O medo é uma característica que afeta a todos os seres, dos mais jovens aos mais velhos e sábios, e o que Judal tinha naquele momento não era somente o medo comum que todos os seres sentiam. Era algo mais forte, quase primordial, desde sua epopeia nas ruínas de Kirigakure o menino não era mais o mesmo. Durante muitas vezes tinha lapsos emocionais que o paralisavam faziam com que o chunnin colocasse a si e os outros em risco quando os mesmos aconteciam. Era necessária uma mudança e como faria isso? Lutando? Enfrentando os medos de que maneira, meditando, colocando-se em perigo? Ele não sabia, mas estava ali naquela floresta justamente para tal. Não iria arredar o pé enquanto não terminasse e superasse quaisquer fossem os problemas.

- Vamos lá Judal, eu sei que você consegue. - disse confiante para si, caminhando em meio as árvores que já davam sombra para todo o local, tornando o ar da floresta mais frio e úmido, o que era bom, afinal odiava calor mesmo que fosse bom em determinados dias e situações. Correu os olhos pelo local e decidiu que ali seria seu acampamento. Parou ali mesmo, colocando as suas coisas ao solo e preparou uma pequena barraca, e decidiu pegar alguns gravetos para preparar o fogo e o seu jantar durante a noite, percorreu alguns metros quando escutou um estrondo de água a sua direita, olhou para lá e nada viu, alguns gritos se tornaram audíveis ao seu redor, homens clamando por piedade e serem salvos, os tripulantes daquela viagem que fora fracassada devido ao ataque do imenso monstro.

- Não! Não! - colocou as mãos sobre a cabeça, urrando de agonia com todas aquelas lembranças, todo aquele momento angustiante que viveu em meio ao mar que em vez de torna-lo mais forte havia lhe tornado fraco, não aguentava mais viver sob a sombra de seu medo, era a hora de retomar o controle de si próprio e garantir o seu futuro como um ninja forte, não como um covarde que não conseguia superar sequer seus próprios demônios. Caiu de joelhos no chão, segurando firmemente os fios negros de sua cabeça enquanto tentava se livrar daquela sensação aterrorizante.
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Era como se estivesse de novo em alto mar, sentia o desequilíbrio do corpo, até mesmo o balanço das ondas batendo no casco do navio, cada segundo que se passava o colocava mais e mais na alucinação que estava costumeiramente caindo sempre que algum barulho não identificado lhe assolava ou até mesmo sua mente não se encontrava concentrada o suficiente no objetivo. Com isso ouviu ao fundo uma voz lhe alertar - Você não foi capaz de me derrotar, não foi capaz de sequer me mostrar a força de um ninja. É só mais um tolo que acha que manda no mundo com essas habilidades toscas. - suspirou - É um pobre infeliz. - riu ao fundo, batendo suas barbatanas e logo um som de mergulho tomou conta do local.

Judal socou o chão com força, tentando sair daquele mundo de pesadelos que carregava consigo, a culpa por ter tantas vidas ceifadas a sua volta, a raiva por ter sido inútil quando eles mais precisavam, precisava fazer algo para que isso viesse a mudar - Eu inútil? Sou apenas um ninja que faz as coisas da maneira correta e tenta ser eficiente. E você que é um covarde que vive nas profundezas escondido? - fingiu uma risada carregada de escárnio mas logo fora combatido de maneira efetiva e não menos mortal - Você está vivo, mas seus companheiros não. Será que eu que sou o covarde? Acho que não né?

Judal gritou angustiado segurando-se na sua mente para tentar manter a única esperança de sua consciência de continuar sob controle, fechou os olhos reavendo o controle de sua respiração enquanto se acalmava, o coração trepidante e o corpo totalmente desestabilizado rezando para que saísse logo daquela crise, que parecia tomar a eternidade cada vez que começava. Após alguns segundos de olhos fechados, sentiu algo quente em seu rosto, e finalmente retornava para a realidade graças a um pequeno cachorrinho que lhe fez companhia naquele momento de sofrimento. Era dos lugares mais improváveis que a ajuda sempre vinha, e isso Judal apreciava, era como se estivesse sempre acompanhado para enfrentar as maldades do mundo, era o primeiro dia de muitos que ainda se seguiriam para derrotar seus próprios fantasmas.
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A primeira noite foi na verdade um marco para Judal. Que ainda deprimido pelos acontecimentos anteriores continuava tentando levar a tranquilidade para si novamente. Agora em nova companhia se sentia mais seguro e aos poucos recuperava a confiança que antigamente era sua principal marca.

— Você está perdido também? Ou apenas é um viajante que veio ajudar um pobre necessitado? — sorriu gentilmente para o cachorrinho, terminando de comer a sua janta e dividindo uma parte com ele.

Abriu um manuscrito que falava sobre o funcionamento da mente humana, tentando entender como poderia agir da maneira mais eficiente para tratar o problema diretamente na raiz. Não obtinha respostas para aquilo, não se sentia competente o suficiente para tornar-se um ninja completo novamente.

— Se todos nós somos frutos de nossas escolhas, como eu faço para superar a mim mesmo? — apoiou a testa e sobre a mão, esfregando-a com força enquanto tentava relembrar o primeiro momento em que deixou de ser ele mesmo, queria retomar a própria identidade mas os seus demônios se mostravam cada vez mais fortes.

O medo que tinha de seus demônios não era menor do que sentia dele mesmo, e sempre que pensava em medo lembrava que seu pai sempre dissera " o medo não é nada mais nada menos do que a vontade de viver. "

No entanto não tinha a certeza do que isso queria dizer. Viver era relativo, todos queriam viver, mas alguns queriam mais do que os outros? Eram coisas como estas que complicaram o raciocínio do menino, era jovem demais, inexperiente demais e talentoso demais. As cobranças se empilhavam em suas costas tornando-o um garoto com experiência de um velho com apenas 11 anos.

— Então cachorrinho… Vamos dormir? — explicou enquanto fechava o manuscrito, encostando o corpo no chão, e rapidamente caindo em sono profundo, que se seguia de maneira tranquila, pelo menos era o que ele achava, o clima da noite virou, trovoadas começaram a ficar mais presentes, o corpo de Judal reagia negativamente ao barulho, começando a imergir em um mundo de pesadelos e novamente caía em meio ao seu algoz, vivenciando de maneira realística o sofrimento de outrora.


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De volta ao mundo de Morfeu o menino começava a rever em um loop quase infinito todos os acontecimentos que se passaram no fatídico dia em que seus subordinados e companheiros morreram. A respiração descompassada e o estado de choque que reverberava todos os maiores anseios que continha em seu mais interno. Sabia que aquele mundo não era real, sabia que tudo aquilo não era real, mas como sair daquele calabouço que sua própria mente havia criado? Como saber o gatilho que lhe colocaria de volta ao estado normal de vida? Como saber se algum dia seria novamente Judal Hashijima, o chunnin mestiço destemido?

Ao fundo ouviu a mesma voz aterrorizante - Você é apenas mais um covarde, sequer conseguiu me derrotar naquele dia, quem dirá derrotar agora. - riu com escárnio ao fundo, quase em deboche ao pequeno ninja mas ainda assim Judal se mantinha perplexo, quando o monstro terminara de falar os gritos e pedidos de socorro se tornaram audíveis enquanto o jovem se ajoelhava ante a gigantesca criatura - Eu tentei... Eu queria mostrar que era o mais forte e, falhei... - colocou as mãos sobre a cabeça, vendo o mundo enegrecer ao seu redor, sem esperança sem nada - Você é apenas mais um de vários que vai tentar ser algo na vida. E vai fracassar, novamente. - por algum motivo ou outro, o coração de Hashijima se acelerou no momento em que seu inimigo falara isso, desferindo um soco contra o chão ergueu-se lentamente, analisando a criatura frente a frente enquanto seu corpo insistia em recuar.

- Eu não sou o tipo de pessoa que você acha, seu merdinha.
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O medo tomou conta por completo de Judal, que tremia dos pés a cabeça igual bambu seco, mas daquela vez não iria recuar, não poderia mais recuar, se fugisse ali mesmo naquele lugar, seguiria a vida toda fugindo, e quando acontece a primeira vez, tende a repetir-se novamente outras milhares. Ergueu-se novamente, tentando tirar coragem do mais profundo possível para encarar o bichão que emanava maldade e crueldade - Eu não vou mais desistir. Acho que você já deve saber isso, já que está dentro da minha cabeça. - respondeu em tom firme e debochado mesmo que estivesse totalmente em choque, iniciar a própria reação ali mesmo.

- Eu sou fruto de sua mente? Poupe de palavras sem sentido seu merdinha. É apenas mais um que vou matar e fazer implorar por clemência. hahahaha - a criatura se ergueu com vários e vários metros de altura a frente do chunnin que não reagiu, apenas esperou a morte iminente chegar para o seu fim derradeiro naquele sonho, talvez acordasse, talvez não e, será que queria mesmo retornar a realidade? Sofrer mais ainda com o peso que carregava nas suas costas? Mas não, não poderia se dar por vencido naquele momento ímpar. Manteve-se firme e ereto esperando o ataque do gigante, que veio mais rápido do que o esperado, no entanto em vez de escapar, Judal apenas correu em linha reta, pulando na direção dele enquanto gritava algumas palavras de ódio, suprimindo momentaneamente o medo que sentia, os dois chocaram-se no ar, e o menino acordou do pesadelo. O que tinha acontecido ali?
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Acordar-se do sonho naquele dia foi um avanço muito grande para o menino, mesmo que não soubesse o que precisava. No restante daquela noite gloriosa dormiu como um bebê, dormira pensando principalmente em como derrotar os seus medos. Tudo que tinha feito até aquele momento era ficar parado e tentar lutar com o monstro, mas não havia encontrado ainda a resposta correta para a chave de todos os seus problemas. Era como se estivesse com a resposta diante de seus olhos e não tivesse a capacidade mental de encontra-la, ou tinha e estava bloqueado por pensamentos viciosos.

''Será que vou ficar quantos dias aqui até conseguir superar essa porcaria de crise?''

Pensou consigo mesmo enquanto tomava o café na manhã seguinte, olhava para o céu em busca de respostas como se elas fossem cair em seu colo a qualquer momento. O restante do dia foi de meditação, treinamentos, e superar as crises que surgiam em intervalos de tempo cada vez menores, no entanto notava que suas crises duravam menos do que quando tinha chegado, em um dia combatendo diretamente aquela sensação já começava a ter menos impacto contra ele. A cada vez que entrava na sua mente para brigar contra si próprio tentava criar estratégias malucas, maneiras de vencer a criatura mas o medo sempre vencia, sempre era tocado nas feridas que mais doíam, no entanto era burrão demais para fugir daquela luta que se prolongava mais e mais.

''Pelo visto, vou ficar mais alguns dias por aqui.''
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A rotina no próximo dia não fora tão diferente do esperado, as recaídas ainda tinham um intervalo de tempo constante, mas agora pareciam tomar um rumo diferente para Judal. Não somente os dias daquela aventura fracassada eram explorados, mas também agora outros dias de sua vida. Tais como os dias que brigavam com seus pais por motivos dos mais bobos aos mais sérios. Situações adversas como ele usando uma de suas técnicas para mata-los eram colocadas a vista, sua mente estava pedindo socorro, tentando mostrar a essência da coisa, ela mostrava que as coisas não precisavam ser diferentes, e sim superadas, aceitas e usadas como aprendizado como situações futuras. Mas ele não compreendia, a cada vez que era colocado nessas situações reagia da pior maneira, deixava que impulsos raivosos se colocassem a sua frente, agravando ainda mais o seu terror psicológico.

''Pelos sete infernos. Por favor me tira disso.''

Suplicava a si mesmo sem entender que a resposta estava logo a frente. Sempre era colocado em situações onde escolher aceitar o destino era a resposta básica, mas sempre enfrentava o problema da maneira mais violenta, usando suas habilidades para tentar remediar a situação e não percebia que toda vez que usava ela piorava, tornando as coisas ainda mais difíceis, era burro como uma porta para sentimentos, e isso precisava mudar para torna-lo um ninja superior. Todo aquele estresse pós trauma era porque simplesmente não aceitava que seus companheiros tinham morrido, e se punir por isso era o pior caminho. Precisava aceitar o quanto antes.
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O pavor que aquele distúrbio causava no garoto era memorável, mas ele não era o mais fraco de todos, era burro mas a fraqueza dele não poderia ser a inteligência, as pegadinhas causadas por seu subconsciente estavam próximas do fim em uma de suas muitas recaídas começava a entender o funcionamento de tudo aquilo, e começava a reagir pouco a pouco, vencendo seus demônios um a um, era um passo pequeno para ele, mas as coisas começavam a andar melhor do que o esperado. Para quem começava mais um dia sem saber nada, em algumas horas começava a entender por meio de autoanalise que o culpado não era o monstro, e sim Judal Hashijima, o covarde que não sabia lidar nem mesmo com os próprios sentimentos e emoções.

''Então, como eu posso fazer para mudar isso? Eu sou um covarde, medroso que não sabe superar os próprios traumas. A minha jornada será essa?''

Era o questionamento mais constante na vida do garoto, discorria todos os dias sobre o futuro daquele acampamento, mas sentia que estava próximo de sua resposta, sentia que forçando mais um pouco iria conseguir encontrar a chave que ligava todos os surtos psicóticos e a desligasse para sempre, livrando-se de mais um fardo que sua mente carregava, era o momento de amadurecer de uma vez por todas. Seguia tentando manter uma rotina de treinamentos normal, lutando contra seus demônios sempre que fosse necessário, até que finalmente uma epifania tomou conta de sua mente, e percebeu. Não precisava superar seus medos, e sim aceitar e conviver com eles todos.
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Se encontrava pela última vez em pé a frente do monstro que enfretara outras diversas vezes. Mas desta estava determinado a ponto de sequer tremer um músculo do corpo, os dois se encaravam impassíveis, quem se mexesse primeiro morreria, com certeza. Foi então que o algoz sibilou em bom tom - Seus subordinados, eles morreram por sua culpa. Você é apenas uma criança que não sabe nem a extensão da própria força, é um inútil. - riu com certo escárnio ao final da frase, o que deixou o garoto em estado de fúria, mas ao contrário das milhares de vezes anteriores, não existiria um revide.

Judal aproximou-se do gigante, caminhando lentamente enquanto esfregava uma mão na outra - Você não é nada mais do que eu projetando tudo que mais temo para me fazer sofrer a ponto de querer resolver todas as pendências internas que tenho comigo mesmo não é? - ouviu um pequeno barulho de rochas se rompendo, como se o mundo a sua volta começasse a ruir, talvez fosse isso mesmo, talvez não. Observou ao redor e nada viu - Você acha que eu vou superar a morte deles todos sob meu comando? Claro que não, mas todos estávamos no mesmo barco, assumimos os mesmos riscos. Eu devo apenas aceitar que eles morreram e nunca mais repetir os mesmos erros, lembrar deles a todos os momentos em que decisões forem necessárias.  
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O mundo a sua volta começou a ruir violentamente, um clarão tomou conta de todo o ambiente passando pela primeira vez uma sensação de calmaria, era como se um peso gigantesco tivesse saído de cima das costas do garoto. A imagem do monstro começou a brilhar e se desfazer - Está certo, eu sou você. Mais inteligente, claro, mas vejo que conseguiu entender o porquê de tudo isso. Está amadurecendo, é bom que seja assim. - disse o fruto do subconsciente de Hashijima, tudo aquilo tinha um propósito, era como se a mente dele tivesse anticorpos que lutavam para fazê-lo superar seus traumas, e finalmente tinha conseguido entender.

A imagem do monstro explodiu em diversos pedaços de seda enquanto uma brisa suave carregava-os para longe, trazendo junto de si o cheiro da floresta que Judal estava acampado há vários dias. Finalmente sentia-se limpo e livre das amarras mentais que tinha se colocado sozinho, nas horas que se seguiram a ausência total de tiques nervosos e paralisias entregou a ele a certeza que aqueles longos dias de batalha contra si mesmo. Retornou a vila após seu isolamento compulsório que tinha aplicado a si mesmo, estava mais focado do que nunca para seguir em diante, agora era a hora de mostrar a que veio. Voltando mais forte do que nunca para as atividades de sempre.
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