Depois de um longo dia, Sidoka estava com o corpo completamente dolorido, chegava a ser difícil se movimentar, mas não importava, para o garoto, era mais gostoso assim, dessa forma ele conseguiria sentir-se vivo o suficiente para continuar persistindo em seus objetivos, independente dos limites humanos. —— Moleque... Eu tô quebrado! Tô afim de levantar dessa cama não, puta que pariu. —— Reclamava para si mesmo, até a movimentação do seu maxilar causava incômodos, doía. Seria somente um dia comum e monótono, dedicado ao descanso puro se não fosse pelo que estava por vir; um forte vento fluía em conjunto com os passos tênues e velozes, em um piscar de olhos estava a sua tutora do dia passado de cócoras na janela do quarto do garoto. —— Ei, fracassado! Ainda está deitado? Eu disse que te espancaria da próxima vez, não disse? —— Ela dizia com um olhar maligno no rosto, pronta para cumprir sua promessa. —— Caralho, você me ensinou aquilo ontem de tarde e já reapareceu? Achei que demoraria mais... eu continuei treinando até tarde e agora estou quebrado, preciso de um tempo, não posso levantar agora. —— Sidoka de certa forma se explicava, mas não era na convincente. A mulher ria por breves segundos e parava de repente, em um movimento súbito, um soco feroz e certeiro era desferido na barriga do garoto, a força aplicada era tamanha que a cama quebrava em ruínas. —— Qual é o seu problema? Caralho, isso dói! —— O rapaz dizia, ainda incrédulo diante do ocorrido.

Uma gargalha era feita por parte da dama que lutava contra si mesma para reconstituir-se. —— Levante-se logo, você ainda tem muito a fazer, preciso te ensinar taaaaaaaaaanta coisa que se você soubesse pararia de dormir durante um ano inteiro somente para agilizar tudo... Vista algo leve e se prepare, vou comprar algo pra comer... Você tem cinco minutos! —— Dizia depois de controlar o riso, saindo pela janela ao término da sua fala. —— Não sei quem disse pra ela que eu quero isso... Desgraçada, minha cama... espera... minhas dores musculares passaram... o que é isso? —— Sidoka admirava-se ao conseguir levantar sem que seu corpo falhasse ou pedisse arrego, era inacreditável o fato de isso acontecer logo após tomar um soco, seria um golpe mágico? Talvez fosse até mesmo algo que envolvesse o tão aclamado Ninjutsu, o qual Sidoka era totalmente inapto. Independente do que fosse, o garoto simplesmente fazia o que fora-lhe ordenado com um enorme sorriso no rosto, o alivio da dor era algo ainda mais motivador, finalmente o garoto estava conhecendo o real significado da chama da juventude.

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Considerações:

Com vestes habituais, Sidoka retirava-se da sua casa, olhando de um lado para o outro em busca da desconhecida que, nos últimos dias, estava cada vez mais próxima, o modo com que ela levava a relação fazia parecer que ambos se conheciam desde a infância, e realmente se conheciam — ao menos no caso da mulher, pois o Lee sequer sabia o nome dela. Sem mais nem menos, um pequeno estralo ardia em em sua cabeça, como se um tapa fosse dado. —— Ai... —— o garoto deixava escapar, virando-se no mesmo instante para ver o que havia causado tal sensação. De fato era quem esperava, com um saco de dangos em mãos. —— Como você é tão silenciosa, rápida e forte ao mesmo tempo? Isso é incrível, eu estava atento e nem te notei. —— Sidoka questionava, surpreso. —— Eu treinei, idiota... Você já comeu? Tome, trouxe pra você —— Respondia-o, entregando os bolinhos no espeto. O genin não havia notado, mas estava morrendo de fome, passaria a devorar o alimento sem qualquer tipo de cerimônia. —— Então... Vamos, precisamos de um local mais aberto. —— A sensei finalizava e ambos iniciavam uma breve caminhada, um ao lado do outro.

Conversariam durante todo o percurso, Sidoka possuía muitas perguntas envolvendo seu treinamento, mas não havia tempo para isso, existiam questionamentos sobre motivações, nomes e muitos outros, estes eram mais importantes, por fim acabava sendo o "tema" de todo o assunto momentâneo.
Esqueci de perguntar... como é o seu nome?
Sayuri.
E porque você está me treinando? Entendi que era amiga da minha mãe, mas você não tem obrigação nenhuma... Isso deve ser uma droga pra você...
Na real eu não tenho nada melhor pra fazer, e não é porque sua mãe morreu que eu vou quebrar minha promessa com ela... à partir de hoje você é meu aluno, e não tem escolha... quer dizer, até tem... É isso... ou... MORRER! hahaha —— Sayuri finalizava, gargalhando do garoto que corava no mesmo instante. Manteriam-se em silêncio por alguns minutos, até o momento em que finalmente avistavam um campo de treinamento bem aberto e livre, era perfeito. Chegamos, mas preciso te perguntar algumas coisas... Você não sabe Genjutsu e Taijutsu, não é? —— Sayuri questionava em um tom sério. —— É isso mesmo, quase reprovei na merda da academia por conta disso, a sorte é que eu sou foda! —— O garoto respondia, se gabando com certa insegurança; era estranho interagir com aquela mulher, por mais que tentasse entendê-la, Sayuri era totalmente imprevisível.

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Considerações:

O garoto se vangloriava, mas a maneira com que fazia isso deixava claro o tom moinante. Embora fosse com um linguajar mais impróprio, o qual a Sayuri não estava muito acostumada, a sensei achava graça, mas desta vez controlava-se ainda mais, dando apenas um sorriso. —— Tá tá tá, não importa... A questão é que você não pode viver sendo inábil em Genjutsu, qualquer boboca vai conseguir te colocar em ilusões pelo fato do seu chakra ser uma merda sem controle algum, você precisa melhorar isso, mas não agora... Hoje te ensinarei como abrir o segundo portão. —— A tutora dizia, dando um forte empurrão no Sidoka para que o mesmo tomasse uma distância considerável. —— É praticamente o mesmo esquema, a mudança principal é o ponto a ser focado, o segundo portão se localiza ao lado do primeiro, na outra parte do cérebro... Mas dessa vez você precisa se concentrar muito mais, não basta somente foco e desejo, é necessário a calma absoluta para que o sucesso venha. —— Sayuri explicava. —— Com a maconha eu fico bem calminho, será que eu não poderia queimar uma pontinha antes disso? Acho que vai deixar tudo mais fácil ——  O garoto respondia com uma tentativa falha de descontrair, por mais que usufruísse de um tom brincalhão, uma resposta positiva realmente o agradaria. Você não tem jeito mesmo... Não, não pode! Agora agiliza isso logo, não temos tempo a perder. —— Ela continuava, fazendo o "ritual" para abrir o segundo portão.

Sidoka tomava a posição costumeira para a técnica e iniciava suas tentativas; com ambos os olhos fechados, o garoto descartava todos os tipos de pensamentos que guardava, a pureza da alma, aos poucos, o dominava por completo. A concentração interna era tamanha que até mesmo a movimentação do ar era sentida, seu corpo fluía na mesma direção, como se ambos estivessem conectados.

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Considerações:

Mesmo assim, sucesso algum ocorria; por mais que o garoto tentasse com muita convicção, por algum motivo desconhecido, a concentração ideal não estava forte o suficiente para que o ápice de foco fosse alcançado. Não bastaria apenas força de vontade, o necessário era desconhecido, mas com toda certeza ainda seria alcançado, restava o dia inteiro, e se não suficiente, dias, meses, anos... A demora não seria motivo de preocupação alguma.

Depois de diversos minutos estático e concentrado, toda a situação começava a ser irritante, Sayuri não dizia nada, certamente não queria desconcentrá-lo, ficava por apenas comer seus dangos de maneira silenciosa enquanto vislumbrava o contraste entre seu aluno treinamento e o pôr-do-sol. Sidoka não era um garoto muito paciente, a sensação de nada acontecer o deixava extremamente frustrado. —— Não tá acontecendo nada, tô ficando puto já. —— Dizia com um certo olhar de preocupação, o primeiro treinamento havia sido infinitamente mais rápido. —— Espera... Você abriu o primeiro portão para tentar o segundo? Idiota... Até é possível abrir diretamente, mas você iria ficar o mês inteiro e não conseguiria aprender. —— A sensei dizia, lembrando-se de algo que havia deixado escapar. —— Medite um pouco em posição de lótus e quando achar que está centrado o suficiente... abra o segundo portão. —— Continuava, bocejando diante o tédio que estava passando.  —— Posição de lótus? —— O garoto questionava. —— É... Sentado, com as pernas cruzadas... em que mundo você vive pra não saber disso? —— Ela debochava, mas não obtinha resposta alguma, o garoto estava centrado em seus objetivos.

Sentado em posição de lótus, Sidoka buscava alcançar a paz interior necessária para prosseguir com seu treinamento. Com o passar do tempo nesta posição, era como se uma cúpula começasse a envolvê-lo; conversas alheias não chegavam mais em sua audição, assim como os passos ou qualquer efeito sonoro desagradável o suficiente. Nesta noite que ficava cada vez mais escura era apenas o garoto, sua Sensei silenciosa e o som da movimentação do vento, que o acalmava ainda mais e auxiliava em seu objetivo mor. Horas se passariam e o garoto continuava imóvel, Sayuri inclusive despencava no chão, devido ao cansaço causado pelo tédio excessivo, mas o garoto sequer movia um músculo, aquilo não o atingia, seu nível de calmaria começava a mostrar um certo destaque, finalmente estava surgindo, mas não seria o suficiente, ganancioso, Sidoka almejava mais, estenderia a meditação até o máximo que pudesse, precisaria também comprovar os seus limites mentais, não somente os físicos como grande parte dos integrantes do seu clã, seria isso o que faria-o se tornar um destaque entre todos, talvez.

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Considerações:

Ainda mais tempo se passava e finalmente a meditação se encerrava com o abrir de olhos do garoto. —— Agora eu preciso abrir o primeiro... —— Dizia e assim faria, sem quaisquer dificuldades, pelo contrário, admirava-se a maestria do novato em relação ao pouco período de treinamento. Com as veias da região onde se encontrava o primeiro tenketsu saltadas, Sidoka concentrava-se ainda mais na região contrária. O silêncio transcrito pela calmaria adquirida era de grande ajuda, naquela noite era apenas ele, ele e ele. E acontecia; intensificava-se ainda mais o destaque das veias em sua testa, além de uma sensação diferente que também acompanhava a mudança; o corpo do garoto estava totalmente rejuvenescido, todos os esforços feitos, o cansaço pelo tempo de treinamento, tudo havia se extinguido, como se o portão causasse uma revitalização interior massiva. —— Isso é incrível, meu corpo está mais leve... Sinto que meus pés estão flutuando no ar, eu poderia correr uma maratona agora mesmo! Melhor, eu poderia dar uma volta ao mundo —— O entusiasmo era tamanho que o garoto não notara, de inicio, que a sua Sensei estava em sono profundo a bastante tempo. —— Eu demorei tanto assim? Já é de noite... e ela continuou aqui o tempo inteiro. —— Dizia com certa admiração, pela primeira vez o rapaz sentia-se querido depois de tanto tempo, era um sentimento estranho, mas extremamente bom.

Era a hora de encerrar o treinamento, Sidoka, com todo o cuidado do mundo para não acordá-la e não ser invasivo, pegava a Sayuri em seu colo e retornava para sua própria casa, sensação de tê-la em seus braços era inexplicavelmente positiva, mas não passaria disso, o Lee possuía um respeito extremo por sua tutora. Em casa, a alocaria na cama mais confortável da casa — a dos seus pais, e voltaria para a sua, que havia sido destruída neste mesmo dia, pela manhã.

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