Aquela era a primeira vez em muito tempo que confrontava-se com a natureza na forma de uma densa mata. Sorria singelamente, contemplando os pássaros dançando entre as árvores, enquanto ao mesmo tempo alimentavam suas crias com pequeninas minhocas. – Devo treinar... Eu preciso ficar forte se quiser ser Hokage um dia. – comentou com os ares. Embora uma menina, era bem consciente do que deveria fazer se quisesse concretizar seus objetivos. Conhecendo a si mesma, decidiu que praticaria a arte ninja do combate corpo-a-corpo, o Taijutsu. Sem dúvidas, esta era a área de combate que deveria treinar caso quisesse se tornar uma grande espadachim. A complicação urgiu na ausência de alguém devidamente apto a orientá-la. Recordou-se, repentinamente, do antigo mestre de artes marciais do vilarejo, Bruce Lee.

Desconhecia-o, entretanto sabia que deveria procurá-lo se quisesse acentuar a mobilidade e fluência dos seus movimentos. Da floresta, retornou à vila e só cessou o passo quando dentro do quartel general da Folha. – Com licença... – solicitou educadamente, acessando-o pelas portas frontais. – O que deseja? – questionou uma das funcionárias, sentada em um belo e longo balcão de madeira envernizada. – Eu queria saber onde posso encontrar com o mestre Bruce Lee. Meu nome é Elesis, sou uma Genin do vilarejo e preciso saber onde ele mora pra que me treine. – disse entorpecida em confiança. – Nós não podemos passar o endereço de um de nossos ninjas para você, é ilegal fazê-lo. Porém, você deu sorte... – contou se levantando da cadeira. Agachou-se e, quando novamente erguida, trouxe consigo uma pilha de panfletos. – Bruce Lee esteve aqui recentemente e pediu que nós entregássemos isso aos ninjas mais novos, exatamente como você. Ele está montando uma turma para que treinem com ele, pode servir de alguma coisa. – relatou entregando um dos milhares de papéis. - Perfeito! – gritou a menina recebendo o folheto eufórica. – Muito obrigada, senhora! – agradeceu em alto e bom tom, retirando-se do recinto.

A informação era simples e sucinta: comparecer ao dojo Jeet Kune Do, no norte do vilarejo, em uma semana, às cinco horas da manhã. Os melhores seriam escolhidos para treinar com um dos maiores artistas marciais dos quatro cantos do mundo. Conhecendo as condições, aguardou ansiosamente o encontro com o grande mestre. Passou noites em claro de tão contente. No dia, dormiu à porta, numa árvore que aconchegava-lhe um galho longo e grosso. Às quatro, permaneceu atenta, aguardando encontrá-lo, finalmente. Ao passar dos minutos, os demais candidatos também chegavam. Eram cem meninos e meninas, Genins, que sonhavam com a possiblidade de se transformarem mestres. Se acomodaram no piso de madeira. Era uma instalação gigantesca, comportando facilmente a centena. No horário pontual, surgiu o mestre. Saiu da porta trajando kimono e calças completamente alvas. – Nenhum de vocês foi convidado, e todos são voluntários. Eu preciso de dez ninjas. Lutem e conquistem as vossas vagas. – informou. Retornou à entrada e por ela desapareceu. Os candidatos se entreolharam e, repentinamente, iniciou-se a disputa.

Elesis foi cuidadosa, não feriria alguém do vilarejo por uma simples vaga, por mais que a desejasse. Optou por defender-se tão somente, aguardando conquistar a vaga àquela maneira. Duas horas foi o tempo necessário até que restassem os dez. Dentre eles estava a ruiva. Não houveram mortes, nem mesmo sangue. Nenhuma criança teve a bravura de confrontar-se com a morte. A dezena restante aguardou. Sentados, viram o homem de cabelos negros curtos novamente dar o ar de sua presença. – Parabéns! Vocês são os selecionados. O treino começa hoje. Venham! – disse. Embora cansados, todos obedeceram as ordens. Levantaram-se e seguiram os passos do professor.

No início, treinamento físico intenso. Porém não focado em ampliar as capacidades físicas dos orientandos, mas sim o fôlego destes. A parte mais matutina envolvia corridas em série ao redor da vila, até que as reservas energéticas fossem completamente esgotadas. À tarde, natação. E, finalmente, durante o período noturno, escalada. Durante uma semana, foram inseridos num regime de treinamentos intensos que os levou à fadiga intensa. Entretanto, graças a determinação criada pelo grupo, todos passaram pela fase de cabeça erguida e moral elevada. A segunda manteve-se a mesma rotina, porém com o agravo de aumento das distâncias. Já adaptados, foram capazes de suportar os exercícios, ainda que excessivamente exaustivos. Os catorze dias mais aparentavam catorze anos aos olhos dos jovens ninjas, no entanto proporcionaram resultados inimagináveis.

Cansados, entretanto aquela era tão somente a fase inicial do treinamento. – Agora que os corpos estão prontos, é hora de aprenderem a manusear os músculos e os esqueletos à perfeição. – discursou ao décimo quinto dia. No chão do dojo, abriram-se dez vãos e deles ascenderam bonecos de treinamento. – Eles são seus inimigos. São quinhentos socos e quinhentos chutes, primeiro com a direita e depois a esquerda. Comecem! – deferiu, potente. Elesis tomou as rédeas do seu treinamento. Tão logo foi possível, atacou. Uma série de punhos com o braço direito. Fez o que conhecia, da forma que o sabia. Não era nem de longe o melhor soco, e o mestre sabia disso. Ele então se aproximou vagarosamente. Interrompeu um dos socos. – Não é assim, pequena. Mas assim... – afirmou consertando a postura das pernas e braços. Basicamente, ensinou-a o correto. Dali, produziu, com efetividade, punhos e pontapés verdadeiramente efetivos, decerto capazes de causar dor. Ao final do dia, atacou pela última vez com o pontapé destro.

O segundo dia manteve o ritmo. Na verdade, despendeu uma semana inteira praticando somente o básico. Partiu, disso, ao avançado. Treinando o máximo da fluência de movimentos que pôde. Ao final de outra semana, conheceu uma habilidade considerável na capacidade corporal. Voltou para casa cansada, ao final do módulo de exercícios. A sua vida kunoichi apenas havia começado.