formal e completamente legível indicava sobre um carregamento parado próximo à fronteira do país do vento. Havia a necessidade de que alguém fosse lá e escoltasse-a até os perímetros da folha. Desta vez, eu seria o encarregado.

De certo modo, eu estava preparado. O manto encapuzado verde-jade envolto nos ombros, as bolsas ninjas aninhadas à perna e à cintura e o espírito estável, sobretudo, confiante. Célere, passei pelo calçamento de cascalho às pressas. Desviei de um grupo de comerciantes e uma carroça, vi outro logo atrás e algo que imaginei ser uma caravana em uma situação parecida com a qual eu fosse encontrar. Por fim, cruzei os imensos portões duplos de madeira da saída do vilarejo e parti para o coração da floresta, avistando a copa d'árvores logo a frente. Tudo ali dentro seria uma incógnita.

À medida que as árvores iam se aninhando e o sol se escondendo atrás das folhas, tornei-me tenso. Estava sozinho a algum tempo e não sabia o que encontraria em seguida. Quer sim quer não, o papel dizia que a caravana estava próxima. Abanei a cabeça à guisa de desanuviá-la. Fiquei atento.

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Senti um pequeno alívio ao avistar as primeiras formas vivas em tanto tempo de um silêncio perscrutador que invadia o meu ser, vindo de todos os lados daquele imenso mar verde. Passado a copa d'árvores, o horizonte tomou o formato irregular de dunas douradas e ondulares, nada além disso. O fim do verde demarcava a fronteira com o País do Vento.

Saltei um tronco, depois outro. O ranger da madeira chacoalhando com meu peso fazia várias folhas desgrenharem da árvore e criarem uma cortina de folhas dançantes. Pulei até o chão, aterrissando suavemente. O farfalhar das folhas cessou e avistei um morador lânguido e pensativo. Seus olhos perscrutavam os céus, afim de imaginar quando cairia a noite - imaginei. Ouvi-o resmungar alguma coisa quando me aproximei.

—— Essas rodas tinham que quebrar logo aqui?! Vamos, temos que colocar essas carroças para andar antes que a noite chegue, se não vai dar ruim. —— grunhiu o homem exasperado. Os outros atrás dele, sentados, claramente lânguidos, apenas o observavam com ar desamparado e impaciente. Haviam mulheres e crianças no bando itinerante, todas igualmente cansadas e nervosas.

—— Senhores! Presumo que seja eu o que vocês esperam. Sou um ninja de Konoha,vim exportá-los até a vila com segurança. —— tratei de tranquilizá-los conforme me aproximava a passos lentos. Omiti o fato de ser um genin, pelo mesmo me causar certa vergonha, mas não contive as palavras certas na tentativa de trazer a atenção à mim. Era preciso que confiassem.

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Os homens com ar tarimbado e atarefado se amontoaram atrás das carroças, tratando de consertá-las e colocá-las em curso o mais rápido possível. O homem que se portou diante de mim, com ar austero e superior mostrou-se confiante diante de minha palavra. Seu dialeto era forte e a voz de barítono soou rígida em meus ouvidos. Ouvi um estalido vindo das carroças e um dos trabalhadores acenou, com suor escorrendo-lhe o rosto. Estávamos prontos para partir. Suspirei, quando o peso de ter que esperar mais me deixou os ombros.

—— Então, vamos! Quanto mais cedo, melhor. Seria bom se não ficássemos na estrada quando a lua aparecer.  —— disse, tênue. A cabeça virando para a direção que eu viera. A trilha no chão estava repleta de sulcos de outras carroças, mas nenhuma parecia estar perto da nossa caravana. Partimos assim que o líder se pronunciou.

—— Depois que estiverem prontas, será rápido, irei forçar os cavalos a andarem mais rápidos.  
—— Há certa pressa, mas não se preocupe. Se os cavalos forem bons, chegaremos a tempo. Haverá descanso e comida para todos.  —— tratei de tranquilizá-lo. Quanto ao trajeto, restava boa parte a se seguir, embora o caminho estivesse obstruído pelo terreno areoso que se postou à frente. Como vim pelas árvores, não o notei. Felizmente, havia um jeito de contorná-lo, embora houvesse de trespassar as árvores no matagal na margem da estrada.

—— Teremos de contornar. Temo que as carroças não passarão ali. —— disse enquanto me agachava para analisar a areia. Pus um dedo e tentei enfiá-lo um pouco mais fundo. Era certo de que as carroças, por mais vazias que estivessem, não passariam ali. —— Vamos por ali. Parece haver um caminho. —— apontei para uma gruta onde os troncos estavam separados por meia dúzia de metros. Poucos sulcos no chão e arbustos emaranhados e poeiras indicavam que outros já passaram por ali. Auxiliei no processo de transgressão, retirando os poucos obstáculos que via no caminho para que as rodas não entalassem. Faltava pouco para o crepúsculo e tratei de dobrar minha atenção, parte para ajudar os trabalhadores, parte para perscrutar o local; não poderia ser pego de surpresa por bandoleiros.

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As árvores se estreitaram junto aos galhos e arbustos. O caminho era pequeno demais para as carroças passarem, a menos que alguém retirasse os obstáculos do caminho com destreza e celeridade. E foi o que fiz, por um tempo. Com a ajuda de uma Kunai afiada, cortei com incisão os galhos menores. Com as mãos, afastei os arbustos para que as próprias rodas das carroças passassem por cima sem problema. Olhando para a margem, podia se ver o fim do terreno arenoso e o começo do terreno batido. Faltava pouco, mesmo parecendo ter se passado uma eternidade caminhando por dentro da floresta.

—— Por favor, se esforcem um pouco mais e sairemos daqui.
—— Retirem todos os objetos que derem das carroças, vamos ter que colocá-las na trilha de novo. Falta pouco, mas teremos que passar pela areia movediça. —— disse, enquanto guiei com as mãos uma carroça para que se apressasse e entrasse novamente na trilha. A carroça se estreitou mas passou pelas árvores, até chegar na areia movediça. Era inevitável e um risco a se correr. Bastava alguns empurrões esforçados e seria o suficiente para desengatar as carroças da areia.

Estava escuro agora. A lua pálida começava a se postar no lado oposto donde o sol se pusera. Os seus poucos feixes tênues foram o suficiente para iluminar o bastante para que pudéssemos nos enxergar naquela escuridão, mas não era o suficiente.

—— Alguém tem uma tocha? Se tiverem, acendam-nas. Teremos de correr o risco. Não podemos nos dar o luxo de cruzar com outros terrenos assim. —— era outro risco a se correr. A luz atrairia bandidos, mas a escuridão completa traria demônios ainda piores. De todas as formas, o som do ranger das carroças não era inaudível. Alguém surgiria por detrás das nuvens negras que se formavam dos lados da trilha. Eu sentia isso. Fiquei firme, assim como a mente. Mantive-me de olhos abertos o tempo todo.

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Havia barulho do ranger da madeira com metal, rodas rolando, pessoas se encolhendo e se cobrindo contra o a brisa gélida e pálida da noite. O pouco burburinho das conversas que se ouvia outrora não estava mais presente. O cansaço contaminou todos que trabalharam durante o dia, todos que faziam parte da caravana, exceto os colcheiros.

—— Ninja-san, eu sei que não estamos longe, mas a noite chegou muito rápido e estamos cansados. Podemos acelerar os cavalos, mas eles podem se machucar, e mesmo que não, estarão famintos e exaustos. Se prometer que konoha cuidará dos animais, podemos estimular eles bastante e carregar todos nós. Só precisamos ter cuidado com armadilhas.  —— sua voz soou macambúzia.

—— Farei o possível para que nada de ruim ocorra nesta viagem. —— tranquilizei-o, e todos que me olharam de viés. Feito isso, me postei na dianteira de uma das carroças do meio, onde eu tinha fácil acesso à vanguarda e retaguarda do comboio. Se algo ocorresse de qualquer lado, eu estaria pronto para interceptar. Soltei um bocejo de sono, apesar da noite ainda se principiar. Embora o corpo relutasse um pouco, os olhos mantiveram-se abertos e precisos, o tempo todo. Vez por outra, olhava para trás para certificar de que tudo estava nos conformes.

E assim fomos até Konoha, onde o prometido abrigo os esperavam, assim como comida e descanso. Não era mentira que Konoha era hospitaleira. A copa de árvores logo se reduziria até poucas trilhas repletas de sulcos formados por outras carruagens que chegavam, mas nenhuma no momento. Seríamos as últimas, devido ao horário. Talvez fosse um retrocesso na missão, mas ao que tudo indicava, todos estavam seguros e para mim, era o que importava.

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