Estava em casa prestes a jantar, após meus pais finalmente retornarem de sua longa viagem para o reabastecimento da loja da família estava feliz de não estar mais só. Podia dizer pelo meu olfato que Mamãe estava preparando curry Japonês com arroz, ela sempre de mim cuida tão bem. Enquanto eu preparava a mesa de jantar para quando papai chegasse conversamos.

- Como estão o vovô e a vovó? – Perguntava curioso, desde vim para a vila que não os via, sentia saudades.

Enquanto trazia a comida à mesa em preparação para quando fosse a hora de servir me respondia - Estão bem, mantendo os cultivos bem cuidados como sempre. Eles ficaram tristes de não terem de você não ter ido, estão com muita saudade sua... – Fazia uma pausa como se estivesse medindo bem as palavras que usaria a seguir – Tenho certeza que não vão ficar chateados, só que seria bom você ir de visita quando tiver a chance.

“Parece que não é só eu quem está com saudades. Espero conseguir permissão e tempo para ir vê-los em breve, por enquanto preciso me esforçar e aprender o máximo que puder”  Pensava parecendo distante por um momento até que bruscamente viro o rosto rumo a minha mãe que acabava de apoiar na mesa uma panela com curry.

- Eu sei que você tem razão mãe, eu sinto muita saudade deles. Porém agora que sou oficialmente um ninja é mais complicado para sair da vila – Ficava um pouco corado em antecipação ao que estava prestes a dizer – Eu teria que explicar para a Nanadaime o motivo antes de conseguir permissão. Só de pensar nisso me dá vergonha, como poderia me ausentar de minhas responsabilidades como ninja sendo que faz tão pouco tempo que me tornei oficialmente um? Não dá...

Após ouvir minhas palavras minha mãe me dava leves tapinhas no topo de minha cabeça sorrindo por achar engraçado ou fofo o que havia dito, ficava ainda mais vermelho de vergonha – Awwwn... Tão responsável! Este é o meu garoto...

Por sorte alguém anunciava sua chegada em casa, papai finalmente tinha terminado de trabalhar na loja e estava de volta.  Minha mãe interrompe os tapinhas carinhosos para ir dar-lhe um beijo de boas-vindas como de costume. Aliviado relaxava meus ombros que até então estavam tensos.

“Uff... Salvo pelo gongo." Pensava aliviado. Agora que todos haviam chegado podíamos finamente jantar, só de sentir o cheiro do curry já me dava água na boca. Ajudei minha mãe a terminar de preparar a mesa e jantamos em família conversando casualmente sobre o dia a dia de cada um. Depois do jantar cada um se dedicou aos seus afazeres.

Eu, após tomar um bom banho e escovar os dentes, aproveitei o tempo que sobrava antes da hora de dormir para continuar lendo “Faça seu polegar verde!” um livro bem detalhado sobre como cuidar de diversos tipos de plantas algumas bem frágeis ou sensíveis. Após umas duas horas de leitura, sim é um livro bem grande, preparei minhas coisas para o dia seguinte e fui dormir.

No dia seguinte acordava bem cedo, o sol ainda estava nascendo. Hoje planejava passar o dia todo melhorando como ninja e o primeiro passo do dia era um treinamento físico matinal. Arrumei minha cama, detestava deixar meu quarto bagunçado, me arrumei ficando pronto para sair e desci as escadas até a cozinha onde preparei cereais com leite de café da manhã. Após comer e escovar os dentes peguei minha marmita (bentô) feita por minha mãe e saí cheio de energia rumo aos campos de treinamento de Konoha.

Estava um pouco frio pelo horário e por estarmos em pleno inverno, o céu estava um pouco nublado e as ruas bem mais calmas em comparação aos horários picos. Ao chegar no local já havia alguns ninjas realizando seus próprios treinamentos e práticas em diversas áreas, ninguém conhecido entretanto.

“Todos estão dando seu melhor para ficarem mais fortes, não posso perder!” Pensava me enchendo de determinação.

Encontrei uma área com vários objetos de metal e em alguns casos inclusive concreto, desenhados de modo a permitir fazer diversos exercício de musculação (levantamento de peso, flexões etc.) fiquei algumas horas praticando ali. Em algum momento, de forma até que meio repentina começou a chover...

Ficando satisfeito com o esforço físico até então decidi treinar algo um pouco mais técnico, manobras básicas shinobis como giros no ar, saltos em grandes distâncias, entre outros. Sabia que ali perto havia um lago com diversos portões Torii enfileirados um atrás do outro a distancias cada vez maiores começando em uma das margens do lago e terminando com o mais alto dos portões no centro. Seria o lugar ideal para treinar já que se caísse na água a queda seria amortizada pelo fluído evitando que eu sofresse qualquer ferimento. Olhava ao redor verificando se havia alguém por perto, queria ter certeza que não chamaria a atenção de outras pessoas, seria muito vergonhoso treinar enquanto desconhecidos me observassem.

“Parece que está tudo limpo, não vejo ninguém por perto... Beleza! O objetivo será chegar no último portão sem cair no caminho!”

Me posiciono alinhado com o primeiro dos portões próximo a uma das margens do lago, após pegar um pouco de impulso correndo pulei no último momento possível esticando meus braços rumo a parte superior do Torii buscando segurar no portão e me impulsionar em direção ao seguinte soltaria apenas ao chegar no ápice do balanço de forma a manter o máximo de momento possível. Apesar de conseguir alcançar o segundo portão não tinha muita prática no que fazer a seguir e acabei me embaralhando e perdendo a chance de aproveitar o impulso do salto. Terminei ficando pendurado no portão por alguns segundos enquanto processava o que acabava de acontecer.

“Hum... Pelo que parece a cada salto há apenas uma pequena janela de tempo onde dá para aproveitar o impulso, eu não posso perder essa janela se quiser fazer o uso mais efetivo possível do esforço feito... “

Me deixei cair do portão para recomeçar o desafio que me havia imposto. Caminhei pela água (Suimen Hokō no Gyō) até a margem do lago e tentei novamente presentando mais atenção na janela de tempo que tinha para aproveitar cada impulso. Após várias tentativas já havia pegado o jeito e conseguia saltar entre os portões iniciais com facilidade, levou aproximadamente uma hora de prática. No décimo quinto portão a distância entre cada um era considerável e após mais algumas tentativas falhas percebi que era melhor aproveitar o momento além de fazer uma pequena acrobacia permitisse que eu me empurrasse com os pés contra o portão ganhando impulso extra para atingir o seguinte. Após entender isso o progresso para chegar ao trigésimo portão no centro do lago foi bem mais rápido, como menos quedas e tentativas. Enquanto estava de pé no topo do mais alto dos portões apreciava a paisagem das desfolhadas como é típico dessa época do ano, me sentia feliz de ter conseguido melhorar como shinobis nem que fosse um pouco. Não demorou muito para que um pequeno grunhido pudesse ser ouvido vindo da minha barriga, estava tão focado em treinar que acabei esquecendo do horário de almoço.

“Ugh que fome... Ainda bem que minha mãe preparou essa marmita para mim.”

Me sentava ali mesmo e comia sushi e onigiri caseiros, estavam molhados e não eram tão bons quanto curry japonês, porém mesmo assim estavam gostosos.

“Que delícia, minha mãe com certeza faz as melhores comidas do mundo!”

Após terminar de comer reforçava a aprendizagem fazendo um último esforço, retornar à margem do lago dessa vez saltando pela parte de superior dos portões e sem usar os braços. Não foi um desafio difícil, especialmente usando Ki Nobori no Shugyō para evitar que escorregasse na madeira molhada dando mais firmeza no pouso de cada salto. Estava encharcado e precisava de roupas secas e limpas, me retirei do local indo até minha casa.

Durante a madrugada já estava confortável em meu pijama e bem embrulhado em meu cobertor na maciez de minha cama, a janela de meu quarto estava aberta permitindo entrar uma brisa fresca primaveril a uns 16°C. Uma das razões pela qual preferia o frio ao calor era o quanto eu gostava de usar cobertores, casacos, gorros, cachecóis entre outras peças de indumentária para frio que efetivamente se tornavam inviáveis durante os períodos de calor. Como de costume ao lado de minha cama se encontrava um abajur que emitia luz laranja de forma tênue, apenas o suficiente para manter a visibilidade no quarto. Em meio ao sono profundo sonhava, ou pelo menos isso parecia.

“Onde estou? “

Me encontrava em um terreno plano, o chão era extremamente liso e a pesar de ser opaco emanava uma suave luz branca por toda sua extensão, luz que se dispersava em meio a névoa que pairava a não mais do que um metro de altura até onde a vista alcançava baixo um céu desprovido de qualquer ponto de luz. Não saberia bem como descrever caso tivesse que contar esse sonho para outra pessoa, mas por algum motivo me sentia seguro ali. Com pouco sucesso em encontrar pistas imediatas de onde estava comecei a caminhar com esperança de encontrar alguma informação útil em outro lugar.

“Não há estrelas nem luas por aqui e este chão luminoso não parece nada natural. Estarei sob efeito de algum genjutsu? “

Após alguns minutos de caminhada uma figura de cabelos brancos longos que cobriam a maior parte das costas e de pele bem pálida vestindo um kimono branco com bordas pretas. Estava de costas para mim e uma voz feminina começava a ecoar por todo o ambiente, não sabia dizer ao certo de que direção vinha.

- Shu! Você esqueceu de mim!... Você esqueceu quem você é e esqueceu de mim!... Olhe para dentro de você, você é muito mais do que pensa que é... Lembre-se de quem você é...

Antes que pudesse fazer qualquer pergunta eu acordava com a luz do sol batendo em meu rosto. Já havia amanhecido e um novo dia havia começado. Enquanto tomava café da manhã e escovava os dentes estava pensativo sobre o sonho, ou pelo menos o que eu acreditei ter sido apenas um sonho.

“Que sonho estranho, nunca aconteceu comigo nada parecido antes. Parecia ser tão... real. Tenho certeza que não conheço aquela voz, e nunca vi alguém tão pálido. ‘lembre-se de quem você é’? O que se supõe que significa isso? “

Já estava pronto para sair, levava as mãos à cabeça agitando o cabelo como se estivesse tentando varrer para longe as minhas questões.

- Argghhh, droga! Não entendo... Melhor ir fazer alguma coisa para esquecer esse sonho maluco.

Saía de casa correndo rumo ao campo de treinamento. Não estava com cabeça para estudar na biblioteca hoje, temia continuar pensando no que aquela voz me dizia precisava fazer algo que não demandasse pensar muito. Encontrei um local na região de treinamento com diversas pedras de diferentes tamanhos, formas e pesos e decidi que tentaria aplicar os movimentos refinados que havia aprendido, porém dessa vez exigindo mais esforço físico. Teria que mover tais rochas até o lago dos portões Tori, onde havia treinado anteriormente e teria que realizar o mesmo processo de saltar de portão em portão várias vezes e cada vez que tivesse sucesso teria de refazer tudo com uma pedra de peso maior que anterior. Passei o restante do nesse processo, levou algum tempo para que me acostumasse a realizar as mesmas manobras de antes dessa vez carregando peso, caí na água várias vezes durante o treinamento mas no final do dia, apesar que ainda não tinha conseguido levar a pedra mais pesada de todas,  estava satisfeito com o resultado.

Coisas:

Há pouco tempo havia sido meu aniversário, desde a perspectiva do presente o tempo parecia ter passado tão rápido. Me havia tornado chunin porém quanto mais aprendia mais me dava conta que ainda havia muito mais por aprender e explorar. Ainda não havia feito jus às expectativas da minha família e ainda havia várias lendas familiares que ainda não compreendia de todo. Estava sentado na parte superior do portão Tori mais alto,
o que ficava bem no meio do lago. Observava a leve neve caindo nos galhos secos das árvores que cercavam o lugar e se acumulando na fina camada de gelo que se formou por toda a superfície do lago.

" Isto não é suficiente, preciso chegar mais longe..."

Passei algumas horas reflexionando e meditando na bela paisagem, o tempo parecia algo alheio e quando me atentei à passagem dele já estava em plena noite. Apesar da meditação não ter resolvido as minhas inquietudes sentia que estava mais perto de encontrar uma solução e chegar a uma decisão. Retornei à casa, precisava descansar para os esforços que estavam por vir.

Coisas: