Após mais uma noite acalentada pelas antigas histórias de seu pai, Chi Long Qua despertara ao som de uma grande algazarra. Acabara de chegar em sua casa um pergaminho, que indicava ter vindo direto do gabinete da Nanadaime Hokage. A barulheira era devido a empolgação daquela família que comemorava o fato de seu filho estar começando o seu caminho como ninja, mesmo sendo desprovido de visão. Acordado, gritou: - "PAI?! MÃE?! QUE BARULHO É ESSE? EU GOSTARIA DE DORMIR, SABIAM?" enquanto bocejava e esticava seus braços para o céu.

- "DORMIR?! A NANADAIME HOKAGE CONVOCOU-LHE, CHI LONG QUA! TRATE DE APRONTAR-SE AGORA MESMO!" ordenou o seu pai, que estava tão eufórico que parecia que ele mesmo havia recebido a sua primeira convocação. Imediatamente o garoto pulou da cama, aquela notícia o despertou completamente do mundo do sono. Naquele momento, ignorou seu mau hálito matinal e direcionou-se imediatamente para seu pai para entender melhor do que se tratava, que por sua vez explicou-lhe o que Chi Long Qua foi designado a fazer.

- "Akimino Chouga? Parece que hoje ele vai entrar para um novo programa de dieta" - brincou. Aprontou-se rapidamente e partiu em direção do centro da cidade, local onde encontrava-se a maioria dos restaurantes. O centro da cidade era barulhento, como qualquer outro, mas o menino era privilegiado com uma boa audição e conseguia ouvir o som de água escaldando de longe. Sem pestanejar, adentrou a um estabelecimento e começava a sua busca por informações.

Por azar, o primeiro restaurante que procurou não lhe proporcionou muita. Tudo que sabia é que naquela mesma rua cinco restaurantes já haviam sofrido nas mãos do ninja comilão, alguns mais e alguns menos. Por sorte, o dono do estabelecimento anterior acompanhou o garoto até um dos estabelecimentos que o ninja comilão roubou severas vezes.

- "UM GAROTO CEGO?! Konoha deve estar brincando com o meu bolso..." - indignou-se. O dono do restaurante não parecia nada feliz, o garoto tinha uma grande limitação. - "Olá senhor... poderia me dar mais informações sobre os roubos? " - o garoto engoliu seco, não quis criar mais problemas logo em sua primeira missão. Acalmado, o dono sentou-se à mesa mais próxima com o jovem ninja e lhe deu novas informações. O tal Akimino causou-lhe um grande prejuízo em seu estoque de enguias, o pobre senhor já fora roubado tantas vezes que perdeu as contas. - "UNAGI! Este maldito definitivamente ama unagi!" - exclamou.

Poucos minutos de prosa e com as informações necessárias, o dono do restaurante concedeu liberdade ao garoto para passar uma noite vigiando o seu estabelecimento. Inclusive, liberou o vigia que havia contratado naquela noite por orientação do pequeno ninja. O plano era deixar o local mais vulnerável para que pudesse surpreendê-lo no cair da noite, caso tentasse invadir e roubar o estabelecimento mais uma vez. O estoque era quente e corria pouca ventilação, mas era silencioso o bastante para identificar se um intruso adentrasse o lugar.

Um pequeno barulho vindo do teto do estabelecimento fora identificado por seus ouvidos e não parecia um gato, pois um gato seria mais leve e não faria o mesmo som. De prontidão, postou-se ao lado das enguias e executou três selos para transformar-se em um barril de sakê. De acordo com os sons emitidos ali, tudo indicava que o ladrão havia adentrado no estabelecimento através do teto. Não demorou até que abrisse a porta do estoque e à passos leves, foi indo em direção da sua iguaria favorita. A técnica de transformação se esvai, levantando uma pequena fumaça para o ar e Chi Long Qua automaticamente faz um movimento de impulsão na direção do comilão e em segundos, levanta sua perna esquerda dobrando-a com a intenção de atingi-lo apenas com o joelho.

- "BUSAIKU KNEE KICK!" - gritou. E não foi só ele, Akimino deu um grito de desespero imediatamente e ficou caído no chão grunhindo de dor após ser atingido em cheio no peitoral. - "AAAAAAAAARGHHHHHHHHHHHHH!! MAS QUE F$%$$!!! VAI $#%$#%$#!!!" - completamente consternado. - "ISTO É PARA VOCÊ APRENDER A NUNCA MAIS ROUBAR, ESTÁ ME ENTENDENDO?! VOCÊ NÃO TEM VERGONHA? SE TEM FOME, GARANTO QUE VÃO COMPADECER COM A SUA HISTÓRIA!!!" - exaltou-se enquanto despejava lições de moral em cima do comilão. Em meio de tantos gritos, alguns estabelecimentos ligaram suas luzes e correram para ver do que se tratava. - "Está ouvindo? Eles estão vindos. Passei o dia escutando depoimentos sobre você, sabemos quem você é. Recomendo que não volte nunca mais, Akimino Chouga" - Chi Long Qua aconselhou.

Ao perceber que sabiam até seu nome, o comilão pediu perdão quase que choramingando e pelas suas palavras parecia bem arrependido. - "Certo. Agora precisamos fazer uma outra coisa..." - de repente, o garoto segura no colarinho de Akimino e pede para que o ladrão vá guiando o garoto até a porta do estabelecimento. - "Perdoe-me..."- sussurrou. O garoto deu-lhe um chute na bunda e o jogou para fora do estabelecimento - "E NÃO VOLTE MAIS AQUI!" - exclamou enquanto limpava suas mãos umas nas outras. Na hora, todos os comerciantes acordados pelo barulho entenderam do que se tratavam e imediatamente correram para tentar pegá-lo. Entretanto, Akimino foi mais rápido e foi embora choramingando.

Parece que havia aprendido a lição.

   

Desta vez sem algazarra e com menos empolgação, após o almoço a casa Long Qua recebera mais um pergaminho. O garoto não conhecia a Nanadaime, mas já havia gostado dela por estar sendo tão requisitado. Porém, desta vez não havia tanta adrenalina na missão. A sua primeira reação ao escutar o seu pai ler do que se tratava-se era - "Meu... o que eu vou falar para eles?" - pensou. Não havia passado por muitas experiências, mas podia compartilhar o pouco que sabia. Antes de partir, pegou seu chapéu de palha e sua bolsa de armas. Até chegar lá, tinha muito tempo para pensar no que poderia fazer e dizer.

Durante a caminhada se passaram diversas coisas em sua mente. Apesar de não enxergar nada, conhecia aquele caminho na palma de sua mão e já não tropeçava mais em nada. Parecia que o garoto tinha aquilo tudo desenhado em sua cabeça, na forma que imaginava que fosse. Lembrou de seus momentos de frustração e de glória enquanto estudante, lembrou dos momentos em que alunos zombavam e diziam que nunca ia conseguir a bandana. Conteve-se para não se emocionar durante a ida, mas parecia otimista. Se sentia útil e valorizado pela sociedade da Folha.

Chegando na academia, seu chapéu estava cobrindo seus olhos e mal dava pra enxergar o seu nariz. Alguns professores o reconheciam e o cumprimentavam falando seu nome, apenas cordialidades. Que não duraram muito, logo já havia sido informado que era sua vez de dar a palestra. O coração do jovem era só nervosismo, suas mãos estavam frias mas tinha que fazer isso. Ao adentrar à sala cheia de jovens mentes, dirigiu-se ao centro do quadro negro e virou-se para a sua plateia. O silêncio contaminou a sala, todos estavam silenciosamente ansiosos para saber o que o palestrante queria dizer.

- "Boa tarde à todos jovens estudantes"- cumprimentou. - "Hoje conversaremos sobre a melhor passagem da vida de um ninja, a academia!" - o jovem Chi Long Qua parecia empolgado. - "Você!" - apontou aleatoriamente na plateia e acabou coincidindo com uma garota, devido o amontoado de pessoas na sala. - "EU?!" - perguntou bastante envergonhada e tentando esconder o rosto. - "Isso, você. Qual o seu maior sonho?" - Chi Long Qua sorria embaixo daquele velho chapéu de palha. - "Ah.... meu sonho?... err.... Eu quero me tornar tão forte quanto à Nanadaime Hokage!" - respondeu enquanto gaguejava e roía suas unhas. A sala inteira, seus colegas, caíram na gargalhada e faziam gritos de deboche. Aparentemente aquela aluna não era muito esforçada.

- "Você será!" - o jovem gritou, interrompendo o riso da sala inteira e espantando a menina, que estava quase chorando. Que acabou mudando completamente a sua feição. - "Por favor, venha cá." - solicitou enquanto erguia um de seus braços. A menina naturalmente se levantou e foi até o início da sala. Chi Long Qua curvou-se levemente e sussurrou para a menina - "Posso enxergar você?" - pergunta que causou estranhamento à menina. Erguendo seu braço esquerdo até o rosto da pequena, o jovem começa a usar o seu tato para enxergar o rosto da menina. A partir daquele singelo toque, conseguia saber como ela era. Este ato era muito comum para ele, pois é cego de nascença e era assim que enxergava os outros.

- "Afaste-se" - ordenou. Executando três selamentos rapidamente, o garoto transforma-se na aparência da menina que acabou de tocar. - "Nenhuma dificuldade deve impedir você de ser quem pretende ser" - disse enquanto abria seus olhos, algo que raramente fazia. - "Desde o meu primeiro suspiro neste mundo, eu não enxergo absolutamente nada. O cego de nascença percebe as coisas de uma forma muito mais abstrata dos que não são" - iniciando o discurso na forma da garota. -  "Passei pelos mais difíceis obstáculos e preconceitos. Tudo o que me fortaleceu foi ter fé naquilo que eu acredito e claro, muito esforço" - emocionou-se singelamente. - "É por isso que vos digo, não ria desta garota. Um dia ela pode se tornar quem pretende ser. Talvez tenhamos uma próxima Hokage nesta sala, quem sabe?" - a classe toda sorria. - "Vamos lá fora um momento, deixem-me mostrar um pouco das minhas verdadeiras habilidades!" - falou após inflamar a turma com suas palavras.

No lado de fora, em um local mais apropriado, Chi Long Qua atirou kunais em alvos estáticos e quebrou alguns troncos de árvore com seus golpes de Taijutsu. Acertou a maioria dos alvos e claro, recolheu todas as kunais para a sua bolsa de armamentos no final. Inclusive, tirou muitas dúvidas à cerca de arremesso de projéteis e como ele adquiriu tanta força. Quem diria que o ingênuo jovem ia impressionar tanto assim.